Fertilidade e valor da vida da mulher


por Tággidi Ribeiro

Só mesmo escrevendo um texto para um blog feminista a gente aprende certas coisas. Vou contar para vocês, então, o que eu aprendi esses dias sobre fertilidade e infertilidade. Só pra contextualizar, eu não saberia nada novo não fosse uma amiga ter mencionado discussão sobre um tal prazo de validade da mulher. É... pois é. Pra piorar a história, no dia seguinte leio uma reportagem f*d*p* relacionada ao tema, que você pode conferir aqui.

Bem, em primeiro lugar, todo mundo sabe que 'mulher não é produto pra ter prazo de validade', como disse minha amiga. Ou não? De qualquer forma, o ideário machista que emerge quando alguém tem a coragem de materializar esse tipo de expressão é o de que uma mulher é:

1) uma existência cujo sentido é a maternidade;
2) uma existência cujo sentido é ser sexualmente atrativa para os homens;
3) uma existência cujo sentido se perde após os 35 anos.

Olha, eu realmente não sei, mulheres, mas se eu fosse um homem e me dissessem que a minha vida só vale até os 45 anos porque meu sêmen envelhece, o que pode causar certas doenças nos filhos que eu venha a ter, sinceramente, eu ficaria irado ou simplesmente descartaria a questão. Porque eu, como homem, sei que a validade da minha existência não se resume a ter ou não filhos saudáveis e muito menos a ter ou não filhos - quer dizer, mesmo que eu nunca tenha um filho, minha vida tem sentido, o mesmo frágil e efêmero para todo ser humano.
 
 Eu não sou um homem, mas eu já sei que minha vida tem sentido mesmo que eu nunca tenha um filho. Eu já sei que eu sou um ser humano tanto quanto.

Sendo homem, eu também ficaria p* da vida caso me dissessem que já não valho mais nada por não ser sexualmente atraente. Quer dizer, como alguém pode pensar que a vida de um homem não vale porque ninguém (em 7 bilhões de pessoas) quer fazer sexo com ele? Como alguém pode mesmo pensar que um homem de qualquer idade não seja sexualmente atraente? Teria que ser alguém insano ou picareta pra pensar esse tipo de coisa.

Eu sou uma mulher, e eu já sei que minha vida tem sentido mesmo que nenhum homem queira se deitar comigo. A minha consciência me diz que a vida dos seres humanos (e eu sou um ser humano, repito) não comporta a limitação do sentido. Vale a vida d@ eremita, também vale a d@ popstar.

E fora ter de dizer o óbvio sobre o sentido da vida humana e ter de reafirmar que mulheres são seres humanos, por escrever nesse blog aprendi, como disse, sobre fertilidade e infertilidade. Algumas informações interessantes:

1) os seres humanos são das espécies menos férteis do reino animal. Temos apenas 20 a 25% de chance de gerar um novo embrião a cada nova relação sexual. 
2) para suspeitar de problemas de infertilidade, um casal de até 35 anos deve tentar engravidar durante 12 meses (é isso mesmo, 1 ano).
3) homens e mulheres envelhecem. Quanto mais velhos, mais chances de não ter filhos ou de ter filhos não saudáveis, mesmo que o parceiro seja jovem.

Depois de escarafunchar o assunto, me peguei pensando (não sei se corretamente) que as pessoas deviam se preocupar menos talvez com a capacidade de ter filho (já somos 7 BILHÕES, adotem) e mais com saber envelhecer (vivemos/envelhecemos cada vez mais).  Vivemos tanto hoje que é visível a nossa falta de lugar no mundo. Esse lugar precisamos conceber e construir.

3 comentários:

  1. Sandra Seabra Moreira12/08/2012, 14:50

    Bem, eu tive oito filhos, mas concordo plenamente. Tem muita criança no mundo precisando de carinho e amor. Por outro lado, com o individualismo super em alta, tem muita gente tendo filho ou para "cumprir tarefa" ou por narcisismo. Se for assim, é melhor não ter.

    Sim, estamos diante do desafio de preencher anos de vida a mais que ganhamos. Uma conquista da ciência médica que vai exigir o rompimento de trocentos tabus - em relação à mulher, em relação à velhice. Que incrível, não? Adorei a foto!

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  2. Eu preferiria, sinceramente, que as pessoas adotassem, embora também me bata um amorzinho ao pensar em um filho desejado de coração batendo dentro de mim. Daí a julgar que, quando não eu não mais possa ter filho biologicamente meu, minha vida acabou, não dá. Eu não sou a fêmea de cuja procriação a humanidade depende para continuar.

    E é isso, Sandra, temos muita vida. Toda cheia de sentidos, ainda que sem filhos.

    Também adoro a foto!

    Beijos,

    Tággidi

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  3. http://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/2012/10/mulher-de-61-anos-da-luz-casal-de-gemeos-em-santos-sp.html

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