Barbie engenheira e Barbie cientista

por Barbara Falleiros

Barbie professora e sua aluninha
E chegou o momento mágico do Natal! Nas últimas semanas, Mattel e companhia concentraram seus esforços no bombardeamento de pais e crianças com lançamentos como... a "Barbie Professora do Jardim de Infância" (sim, sim). Ora, como a Roberta comentou esta semana, ao oferecermos às crianças brinquedos que não reforcem os velhos estereótipos de gênero (carrinho para menino, boneca para menina, e só), não apenas ajudamos a criar adultos menos sexistas, como incentivamos essas crianças a desenvolverem novas habilidades. Com isso, proporcionamo-lhes outras possibilidades de identificação que podem contribuir, mais tarde, para combater a divisão sexual do trabalho e das profissões. Não basta que cada criança possa ser o que quiser quando crescer, é preciso ensinar às meninas que também é legal querer ser engenheira e cientista.

Assisti esses dias a um vídeo publicitário de um brinquedo chamado GoldieBlox, um jogo de construção desenvolvido por uma engenheira de Stanford que, surpresa com a quantidade ínfima de mulheres na sua turma, decidiu fundar uma companhia de brinquedos para encorajar as meninas a se interessarem por engenharia. Para ela, não era suficiente pintar um jogo de construção de cor-de-rosa (como fazem muitas marcas de brinquedo). Suas pesquisas mostraram que meninas tendiam a gostar mais de ler, por isso ela associou o jogo de construção a uma série de livros.


Incentivar as mulheres a seguirem carreiras científicas... Muitos dos que acompanham as Subvertidas devem se lembrar de um vídeo produzido pela União Europeia com esta finalidade. Caricatura grotesca e sexista da "mulher cientista", o vídeo mostrava mulheres fatais em salto agulha, num fundo rosa, alternando instrumentos de laboratório e maquiagem.


Em resposta, a European Science Foundation lançou um concurso de vídeos: Science, it's your thing. O vídeo vencedor mostra como, em razão da presença massiva de homens nas áreas científicas (nota: há apenas 14% de mulheres na presidência das universidades europeias), as pesquisas acabam seguindo involuntariamente (ou não...) uma perspectiva masculina. É assim que os manequins de crash-test são baseados em corpos masculinos, os cintos de segurança dos carros não são adaptados para grávidas, 4/5 dos medicamentos retirados da venda num determinado período, nos Estados Unidos, traziam mais risco para a saúde das mulheres do que para a dos homens, que a compreensão da dor vem de estudos feitos unicamente em ratos machos... E se as mulheres não conseguem conquistar seu lugar na ciência, não é por falta de capacidade: estatísticas comprovam que sua presença em empresas e laboratórios aumenta a produtividade, a performance e o número de patentes registradas.


Já num registro cômico, jovens pesquisadoras britânicas realizaram uma paródia do vídeo da União Europeia. O contraste entre o ambiente real de trabalho (um verdadeiro laboratório) e a caricatura da cientista sexy mostra o quão ridícula e absurda é a imagem veiculada pelo vídeo oficial. E as cientistas tiveram a ótima ideia de convidar seus colegas homens para aparecerem dançando, como elas, de forma sexy/constrangedora. É quando o ridículo, exposto pelo padrão duplo, atinge seu máximo... Divirtam-se!




4 comentários:

  1. Concordo que velhos estereótipos devem ser combatidos, que as meninas têm direito a brincar não só de bonecas mas de tudo o que elas quiserem,pois não existe brinquedo de menino ou de menina, que elas devem ser incentivadas às mais variadas profissões. Só não entendi o tom usado ao se referir à profissão de professora do jardim de infância. Por acaso é algum demérito sê-lo? Ser professora de jardim de infância-ou melhor,ser profissional da Educação Infantil-é uma profissão inferior a ser engenheira?Médica?Bióloga? Pois foi isso o que vocês deram a entender.
    Evidentemente as mulheres podem e devem conquistar espaço nas mais diversas áreas, pois têm capacidade de sobra para isso. Porém, atuar em áreas científicas não as torna superiores a quem é professora da Ed. Infantil. Ou doméstica. Ou caixa de supermercado. Ou alta executiva.
    Que tristeza, tentar combater preconceito com mais preconceito.

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    1. Oi, Janei, obrigada por acompanhar o blog e comentar! A Bárbara pode reponder melhor o que ela quis dizer, mas pelo que entendi o tom foi contra o reforço de mais um estereótipo, não contra a profissão em si. Mesmo por que nós todas somos formadas em Letras - realmente não temos nada contra o magistério!

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    2. Oi Jane,
      Obrigada pelo comentário! De forma alguma tive a intenção de depreciar as educadoras, muito menos considerá-las inferiores a outras profissionais (sou filha, sobrinha, nora de professor@s e eu mesma sigo este caminho). Apenas sabemos que a educação infantil, assim como outras profissões relacionadas ao "cuidado" (enfermeira, por exemplo) são culturalmente associadas ao gênero feminino. Aliás, muito da luta feminista está no reconhecimento das educadoras como profissionais, e não como uma extensão das mães, guiadas por um "instinto maternal". Por isso é importante que as professoras do jardim da infância não sejam chamadas de "tias": não são tias, não são da família, são professoras formadas, profissionais competentes. O exemplo da Barbie educadora infantil foi fortuito, ocasionou de terem lançado a boneca recentemente, por isso usei o exemplo. Mas a minha intenção no post não era OPOR as profissões como se as alternativas se anulassem, apenas chamar a atenção para a necessidade de possibilitar às meninas que tenham ampla possibilidade de escolha, não só nas ciências humanas como nas ciências exatas também. Sem julgamento de valor, mas com igual oportunidade. Assim como os meninos não deviam ser incentivados apenas a serem bombeiros, policiais, cientistas... Quando é que teremos o "Ken professor de jardim da infância"?

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  2. Obrigada pela resposta.
    Só peço que tenham mais cuidado,pois embora não tenha sido a intenção de vocês depreciar a profissional da Educação Infantil,foi isso que acabou acontecendo.
    No mais,continuem na luta em defesa da mulher,afinal,ainda estamos longe da igualdade e não podemos descansar.
    Bjs!

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