Representadas na real


por Roberta Gregoli

Não dá para ser o que você não vê
O post anterior rendeu e foi muito legal ver os comentários, um questionando as influências estrangeiras e ambos de garotas magras. Aqui há um outro depoimento seguindo a mesma linha, sobre a dificuldade de ser magra. Primeiro acho que, neste caso, o padrão não é duplo como o título do post sugere, mas sim inatingível. Também não acho que seja o caso de se opôr a iniciativas estrangeiras porque, na realidade, a luta é a mesma, ainda que os padrões variem mais ou menos de país para país. Explico melhor.

Talvez eu tenha dado a entender que o padrão era em relação à magreza, mas não era a só isso que eu me referia. O fato é que o padrão é inalcançável e ponto. Se você é gorda, tem que emagrecer; se é magra, tem que ter curvas; a pele tem que ser perfeita (sem espinhas, marcas, praticamente sem poros); o peito tem que ser grande e, se for grande, tem que ser de outro formato; ter bunda mas não ter culote... O padrão é irreal simplesmente porque, quando se trata da aparência das mulheres, nunca está bom. E o que vemos como mulheres bonitas em revistas que ditam o padrão são imagens geradas por computador, não mulheres reais. 

Ou seja, as variações do padrão não importam porque é impossível atingi-lo. Claro, senão não teríamos que comprar mais nada. Em outras palavras, consumimos mais para tentar alcançar o inalcançável. Este vídeo ilustra bem este tipo de marketing sexista:


Não precisa nem falar inglês para entender que a quantidade de produtos que uma mulher precisa para "ser feliz" é muito maior que para o homem (segundo o vídeo, "se barbeie e fique bêbado, porque você já é demais"). O vídeo também ilustra bem a maneira como o marketing sexista joga com as inseguranças femininas, das rugas à incontinência urinária, passando pela menstruação (dá-lhe patologização do corpo feminino).

Tal exploração das inseguranças femininas vende muita roupa, maquiarem, escova, babyliss e, num número exorbitante de casos, cirurgia plástica. Segundo a ISAPS (Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética), o Brasil é o segundo país do mundo com o maior número de cirurgias plásticas: foram mais de 1,5 milhão em 2009, o que significa que 1 em cada 6 procedimentos cirúrgicos feitos em território nacional foram de ordem estética. 

Não que os homens não façam cirurgias estéticas ou sofram tentando se enquadrar em padrões de beleza (mencione a palavra "calvo" para um homem que passou dos 30 e comprove), mas a escala é claramente outra. Isso porque as mulheres são julgadas primariamente pela aparência física: de atrizes a políticas, é claro que o padrão é duplo em relação aos homens
Homens e mulheres em desenhos animados
Homens também têm mais opções de identificação na mídia (vejam a figura acima), justamente porque o que conta essencialmente no caso deles não é a aparência física. E, como o pessoal genial do Miss Representation sempre repete, não dá para ser o que você não vê. No caso dos padrões de beleza especificamente, não dá para se aceitar sem se ver representada - na real.

2 comentários:

  1. Os homens não são fissurados por sua própria aparência, como o são as mulheres. Se elas são neuróticas para parecerem perfeitas, é para agradarem umas às outras, competirem entre si. Homens não reparam em unhas, maquiagem, sapatos, quem repara, critica e aponta são as outras mulheres.

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  2. E por que será que os homens não reparam nessas coisas?

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