Nós contra nós mesmas


por Mazu


Aline Moraes fez uma taxista na novela O Astro
A gente já mencionou aqui de diversas formas que as coisas na sociedade se repetem meio que mecanicamente, a gente faz algo porque alguém fazia antes e assim velhos preconceitos e discriminações se apresentam em comportamentos e fenômenos que nos parecem "normais" porque, afinal de contas, não os conhecemos ou vimos de outro jeito.

Estou eu chegando à minha cidade natal para uma visita familiar e decido, no aeroporto, pegar um táxi. E olha só. A taxista era mulher! Nunca em todos esses anos nesta indústria vital, isso tinha acontecido antes.

Aproveitei o momento e manifestei meu espanto ao que ela respondeu de forma muito simpática: sério? Em Araçatuba, somos oito mulheres taxistas.

Elaine Cristina, em 2007,
em um teste com cinco homens tirou a maior nota.
Não sei bem dizer se isso é bom ou ruim porque não faço ideia de quantos taxistas existem em Araçatuba, mas deve ser pouco, de qualquer forma, me fez pensar.

Contei para ela sobre nosso blog (espero que ela nos encontre e leia o texto sobre ela) e fui despejando alguns números e perguntas para ela. Primeiramente, ela ficou bem espantada com alguns números, depois, me contou que teve dois incidentes de preconceito por ser mulher que foram claros e explícitos em oito anos. (Isso eu acho que deve ser pouco). Num dos causos que ele me contou, depois de o cara descer do táxi porque “onde já se viu uma mulher dirigir táxi quando deveria estar em casa, cuidando do lar”, ela me disse: sei lá, o cara deve ser árabe, né? Falei para ela que, infelizmente, não era "privilégio" árabe o tal comportamento.

Conversa vem e vai, ela me disse que na verdade tinha desistido da carreira de policial por conta do marido e que, agora, o relacionamento acabou e ela ficou sem a carreira que tanto queria (para ser policial militar existe um limite de 30 anos no ato da inscrição para o concurso, e ela tem mais). Aparentemente, o ex-marido achava um grande problema sua mulher ser policial e ela levou de boa e desistiu. De toda forma, disse que não se sentia magoada nem por isso, nem pelos clientes que manifestaram o machismo, ela mesma não gostava de mulher em determinadas profissões e me confessou que nunca tinha ido a uma ginecologista do sexo feminino. Mas que achava lindo de ver as caminhoneiras. Eu ri, o papo estava bom, mas chegamos à casa dos meus pais e tive que descer.
Eleusa, com 1, 50 e 50 Kg,
dirige a maior carreta do mercado.

A conversa com ela me fez botar reparo em duas coisas: como eu nunca tinha notado que taxista era uma profissão masculina (!!!) e como a gente (mulheres) é contra a gente mesmo.

Isso de ser contra a gente mesmo vai desde concordar com o parceiro ou progenitor sobre a profissão, passa pelo achar normal que tal profissão seja masculina e vai até não confiar em nós mesmas em determinadas profissões.

Sério, meninas, se nós não somos por nós, quem vai ser?

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