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Poesia e pensamentos soltos


por Mazu



Eu não sou um homem

(Harold Norse, EUA, 1916-2009)
Eu não sou um homem, não consigo ganhar a vida, comprar coisas novas pra minha família.


Eu tenho espinhas e um pau pequeno.
Eu não sou um homem. Eu não gosto de futebol, boxe e carros.


Eu gosto de expressar meus sentimentos. Eu até gosto de colocar meu braço sobre os ombros de meus amigos.

Eu não sou um homem. Eu não vou jogar o papel que me foi atribuído – o papel criado pela Madison Avenue, pela Revista Playboy, Hollywood e por Oliver Cromwell.


Televisão não dita meu comportamento.
Eu não sou um homem. Uma vez quando atirei num esquilo eu jurei que nunca mais mataria de novo. Desisti da carne. Ver sangue me deixa doente.


Eu gosto de flores.
Eu não sou um homem. Fui preso por resistir ao recrutamento. Eu não brigo quando homens de verdade me batem e me chamam de bicha. Eu não gosto de violência.

Eu não sou um homem. Eu nunca estuprei uma mulher. Eu não odeio os negros.


Eu não fico emotivo quando agitam a bandeira. Eu não acho que deveria amar a América ou deixá-la. Eu acho que eu deveria rir dela.
Eu não sou um homem. Eu nunca tive gonorréia.
Eu não sou um homem. Playboy não é minha revista favorita.
Eu não sou um homem. Eu choro quando estou triste.
Eu não sou um homem. Eu não me sinto superior às mulheres.
Eu não sou um homem. Eu não uso suspensórios.
Eu não sou um homem. Eu escrevo poesia.
Eu não sou um homem. Eu medito sobre paz e amor.
Eu não sou um homem. Eu não quero te destruir.


São Francisco, 1972
(tradução de Jeff Vasques)
 
Lendo esta belíssima tradução feita pelo nosso compa Jeff, me peguei pensando em todo estereótipo que envolve o masculino.

A gente fala muito no blog do que é ser mulher em uma sociedade machista, mas o estereótipo do homem com H maiúsculo também não deve ser bolinho não. 

Obviamente, as mulheres sofrem mais discriminação e violência, mas, na real, ninguém é livre e ninguém pode ser. O machismo oprime a todos nós. 

Não ia ser massa, a gente em uma sociedade que respeitasse o que se tem de "masculino" e o que se tem de "feminino" em cada um? Ninguém é unidimensional, e isso que é o bonito da humanidade, né? Imagina o dia que a gente aceitar? Que lindeza que vai ser...

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Versos e Subversas: Sexta-feira à noite

por Jeff Vasques



SEXTA-FEIRA À NOITE
(Marina Colasanti, Brasil, 1937)

Sexta-feira à noite os homens
acariciam o clitóris das esposas
com dedos molhados de saliva.
O mesmo gesto com que todos os dias
contam dinheiro papéis documentos
e folheiam nas revistas a vida dos seus ídolos.
Sexta-feira à noite os homens penetram suas esposas
com tédio e pênis.
O mesmo tédio com que todos os dias
enfiam o carro na garagem
o dedo no nariz
e metem a mão no bolso para coçar o saco.
Sexta-feira à noite os homens ressonam de borco
enquanto as mulheres no escuro encaram "seu destino"
e sonham com o "príncipe encantado".


Marina Colasanti é uma escritora e jornalista ítalo-brasileira. No Brasil estudou Belas-Artes e trabalhou como jornalista, tendo ainda traduzido importantes textos da Literatura italiana. Como escritora, publicou 33 livros, entre contos, poesia, prosa, literatura infantil e infanto-juvenil, muitos relacionados à condição da mulher e ao amor. Seu primeiro livro foi lançado em 1968 e se chama "Eu sozinha". Colabora, atualmente, em revistas femininas e constantemente é convidada para cursos e palestras em todo o Brasil. É casada com o escritor e poeta Affonso Romano de Sant'Anna. Quem quiser pesquisar mais sobre a construção da voz feminina na literatura de Colasanti pode ler esta interessante pesquisa de Maria Aparecida de Araujo, "Temas e teimas: O discurso feminino e feminista de Maarina Colasanti" (Texto na íntegra aqui)

Abaixo, um pouco do que Colasanti pensa sobre o movimento feminista hoje:

"Primeiro a gente tem que dizer em que países. Se é no Brasil, a expressão 'movimento feminista' prescreveu, não se usa mais. Agora usam-se as expressões 'estudos de gênero', 'questões de gênero', e isso é muito sintomático. Porque, quando se dizia movimento feminista, tratava-se de um movimento que lutava pelos direitos das mulheres, defendia os direitos das mulheres. Era um movimento de mulheres para mulheres. Quando se passa a falar em questões de gênero, já deslizamos para um outro universo semântico, e não à toa. Ou seja, estamos dizendo que vamos nos ocupar de questões de homens e de mulheres, questões de cidadania ligadas ao feminino e ao masculino. Com essa abertura, proposta, aceita e estabelecida sobretudo no encontro de Beijing (China), o que aconteceu foi que as questões do feminino que estavam em aberto, que não estavam resolvidas num país onde a miséria é um problema de primeiríssima linha, e onde, portanto, as mulheres estão num estado terrível — porque sempre que há pobres, os mais pobres são as mulheres, os mais sacrificados são as mulheres — num país nessa situação, o enfraquecimento daquilo que era trabalho em cima do feminino, cravado no feminino, insistindo no feminino, foi muito ruim. Os movimentos praticamente se desfizeram, as militantes montaram as suas ongs, nós temos as coisas governamentais, os centros de estudo, mas os grupos militantes que existiam, já não há mais, ou os que há são muito raros. Não há uma visibilidade, um avanço desse trabalho." (Texto na íntegra aqui)

Lucien Freud, Portrait on a White Cover, 2002-3

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Rindo com mulheres

por Roberta Gregoli

"Ameaçador à dominação masculina não são as mulheres rindo dos homens; 
a real ameaça são mulheres rindo com mulheres"
- Nancy Reincke*

Solidariedade feminina em Hollywood
Já escrevi sobre a competição feminina e esse é um assunto que me interessa muito, inclusive num nível pessoal, e, correndo o risco de soar piegas, confesso que as pessoas mais fantásticas, inspiradoras, inteligentes, competentes e carinhosas que conheço são mulheres. Tenho muitos amigos homens também e eles são maravilhosos, mas com certeza devo muito às mulheres da minha vida.

Por isso estranho quando vejo mulheres sendo competitivas comigo ou umas com as outras. Estranho, mas compreendo. A competição feminina não é um mito, porque é empiricamente observada, mas uma construção essencial ao funcionamento do patriarcado. É simples: sem solidariedade não há coletividade, sem coletividade não há mudança. Enquanto as mulheres ficam competindo e brigando umas com as outras, a desigualdade entre mulheres e homens persiste sem grande resistência.

Pink Gang: iradas!
Este excelente texto clama por menos misoginia e mais amor e sororidade, leiam que vale muito a pena. É esse o meu apelo também, e aproveito para sintetizar algumas ideias no sentido de minar o paradigma tradicional, substituindo os sintomas das dinâmicas machistas por atitudes saudáveis e de apoio mútuo. Assim, precisamos de:

inspiração em vez de inveja
solidariedade em vez de rivalidade
empatia e compreensão em vez de culpabilização
colaboração em vez de competição
mais elogios e menos críticas
respeito em vez de imposição

e risada, muita risada, sempre



Ampliem esta lista nos comentários. Precisamos de mais tudo de bom!

* Reincke, Nancy. "Antidote to Dominance: Women's Laughter As Counteraction." The Journal of Popular Culture 24.4 (1991): 27-37, p. 36. Texto completo em inglês aqui.

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O caso de Fallon Fox

por Mazu


Fallon Fox
Esta semana, resolvi fazer entrevistas por esse mundão a fora. Tudo porque resolvi falar de um assunto que anda me fazendo pensar e coçar o cabeção há alguns dias. Fallon Fox!

Fallon Fox é uma lutadora de MMA que passou pela cirurgia de mudança de sexo. Lá por meados de abril, ela recebeu autorização para lutar num campeonato feminino na Flórida. Isso causou altos bafafás e teve até lutador do UFC suspenso por destilar preconceito em vídeo.

Antes e depois de Fallon Fox
O motivo de tanto barulho é o mesmo que me deixou cheia de dúvidas e me dividiu. Mesmo que algumas pessoas tenham a opinião de que a diferença de força física entre homens e mulheres é socialmente construída, ainda tem muita gente que afirma que a parada é biológica mesmo. Eu, com o pouco de experiência que tenho em treino, posso afirmar que nunca fui páreo para homens do meu peso, até alguns menores e mais novos costumavam me derrubar com certa facilidade. Será social, comigo? Logo eu toda feminista e tals? Não sei.

Mas por que estou falando de diferença entre homens e mulheres, se a Fallon não é homem, agora ela é mulher, certo? Legalmente e biologicamente. Então, ela perdeu a chamada "força masculina"? Sua composição física é igual a das outras lutadoras? Seria ela menos ou mais forte que algumas lutadoras que se entopem de hormônio masculino? Aqui, dá para ler a opinião de várias lutadoras diferentes.


Ronda Rousey, a primeira mulher campeã do UFC e atleta de artes marciais desde a infância, acha que Fox teria uma vantagem por ter passado a puberdade como homem, período em que teria adquirido a densidade óssea de um homem.

Como a gente pode ver, é complicado. Agora ela é uma mulher e tem os direitos que todas nós temos. Mas, vamos supor que eu fosse uma lutadora, eu não sei se me sentiria confortável e respeitada em enfrentá-la. Estou sendo super sincera aqui. E por essa divisão, confusão e tals, que fui pedir ajuda aos amigos de várias áreas, falei com militantes, médicos, treinadores e abaixo, trago algumas das respostas que recebi.

Sobre a composição física e densidade óssea:


Na verdade, se a pessoa tem o cromossomo Y e testículos ela tem produção de testosterona e conversão de testosterona em um derivado mais ativo. Isso faz com que tenha mais musculatura, maior estatura, mais densidade óssea do que mulheres. Isso faz com que homens e mulheres tenham constituição diferente, o que fica bem mais nítido depois da puberdade.

De fato, se alguém remove os testículos antes da puberdade terá musculatura e estatura mais próximas do "feminino", porque a maior parte da produção e utilização da testosterona se dá da puberdade em diante. Ou seja, ainda que ela tome hormônios feminizantes hoje, ela ainda tem "vantagens" do homem quando se fala em força física.
- Médica Pediatra

A densidade óssea vem da contração muscular e do balanço positivo de nitrogênio que é muito mais intenso em um sujeito que produz testosterona. O fato de ela ter feito a cirurgia não tira essa densidade óssea já existente.
- Médico Ortopedista

Sobre as diferenças entre uma lutadora que passou pela cirurgia de mudança de sexo e uma lutadora que se droga:


Ela (transexual) seria muito mais fraca que uma lutadora que se droga, pois o uso de anabolizantes faz que sua testosterona e DHT se elevem, no mínimo, 10 vezes mais que o fisiológico de um homem. Conheço fisiculturistas em que esse valor passou das 100 vezes mais. Além da testosterona, o uso de anabolizantes esteroides eleva outros tipos de hormônios. O uso apenas de testo não é o segredo.
- Médico Ortopedista

Sobre a participação de Fallon nos eventos


Difícil dar opinião. Depende de o que pensamos que seja o objetivo do esporte. Se for vencer uma disputa equilibrada, não concordaria com a participação dela em esportes femininos porque ela tem uma vantagem indiscutível. Por outro lado, se o objetivo do esporte for o de promover integração, educação etc etc etc, a discussão muda completamente.
- Médica Pediatra 

Difícil, heim? No entanto, acho que talvez estejamos caminhando rumo à diminuição das diferenças de capacidades físicas de homens e mulheres. Nas olimpíadas de Londres, não teve uma chinesa que nadou tão rápido que empatou ou ficou pouco atrás do Ryan Lochte? E não é necessário que sejamos desafiadas para que possamos 'incrementar' nossa força física? Se uma mulher trans tem reconhecido seu direito de usar seu nome de mulher, se quer reconhecida como mulher, não deveria mesmo lutar com mulheres?
- Blogueira Feminista

Fallon Fox
Chris Cyborg, que foi pega no doping depois de nocautear uma adversária em alguns segundos

Ronda Rousey, atual campeã mundial da categoria peso galo do UFC
 
Do que li e ouvi por aí, tirei que uma lutadora que passou pela cirurgia de mudança de sexo, especialmente as que foram homens na puberdade, teriam alguma vantagem sobre uma mulher cisgênero. Agora, a Fallon já perdeu lutas, logo, essa vantagem não deve ser insuperável. A meu ver, desleal mesmo é a competição com quem se droga, seja a pessoa cisgênero ou transgênero.

Fico triste porque queria vir aqui com uma solução pronta e emblemática, uma bandeira. Mas também não posso ser hipócrita. A gente tem mais é que debater, se informar e ler, a informação costuma ser o caminho mais seguro para o respeito.

De qualquer forma, a Comissão Atlética, na Flórida, parece ter tomado sua decisão, e as meninas da luta têm que se adaptar a ela. E talvez isso seja bom, como disse a nossa amiga blogueira, quando existe desafio, a gente sempre se supera.

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E se acontecer? O que fazer em caso de estupro: amigos, família

por Tággidi Ribeiro


Escrevi esse post aqui, sobre o que fazer em caso de estupro, para a vítima. Agora, quero falar a você que pode eventualmente ser conhecidx, amigx ou parente de uma vítima de estupro. Sabendo que a maioria dos estupros acontece em casa, sendo perpetrados por conhecidos da vítima, você pode ser inclusive testemunha (ocular ou não) de um. Por isso, acho bom você ficar preparadx para ser diferente do que as pessoas costumam ser nesses casos: insensíveis, cruéis, desconfiadas e não confiáveis.

1. Em primeiro lugar, se uma mulher - mãe, irmã, amiga, prima - disser a você que foi vítima de estupro, não pergunte "O que você estava fazendo?"; "Como estava vestida?"; "Mas porque foi falar com ele?"; "Por que saiu sozinha?". Também não diga: "Você não devia ter bebido tanto."; "Acho que você deve estar confusa. Ele não faria isso."; "Vai ficar sozinha com homem, sabe o que acontece...".

Cada uma dessas falas é uma sentença que repassa à vítima de estupro a responsabilidade por ter sido estuprada. É como se ela pudesse, por meio de algum comportamento ou atitude, estar a salvo desse crime hediondo. Na mesma medida em que responsabiliza a vítima, tira a responsabilidade do estuprador, tornando-o alguém que teve um motivo para praticar esse crime. De todas essas falas, a pior é, obviamente, aquela que deliberadamente duvida da vítima: "Ele não faria isso." é uma frase que funciona bem  como um segundo estupro - portanto, mesmo que a diga só para si mesmx, faça-o sentindo vergonha. Ah, não fique caladx e NUNCA diga: "Esquece isso."

2. Em segundo lugar, faça a coisa mais importante: ofereça apoio, diga que conte com você, leve a vítima ao hospital, à delegacia. Peça ajuda para ela, defenda-a de constrangimentos na delegacia, no hospital, pois muitas vezes os profissionais dessas instituições reproduzem os preconceitos da sociedade machista. Pode ser que ela não queira denunciar o estupro: em qualquer caso, dê seu apoio à vítima - mas deixe claro que se ela resolver denunciar, você estará ao lado dela.

Atenção: se você for testemunha ocular de um estupro, é seu dever chamar a polícia ou de qualquer forma fazer parar o ato (e chamar a polícia). Não raro lemos casos em que as vítimas foram abusadas na frente de outras pessoas e ninguém fez nada (leia e chore). Ah, caso você tenha dúvida de que o ato sexual por você presenciado seja estupro ou não: intervenha primeiro, pergunte depois.  

3. Caso a vítima de estupro venha a engravidar, deixe por conta dela a decisão de abortar ou não. E a apoie em qualquer caso. Lembre-se de que o aborto para vítimas de estupro é legal neste país - ainda que haja gente querendo suprimir esse direito da mulher, mercantilizando os úteros femininos. Se você ainda não ouviu falar sobre, o Estatuto do Nascituro prevê uma bolsa para as mulheres que decidirem não abortar fetos frutos de estupro. Se você não sabe, a Elba Ramalho 'intercedeu' por um feto, chantageando emocionalmente uma menina de 14 anos que havia sido estuprada pelo pai. Não faça isso, não faça parte disso. Pense nessa pessoa sofrendo a seu lado e haja legalmente, deixando crenças e convicções morais de lado. Essa pessoa será sua filha, amiga, namorada, mulher, mãe, avó... Ela vai precisar do seu apoio, que é a grande palavra desse post.

Por fim, quero lembrar que vivemos em uma cultura do estupro, na qual a vítima, via de regra, é acusada, julgada e culpada em lugar do estuprador. Justamente por isso, precisamos aprender a ser o contrário, precisamos aprender a ter empatia e compaixão pela vítima, não pelo criminoso, mesmo que este seja seu vizinho, amigo, pai, irmão, marido, filho, avô. Pense bem: depois de tudo o que você já leu, de saber quão traumático pode ser o estupro, levando suas vítimas mesmo ao suicídio... você ainda vai duvidar, culpar a vítima? Você ainda vai preferir continuar casadx com um estuprador a denunciá-lo? Vai esconder (de si mesmx) que alguém conhecido, ou até muito próximo, é estuprador? E se o estuprador fizer mais vítimas? E se ele vitimar você?


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Os dilemas de quem se importa

por Thais Torres
Em uma das escolas em que trabalho, eu e outras professoras começamos a desenvolver um projeto para discutir os sentidos da sexualidade na adolescência. Repensar padrões de beleza, causas e consequências da gravidez precoce e os significados do prazer são alguns dos assuntos que vão ser abordados. Além disso, é claro, repensar a cultura machista tão própria da nossa sociedade que condena e produz a "periguete" e que diviniza e produz o "garanhão". 
Outro objetivo (para mim um dos mais importantes) é pensar a formação da cultura do estupro. Felizmente, não estamos lidando com pequenos estupradores, no sentido de criminosos que deveriam ser condenados. Mas há uma permissividade com comportamentos de uma certa agressividade sexual, algo que choca não tanto pela pouca idade dos envolvidos, mas pelo fato de que está em formação um pensamento que pode levar a aceitação do estupro como algo moralmente aceitável.

Vide o caso recentemente noticiado pela Folha de São Paulo. O jornal relata que uma menina de 13 anos foi agredida por colegas de 14. Segundo especialistas consultados pelo jornal, "Situações como essas são, sim, violência sexual". Segundo a direção da escola particular paulistana, "É grave, mas não se trata de estupro". Fizemos uma proposta de redação para discutir o assunto com os alunos. Nas aulas, chamamos atenção para a diferença significativa entre a composição das duas frases. De certa forma, me parece que a direção da escola acha que o acontecido não é tão grave por que ainda não se constitui um estupro propriamente dito. Em um afã desesperado para abafar o caso e não afetar as matrículas, silenciam-se as discussões, envolvidos são expulsos por alguns dias e tudo volta ao normal.

A educação no Brasil parece se resumir a uma luta para que os alunos sejam bem sucedidos no vestibular e a escola, bem sucedida na manutenção da ordem e da disciplina. Nada parecido acontece na escola para a qual trabalho. Pelo contrário, recebemos total apoio para desenvolver nosso projeto. Mas sabemos que pais vão reclamar por estarmos discutindo sexo na escola. Que os adolescentes vão se indignar por estarmos denunciando práticas como a abordagem agressiva de meninos "garanhões" fazem com as "periguetes", condenadas por todos (até por elas mesmas). Que pais e alunos se revoltarão se o contato erótico do "casal hetero" precisar obedecer às mesmas regras que as "meninas que namoram" devem seguir.
No fundo, o dilema de quem se importa não é outro senão este: uma luta contra a uniformização que transforma todos os alunos em vestibulandos e um esforço para ajudar a formação de seres humanos plenos nos mais diversos aspectos, inclusive a sexualidade.
Procurando por imagens para ilustrar o post, encontrei essa clara demonstração de que o problema maior não é a sexualidade precoce, mas a distorção dos sentidos da sexualidade, ensinada desde cedo. 


PS: Esse post é também um pedido de sugestões para assuntos que podem ser abordados no nosso projeto. Bem como um agradecimento sincero a todo mundo que trabalha comigo e que, como eu, também se importa.


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Em Briga de Marido e Mulher se Mete a Colher



O Festival do Minuto está com uma nova proposta, o Minuto AD. O Instituto Avon está com um concurso no Minuto AD chamado "Em Briga de Marido e Mulher Se Mete a Colher", que visa colocar em pauta a causa da violência doméstica e suas formas de prevenção. Uma das raízes desse projeto é que a violência doméstica vem dos valores de diferenciação dos homens e das mulheres, arraigados na sociedade.

Interessadxs devem enviar vídeos de até um minuto sobre o tema para concorrer até R$ 10.000 em prêmios.

Mais informações sobre o concurso aqui.

Instituto Avon e MinutoAd lançam o concurso Em Briga de Marido e Mulher se Mete a Colher

Prêmios somam R$ 10 mil


Instituto Avon comemora 10 anos de atuação e realização do Concurso é uma das principais iniciativas das comemorações

Inscrições encerram em 10/08

O Festival do Minuto, hoje permanente e online, criado por Marcelo Masagão, em 1991, oferece a algumas empresas o MinutoAd, um modelo diferenciado de investimento. A empresa ou instituição patrocinadora do concurso propõe o desafio de se criar um vídeo, de até 60 segundos, sobre uma ideia ligada a marca da empresa ou instituição. As melhores ideias e contribuições receberão prêmios em dinheiro ou, por vezes, em produtos e serviços. A empresa define o briefing, lança o desafio e fica responsável pelo concurso, escolhendo diretamente os vídeos vencedores. As regras e os objetivos de cada concurso, bem como os prêmios disponíveis, são descritos na página de cada um deles.
Foi com esse intuito que Instituto Avon, responsável pelo investimento social da Avon e que em 2013 completa dez anos, resolveu lançar o tema Em Briga de Marido e Mulher se Mete a Colher para encorajar e estimular tanto a denúncia quanto a não aceitação da violência. Isso quer dizer que o concurso amplia a rede de atuação do Instituto, que tem a mulher brasileira no seu foco de atuação principal e que tem como uma de suas principais bandeiras o enfrentamento à violência doméstica, causa em que investiu cerca de R$ 4,9 milhões de 2008 a 2012.

A violência doméstica não escolhe lugar. Ela é parte da vida de mulheres com ou sem estudo, com mais ou menos dinheiro, que trabalham fora ou só dentro de casa. Geralmente é invisível e, quando fica evidente, a maioria das pessoas prefere não ver e não se meter. Por que ficamos todos em silêncio? Bater, xingar a mulher, obrigá-la a fazer sexo sem vontade -- tudo isso é violência. E o curioso é que, sem se dar conta, a própria sociedade constrói a cultura da violência contra essa mulher com atos, gestos, discursos, atitudes, educação.

Então, o Instituto Avon desafia o público a meter a colher – através da realização de um vídeo de até um minuto sobre o tema. Serão distribuídos R$ 10 mil em prêmios. As inscrições seguem até 10 de agosto.

Prêmios: até R$10.000,00 em prêmios

Melhor vídeo – voto equipe AVON – 1o colocado: R$ 5 mil
Melhor vídeo – voto equipe AVON – 2o colocado: R$ 3 mil
Melhor vídeo – escolha do público – R$ 2 mil

Inscrições pelo site www.minutoad.com.br

Realização: Instituto Avon


Sobre o MinutoAd


O MinutoAd é um desafio. A empresa ou instituição patrocinadora do concurso desafia você a criar um video de até um minuto sobre uma ideia ligada a marca da empresa ou instituição. As melhores ideias e contribuições receberão prêmios em dinheiro ou, por vezes, em produtos e serviços. A empresa define o briefing, lança o desafio e fica responsável pelo concurso, escolhendo diretamente os vídeos vencedores. As regras e os objetivos de cada concurso, bem como os prêmios disponíveis, são descritos na página de cada concurso.

Sobre o Festival do Minuto


O Festival do Minuto foi criado no Brasil, em 1991, e propõe a produção de vídeos com até um minuto de duração. É, hoje, o maior festival de vídeos da América Latina e também o mais democrático, já que aceita contribuições de amadores e profissionais indistintamente.

A partir do evento brasileiro, o Festival do Minuto se espalhou para mais de 50 países, cada um com dinâmica e formato próprios. O acervo do Minuto inclui vídeos de inúmeros realizadores que hoje são conhecidos pela produção de longas-metragens, como os diretores Fernando Meirelles (Cidade de Deus, Ensaio Sobre a Cegueira), Beto Brant (O Invasor, Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios) e Tata Amaral (Antônia, Hoje).

Sobre o Instituto Avon - 10 anos de dedicação à saúde e ao bem-estar da mulher


O Instituto Avon foi criado em 2003, como organização não governamental com a missão de coordenar no Brasil as campanhas defendidas pela Avon globalmente: a detecção precoce do câncer de mama e o enfrentamento da violência doméstica. No Brasil, as campanhas receberam a denominação Avon Contra o Câncer de Mama e Fale Sem Medo – Não à Violência Doméstica, para as quais o Instituto Avon já direcionou R$ 43 milhões, apoiando mais de 80 projetos. Em 2012, as campanhas ganharam o apoio da modelo e empresária Luiza Brunet, que se tornou Embaixadora do Instituto Avon, endossando as iniciativas das campanhas em todo país. Em 2013, a instituição celebra 10 anos de atuação no país, tendo beneficiado mais de 2 milhões de brasileiras no período. Conheça mais em: www.institutoavon.org.br.

Siga o Instituto Avon: www.twitter.com/institutoavon

Sobre a Avon


A Avon, a empresa voltada para as mulheres, é líder mundial no mercado de beleza, com uma receita anual próxima a US$ 11 bilhões. Uma das maiores empresas de venda direta do mundo, comercializa seus produtos em mais de 100 países por meio de cerca de 6 milhões de revendedores autônomos. O portfólio de produtos da Avon inclui itens de beleza de alta tecnologia e apresenta marcas de qualidade mundialmente reconhecidas como Linha Avon de Maquiagem, Color Trend, Renew, Skin-So-Soft, Advance Techniques e Avon Naturals. Além disso, inclui produtos de moda e voltados para a casa. A empresa é pioneira em venda direta de cosméticos no Brasil, onde está desde 1958. Atualmente, o Brasil conta com a maior força de vendas da empresa e é também a maior operação da Avon no mundo. Para obter mais informações sobre a Avon global e seus produtos, visite o site: www.avoncompany.com. Para saber mais sobre a Avon no Brasil, acesse: www.avon.com.br.


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Economia Doméstica

tradução de Jeff Vasques


ECONOMIA DOMÉSTICA
(Rosário Castellanos, México, 1926-1974)

Aqui está a regra de ouro, o segredo da ordem:
ter um lugar para cada coisa
e ter
cada coisa em seu lugar. Assim arrumei minha casa.
Impecável prateleira a dos livros:
um compartimento para as novelas,
outro para o ensaio
e a poesia em tudo mais.

Se abres um armário sentes a alfazema
e não confundirás as toalhas de linho
com as que se usam cotidianamente.
E há também a louça de grande ocasião
e a outra que se usa, se quebra, se repõe
e nunca está completa.
A roupa em sua gaveta correspondente.

E os móveis guardando as distâncias
e a composição que os faz harmoniosos.
Naturalmente que a superfície
(do que seja) está polida e limpa.

E é também natural
que o pó não se esconda nos cantos.
Mas há algumas coisas
que provisoriamente coloquei aqui e ali
ou que deixei no lugar dos utensílios.
Algumas coisas. Por exemplo, um pranto
que não se chorou nunca;
uma nostalgia de que me distraí,
uma dor, uma dor da qual se apagou o nome,
um juramento não cumprido, uma ânsia.

Que se desvaneceu como o perfume
de um frasco mal fechado
e retalhos do tempo perdido em qualquer parte.
Isto me inquieta. Sempre digo: amanhã…
e logo esqueço. E mostro às visitas,
orgulhosa, uma sala na qual resplandesce
a regra de ouro que me deu minha mãe.


Rosario Castellanos (México, 1925-1974) foi escritora de diversos gêneros (poesia, romance, conto, ensaio, teatro, ensaios jornalísticos), diplomata e promotora cultural. Formada em filosofia, dedicou uma extensa parte de sua obra e de suas energias a defesa dos direitos das mulheres, trabalho pelo qual é recordada como um dos símbolos do feminismo latinoamericano. Castellanos foi uma das primeiras mulheres mexicanas a ter acesso à educação superior institucionalizada. Daí sua convicção de que as culturas em geral e a cultura mexicana em particular colocam as mulheres, dentro do âmbito familiar e social, em um plano inferior. Assim argumentou em sua dissertação de mestrado em filosofia, intitulada "Sobre cultura feminina", defendida na Universidade Nacional Autônoma do México. Sua vida pessoal esteve marcada por um casamento desastroso e contínuas depressões que a levaram em mais de uma ocasião a ser internada. Castellanos morreu cedo, aos 49 anos, por causa de um acidente doméstico, eletrocutada ao trocar uma lâmpada (há suspeitas de suicídio). Sua obra trata de temas políticos, já que concebia o mundo como "lugar de luta em que se está comprometido". São exemplos mais famosos de sua literatura de caráter feminista o conto: “Lição de cozinha: cozinhar, calar-se e obedecer ao marido” e sua obra de teatro: “O eterno feminino”.


Edward Hopper, Morning Sun, 1952

mais de Jeff Vasques:


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Sexismo de cada dia

por Ana Luiza Araújo Lopes

Entrei em um café em Cambridge hoje, chama Harriets, ao abrir a porta parecia que tinha aberto uma porta pra o passado. 

Um rapaz, vestido com calça social preta, colete e gravatinha nos encaminhou para a mesa. Olho em volta e vejo que todas as garçonetes estava vestidas como “maids” aquela clássica roupa de serviçais. Até não vi muito problema, mas junto com a roupa via o olhar baixo, o ombro baixo, e o constante Madam, your coffee is coming, madam do you need something else, madam. Éramos 3 mulheres, não muito mais velhas que aquelas moças trabalhando ali... 

Não sei explicar o que senti naquele lugar, mas aquela roupa trazia também um comportamento subserviente, e o mais engraçado os rapazes que trabalham naquele lugar, não tinham esse olhar, eram altivos e obviamente não me chamou de madam.

Me desculpem, mas pra mim naquele ambiente havia claramente uma política de gênero, uma que me deixou muito desconfortável, mas certamente não sentia metade do embaraço que aquelas meninas que trabalham ali sentem todo dia, vestidas daquele jeito. 

Eu me senti muito mal, e muito brava, certamente aquela porta não abrirei mais.


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Por que as titias estão paxonadas nas Guerrilla Girls

por Mazu



Hoje, resolvi falar de um movimento que merece ser falado, lembrado, amado, idolatrado, oh boy! Quero pedir as meninas do Guerrilla Girls em casamento, e elas provavelmente me diriam que não, que casamento é bobagem de uma sociedade machista e tals. Enfim, guerrilla girls, suas lindas!! 

1 - Quem são as Guerrilla Girls?

Nas palavras das gatas, ou melhor, gorilas:

"Somos um grupo de artistas mulheres que usa fatos, humor e visual chocante para expor sexismo, racismo e corrupção - no mundo da arte, na política e na cultura pop. Nós revelamos as entrelinhas, o subtexto, o que se faz vista grossa, o injusto" (...) "Tentamos retorcer um assunto e apresentá-lo de uma maneira que não foi feita antes, com a esperança de mudar a cabeça de algumas pessoas" (Käthe Kollwitz, uma das guerrilheiras fundadoras, em entrevista ao Estado de São Paulo).
 
Elas usam apelidos inspirados em grandes nomes femininos da arte, nas manifestações, nunca mostram o rosto, usam máscaras de gorilas (sério, como não amar?).

2 - Quando surgiram?

Elas começaram em 1985, em resposta a uma exposição do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, a tal exposição, chamada de "Uma pesquisa internacional sobre pintura e esculturas contemporâneas", contava com 165 artistas, dos quais treze eram mulheres. Elas começaram com pôsteres nas redondezas do museu e foram crescendo. Passaram, então, a abordar não só temas relacionados à discriminação de gênero, mas também questões políticas e racismo.

3 - Por que máscaras de gorilas?

A lenda diz que uma das fundadoras era ruim de ortografia (história da minha vida) e escreveu gorila em vez de guerrilla. Outro motivo é que elas pretendem permanecer anônimas porque não querem o foco nas suas personalidades e sim nos fatos que elas expõem sobre machismo, racismo e discriminação.

4 -  O que elas fazem?

Como disse, elas começaram com pôsteres mostrando como a participação das mulheres nos museus era pequena. Conforme o movimento foi crescendo, os manifestos começaram a aparecer em outdoors. Grandes, gigantes manifestos com estatísticas, nomes e fontes. Muita gente ficou desconfortável, sabe? Essas feministas deselegantes, sério, como não amar?
Hoje, o movimento está maior com três divisões e com bastante reconhecimento. Elas fazem tours com workshops e apresentações teatrais.

Vale ler sobre, falar sobre e macacar por aí. Uma boa fonte é a Bravo! deste mês, na matéria da Nina Rahe, outra linda, sobre artistas mulheres.


Alguns exemplos do trabalho das Guerrilla Girls:

As vantagens de ser uma artista mulher:
1- trabalhar sem a pressão do sucesso;
2- Não ter que participar de apresentações com homens;
3- Ter uma fuga do mundo da arte em seus trabalhos gratuitos de free lancer
4- Saber que sua carreira pode decolar quando você tiver 80
5- Ter a certeza de que independente do tipo de arte que você produz, sua obra será classificada como feminina;
6- Não ficar presa em um cargo de professor titular;
7- Ver suas ideias no trabalho dos outros;
8 - ter a oportunidade de escolher entre a carreira e a maternidade;
9 - Não ter que engasgar com aqueles charutos enormes ou pintar vestida com ternos italianos;
10 - Ter mais tempo para trabalhar quando seu parceiro te larga por alguém mais novo;
11- Ser incluída em versões revisadas da história da arte;
12- Não ter que passar pela vergonha alheia de ser chamada de gênio;
13 - Ter suas fotos usando roupa de gorila publicada nas revistas de arte.

Pop-quiz das Guerrilla Girls:
Q. Se novembro* é o mês da consciência negra, e março o mês das mulheres, o que acontece o resto do ano?
R. (invertida) discriminação.

O Oscar anatômicamente representado:
Ele é branco e homem como os caras que ganharam.
Melhor diretor é um prêmio que nunca foi concedido a mulheres.
92,8% dos prêmios de roteiro foram concedidos a homens.
Apenas 5.5% dos prêmios de atuação foram concedidos a pessoas negras.

As mulheres precisam estar nuas para entrar no Museu de Arte Moderna?
Menos de 5% dos artistas são mulheres, mas 85% dos nus são femininos.

É isso, minha gente, chega de corpos brancos e sarados e carinha de pato nas fotografias. Não sei vocês, mas eu vou ali por uma máscara de gorila e sensualizar nas internets. ;)