Misoginia


por Roberta Gregoli

A ignorância inflamada pelo medo é igual a ódio
É muito difícil falar sobre misoginia sem correr o risco de ser interpretada como reprodutora de um discurso de vitimização, mas resolvi escrever mesmo assim por dois motivos: primeiro pela quantidade de amig@s, inclusive pessoas com alto nível de escolarização, que simplesmente não conhecem a palavra. Segundo porque esta semana recebemos nosso primeiro comentário abertamente ofensivo (já devidamente apagado). Até então havíamos recebido alguns comentários de crítica, que mantivemos publicados porque acreditamos no debate aberto desde que construtivo, o que não foi o caso do comentário referido, que era puramente agressivo e sem a possibilidade de qualquer debate.

Vamos, então, acertar nossos termos: misoginia é o ódio às mulheres. Simples assim. Dependendo da sua formação, pode parecer estranho que alguém possa simplesmente odiar mulheres, assim, de maneira genérica e sem mais. Eu mesma não entendo crimes de ódio, me parece uma coisa absolutamente alienígena. Mas, infelizmente, isso não quer dizer que eles não existam. Veja, por exemplo, os mascus sanctos e suas ameaças macabras e violentas

E há um claro componente de ódio nos casos de violência contra as mulheres, para além do machismo, que, por ser uma teoria de inferioridade, é o que permite que um homem se sinta no direito de agredir uma mulher, como se ela fosse de sua posse. Já escrevi sobre "humor" machista e, das categorias que criei, a terceira tem um claro elemento de misoginia também. Veja a ilustração dada pela imagem ao lado.

Gosto muito da figura no começo deste post porque ela contém os elementos básicos do ódio: o medo e a ignorância. Acredito de verdade que o medo seja o principal combustível para qualquer manifestação de ódio. Os motivos do medo podem ser os mais diversos: questões pessoais (os mascus que se dizem mal amados), sentimento de ameaça por ter os privilégios questionados e até medos inconscientes que eu deixo para Freud explicar.

O fato é que houve um estudo fascinante feito na Universidade de Georgia relacionando homofobia e desejo homossexual. Traduzo aqui o resumo:

Está a homofobia relacionada com excitação homossexual?
 Henry E. Adams, Lester W. Wright, Jr., and Bethany A. Lohr
Universidade da Georgia, EUA

@s autor@s investigaram o papel da excitação homossexual em homens exclusivamente heterossexuais que admitiram afeto negativo com relação a indivíduos homossexuais. Os participantes consistiram de dois grupos: um de homens homofóbicos (n = 35) e um de homens não-homofóbicos (n = 29), divididos com base no resultado apresentado por eles no Índice de Homofobia (W. W. Hudson & W. A. Ricketts, 1980). Ambos os grupos foram então expostos a estímulos eróticos de conteúdo sexual explícito através de vídeos heterossexuais, homossexuais masculinos e lésbicos, e a circunferência peniana dos sujeitos foi monitorada. Eles também completaram o Questionário de Agressividade (A. H. Buss & M. Perry, 1992). Ambos os grupos apresentaram aumento na circunferência peniana em resposta aos vídeos heterossexuais e homossexuais femininos. Apenas os homens homofóbicos apresentaram ereção em resposta ao estímulo homossexual masculino. Os grupos não divergiram em relação à agressividade. A homofobia está aparentemente associada à excitação homossexual, a qual o indivíduo homofóbico nega ou não está ciente.

Não é preciso dizer mais nada. Só fica a pergunta: e os misóginos, têm medo de que?

2 comentários:

  1. Respondendo: Rejeição, talvez, algum complexo de inferioridade. De qualquer forma, deve haver algum desequilíbrio de alguma ordem. Eu convivi alguns anos com um sujeito bem misógino, ele tinha um mega coração partido. Não que justifique ou seja justificável, mas, eu suponho que boa parte dos misóginos tenha um histórico bem grande de rejeição.

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  2. Pois é, tem que ter alguma coisa - obviamente algo que tem menos a ver com as mulheres do que com o sujeito que odeia as mulheres!

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