Versos e subversas: Violeta Parra




VIOLETA PARRA (Chile, 1917-1967)
Cantora e compositora, poeta, ceramista, tecelã, pintora, pesquisadora e militante comunista, Violeta realizou seus estudos escolares até o segundo ano do secundário, abandonando-os em 1934, para trabalhar e cantar com seus irmãos em bares e circos, desenvolvendo uma importante carreira como autodidata desde muito cedo. Em 1952 começou a pesquisar as raízes folclóricas chilenas e compôs os primeiros temas musicais que a fariam famosa. Em 1954, quando já tinha o seu próprio programa de rádio, começou um rigoroso estudo das manifestações artísticas populares. Durante o ano de 1955 visitou a União Soviética, Londres e Paris, cidade onde residiu por dois anos. Em 1958 começa importante produção como artista plástica, chegando a expor no Louvre. Violeta Parra pode ser considerada a mãe da canção comprometida com a luta d@s oprimid@s e explorad@s, influenciando e inspirando milhares de artistas e trabalhadores na América e no mundo. Abaixo segue uma canção de Violeta, traduzida; um trecho curto de uma entrevista em que deixa clara sua posição acerca do caráter de sua arte; e um documentário (em espanhol) sobre essa mulher fascinante. Há uma ficção recente, chamada “Violeta se fue a los cielos”, de Andrés Woods, que apesar de não retratar tão intensamente a veia política da vida de Violeta, traz um tanto da poesia e luta dessa artista múltipla. Violeta Parra é uma mulher lutadora de "nuestra américa" que tod@s precisam conhecer!





Porque os pobres não têm 
(Violeta Parra)
Porque os pobres não têm
pra onde dirigir a vista,
a voltam para os céus
com a esperança infinita
de encontrar o que seu irmão
neste mundo lhe tira.

pombinha!
que coisas têm a vida,
ai zambita!*

Porque os pobres não têm
pra onde dirigir a voz,
a voltam para os céus
buscando uma confissão
já que seu irmão não escuta
a voz de seu coração.

Porque os pobres não têm
neste mundo esperanças,
se amparam na outra vida
como a uma justa balança,
por isso as procissões,
as velas, os louvores.

De tempos imemoriais
que se inventou o inferno
para assustar aos pobres
com seus castigos eternos,
e o pobre, que é inocente,
com sua inocência crendo.

O céu tem as rendas,
a terra e o capital,
e os soldados do Papa
lhes enche bem o embornal,
e ao que trabalha lhe metem
a glória como um cabresto.

Para seguir a mentira,
o chama seu confessor,
lhe diz que deus não quer
nenhuma revolução,
nem papéis nem sindicatos,
que ofendem seu coração.

* zamba: é uma dança cantada popular do noroeste da Argentinae que se espalhou por outras partes da América Latina.

Entrevista com Violeta Parra





Documentário sobre Violeta Parra (em espanhol)


(Seleção e tradução de Jeff Vasques)

Nenhum comentário:

Postar um comentário