Liberdade de opressão


por Roberta Gregoli
Não posso mais falar o que quiser sem ser criticado
Já falei um pouco das brigas que tenho comprado por não ficar quieta quando ouço piadas preconceituosas. Daí quem contou a piada normalmente lança mão da carta curinga da liberdade de expressão. Engraçado mesmo é que a esses defensores ferrenhos da liberdade de expressão não ocorre que - surpresa - o direito não é só deles. Eles têm o direito de falar o que quiserem (menos incitar o ódio, que é, sim, crime) assim como os outros têm o direito de reclamar, registrar denúncias se for o caso de preconceito, etc. Não parece óbvio?

Discurso de ódio não é
liberdade de expressão

Pois é, mas são diversos os casos que mostram que a liberdade de expressão é mobilizada para escamotear a revolta de uma porção da população que nunca teve que se haver com os limites dos seus privilégios. Um caso exemplar é o do comediante Marcelo Tas, que, apesar de fazer um programa que critica deus e todo o mundo, não aceitou ser criticado e - pasmem - ameaçou processar uma blogueira. Seletiva essa tal liberdade de expressão.

Numa distorção perversa, a liberdade de expressão, tão cara à democracia, é usada para defender opressores e atacar progressistas

O mesmo se aplica aos tchuchucos Danilo Gentili e Rafael Bastos. Como diz este ótimo texto, o politicamente incorreto que os dois "comediantes" tanto proclamam beira o fascismo.


Padrões duplos

Rafael Bastos foi demitido, não pela piada do estupro, mas pela piada contra Wanessa Camargo. Por quê? Porque o marido dela é amigo da galera do CQC. Veja mais detalhes neste brilhante post. Piada contra mulheres pode, contra a esposa de amigo (poderoso) não pode.

Danilo Gentili pede desculpas pela piada antissemita, mas o caso da piada racista é arquivado, e até onde eu sei não houve retratação pública. Contra negros pode, contra judeus (de Higienópolis) não pode.

É isso que em inglês é conhecido como padrões duplos (double standards), isto é, quando uma regra ou código de conduta é aplicado de maneira inconsistente dependendo dos atores sociais envolvidos. O conceito de padrões duplos é, aliás, muito útil nos estudos de gênero:

Uma época eu achei que era uma vadia, mas então me
dei conta que só estava agindo como um homem
Muitas vezes o conceito de padrões duplos é usado impropriamente: "ah, se tem camiseta '100% negro', por que não '100% branco'"? Isso não é um padrão duplo, é babaquice. É como se indignar por não ter um acompanhamento para o seu caviar enquanto o vizinho morre de fome. Como já falei um pouco aqui, não é preciso afirmar identidades privilegiadas simplesmente porque o mundo já é feito por e para elas. Apesar de toda a vitimização dos "pobres" "comediantes" em questão, insistir em afirmar essas identidades é uma maneira perversa de afirmar a opressão

9 comentários:

  1. É aquela velha história, a liberdade de expressão de um termina quando começa a do outro...

    ResponderExcluir
  2. Na minha opinião, a liberdade de expressão deveria ser claramente delimitada, de forma a proteger grupos historicamente oprimidos. Simone de Beauvoir disse uma vez que se os homens não disserem o que pensam de mau sobre mulheres, em duas gerações terão deixado de pensá-lo. Lembro-me de quando eu era criança e fazer piadas sobre negros era normal - hoje em dia não as faço e nem as penso e meu mundo não ficou menos engraçado por isso. Na verdade, ele ficou melhor, mais justo.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. VC é facista.

      Excluir
    2. Afirmação categórica sem possibilidade de diálogo... Quem é fascista?

      Excluir
    3. "Fascista" não é quem afirma, mas quem nega o direito do outro de fazer alguma afirmação unicamente baseada na sua visão do que é o "bem". Substitua na frase dela a palavra "mulheres " por qualquer outra coisa e vc vera a lógica autoritária do argumento. Troque também a palavra "mal" por" "bem" na parte "pensam de mau", e veja o que acontece.
      Não estou criticando as mulheres ou qualquer outro grupo apenas apontando que a lógica argumantativa usada justifica qualquer tipo de imposição autoritária.

      Excluir
    4. Me admiro da criatividade dos trolls....conseguem distorcer tudo o que escrevemos ou falamos em discursos vazios acusatórios..."penas apontando que a lógica argumantativa usada justifica qualquer tipo de imposição autoritária."...e ainda escreve errado.Querer um mundo justo é facismo? que seja então,sou mega-facista,vou sempre reclamar de machismo.Não sei o que esses caras tem na cabeça que se caham com o direito de fazer violências contra nós e invalidar nossas revolta com bostas deste nível."Não estou criticando as mulheres ou qualquer outro grupo apenas"..típico também..eles nunca estão atacando nada,nós é que somos loucas paranóicas.

      Fico me perguntando ate quando vamos dficar nessa babquice de dialogar com criminosos machistas e nos empenhar mais para transformar misoginia em crim epunível por lei.

      Excluir
  3. Vc não precisa nem dizer que é "mega-facista", seu discurso de intolerância já demonstra isso. Engraçado que esse blog diz que vai justamente derrubar preconceitos contra o feminismo e as feministas, mas tudo que consegue fazer é confirmar que o feminismo é uma ideologia de viés tão totalitário como o nazismo, o fascismo e o comunismo. Eu sei que é mais fácil acusar quem discorda de vc de criminoso, machista e misógino do que dialogar, essa é a estratégia perfeita de quem não tem argumentos. Vc me acusou de fazer violência contra vcs? vcs quem? tem como provar que eu cometi alguma violência conta alguém? acusar é muito fácil e mostra sua leviandade. Se vc acha certo censurar pessoas que pensam diferente de vc, como pode reclamar se alguém quiser censurar vc?
    Liberdade de expressão não pode servir só para alguns. é fácil me chamar de babaca e dizer que eu falei bosta não é? Difícil é argumentar racionalmente.
    Pense na fala da tagg, quem vai decidir o que é falar bem ou falar mal de mulher? Será que a Valesca Popozuda fala bem das mulheres? E uma líder evangélica conservadora? Qual das duas seria censurada? Ou seriam as duas? Pense um pouco, eu te garanto não dói nada.

    ResponderExcluir
  4. Sem tempo para postar meu comentário, estou no aguardo.

    ResponderExcluir
  5. Bem, eu fiz um comentário sobre o anônimo do dia 19/08, pelo jeito foi perdido. Não vou recriar o comentário. Apenas quero dizer que esse anônimo que aparentemente é uma mulher vem exatamente confirmar a lógica fascista, já que o fascismo sempre foi para o "bem". Toda a censura é para o bem. Vc indiretamente me acusa de ser um criminoso machista e que com esse tipo de gente não deve haver discussão. Fascista não discute, afinal ele defende o bem, quem não concorda com ele defende o mal e deve ser punido, simples assim. Vc diz eu sou "mega-facista,vou sempre reclamar de machismo". Eu gosto do fato de vc poder reclamar do machismo, gosto do fato das pessoas poderem reclamar de qualquer coisa, e por isso odeio o fascismo, o nazismo, o comunismo e qualquer outra doutrina que proíba as pessoas de simplesmente pensarem diferente.
    Eu deixei uma pergunta no meu outro comentário. No caso de uma sociedade que proibisse se falar mal de mulheres Valesca Popozuda seria censurada? Uma líder evangélica que defendesse a castidade seria censurada? Uma pessoa que defendesse a regularização da profissão de prostituta seria censurada? E uma que defendesse a criminalização da prostituição seria censurada? Poderíamos fazer piadas com religiosos, mas com mulheres não? Quem definiria isso? Quem seria o dono da verdade que julgaria o que é esse falar "mal"? Quem define o bem e o mal? O governo dos nossos maravilhosos políticos? Algum funcionário público? Ou algum puxa-saco dos políticos? Alguma ONG que mama nas verbas públicas? Os Movimentos os movimentos sociais bancados com dinheiro do Estado e de um partido político?
    Fascismo pouco é bobagem.

    ResponderExcluir