A barra da policial feminina


por Mazu

Notícia de 03/05:
A Justiça do Distrito Federal concedeu no último dia 30 o pedido do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) que impede a exigência do teste de barra fixa dinâmica a mulheres candidatas aos concursos para perito criminal da Polícia Civil do DF e agente de trânsito do Departamento de Trânsito do DF (Detran/DF) [...]
Ainda segundo o MPDFT, análises do quadro de reprovações de concursos públicos que incluíram essa modalidade de teste físico indicam que duas em cada três mulheres falharam no teste. No caso dos homens, apenas dois em cada dez não conseguiram concluir o teste.
Essa distorção, acredita o Ministério Público, pode implicar, a médio e longo prazo, órgãos com quadro de pessoal predominantemente masculino.
Antes de mais nada, vou dizer: sou a favor do teste físico (barra fixa também) para as mulheres nos concursos para agente (e cargos afins) de polícia, qualquer polícia. E não entendo porque perito, seja ele menino ou menina, tem que fazer teste físico.

Para começar e se não me engano, os peritos vão à cena dos crimes depois do ocorrido, depois que a polícia já isolou o local (ou fez o que tinha que fazer, porque, no Brasil, não é tão lindo assim), recolhem provas e voltam para o laboratório (ou delegacia) para fazer seu trabalho. Sério, teste físico? Por quê?

Ao mesmo tempo em que sou a favor do teste físico para determinados cargos, sou a favor de toda medida que tente promover a igualdade de oportunidades de gênero, assim sendo, esta notícia me colocou um dilema. Como cacete vamos conseguir nos livrar do estigma de frágil e ao mesmo tempo garantir isonomia? É de ficar doida, não é?

Bom, o que sei: as polícias, todas elas, são órgãos conhecidamente machistas. Ultimamente, várias mulheres vêm sendo nomeadas para chefiar polícias no Brasil, e a chefe de Estado do Brasil é mulher. Aparentemente, ainda assim, há muito o que se fazer, e as próprias policiais dizem isso. O que  meus amigos policiais aqui do DF dizem é que as meninas não gostam de ir a campo, e fica difícil quando passa muita mulher no concurso quando se precisa de gente que vá a campo. Dizem eles, que elas têm medo e que o teste físico é um jeito bom de filtrar gente que pode ir a campo. Sei, tá, vou fingir que acredito. Pensa comigo, se você coloca um teste físico para perito que poucas mulheres têm conseguido fazer, quem fica no filtro? Mulheres né, então, pois é. Então, vamos lá, as mulheres têm medo de ir a campo. Pode ser, é possível. Agora quem não tem? Os policiais masculinos vão a campo de buenas? Ah tá! Claro que vão! Medo de ir a campo deve ser mega comum, né? O problema é que a gente cresce numa sociedade que ensina para a gente e para os meninos que a gente é frágil. Ensina pros meninos, inclusive, o que deve ser uma bosta para eles, que medo é coisa de menina. Puta injustiça, nem medo é coisa de mulher, nem medo diminui o cromossomo Y dos rapazes (todo mundo achando que eu diria outra coisa...). Todo mundo sente medo. E ser policial no Brasil deve dar um medo da poha.


É um ciclo vicioso, vai vendo. Se uma policial feminina, como toda mulher, foi criada para ter medo e ser protegida, ela vai ter medo de ir a campo, vai sentir que não é seu lugar lá. Se um policial masculino, como todo homem, foi criado para não (poder) ter medo e para proteger, ele não vai querer ir a campo com uma mulher, vai ficar parecendo que ele teria, além da tarefa designada, uma adicional que seria cuidar da colega. E aí, o resultado dessa melodia é que ninguém quer mulher em campo, o que pode se estender para uma atitude que advogue que mulher não deve ser policial, o que, por sua vez, pode se estender bem estendido lá de volta para o velho “lugar de mulher é na cozinha”. De qualquer forma, de uma coisa não tem como fugir: a gente costuma ser menor, mais fraca e mais lenta. É bom a gente assumir e viver com isso, basear reivindicações e planos nisso. Essa diferença física é a origem do problema da violência contra as mulheres. Então, tá, no geral, os machos mamíferos são mais fortes fisicamente. Odeio com o estômago saber e viver isso, mesmo assim, não deixa de ser verdade. Isso – antes que os machões fiquem eufóricos – não nos impede de ser policiais e boas policiais, diga-se de passagem. Aliás, no mundo de hoje em que a comida vem do freezer, a diferença de força física não nos impede de quase nada. Nem significa que precisamos de proteção ou cuidados especiais, a gente só precisa de respeito (o que seria o final do problema da violência, quem diria!). E de respeito, quem não precisa?

Logo, quando houver comprovadamente a necessidade de se ter boa forma física numa profissão, ela deve ser cobrada. As agentes têm que pular muro com o braço, prender pessoas com o braço e atirar com o braço, e não podem ter medo disso. Os companheiros de corporação precisam acreditar e confiar que elas conseguem. E mais importante, a gente precisa confiar que consegue. Se forem consideradas as diferenças de força física, de maneira proporcional, os testes físicos, inclusive a barra fixa, devem ser aplicados sim. Se forem consideradas as circunstâncias da missão e os fatos que envolvem, as policiais femininas devem ir a campo sim. Agora, nenhum perito devia passar por teste físico para ser perito, nem os meninos e nem as meninas. O MP devia ter considerado a necessidade de teste físico at all nesse concurso.

Uma observação rápida sobre o intuito deste blog: o feminismo liberta todo mundo, galera. Liberta a gente dessa besteirinha de princesas que precisam ser salvas e tira o peso das costas dos homens de terem que salvar, sustentar e proteger a gente. Ele ensina que não tem sentimento certo para um sexo determinado sentir. A única obrigatoriedade é respeito! Homem pode chorar, ser sensível, ter medo. Mulher pode ser lutadora de MMA e até modelo de cueca se quiser (ao contrário do que diria o Joe do Friends). Sério mesmo, feminismo é bonito demais porque é uma filosofia que prega liberdade!

6 comentários:

  1. Também desconfio muito desse povo que essencializa e diz que mulher tem mais medo, o que só serve para perpetuar a desigualdade. Eu discordaria mesmo de que as mulheres são naturalmente mais fracas e lentas. Li um texto em que o autor defende que o conceito de força também é cultural, já que os homens são, desde pequenos, muito mais estimulados nesse sentido que as mulheres. Ele também apresenta os vários componentes do conceito genérico força e usa dados do exército norte-americano para mostrar como isso é relativo, inclusive que 10% das mulheres têm mais capacidade de levantar peso do que os 10% dos homens de de menor desempenho. Por fim, ele diz que, comparado com outras espécies próximas de nós, homens e mulheres têm relativamente pouca diferença de tamanho. Orangotangos e gorilas machos, por exemplo, têm mais menos o dobro de tamanho das fêmeas. Os seja, ideias de fraqueza e delicadeza também são culturalmente construídas e reforçadas. Fonte: http://www.warandgender.com/wggendif.htm

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  2. Então, flor, isso é uma boa notícia. Mas vc acha que devia ter teste físico igual pro dois então? Eu acho que devia ter teste físico, mas devia ser proporcional.

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  3. Concordo com você e sou a favor de medidas imediatas para problemas imediatos. Só queria reforçar que é importante questionarmos noções tidas como naturais, quando na verdade elas são culturais e históricas. Se conseguirmos desestabilizar essas noções, um dia o teste poderá ser igual para os dois sexos.

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  4. Acho que vou repetir o que o texto diz, mas não custa, né? Olha só o que fazem conosco desde crianças: dizem-nos 'não vai, é perigoso'; 'não corre, você vai se machucar'; 'não sobe, você vai cair'. Colocam-nos na aula de balé ou de pintura. Fazem-nos crer que sempre teremos aqueles braços fortes pra onde voltar se nos ameaçarem. Os meninos, ainda que ouçam coisas correlatas às escritas acima, são bem mais ativos fisicamente (jogar futebol e aprender artes marciais quando criança faz bastante diferença no desenvolvimento dos músculos e da força). Além disso, os meninos são instados a enfrentar seus medos, sempre. As mães precisam AGORA criar seus filh@s instando-@s a enfrentarem seus medos e a exercitarem-se, sem diferenciações.
    Agora, a parte da teoria da conspiração: se há menos mulheres peritas, será que podemos de fato garantir confiabilidade nos casos que envolvem violência contra a mulher?

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  5. Leiam o livro "O mito da fragilidade" de Collete Dowling, lá ela destrincha esse tema e demonstra como culturalmente as meninas são educadas e condicionadas a se considerarem frágeis e incapazes fisicamente.

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  6. Roberta, não concordo com você no quesito lenta. Eu sou sempre fui uma mulher muito ágil, desde criança, nos esportes, nas corridas, no volante, no teclado e principalmente no raciocínio. Concordo que temos menos força física que os homens, pois, isto é indiscutível, mas, lenta? Eu não! Não sou não! (como diria Agnaldo Timóteo) kkkkk

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