E se sua irmã abortasse?


por Roberta Gregoli

Você iria visitá-la na cadeia?




Demorou mas juntei energias para abordar um assunto potencialmente sensível, porém essencial ao feminismo: o aborto. A primeira coisa que precisa ser esclarecida é que não existe feminista que seja "a favor do aborto", o que existe são pessoas contra a criminalização do aborto, o que é totalmente diferente. Nenhuma feminista quer que o pessoal saia por aí abortando... Mas também - e é esse o centro da questão - não quer que nenhuma mulher vá para a cadeia por interromper uma gravidez. Pense nisso: se você é "contra o aborto", você é a favor que mulheres sejam presas por praticá-lo.

By Laerte. Neste país NÃO se respeitam as decisões pessoais.
Mulheres assim são presas todos os dias.

E tem muita gente que diz que essas mulheres devem ir para a cadeia, sim. É que a discussão em torno do aborto é tão primária - alguém já viu algum debate decente, com um lado a favor e outro contra discutindo a questão? - que se resume a demonizar essas mulheres. Elas são colocadas como monstros que praticaram um ato criminoso e merecem pagar por ele. Acho que não é preciso discorrer sobre o papel da religião nessa linha de pensamento.

As coisas se tornam bem mais complicadas quando entendemos a dimensão da questão. Este mês foi concluído de maneira confiável o que até então eram estimativas: 1 em 5 mulheres de até 40 anos já praticaram aborto(s). Veja este ótimo vídeo, que, apesar de estar com os números desatualizados, vale muito a pena por traçar o perfil, surpreendente para alguns, da mulher que aborta:


Faça então um exercício bem concreto: saia na rua e conte 5 mulheres, uma delas já abortou. Pense em 5 mulheres da sua família. Uma delas já abortou. Talvez sua irmã ou sua mãe já tenha abortado. Mais difícil pensar em monstros e "assassinas", certo?

Um debate sério sobre o aborto nunca pode ser preto no branco: vida e assassinato, vilão (sempre vilã, infelizmente) e mocinha. Primeiramente, não consigo imaginar uma mulher optando pelo aborto de maneira leviana ou impensada, como muitos dizem num tom absolutamente cruel ("se liberar, aí ninguém mais se previne mesmo", "daí 'a mulherada' vai sair por aí abortando"). Trata-se de uma decisão extremamente difícil e dolorosa, e essa dor nunca deve ser menosprezada ou diminuída. Muitas vezes o parceiro não apoia a gravidez, ou mesmo encoraja o abortamento - este vídeo do filme Antonia (Tata Amaral, 2006) ilustra bem a situação - mas, caso descoberto, só a mulher vai para a cadeia, o que, vamos combinar, é uma tremenda injustiça por si só. Até onde me explicaram nas aulas de biologia, é preciso um homem e uma mulher para que haja a fecundação.


E vale salientar que a lei do aborto no Brasil na maioria das vezes só é, de fato, levada a cabo no caso de mulheres pobres e negras, como o vídeo acima coloca. Como dizem, se os homens engravidassem o aborto já seria legalizado há tempos. E eu vou mais longe e aposto que também já teria sido legalizado se mulheres brancas de classe alta fossem de fato presas por abortarem.

Numa perspectiva global, o mapa das leis do aborto deixa claro o alinhamento ideológico do Brasil com os países mais religiosos e conservadores do mundo, em total oposição aos países desenvolvidos.

Verde: sem restrição ou motivo, vermelho: somente para salvar a vida da mulher ou totalmente proibido.
Veja mais detalhes aqui.

Este é só o começo de um assunto que rende muito pano para manga e que deve continuar a ser discutido - e muito - até que as mulheres brasileiras finalmente conquistem o que, na verdade, é um direito: direito de planejar suas famílias, de planejar sua vidas, direito a ter controle sobre o próprio corpo, direito reprodutivo, enfim.

Mantenham suas opiniões longe dos nossos úteros

50 comentários:

  1. Ótimo texto, parabéns.


    Eu sou a favor da descriminalização, mas mesmo assim fiquei pensando nas minhas tias, primas, amigas e familiares. Imaginando de forma superficial, é díficil acreditar que alguma delas tenha abortado. Mas a pouco tempo fiquei sabendo que uma dessas tias, super católica atualmente, tentou abortar quando engravidou de uma das minhas primas, mas não conseguiu. Isso me faz pensar que as coisas vão muito além das aparências. Se ela, que é super católica, já tentou, imagina as outras.

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  2. Obrigada pelo comentário, Lais, e por acompanhar o nosso blog! Temos também uma página no Facebook, caso ainda não conheça: https://www.facebook.com/Subvertidas

    Abraços!

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  3. Olha isso, Rô: http://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/bbc/2012/09/20/mulher-descobre-doenca-genetica-rara-apos-perder-sete-filhos.htm
    Para mim, essa mulher que engravidou tantas vezes, mesmo sabendo que seus filhos não teriam/teriam poucas chances de sobreviver, me causa espanto e a sensação de 'algo muito errado', o que qualquer mulher que tire um filho pela impossibilidade de criá-lo bem não me causa...

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  4. Engravidar tantas vezes sabendo que vai perder o bebê seria um masoquismo sem tamanho! Mas pelo que entendi ela não sabia que tinha a doença até agora, certo?

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  5. Na verdade, após o terceiro filho morrer, os médicos levantaram a hipótese de que houvesse alguma doença na família. Descobriram que a mãe e outras mulheres também haviam perdido filhos pequenos e tudo. Mesmo sem saber que doença tinha, ela engravidou outras quatro vezes. Essa mulher não abortava, ela tinha filhos que sabia que provavelmente morreriam em pouco tempo.

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  6. Pelo amor de Deus, como pode ter ser humanos tão crueis nesse mundo, matar um ser, que não pediu pra vim ao mundo, mas se veio é pq Deus concedeu, e quem são essas mulheres sem sentimentos, sem coração, sem amor, pra aceitar uma covardia e uma crueldade dessa.
    na hora de fazer ninguém para pra pensar ne,é tudo muito bom, muito gostoso, mas depois que pega uma gravidez, ai vai matar,pq não quer ter responsabilidades, certo que tem mesmo muitas crianças nas ruas, abondonadas, mas mesmo assim, essas crianças vão crescer, e muitas delas conseguem sim ter uma oportunidade de uma vida digna, nesse mundo, e ningém tem o direito de inteferir na vontade de Deus, uma vida que só ele tem o poder de dar.
    quem é a favor de uma crueldade dessa, é um ser cruel, sem sentimentos e assasinos frios e covardes.E se hoje estão a favor é porque já nasceram e infelismente a mãe não fez essa brutidade tbm, assim teria impedido de vim ao mundo monstros assim como essas mulheres que lutam por esse direito. totalmente contra ao aborto.
    vida sim, aborto nãoooooooooooooooooo!!!!!!!!!!!!

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    1. Bitch, please. As crianças abandonadas e nas ruas vão crescer e "muitas delas" conseguem ter uma oportunidade de vida digna??? Você não entende nada de sociedade...
      Não podemos discutir leis com o argumento "Deus" porque o nosso estado é LAICO (amém) e cada um pode ter sua crença, assim como não crer em deus algum.
      Essas mulheres têm, antes de tudo, amor à própria vida, e não amor à um embrião/feto, que, só para constar, não tem sentimentos, nem os mais primitivos, como fome, dor, etc. Só a partir dos 3 meses, quando o cérebro é formado, que podemos considerar um feto como uma "vida". Abraços

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    2. Em que escola de biologia vc aprendeu que um feto de menos de 3 meses não tem vida? O que não sente dor não é vivo? Biologia estranha essa.

      E que visão a sua de Estado Laico. Se todos podem ter suas crenças, é normal que eles tenham seus princípios morais e éticos baseados nessas crenças e podem agir politicamente baseados nesses príncipios. Um Estado Laico não pode dizer que alguns príncipios são superiores aos outros por não se pautarem em um Deus. Um religioso tem o direito de se manifestar politicamente baseado em seus príncipios que provavelmente serão em essencia religiosos. Não dá para estirpar as religiões da cultura e não dá pra negar a influência da cultura nas escolhas políticas. Se fizermos isso não teremos um Estado Laico, mas sim uma aristocracia atéia.

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    3. Não há consenso científico sobre quando a vida começa, alguns defendem que começa na concepção, outros depois da formação do sistema nervoso. O começo da vida na concepção é uma visão religiosa.

      Acho que você está confundindo laicidade com o que você entende ser a imposição do ateísmo. Laico quer dizer secular, ou seja, onde as leis e políticas não se baseiam em princípios religiosos. Um Estado laico deve basear em princípios como liberdade, democracia, pluralismo, etc. A época feudal, onde Igreja e Estado eram a mesma instituição, já está um pouco passada.

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    4. Tentando responder argumentos religiosos com outros também religiosos.

      1) Concordo que Deus nos concede a vida. Porém, Ele também nos deu o "livre arbítrio" para decidir o que vamos fazer com ela.

      2) O argumento de que "ninguém tem o direito de interferir na vontade de Deus" não é válido, porque Deus nos deu o livre arbítrio e essa é a vontade Dele. E Deus não perde Seu poder por isso, nem por nada.

      3) A nós cabe amar o próximo e não julgar. O julgamento genuíno de todos sem exceção (inclusive o seu) será feito por Deus.

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    5. Roberta, em um Estado Laico um cidadão religioso pode votar e pode ser votado como qualquer outro. Ele é livre pra devender seus princípios sejam eles religiosos, ideológicos, filosóficos, etc. Um católico pode ser eleito e ter sua luta política baseada no que ele considera certo, que provalmente será uma visão católica do que é certo. Ele não pode impor, mas pode lutar politicamente. É como um comunista em um pais capitalista, ele não pode impor o comunismo, mas pode fazer dos ideais comunistas sua bandeira política. Uma feminista pode fazer do feminismo sua bandeira política, um homossexual pode fazer do movimento LGBTT sua bandeira política, isso é um Estado Laico e democrático, onde a voz de todos tem o mesmo peso.

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    6. Quanto a vida: existem 4 hipóteses científicas , considereando 2 delas o aborto seria sempre um assassinato, considerando outra (a neurológica que não faz o menor sentido) existe a dúvida se a vida começa na semana 8 ou na semana 12 e na última hipótese (a mais sem sentido de todas) praticamente se pode matar uma criança completamente formada.
      Será que vc entendeu 4 hipóteses, a ciência simplesmente não sabe quando começa a vida apenas tem hipóteses. Então com base nessas INCERTEZAS CIENTÍFICAS é que nasce a certeza de que o aborto é um direito de escolha. Aborto é o direito de matar, e o mais cruel: direito de matar um ser indefeso e inocente.

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    7. Anônimo da meia-noite e vinte um, acho que de novo você está confundindo a noção de Estado laico. Num Estado laico, todos podem ter suas crenças religiosas, orientações sexuais, etc, e podem até militar por elas, desde que essas crenças não virem leis impostas a outras pessoas que não partilham da mesma crença. Criminalizar o aborto é como ter uma lei que *obrigue* o casamento homossexual a pessoas heterossexuais. Como você mesmo disse, um político católico "não pode impor", mas infelizmente, no Brasil - que vale a pena enfatizar só laico no papel - há, sim, a imposição legal, como no caso da criminalização aborto.

      Anônimo da meia-noite e vinte e sete, a falta de consenso científico não é uma coisa negativa, só aponta a complexidade da questão. De dogmas são feitas as religiões, não a ciência. E como disse x outrx leitorx acima, mesmo na religião deve haver o respeito ao livre arbítrio.

      Obrigada por acompanhar o nosso blog!

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    8. Eu sou o anônimo das 00:21 e das 00:27 e insisto que sua visão de Estado Laico só pode ser de um Estado Laico não democrático. Todas as pessoas em um estado democrático tem direito de lutar por uma sociedade que ela considera melhor. Com base em que as pessoas sabem o que é o melhor? Com base em seus princípios que podem ser fiosóficos, ideológicos, ou religiosos. Todos podem lutar politicamente e é a política que faz a lei. Vc tem todo o direito de dizer o que pensa sobre o aborto de militar a favor, de participar de protestos a favor, de pressionar congressitas a votar pela descriminalização. Mas uma pessoa que é contra (seja por motivos religiosos ou não) também tem os mesmos direitos que vc. Pode falar o que pensa, militar, participar de passeatas, votar em candidatos que são contra o aborto e pressionar os congressistas contra a descriminalização do aborto. Não se esqueça que política sempre se concretiza em lei. O direito tutela valores que a sociedade considera importante. De onde vem os valores? Novamente dos principios que por sua vez podem ser reliosos ou não. Pedir por leis é fazer política. Não se esqueça também que se o aborto for custeado pelo Estado, religiosos estarão pagando por ele por meio de seus impostos. Aliás 90% da polpulação se diz cristã, serão os cristãos em sua maioria que custearão o aborto, se são eles que vão pagar é óbvio que eles devem ser ouvidos sobre a questão.
      Quanto ao momento em que a vida começa, a ciência não pode nos dar nenhuma certeza a esse respeito, então afirmar que a vida começa aos 3 meses de gestação, não passa de uma opinião pessoal com base em valores pessoais, crenças e princípios. Mesmo que a ciência tivesse certeza, essa certeza apenas serviria como mais um argumento, pois leis humanas não derivam diretamente das descobertas das ciências naturaris, leis humanas são feitas com base em valores éticos e morais. Ética, moral e ciência são coisas bem distintas.

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    9. Vamos lá de novo: o Estado laico é aquele que se mantém neutro e imparcial no que se refere aos temas religiosos. Você tem todo o direito de militar em qualquer lugar, sobre o que quiser, mas não impor suas crenças em forma de lei para todo o país. Quanto aos impostos, fique tranquilo: como você viu no vídeo acima, a maioria das mulheres que abortam são católicas. Novamente, se não há certeza científica em relação ao início da vida, a escolha tem que ser pessoal.

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  7. Direito de matar, direito de decidir pela vida do próprio filho, direito de querer tornar legal um ato cruel, covarde, desumano, tirar a vida de forma dolorosa, triste, infeliz de um pequeno ser, que não pediu pra vim ao mundo, mas se veio é pq Deus permitiu ai me vem um tal ser, que se acha ser humano, mas é um monstro e mata impiedosamente um inocente e ainda luta pra ter esse direito,isso a mãe de quem concorda com o aborto bem que deveria ter feito esse ato, assim impederia de vim ao mundo monstros, que nasceram só pra gozar e depois matar.

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    1. Não esqueça que Deus é amor e que um dos principais mandamentos bíblicos é "ama o teu próximo como a ti mesmo". Acho que chamar o próximo de "monstro" não é uma bom exemplo de como demonstrar o amor cristão...

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  8. O vídeo e o texto é todo um eufemismo: "direito a autonomia", "direito a planejamento familiar", falem logo: o direto de matar a criança que eu não quero ver nascer porque vai atrapalhar meus estudos, meu trabalho e todas essas coisas muito mais importantes que o direito a vida de um outro ser humano. Além disso queremos que essas mortes sejam custeadas pelo Estado com o dinheiro dos impostos. E principalmente queremos matar os filhos das mulheres negras e pobres, pois estes com certeza vão trazer no futuro uma série de problemas sociais. Se um familiar meu rouba, mata ou comete outro crime, ele tem que responder por isso independetemente de ser minha mãe ou minha irmã, meu irmão ou meu pai, todos temos que responder por nossos atos.

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    1. Primeiramente, um feto não é uma criança. Como já dito no outro comentário, o início da vida na concepção é uma ideia religiosa - que, aliás, você tem todo o direito de ter, mas não de impor axs outrxs num Estado democrático de direito. Não pedimos para ninguém mudar o que acredita, só para não impor essa crença a todxs, com consequências tão brutais.

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    2. Apenas repito aqui: a ciência não sabe quando a vida começa, apenas tem hipóteses. Achar que o aborto é um direito apenas baseado em hipóteses científicas não confirmadas é uma temeridade.

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    3. A falta de consenso científico não é uma coisa negativa, só aponta a complexidade da questão. De dogmas são feitas as religiões, não a ciência.

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    4. Então afirmar que a vida começa aos 3 meses de gestação também pode ser considerado um dógma, pois se não há consenso científico o máximo que um cético pode dizer é que não há consenso científico.

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    5. Só há dogma quando há imposição. Não queremos que ninguém seja obrigado a abortar, mas sim que não sejam presos se optarem por isso.

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  9. Impressão minha ou o título do texto foi mudado? Se eu não me engano era outra pessoa da família que abortava no título. Será que a autora poderia esclarecer.

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    1. Sim, o título original "E se sua mãe abortasse?" foi alterado depois de uma leitora ter apontado que era ambíguo, já que podia sugerir a ideia da sua mãe abortar você. Tendo visto o perfil das mulheres que abortam (casadas, católicas, mães), e tendo visto que 1 em 5 mulheres brasileiras já abortaram, é provável que muitas de nossas mães já tenham feito aborto, antes ou depois de nós.

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    2. A ambiguidade do título original "E SE SUA MÃE ABORTASSE?" leva a uma reflexão muito estranha. Se pensarmos e se minha mãe tivesse abortado da minha gestação? Teria me privado da vida. Eu amo a vida e minha mãe não teria me dado a oportunidade de vivê-la, por achar que não era conveniente naquele momento ter um filho. Ainda bem que minha mãe não abortou. Acho que as mães também podem refletir com essa questão. Olhar para seus filhos hj e se perguntar: E se eu tivesse abortado? Meu filho que eu amo tanto não existiria, teria privado esse ser humano do direito de viver. Será que um ser humano tem esse direito de decidir sobre a vida e a morte de outro ser humano apenas por uma questão de conveniência?

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    3. Ótima reflexão, anônimo. São questionamentos válidos e que devem ser feitos - em nível individual, não como imposição estatal.

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    4. Novamente vc com o mesmo argumento da imposição estatal contraposta a consciência individual. Roberta de onde vem as leis? Do que julgamos moral e ético não é? De onde tiramos a idéia do que é moral e ético? Da nossa consciência individual, não concorda?
      O estado apenas nos impõe aquilo que nós enquanto sociedade valoramos como sendo dignos da tutela estatal. É isso que o estado tutela, os valores morais e éticos de uma sociedade. Não é porque uma pessoa individualmente acha que é legítimo matar em uma determinda circunstância que ela deva julgar que o seu ato de matar não constituirá crime. Sua consciência individual não vale para justificar seu ato perante a sociedade. A vida é o principal valor tutelado pelo estado, é dele que deriva todos os outros, quando o direito a vida é negado a alguém, nenhum outro direito mais lhe pode ser atribuido. O aborto atenta justamente contra o direito mais básico e importante do ser humano.

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    5. Nossa, não sabia que em todos os países da Europa que legalizaram o aborto deixaram de 'tutelar a vida'. Imagina, todos os esses países que são os pilares do pensamento ocidental atentando contra o direito mais básico do ser humano desse jeito!

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    6. Sim eles deixaram de tutelar a vida, pelo menos a do feto sim.
      É muito comum pessoas em países como o Brasil serem propensas a "copiar" os europeus como se de certa forma eles fossem superiores ou mais civilizados. Não podemos esquecer que as maiores barbaries da humanidade ocorreram em solo europeu e em plenoséculo XX.

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    7. copio aquilo que acho bom. sou mulher e o corpo é meu e não acho que interromper uma gravidez equivale a um assassinato. se os europeus homens e mulheres entenderam isso, vou concordar com eles. e quanto às barbáries em solo europeu, a não ser que você julgue o genocídio dos judeus mais 'importante' que o genocídio promovido pelos hutus em Ruanda na década de 1990 (só pra dar 1 exemplo), bem, você está errado.

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    8. Vc não apenas como mulher, mas principalmente enquanto ser humano tem o direito de achar o que vc quiser, e eu como homem e como ser humano também. Agora as barbáries do nazismo,do fascismo e do comunismo, ocorreram na Europa. Assim como as duas grandes guerras. Os maiores assassinos da humanidade são em sua maioria europeus, Stalim foi o maior assassino europeu de todos os tempos. O único regime não europeu que consegue se comparar com os regime assassinos europeus, é o regime comunista chinês, provavelmente o maior assassino de todos, e um assassino principalmente de mulheres. O aborto seletivo (de meninas) ainda é uma prática comum na China. Se recuarmos um pouco mais na história lembramos que a brilhante ideia de que negros não eram gente também foi europeia.

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    9. Não sei se você percebeu, mas você mesmo destruiu seu argumento. Não ache que está me contando novidades (que tem algo de verdade, mas tem inverdade também) e não pense que eu não sei onde você quer chegar: você quer fazer uma crítica ao comunismo; acha que eu, feminista, sou necessariamente comunista e que o feminismo é uma espécie de comunismo disfarçado... Bem, vamos ver se eu consigo desfazer essa mistureba que você julga seja muito inteligente. 1)Minha última resposta deveu-se à sua arrogância de achar que minhas opiniões são uma 'cópia' de brasileiro vira-lata que só sabe 'macaquear' os 'gringos'. Não: são fruto de reflexão e estudo. As suas, no entanto, têm como fundo um deus macho criado por machos que se julgaram superiores às fêmeas e a toda criação desse mesmo deus. As suas opiniões são fruto do novo fundamentalismo ocidental, que ameaça nos arrastar novamente para a Idade Média. 2)Eu sou uma crítica ferrenha da mistificação da razão ocidental (que produziu pilhas de cadáveres ao longo da história); nós mulheres fomos e somos vítimas da razão do homem, tão absolutamente arrogante na crença da sua capacidade de julgar. No entanto, no seio dessa mesma (des)razão foi que surgiu a dúvida, que fez/faz homens e mulheres ocidentais liberais questionarem-se e aceitarem o diferente (os direitos humanos colocam-se aí). 3) Há questões, no entanto, cuja controvérsia se dá somente pelo fato de que nós mulheres não estamos no poder, no controle de nossos corpos. Ninguém defende aborto como método contraceptivo (como em tribos indígenas em que não há uso da pílula), defendemos a ESCOLHA da mulher, conhecemos suas histórias e sabemos que o aborto é um ato de humanidade, visto que poupa a mulher de muito sofrimento. Quanto ao feto, veja nossa racionalidade quanto ao que defendemos: ele não sente até os três meses, ele é corpo inconsciente da mulher. Não apoiamos o aborto até os 9 meses, como os judeus; nem a eugenia, como os gregos, os romanos, os indígenas e a própria natureza. Você chora pela vida que não chegou a existir (sem nome, sem rosto, sem fala, sem sorriso, sem sentimento, sem identidade, sem corpo - esse é o feto). Você chora porque vê o feto como inocente, sem ninguém para defendê-lo. Você se julga o herói que virá salvar todas essas 'vidas' indefesas. Desça do seu pedestal. Você não é herói, nem eu. Mas eu sou um corpo, tenho um nome, voz, rosto, identidade, fala - você, obviamente, pensa que eu não preciso que ninguém me defenda, já que eu 'tenho' isso; o feto, sim, esse precisa. Você é capaz de esmagar alguém com rosto e voz para defender alguém que nunca chegou a ter um rosto ou uma voz; você acha o feto mais humano que eu; você me ataca, por isso. Desça do seu pedestal. Por trás do que você defende não há preocupação com a vida, há menosprezo pela vida de mulheres feitas. Você não é diferente dos chineses que abortam fetos de meninas; na verdade, você é pior que eles.

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    10. Não sei porque vc esta falando em deus macho, não sei de onde vc tirou a certeza de que eu sou religioso. Porque vcs abortistas acham que todo mundo que é contra o aborto é religioso? Ou que todo mundo que é a favor da liberdade religiosa é religioso?
      Eu apenas estou emitindo minha opinião e debatendo, se vc acha que isso é te atacar, se vc acha que isso é te ofender, vc nasceu no país errado, esse aqui ainda é democrático e opinar e debater argumentos não constitui ofensa. Se vc não é comunista esta bem próximo de ser, pois não há nada que comunista odeie mais do que a liberdade de outras pessoas de discordarem dele.
      Vc distorceu minhas palavras, continuo achando que a vida da mulher é mais importante que a vida de um feto. Se o caso for de decidir entra a vida da mulher (se esta de fato estiver em risco com a gravidez) e a do feto, não tenho o duvida que vida da mulher deve prevalecer. Porém não se trata disso, o que esta em jogo é a vida do feto e o direito de decidir sobre a conveniência de ser mãe ou não em um determinado momento, é só isso. A única vida que esta em jogo é a do feto. Vou repetir: A ÚNICA VIDA QUE ESTA EM JOGO É A DO FETO, É ELA QUE DEVE SER PROTEGIDA.

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    11. Sou ainda o mesmo anônimo homem. É engraçado vc anônimo mulher dizer que vc como "mulher ocidental liberal" aceita questionamentos e o diferente, mas só pelo fato de eu questionar seus pensamentos vc já diz que eu sou pior que chineses que abortam meninas. A tese de que fetos de 3 meses não são vidas humanas é apenas um hipótese científica dentre outra tantas, essa certeza que vc diz ter disso é apenas um dogma que vc segue. Não tenho nada contra esse seu dogma, apenas discordo dele, apenas penso diferente de vc, apenas questiono, e vc como "mulher ocidental liberal" deveria estar mais acostumada e aberta a debates, combatendo argumentos e não atacando o debatedor. Pra que gastar tanta energia me atacando? Eu não ataquei vc e nem me julgo herói por nada, apenas não tenho a mesma certeza que vc tem de que fetos de 3 meses não são seres humanos, por isso acredito que liberar a morte desses seres que pra mim são sim seres humanos deve constituir crime, seu corpo não me diz respeito, mas a vida humana sim.

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  10. Sou o anônimo da das 00:21 e das 00:27, encaminhei comentários respondendo a Roberta, mas eles ainda não aparecem no blog, houve algum problema ou a discussão no blog não é tão aberta assim.

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    1. Fique tranquilo, anônimo, é só falta de tempo mesmo.

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  11. Quem tem opinião diferente não pode postar aqui? Eu estou sendo censurado por não concordar e por meus argumentos serem contundentes e ficou díficil de vcs manterem o discurso de vcs?

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    1. Não, é só falta de tempo mesmo.

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    2. 'argumentos contundentes' kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

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  12. Caros,

    Até mesmo os católicos tem pensado diferente sobre o tema do aborto. Sugiro a leitura do seguinte artigo científico, que é bem esclarecedor: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-71832006000200008&script=sci_arttext

    Transcrevo aqui apenas um trecho que acho relevante ser refletido:

    "Ponto fundamental para a compreensão da defesa de uma postura laica acerca do tema do aborto no Brasil, é entender que a posição da religião católica sobre a questão não se confunde com a posição adotada pela hierarquia dessa mesma igreja.

    Mais precisamente, importa registrar que não há consenso acerca do tema, podendo-se referir importantes vozes católicas que admitem a possibilidade de a mulher exercitar sua liberdade de consciência frente ao dilema de interromper uma gravidez indesejada. Nesse sentido, ver Leonardo Boff (2006, p. 20), Maria Rosado-Nunes (2006, p. 26), Frances Kissling (2001, p. 14) e Beverly Harrison (2006).

    Pensar que a existência de correntes de pensamento divergente não tem maior relevância, em face da hegemonia da hierarquia da Igreja relativamente às questões ligadas aos direitos sexuais seria incorrer em uma simplificação equivocada. (...) Mesmo uma organização não governamental cuja postura, aparentemente, é contrária aos dogmas da Igreja católica, como é o caso das Católicas pelo Direito de Decidir, pode estar mais harmonizada com o pensamento da população católica brasileira do que a hierarquia dessa igreja."

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  13. Novamente devo insistir, Estado laico não deve ser neutro apenas em questões religiosas, mas neutro ideológicamente, Estado laico não é o que valoriza idéias laicas as colocando acima das idéias religiosas.
    A maioria dos católicos assim como os evangélicos são sim contra o aborto, as eleições de 2010 mostraram isso, inclusive colocando a então candidata Dilma em uma baita "saia justa". Ser contra ou a favor da criminalização do aborto é sim uma decisão pessoal que cada um deve julgar com sua própria consciência, agora a lei penal em questão é uma decisão de toda a sociedade, tomada em conjunto. A lei penal não impõe crença, mas impõe aquilo que a sociedade valoriza ética e moralmente, é uma decisão coletiva que vincula a todos. Esse discurso de que a criminalização do aborto é uma imposição de crença não é verdade, fosse assim todas as leis seriam de alguma forma uma imposição de crença, pois nem todos concordam com as leis vigentes, mas todos devem respeitá-las.
    Se tirar a vida de alguém é crime, e se não há motivos justificáveis para acreditar que um feto com menos de 3 meses não é um ser vivo, é óbvio que tirar a vida dele também deve ser crime.

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    1. Até que ponto o Estado pode intervir em nossos corpos? E a sociedade? Se a sociedade decidir que todos devemos fazer um tratamento para escurecer nossas peles, o estado deve acatar? Se a sociedade decidir que toda mulher que for estuprada deve se casar com seu estuprador, o estado deve acatar? Se a sociedade decidir que devemos matar todas as crianças que nascem com deficiência, o estado deve acatar? É não saber nada de política, nem de história, nem de filosofia, nem de direito achar que as leis refletem a moralidade da sociedade. Se assim fosse, matar por 'honra' ainda estaria no código penal. E talvez a escravidão ainda fosse legal.

      Um feto de três meses é uma vida em potencial, é um corpo em desenvolvimento, mas não vive fora da vida que é, do corpo já desenvolvido. Só podemos falar em 'matar', em 'assassinato' quando um corpo elimina OUTRO corpo. Um feto não é outro, ele é a mulher que o carrega. E se essa mulher não quer essa parte de si, que possa, que tenha direito a não querê-la e a não carregá-la. O estado não deve criminalizá-la por isso. Se a sociedade, com sua 'moral' quiser julgá-la, se quiser mantê-la à margem, que o faça (sempre vai haver uma parcela boçal de gente pra culpar o que não merece culpa) - mas cadeia, não.

      A mulher é mais importante que o feto.

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    2. Matar por honra saiu do código penal porque a sociedade mudou, a maioria das pessoas passaram a ter opinião contrária sobre isso assim as leis foram mudadas. O Estado muda quando a sociedade muda. A maioria dos brasileiros é contra a descriminalização do aborto e a favor da vida.
      Se o feto de três meses é apenas uma vida em potencial, como isso se classifica na biologia? O feto é parte do corpo da mulher!!! Isso não dá nem pra comentar, deve ser um dogma de alguma religião que eu desconheço.
      É óbvio que a mulher é mais importante que o feto, mas a vida do feto é mais importante do que a opinião dela sobre a conveniência de ser mãe em um determinado momento.

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    3. não foi a 'sociedade' (ai, povo que não estuda...), foram grupos progressistas cedendo aos apelos de uma pequena parte da sociedade e à razão que já havia chegado à europa, aos eua e a outros países da américa latina (como agora, com o aborto). quando matar por honra saiu do código penal ainda havia um bando de gente que vociferava pelo direito de matar a mulher (porque a mulher nunca matou por 'honra'...). você pode achar que o feto é mais importante que a escolha da mulher, mas é ela que tem o direito de decidir. mantenha sua moral dentro da sua cabeça e longe das leis que regulam o que uma mulher faz com o corpo dela (sim, o feto é corpo dela, se não o fosse, sobreviveria fora dela).

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  14. Para quem ainda está confuso sobre o que é um Estado laico: http://www.bulevoador.com.br/2013/05/dez-palavras-sobre-laicidade/

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  15. Isso é absolutamente irritante. O Brasil é um Estado laico e exatamente por isso suas decisões políticas, (legislativas, jurídicas, administrativas) não podem ser tomadas com base em convicções religiosas. Tais decisões não tem embasamento legal nem fático, vão além da discricionariedade, por isso são capazes de tornar um ato administrativo nulo (mesmo discricionário), assim como um legislativo ou jurídico (nem se fale). Pode parecer estranho mas decisões políticas não podem ser tomadas com base em convicções pessoais, Direito é Ciência minha gente! Nossa Constituição garante a liberdade religiosa, em termos gerais (art. 5º, VI), como forma de expressão e de garantia de liberdade; mas não consagra qualquer religião, não diz que o Estado brasileiro se submete a qualquer religião e especialmente não há uma religião oficial! Desafio alguém a demonstrar onde está na CF! Por isso o Estado é laico! E nem adianta dizer que no Preâmbulo está escrito (sob a proteção de Deus) pois o preâmbulo não tem nenhuma força normativa.

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  16. Estado laico é Estado neutro, não é um Estado que valoriza ideias laicas, é apenas um Estado neutro e ponto.
    Direito é um ciência do dever ser, o que é muito diferente das ciências do ser. Direito e política se misturam sempre, o que dá legitimidade as leis é o fato delas serem feitas pelo povo dentro de um processo democrático, que só é possível se as pessoas puderem expressar sua livre consciência, sendo essa consciência fundada em princípios religiosos ou não.
    Por isso não vou manter minha moral DENTRO DA MINHA CABEÇA, vou defendê-la pois tenho esse direito, sou cidadão desse país que ainda é uma democracia eu acredito. E essa sua ordem de manter a minha moral dentro da minha cabeça demonstra a sua INTOLERÂNCIA contra quem pensa diferente de vc, seu espírito antidemocrático fica evidente.
    O feto pertence ao corpo da mulher? O que ele seria então? Como ele tem DNA próprio deve ser um câncer.
    E sim, eu acho que a vida do feto é mais importante que o direito de decidir se a mulher quer ou não ser mãe em um determinado momento. Até porque quando se é negado o direito a vida todos os outros perdem o sentido, quem teve seu direito a vida desrespeitado jamais terá o direito de decidir sobre nada, afinal de contas estará morto.

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    1. manter a sua moral dentro da sua cabeça não significa não falar. pode falar suas idiotices o quanto quiser. manter sua moral longe das leis significa: pode achar o que você quiser, mas não legisle sobre o MEU corpo.
      vou legislar sobre o seu, sabe? tipo: vamos castrar os homens como você, que julgam o feto mais importante que a mulher. olha que legal! não é realmente muito bacana legislar sobre os corpos dos outros?!

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    2. Legislar contra o aborto não é legislar sobre o seu corpo e sim legislar sobre a vida. A vida é um bem humano que diz respeito a todos. Já disse lá em cima que considero a vida da mulher mais importante que a do feto. Em caso de risco de vida para mãe, acho o aborto um saída justa, assim como o considero em caso de estupro também, ou de fetos inviáveis.
      Agora seu último argumento demonstra realmente toda a sua capacidade intelectual, ele é tão brilhante que nem ousarei questiona-lo. Vc deve ser a mesma pessoa que respondeu lá em cima, sua intolerância contra os que pensam diferente de vc e sua tentativa de ofender são inconfundíveis.

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