Professoras, educadoras e alunas:


Reflexões derivadas do livro Como se ensina a ser menina de Montserrat Moreno

por Mazu


Eu tive uma mãe feminista. Por algum tempo. Nada de ruim aconteceu com a minha mãe, ela vai muito bem de saúde, já do feminismo dela, não consigo dizer o mesmo. Agora que ela está chegando aos sessenta anos, ela está bem menos feminista, às vezes nada feminista, mas de qualquer forma, ela foi uma figura muito importante na minha constituição feminista.

Ela foi, provavelmente, uma das primeiras mulheres sindicalistas na minha cidade de 180 mil habitantes no interior paulista, bovino, ruralista e patriarcal. Certa feita, recebeu uma ligação de um dos dirigentes pelegos do sindicato (palavras dela) que não se identificou, dizendo que uma mãe de família não devia deixar suas filhas pequenas sozinhas por tanto tempo, era perigoso.

Enfim, lembro-me que minha irmã e eu podíamos brincar de tudo, de todas as formas, com os meninos ou meninas, futebol ou boneca, nenhum impedimento. Lembro-me de mamãe ter se recusado expressamente a colocar a gente no balé porque disseram para ela que faria bem para a delicadeza das meninas.

De todas as lembranças da infância e feminismo falecido da mamãe, existe uma que me marcou muito. Na quarta série, a professora me pediu que ficasse para falar com ela depois da aula, eu fiquei bem surpresa, já que sempre fui meio nerd e não dava trabalho na escola. Fiquei mais surpresa ainda quando a professora me disse que eu não estava me sentando de uma forma adequada, como uma menina deveria sentar, de pernas fechadas. Sério, fiquei muito constrangida e desnorteada com o que aquilo poderia significar, e, em especial, com o complemento da professora: sua mãe não te ensinou? Não, não tinha me ensinado não. E quando falei com mamãe a respeito disso, ela mais do que depressa foi comprar briga com a professora. De qualquer maneira, eu achei por bem sempre sentar com as pernas fechadas. Só muito depois, fui entender o que aquilo tudo queria dizer. E muito mais depois, fui me encontrar no livro da Montserrat Moreno, Como se ensina a ser menina, sobre o sexismo na escola.

Tenho muitas notas e escritos sobre esse livro, como não os encontro na bagunça da minha recente mudança, vou deixar aqui um vídeo da Montserrat. É uma forma de retomar a discussão levantada pela Júlia sobre educação e sexismo em outro post. Mas, volto logo a falar dele, um livro curto e rápido e fácil de ler, mas que rende tantos estalos, tantas ideias e tantas quedas de ficha mesmo.

Este é o vídeo delicioso com a autora sobre a repetição de padrões e seu sentido (ou a falta dele) na educação, assim como o papel do amor e afetividade para @s educand@s. Como o vídeo está em espanhol, estou trabalhando em uma legenda, assim que ficar pronta, dou notícias no blog. Mas até o final da semana, deve estar pronta.

3 comentários:

  1. ai, também sempre sofri com essa história de fechar as pernas na hora de sentar(e eu sempre usei short!). eu fico pensando na doença dessa sociedade, 'ameaçada' pela buceta virgem de uma criança. na doença dos homens, que não têm respeito nenhum pela mulheres quando nem ainda são mulheres, e dizem que elas é que tem que se dar ao respeito.
    Tággidi
    ps: Mazu, fiquei com vontade de saber do desfeminismo da sua mãe!

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  2. Pode deixar, ainda vou contar essa história. ahahahaha!

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  3. Que bom que a lição da professora não pegou, né, Má? Beijos!

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