Que educação dar a seu filho?


por Tággidi Ribeiro


Esse post não diz como vocês (homens e mulheres) devem educar seus filhos. Mas certamente apontará como não educar.  

Para começar, quero me dirigir às mulheres (homens, continuem a leitura, vocês são a contrapartida das lembranças que se sucederão). Pergunto: mulheres, quando vocês sofreram as primeiras investidas masculinas? Quando foram desrespeitadas - tiveram seus corpos invadidos de alguma forma - pela primeira vez?

Eu me lembro de que na infância eu já era assediada por seres do sexo masculino. Eles eram tão criança quanto eu e, por isso, durante grande parte da minha vida, atribuí o comportamento agressivo dos meninos nessa fase específica da vida como coisa de criança, de gente que ainda não aprendeu a se comportar.

Hoje vejo o erro desse ângulo de visão. Na verdade, aqueles meninos já haviam aprendido a se comportar e o que faziam era fruto de seu aprendizado de como tratar uma menina. E o que eles faziam? Bem, me lembro de diversas situações, todas análogas às do mundo adulto. De estar num clube, por exemplo, e me passarem a mão - não um fdp pedófilo, mas uma criança da minha idade (6, 7 anos). Lembro-me de que muitas vezes eu e minhas colegas tivemos nossas saias levantadas, quando os meninos não davam um jeitinho de espiar nossas calcinhas. Lembro-me de ser chamada de gostosa por um menino da minha turma que me olhava como, descobri depois, um ator de filme pornô chinfrim olhava pra mulher que ele ia comer - e nós tínhamos só dez anos. 


Ainda aos dez, cansada de ser assediada por esse mesmo colega e completamente sozinha nisso porque diziam os adultos que se ele fazia era porque eu dava corda, porque eu não me dava ao respeito (hein?), resolvi pegar ele de porrada. Passei uma aula inteira mandando bilhetes em que dizia que ia acabar com ele e um amiguinho dele era quem respondia, dizendo que era o outro quem ia acabar comigo. Eu o esperei no fim da aula e ele tinha tanto medo que não fez nada. Eu o chacoalhava pelos braços e gritava: "Você ainda vai fazer isso comigo?" Ele não conseguia responder porque, acredito, jamais imaginou que uma menina pudesse se comportar daquela forma. 

Enfim, como eu dizia, erramos ao querer encerrar esse tipo de falta de respeito na infância, na "falta de educação" que consideramos normal nessa etapa da vida. Também não podemos julgar que tal comportamento é natural, sendo expressão da sexualidade infantil. Com o tempo descobri, acompanhando o crescimento de meninos muito próximos a mim, que eles são ensinados a desrespeitar as meninas - nas rodinhas masculinas, homens em formação ouvem seus exemplos (pais, tios, vizinhos) falarem das mulheres como corpos a serem devassados, importando ou não sua vontade (como espiar, como encarar, como roçar, como forçar). Ora, aprendemos sobretudo por imitação. Penso que a TV ou a internet sejam influências menos relevantes que as falas não censuradas dos heróis de nossa infância.

Lembro-me de que um menino bem próximo, de "dentro de casa", um dia enfiou a mão no meio das minhas pernas, rindo, na frente de todo mundo, e eu gritei com todas as minhas forças. Tínhamos seis anos. O que EU ouvi dos adultos em volta?

- Deixa de escândalo.



 Não é "bonitinho".

3 comentários:

  1. Por que eles não tem vergonha de fazer essas coisas, hein?
    Eles não tem a noção de que estão fazendo algo errado? O conceito da vergonha, do pudor é ensinado desde tão cedo pra gente, se torna tão natural que eu não entendo como fucnciona isso na cabeça deles. Se eles tivessem a noção de que aquilo é errado eles fariam escondidos e não da frente de adultos. Mas eles não tem esse pudor. É assustador. Eu não consigo entender. Eu fui perseguida por um moleque quando tinha uns 11 anos. A gente dividia a mesma casa, época de férias, várias pessoas dividindo apartamento na praia. Ele ficava me dizendo um monte de absurdo. Estragou as minhas férias, meu natal e ano-novo. Eu tentava ficar perto da minha mãe o tempo todo pra ver se ele parava, mas era só ela se afastar 5 metros que ele aparecia saido do inferno. Nunca contei pra ninguém.

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  2. Pois é, Priscila, o blog tem sido um espaço super legal para compartilharmos experiências e encontrar pessoas que passaram por coisas parecidas. Daí a gente percebe o quanto, apesar de acharmos que o problema somos nós (os casos isolados), trata-se claramente de um problema estrutural. Obrigada por nos acompanhar!

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  3. Por que eles não têm vergonha de fazer essas coisas? Porque são encorajados a fazê-las. E a única coisa que nos dizem para nos 'proteger' é 'se dê ao respeito' (wtf is that?). Minha campanha é: ensinem seus filhos a respeitar e as suas filhas a lutar. Hoje em dia percebo o quanto essa educação da passividade é daninha para nós mulheres.

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