As (várias) histórias de Tina Modotti

Por Thaís Bueno

Tina Modotti


Você conhece ou se lembra de ter ouvido o nome de Tina Modotti? Pode ser que não se lembre, mas você provavelmente viu essa mulher extraordinária como personagem do filme Frida (2002): Tina era aquela que abria sua casa para os artistas que faziam parte da rica e fervilhante cena artística da Cidade do México, nas décadas de 20 e 30. No filme, Tina, interpretada por Ashley Judd, organizava festas animadíssimas, além de beijar Frida Kahlo e participar ativamente do movimento comunista. Mas houve uma infinidade de outras coisas interessantes na vida dessa mulher, que o filme não mostrou.

Esta é a cena em que Tina dança com Frida, ao som da maravilhosa Lila Downs, cantando Alcoba Azul:



Eu adoro tudo que se relaciona a aspectos biográficos de grandes personagens da história, principalmente se a personagem é uma mulher. Por isso, biografias e correspondências são alguns dos meus gêneros literários favoritos. E foi isso que me atraiu à biografia, em formato de HQ, Tina Modotti: uma mulher do século XX (de Ángel de la Calle, publicado no Brasil pela Conrad Editora). O livro faz um bom passeio por toda a vida de Tina, desde sua saída da Itália, onde nasceu em 1896, até sua morte, no México (algo que, diga-se de passagem, até hoje está mal explicado). 

Biografia de Tina Modotti em HQ


Entre seu nascimento e sua morte, Tina Modotti passou por tantas coisas que sua vida poderia render uns três livros dos mais diferentes gêneros literários. Se relacionou com pessoas como Olga Benário, Luis Carlos Prestes, Frida Kahlo, Diego Rivera, Maiakóvski, Hemingway, John dos Passos, James Joyce e Pablo Neruda. Foi atriz do cinema hollywoodiano, fotógrafa genial no México e militante comunista. Participou da Guerra Civil Espanhola. Foi espiã soviética em Berlim. Como consequência de sua forte agência política, Tina morreu misteriosamente, na Cidade do México, em 1942.

Mas não vale a pena ficar aqui esmiuçando cada um dos capítulos da vida de Tina (em vez disso, minha dica é que você confira o livro, ou leia uma das várias biografias que existem sobre ela). A mim, o que mais interessa na trajetória de Tina, além de sua fotografia, é a forma como ela viveu suas paixões e seus ideais. Tina foi uma mulher genial e libertária, que viveu sua vida de acordo com suas próprias ideias e vontades. Exerceu suas potencialidades sem se limitar às convenções e às limitações sociais de sua época, o que é sempre difícil e digno de nota, em qualquer época. E isso tudo fica bem claro na biografia/HQ. Minha única ressalva ao livro seria ao título: acho que “mulher do século XX” é uma forma um tanto limitada de descrever Tina Modotti. Será que alguns dos dilemas e das crises pelas quais ela passou não poderiam ser parecidas às das mulheres de hoje?

Há um café onde se misturam políticos, pistoleiros, criminosos comuns, toureiros, putas e atrizes de terceira. A personagem mais fascinante de todas é uma fotógrafa e modelo, além de prostituta de muita classe e Mata Hari do Comintern, chama-se Tina Modotti... (Kenneth Rexroth)

 Quando quero me lembrar de Tina Modotti devo fazer um esforço, como se tratasse de recolher um punhado de névoa. Frágil, quase invisível. Eu a conheci ou não a conheci? (Pablo Neruda).

Abaixo, algumas artes fotográficas de Tina Modotti:

Sombrero, martelo, foice (1927)

Bandoleira, milho, violão (1927)

Mãos de titereiro (1929)

Lendo El Machete (1928)

Diego Rivera e Frida Kahlo, em passeata, fotografados por Modotti (1929)

Mulher carregando yecapixtla (1929)




Você pode conferir mais fotografias de Tina Modotti neste site do MoMA: http://www.moma.org/collection/artist.php?artist_id=4039.


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