O machismo vai te comer


por Roberta Gregoli


Num post anterior descrevi como mesmo as mais bem-intencionadas das feministas acabam caindo nas armadilhas sutis do sexismo. Também argumentei que não devemos nunca culpar as mulheres porque o machismo está em todo lugar e fomos criadas com ele, não raras as vezes até mesmo dentro de nossas famílias. O nome carinhoso que eu dou para isso é lavagem cerebral cultural. E é preciso muita reflexão e paciência nessas horas - com nós mesmas e com o próximo.

Deve ter uma parcela de leitor@s que lê esse primeiro parágrafo e pensa: aí, mania de perseguição. Eu sou tão descolad@, tod@s @s meus amig@s são descolad@s, minha família é prafrentex, eu não fui criad@ assim porque essa de machismo não rola no meu meio.

Mas você vai ao cinema, certo?

Há um teste muito interessante para filmes chamado teste Bechdel*. Para passar no teste, um filme precisa cumprir 3 critérios simples:

1) ter pelo menos duas mulheres que tenham nome
2) que conversem entre si
3) sobre um assunto que não seja homens

É incrível a quantidade de filmes que não passa no teste -- vale a pena começar a prestar atenção quando for ao cinema.

O teste Bechdel surgiu com este quadrinho, criado por Alison Bechdel em 1985

É como se, não bastasse não haver espaços de representação para as mulheres (coberto pelo primeiro critério), quando eles existem são sempre colocados em relação aos homens (critérios 2 e 3). Somos condicionadas a sempre considerar os homens e, mais do que isso, a nos pensarmos em relação a eles.

Esse foi só um exemplo dentre vários que poderia citar. Você pode fazer outros testes também: veja o número de mulheres que trabalha na sua empresa e os cargos elas ocupam; compare o número de mulheres na sua sala de aula com o número de professoras (cursos de Letras são ótimos para isso, porque em geral a classe é majoritariamente feminina e a porcentagem muda completamente quando você olha para o quadro de professores e para os cargos mais elevados de chefia do departamento); preste atenção nas atitudes sutis do dia-a-dia, desde as cantadas desrespeitosas - que na maioria das vezes são "só de brincadeirinha" - até ser ignorada ou ridicularizada simplesmente por ter uma opinião e expressá-la.**

O machismo é um bicho papão, que perversamente aprendemos a respeitar desde pequen@s. Por isso proponho aqui, de maneira metafórica, a máxima católica - e guardem este momento, porque não é sempre que isso acontece em blogs feministas: orai e vigiai. Em termos laicos: reflita e esteja atent@, sempre.

Afinal, mulheres e homens, não se enganem: o machismo está em todo o lugar e, se você deixar, ele vai te comer!


* Obrigada à Crocomila por compartilhar o vídeo do Feminist Frequency, que é excelente.
** Como levantou a Patti, querida leitora aqui do blog.

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