tag:blogger.com,1999:blog-52208320214363833632024-03-13T18:16:51.491-03:00SubvertidasDesmistificando o feminismo * rejeitando qualquer forma de discriminação * mostrando que feministas não mordem * popularizando a teoria feminista * subvertendo os papéis de gênero para libertar mulheres e homensRobertahttp://www.blogger.com/profile/04443648246083883899noreply@blogger.comBlogger244125tag:blogger.com,1999:blog-5220832021436383363.post-48013219482375774562013-10-24T04:05:00.000-02:002013-10-24T13:17:29.511-02:00Sobre quando as mulheres queriam sexo muito mais que os homens<div class="tr_bq">
<i>por Tággidi Ribeiro</i></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Gentes, abaixo vai minha tradução do artigo <i>When Women Wanted Sex Much More Than Men - and how the stereotype flipped,</i><span style="font-family: Georgia, Arial, sans-serif;"><i> </i></span>cujo original vocês podem ler clicando <a href="http://www.alternet.org/when-women-wanted-sex-much-more-men?page=0%2C0"><span style="color: red;">aqui</span></a>. O texto é longo e será dividido.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<blockquote>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-6fxWAjB_HCY/Umi0K2ebQRI/AAAAAAAAA34/EhQbRi3v-2o/s1600/Klimt,_Dana%C3%AB.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="296" src="http://4.bp.blogspot.com/-6fxWAjB_HCY/Umi0K2ebQRI/AAAAAAAAA34/EhQbRi3v-2o/s320/Klimt,_Dana%C3%AB.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, Georgia, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 25px;">No século XVII, um homem chamado James Mattock foi expulso da Primeira Igreja de Boston. Seu crime? Não foi usar um linguajar chulo ou sorrir no Sabbath ou qualquer dessas coisas que poderíamos pensar que os puritanos desaprovariam. Em lugar disso, James Mattock recusou-se a fazer sexo com sua mulher durante dois anos. Embora a comunidade de Mattock claramente visse </span><span style="background-color: white; font-family: Arial, Georgia, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 25px;">como imprópria </span><span style="background-color: white; font-family: Arial, Georgia, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 25px;">sua abstinência, é bem provável que o sofrimento de sua esposa estivesse em jogo quando a igreja decidiu afastá-lo. Os puritanos acreditavam que o desejo sexual era parte normal e natural da vida humana de homens e mulheres (desde que fosse heterossexual e restrito ao casamento), mas que a mulher queria e precisava de sexo muito mais que o homem. Um homem poderia escolher abrir mão de sexo com relativa facilidade, mas seria muito mais difícil para uma mulher ser privada do ato sexual.</span></div>
</blockquote>
<blockquote>
<span style="background-color: white; font-family: Arial, Georgia, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 25px; text-align: justify;">Hoje, contudo, a ideia de que homens são mais interessados em sexo que mulheres é tão forte que parece quase não valer a pena falar sobre ela. Seja por causa do nível de hormônios ou pela "natureza humana", homens precisam fazer sexo, masturbar-se e ver pornografia de um jeito que simplesmente não é necessário para as mulheres, de acordo com o senso comum (e se existem mulheres que acham essas atividades todas muito necessárias, provavelmente elas têm algum problema). Mulheres precisam ser convencidas, persuadidas, mesmo forçadas a se 'entregar', porque a perspectiva de sexo não é atrativa por si só - tal é o estereótipo popular. Sexo, para as mulheres, comumente é alguma coisa não muito gostosa mas necessária que se faz para obter aprovação, suporte financeiro ou manter um relacionamento estável. E desde que as mulheres não são escravas de seus desejos como os homens, elas são responsáveis por assegurar que eles não 'se aproveitem' delas.</span><span style="background-color: white; font-family: Arial, Georgia, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 25px;"></span><br />
<span style="background-color: white; font-family: Arial, Georgia, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 25px;">
</span><span style="background-color: white; font-family: Arial, Georgia, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 25px;"></span>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<span style="background-color: white; font-family: Arial, Georgia, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 25px;">
</span></blockquote>
<blockquote>
<span style="background-color: white; font-family: Arial, Georgia, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 25px;"></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, Georgia, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 25px;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-I8e5u1H8XpA/Umi1_mMW3oI/AAAAAAAAA4E/FzvZL8ly6_g/s1600/IMG00721-20120419-1549.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://4.bp.blogspot.com/-I8e5u1H8XpA/Umi1_mMW3oI/AAAAAAAAA4E/FzvZL8ly6_g/s320/IMG00721-20120419-1549.jpg" width="240" /></a></span></div>
<span style="background-color: white; font-family: Arial, Georgia, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 25px;">
</span>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, Georgia, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 25px;">A ideia de que os homens são naturalmente mais interessados em sexo que as mulheres é ubíqua, razão pela qual é difícil imaginar que as pessoas alguma vez já pensaram diferente e, mais ainda, que o fizeram durante a maior parte da história do Ocidente: da Grécia Antiga ao começo do século XIX, julgou-se que as <b>mulheres</b> eram os demônios pornográficos e loucos por sexo. Em um mito grego antigo, Zeus e Hera discutem sobre quem tem mais prazer no sexo, se homens ou mulheres. Os deuses pedem ao profeta Tirésias, a quem Hera havia transformado certa vez em mulher, que ponha fim ao debate. O profeta responde: "Se o prazer sexual fosse dividido em dez partes, apenas uma pertenceria ao homem, e nove pertenceriam à mulher". Mais tarde, as mulheres seriam consideradas tentações cuja perfídia herdaram de Eva. Sua intensidade sexual era vista como um sinal de moralidade, razão e intelecto inferiores, e justificava estreito controle por parte de maridos e pais. Os homens, que não eram tão consumidos pela luxúria e que tinham capacidade superior de autocontrole, perfaziam o gênero mais naturalmente adequado a manter posições de poder e influência.</span></div>
<span style="background-color: white; font-family: Arial, Georgia, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 25px;">
</span><span style="background-color: white; font-family: Arial, Georgia, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 25px;"><div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Georgia, sans-serif;"></span></div>
</span></blockquote>
<blockquote>
<span style="font-family: Arial, Georgia, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 25px; text-align: justify;">No começo do século XX, o médico e psicólogo Havelock Ellis talvez tenha sido o primeiro a documentar a mudança ideológica que tinha se instaurado recentemente. Em um trabalho de 1903, <i>Estudos em Psicologia do Sexo</i>, ele cita uma extensa lista de fontes históricas antigas e modernas que iam da Europa à Grécia (sic), do Oriente Médio à China, todas muito próximas quanto à ideia do desejo sexual feminino dominante. No século XVII, por exemplo, Francisco Plazzonus chegou à conclusão de que o parto muito dificilmente seria valorizado pelas mulheres se o prazer delas no sexo não fosse muito maior que o dos homens. Montaigne, Ellis aponta, considerou as mulheres "incomparavelmente mais aptas e mais ardentes no amor do que os homens, e que essa arte elas sempre conhecem mais a fundo que eles e podem ensiná-los, pois é uma disciplina que nasce em suas veias". Mas nem a época de Ellis </span><span style="font-family: Arial, Georgia, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 25px; text-align: justify;">havia sido tomada inteiramente pela</span><span style="font-family: Arial, Georgia, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 25px; text-align: justify;"> ideia de que mulheres são desprovidas de desejo sexual</span><span style="font-family: Arial, Georgia, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 25px; text-align: justify;">. Contemporâneo de Ellis, o ginecologista austríaco Enoch Heinrich Kisch foi longe a ponto de afirmar que "O impulso sexual é tão poderoso nas mulheres que em certos períodos de sua vida essa primitiva força domina toda a sua natureza." </span><span style="background-color: white; font-family: Arial, Georgia, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 25px;"></span><br />
<span style="background-color: white; font-family: Arial, Georgia, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 25px;">
</span><span style="background-color: white; font-family: Arial, Georgia, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 25px;"></span>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<span style="background-color: white; font-family: Arial, Georgia, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 25px;">
</span></blockquote>
<blockquote>
<span style="background-color: white; font-family: Arial, Georgia, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 25px; text-align: justify;">Os tempos estavam claramente mudando, contudo. Em 1891, H. Fehling tentou desbancar a sabedoria popular: "É de todo falsa a ideia de que as moças tenham tão forte o desejo pelo sexo oposto quanto os rapazes... O surgimento de um viés sexual no amor de uma jovem é patológico." Em 1896, Bernhard Windscheid postulou: "Na mulher normal, especialmente a de alta classe social, o instinto sexual é adquirido, não inato; quando é inato ou despertado autonomamente, é uma anormalidade. Como as mulheres não conhecem esse instinto antes do casamento, elas não podem perdê-lo, uma vez que não há ocasião na vida para aprendê-lo."</span><span style="background-color: white; font-family: Arial, Georgia, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 25px;"></span><br />
<span style="background-color: white; font-family: Arial, Georgia, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 25px;">
</span><span style="background-color: white; font-family: Arial, Georgia, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 25px;"></span>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<span style="background-color: white; font-family: Arial, Georgia, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 25px;">
</span></blockquote>
<blockquote>
<span style="background-color: white; font-family: Arial, Georgia, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 25px; text-align: justify;">E então, o que aconteceu?</span><span style="background-color: white; font-family: Arial, Georgia, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 25px;"></span><br />
<span style="background-color: white; font-family: Arial, Georgia, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 25px;">
</span><span style="background-color: white; font-family: Arial, Georgia, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 25px;"></span>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<span style="background-color: white; font-family: Arial, Georgia, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 25px;">
</span></blockquote>
<blockquote>
<span style="background-color: white; font-family: Arial, Georgia, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 25px;"></span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, Georgia, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 25px;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-5CKXYry0CKo/Umi20pjqFdI/AAAAAAAAA4M/ULvDX-Xz0HI/s1600/O-beijo-Gustav-Klimt.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/-5CKXYry0CKo/Umi20pjqFdI/AAAAAAAAA4M/ULvDX-Xz0HI/s320/O-beijo-Gustav-Klimt.jpg" width="228" /></a></span></div>
<span style="background-color: white; font-family: Arial, Georgia, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 25px;">
</span>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; font-family: Arial, Georgia, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 25px;">Obviamente, ideias sobre gênero e sexualidade não são as mesmas em todo lugar, e em cada lugar e tempo há sempre contestação e visões diferentes. A história de como esse estereótipo - de que mulheres têm mais desejo sexual que os homens - foi invertido não é simples de traçar, não se deu de forma regular ou aconteceu de uma vez só. A historiadora Nancy Cott aponta o crescimento do protestantismo evangélico como catalisador dessa mudança, pelo menos na Nova Inglaterra. Ministros protestantes cujas congregações estavam crescendo, compostas agora sobretudo por mulheres brancas de classe média, provavelmente acharam razoável retratar suas fiéis como seres morais que estavam especialmente preparadas para responder ao chamado da religião, em vez de pintá-las como sedutoras indignas, de destino selado no Éden. </span></div>
<span style="background-color: white; font-family: Arial, Georgia, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 25px;">
</span></blockquote>
<blockquote>
<span style="background-color: white; font-family: Arial, Georgia, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 25px; text-align: justify;">As mulheres tanto gostaram desse novo retrato como ajudaram a construí-lo. Era um caminho para um certo nível de igualdade com o homem, e mesmo superioridade. Por meio do evangelho, as mulheres cristãs eram "exaltadas acima da natureza humana, elevadas aos anjos", como diz o livro "A fêmea amiga, ou os deveres das virgens cristãs", de 1809. A ênfase na pureza sexual presente no título do livro revela que, se as mulheres fossem agora os novos símbolos da devoção religiosa protestante, deveriam sacrificar a recognição de seus desejos sexuais. Embora até mesmo os puritanos acreditassem ser perfeitamente aceitável tanto para homens quanto para mulheres desejar o prazer sexual (restrito ao casamento), as mulheres poderiam agora admitir querer sexo com o propósito de estabelecer vínculos com o marido ou para satisfazer seu instinto maternal. De acordo com Cott: "A falta de desejo sexual foi o outro lado da moeda paga, por assim dizer, pelas mulheres, no reconhecimento de sua igualdade moral". (Alyssa Goldstein)</span><span style="background-color: white; font-family: Arial, Georgia, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 25px;"></span><br />
<span style="background-color: white; font-family: Arial, Georgia, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 25px;">
</span></blockquote>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-N5E0GxpGysY/Umi3_e3KhUI/AAAAAAAAA4c/czRrkmYhRBQ/s1600/22-Leonardo-da-Vinci-Virgin-and-Child-Madonna-Litta-ca-1491-95.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="200" src="http://4.bp.blogspot.com/-N5E0GxpGysY/Umi3_e3KhUI/AAAAAAAAA4c/czRrkmYhRBQ/s200/22-Leonardo-da-Vinci-Virgin-and-Child-Madonna-Litta-ca-1491-95.jpg" width="156" /></a></div>
<br />tagghttp://www.blogger.com/profile/08024823052403928519noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-5220832021436383363.post-26216508060469010582013-09-26T12:38:00.002-03:002013-09-26T13:03:29.669-03:00Versos e Subversas: Emicida, Trepadeiras e o Vacilão<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-FInXo0pu6iI/UkPCWy3Ub1I/AAAAAAAABH0/IFtjCA_ITSo/s1600/ato+trepadeiras.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="http://1.bp.blogspot.com/-FInXo0pu6iI/UkPCWy3Ub1I/AAAAAAAABH0/IFtjCA_ITSo/s400/ato+trepadeiras.jpg" width="300" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Neste Versos e Subversas, vou abordar a "polêmica" acerca do machismo presente na música "Trepadeira" do Emicida, fonte de críticas e atos contra o femicídio incentivado pelas produções culturais. A foto ao lado retrata parte do ato realizado recentemente numa apresenteção do Emicida, organizado e convocado pelas "Trepadeiras" (<a href="http://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/09/1o-ato-trepadeiras-ocorre-sao-paulo.html" target="_blank">clique aqui para ler a convocatória!</a>). Para seguir lendo o texto é importante conhecer a música... se não conhece <a href="http://letras.mus.br/emicida/trepadeira-part-wilson-das-neves/" target="_blank">clique aqui para ler a letra da música</a><a href="http://./">.</a> Não há dúvida de que o personagem-narrador da música (o "eu lírico") tem posturas machistas, as mais óbvias: depreciação da mulher que faz o que quer com seu corpo ("biscate", "trepadeira"...); ameaça de violência contra ela justamente por fazer o que quer com seu corpo e desejo ("<i>Merece era uma surra de espada de São Jorge / </i><i>um chá de comigo ninguém pode")</i>. A questão é saber se pode-se transpor essa postura do "eu lírico" pro autor da canção, Emicida. Uma primeira pergunta, para nos localizarmos, seria: Emicida fez essa canção para deliberadamente estimular posturas machistas como a do personagem-narrador?<br />
<br />
Claramente, não, o que se pode concluir pelo que se conhece da obra e da postura pública de Emicida, que não apresentam traços de apologia ao machismo. Isso pode ser fortalecido pelo texto de sua defesa contra as críticas recebidas, em que se coloca do mesmo lado das feministas (<a href="https://www.facebook.com/EmicidaOficial/posts/568493269875016" target="_blank">texto aqui)</a>. Isso, claro, não exime Emicida de machismo nesta canção, pois ele pode, mesmo sem intenção, ter construído uma canção machista, ou seja, que fortalece e incentiva ações machistas. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/--rl6LixcPGE/UkPPmfLbwJI/AAAAAAAABIA/F5hAZeLK31U/s1600/emicida514.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="360" src="http://1.bp.blogspot.com/--rl6LixcPGE/UkPPmfLbwJI/AAAAAAAABIA/F5hAZeLK31U/s640/emicida514.jpg" width="640" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-M771VqX1n5o/UkPQA5WAVbI/AAAAAAAABIM/wUggox6DX90/s1600/5847748750_abc81323b7_z.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><br /></a></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
O principal argumento de Emicida em sua defesa é que se trata de um retrato ficcional de um cara com dor de cotovelo (e, infiro, com as consequentes reações violentas). Retrato similar e inverso, defende ele, ao que fez em outra canção ("Vacilão"): um mulherengo que sofre porque a sua namorada o abandona por vacilar (ficar com outras mulheres, trair). Em um segundo argumento, aponta que muitos outros compositores, como Lupcínio Rodrigues, em suas canções de "dor de cotovelo" fizeram o mesmo: retratos dessas situações e reações. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-PmFkB0_OGww/UkPRyAVD-6I/AAAAAAAABIY/45mF8CMdywM/s1600/flor.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="391" src="http://2.bp.blogspot.com/-PmFkB0_OGww/UkPRyAVD-6I/AAAAAAAABIY/45mF8CMdywM/s400/flor.jpg" width="400" /></a>O primeiro argumento merece discussão. O segundo não o isenta, já que Lupcínio, como muitos outros sambistas e compositores, pode também ter criado (e criou!) canções machistas de dor de cotovelo. Li algumas análises de "Trepadeira" que afirmam que a violência da postura do personagem-narrador "é própria da dor de cotovelo, não é machismo". Bom, é importante verificar a quantidade/qualidade de agressões geradas pelo ciúmes e possessividade de homens e mulheres. Acredito que não preciso recorrer a estatísticas oficiais para convencê-los de que o ciúmes do homem fere e mata muuuuuito mais do que o das mulheres, certo? Qualquer busca simples sobre o tema no google vai te mostrar estatísticas assustadoras (só pra citar, estudo publicado ontem - 24/09 - na Folha, aponta que 80% dos familicídios são praticados por homens, imagine agora as estatísticas dos assassinatos envolvendo apenas as mulheres, sem os filhos!!! <a href="http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/130818-estudo-traca-o-perfil-de-autores-de-familicidios.shtml" target="_blank">Link aqui</a>). Sim, a "dor de cotovelo" está tingida toda de machismo e mancha a mão dos homens com o sangue das mulheres. E o próprio machismo retroalimenta e amplifica o raio de ação do "ciumento", já que o homem se sente no direito de controlar a mulher em praticamente todos os aspectos de sua vida e não aceita ser controlado, ou aceita de forma específica e tópica (e quando a mulher o tenta controlar, é tida como "louca", "histérica").<br />
<br />
O interessante é discutir o primeiro argumento. Pra isso precisamos antes responder se é possível retratar a sociedade (ou ficcionalizar algum aspecto seu) sem "sujar as mãos", ou seja, de forma "isenta", "neutra", sem posicionar-se. Acredito que um "retrato" nunca é bem um retrato: a metáfora é enganadora, já que nem em uma foto se tem isenção de posição, intenção, foco. Uma reprodução "neutra" é uma forma camuflada de reproduzir o modus operandi dominante na sociedade que, sabemos, favorece alguns em detrimento de outros (no caso, o machismo é dominante e favorece homens). Portanto, ou você está fortalecendo o machismo ou o atacando. Ou você está fortalecendo a ordem-conservadora-dominante estabelecida ou está a atacando. Isso nem sempre é fácil de avaliar e distinguir em obras artísticas, principalmente em obras mais complexas (a escritora Hilda Hilst foi, e ainda é, criticada indevidamente por seus textos pornográficos, acusada, por exemplo, de incentivar a pedofilia em "O Caderno Rosa de Lori Lamby").<br />
<br />
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<a href="http://4.bp.blogspot.com/-M771VqX1n5o/UkPQA5WAVbI/AAAAAAAABIM/wUggox6DX90/s1600/5847748750_abc81323b7_z.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="http://4.bp.blogspot.com/-M771VqX1n5o/UkPQA5WAVbI/AAAAAAAABIM/wUggox6DX90/s400/5847748750_abc81323b7_z.jpg" width="400" /></a></div>
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-PmFkB0_OGww/UkPRyAVD-6I/AAAAAAAABIU/mEXuUfIwpb4/s1600/flor.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"></a><br />
Emicida parece tentar se apoiar na idéia de que sua canção "Trepadeira" é uma ficção que retrata uma situação comum... tenta fortalecer ainda mais seu argumento quando diz que a história retratada pela "Trepadeira" está equilibrada com o retrato do "Vacilão", feito em outra música, onde um homem é criticado por ter "vacilado" com sua namorada que o abandona, e sofre por isso. Assim teria mostrado os dois lados da moeda. Difícil falar em dois lados, quando um deles, o da mulher, é claramente massacrado. Aliás, se seguirmos o que o próprio Emicida sugere, de narrativas complementares-opostas, teríamos em "Vacilão" o homem-errado ("vacilão"), a mulher-certa; logo, em "Trepadeira", o homem-certo, a mulher-errada ("trepadeira, biscate"), o que reforça a associação machista de que a mulher não deve ser dona do seu corpo, mas submissa. Buenas, se comparamos as letras de "Trepadeira" e "Vacilão" (<a href="http://letras.mus.br/emicida/1561139/" target="_blank">clique aqui para ler a letra</a>) vemos que apenas em "Trepadeira" aparece a violência contra uma das partes (no caso, contra a mulher). Se Emicida respondesse a isso dizendo que assim é porque assim ocorre na sociedade; que está apenas retratando como um homem e uma mulher reagem a uma situação semelhante, estaria assumindo a idéia furada já abordada acima do "retrato neutro" e, assim, estaria naturalizando a violência contra a mulher. Uma outra possibilidade de resposta é a de que haveria uma crítica embutida à postura do narrador-personagem em "Trepadeira". <br />
<br />
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-JK3lkOHE2Fs/UkPS_o75iAI/AAAAAAAABIg/8ZC1fPMuccU/s1600/mata.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="400" src="http://3.bp.blogspot.com/-JK3lkOHE2Fs/UkPS_o75iAI/AAAAAAAABIg/8ZC1fPMuccU/s400/mata.jpg" width="301" /></a>Justamente, vi algumas análises de "Trepadeira" na internet que lêem o personagem-narrador como um <br />
bobão-chorão-ciumento que não consegue lidar com uma mulher que faz o que quer com seu corpo. Logo, a canção estaria depreciando figuras como a dele. Acho, claro, uma leitura possível, apesar de pouco provável pela forma como a narrativa é construída... pra mim, entre negativas e positivas, o narrador claramente ganha a parada, há uma empatia criada que leva o ouvinte (homens e mulheres criad@s em uma cultura machista e sem questionamento crítico sobre o tema) a ficar do lado do narrador-personagem e entender como "justa" ou "justificável" a sua intenção de violência contra a mulher ("é, ela merece mesmo uma surra", "biscate"). Logo, pra mim, a música é sim machista e, Emicida, o vacilão da vez. Isso não significa que toda a obra do Emicida seja machista, nem que ele seja um apologista do machismo. Importante acompanharmos como ele reage às críticas apontadas e como isso repercute em sua postura e obra daqui em diante. <br />
<br />
Aliás, é importante salientar que, em termos de música machista, Emicida tem razão ao dizer que existem outros importantes e fundamentais alvos que precisam receber a devida crítica: grupos musicais que se constróem fundamentados no machismo e que são impulsionados, justamente por isso, por grandes gravadoras e atingem milhões de pessoas. O fato de haver outros alvos-machistas, talvez maiores e mais importantes na luta feminista, não implica que não se deva criticar o Emicida ou qualquer outro que fizer música machista, seja Lupcínio Rodrigues (em "Braza": "Toda vez que eu chego em casa, desce logo uma explosão/ Ciúme de mim, não acredito!/ Pois meu bem, não é com grito que se prende um coração/ Desculpe a minha pergunta, mas quem tanta asneira junta lhe ensinou a me falar/ Seu professor bem podia ensinar que não devia deste modo me tratar. Isso é um soco, não é nem um tapa..."), seja João Bosco e Aldir Blanc (em "Gol Anulado": "Quando você gritou 'Mengo', no segundo gol do Zico tirei sem pensar o cinto e bati até cansar"). Liberdade poética, lamento informar, tem sim limites (e há tantos outros, limites conservadores e machistas a se quebrar!) <br />
<br />
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-djAJh3SSZqs/UgLT3sNSokI/AAAAAAAABBg/lqoJhE-CUDg/s1600/602749_166180203568400_1620832279_n.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="http://4.bp.blogspot.com/-djAJh3SSZqs/UgLT3sNSokI/AAAAAAAABBg/lqoJhE-CUDg/s400/602749_166180203568400_1620832279_n.jpg" width="266" /></a>Queria ainda ressaltar algo que me parece óbvio, mas sei que pode não ser para muitos: não se deve inferir do fato de alguém transar com várias pessoas nada além de que ela quer transar com várias pessoas. Talvez a "trepadeira" da música amasse o narrador e queria transar com outros. Talvez ela amasse o narrador e outros. Talvez ela não o amasse e apenas queria transar com ele. Homens precisam aprender a receber o "não" e aceitar o "sim" não exclusivo. Amor e sexo, eu sei, possuem em nossa sociedade um relação tensa, tristemente muito (mas muito!) mais tensa para mulheres do que para homens. <br />
<br />
Pra fechar, um poema muito bom que foi publicado no "Feminismo sem demagogia" (<a href="http://feminismosemdemagogia.wordpress.com/" target="_blank">clique aqui</a>) em resposta ao poema de defesa que o Emicida vem declamando antes de cantar a música "Trepadeira" em seus shows. No poema, Emicida vai mostrando como defende a mulher em outras canções e como acredita que as mulheres devem ser livres pra serem o que quiserem, inclusive "trepadeiras". Eis aqui a resposta poética e política de uma mulher:<br />
<br />
Ouvi teu poema com som de canção<br />
Mas esta melodia não alivia meu coração<br />
Não adianta dizer que disse outrora<br />
Se o que me maltrata é o que cantas agora.<br />
<br />
Eu, assim como todas as mulheres, como você diz<br />
Mereço respeito, mereço uma vida feliz<br />
Por que cantastes então censurando nossa liberdade<br />
Vestindo de macho recalcado seu personagem?<br />
<br />
Por que cantas que merecemos apanhar ? Me diz?<br />
Por que cantas que merecemos ser envenenadas?<br />
Por que cantas que a mulher livre merece ser depreciada?<br />
Por que cantas se não acredita nesta moral infeliz?<br />
<br />
Não me venha com poeminha cheio de demagogia,<br />
Discurso bonito? Qualquer um pode fazer sobre a laje fria.<br />
O homem que nos romanceia, é o mesmo que nos mata,<br />
Queremos respeito, não suas rimas dissimuladas.<br />
<br />
Disseste que tens o direito de cantar sobre o quiser…<br />
Cantas! Grite ao mundo todo teu direito de oprimir!<br />
Deslize em suas melodias a opressão contra a mulher,<br />
Só não tente com hipocrisia do que cantas se redimir.<br />
<br />
<br />
(Texto de Jeff Vasques) </div>
Jeffhttp://www.blogger.com/profile/03843832124810310091noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-5220832021436383363.post-19966229377393072572013-09-19T12:33:00.000-03:002013-09-19T12:42:17.925-03:00Versos e Subversas: Angye Gaona<!--[if gte mso 9]><xml>
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<br />
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-pKpTF5EL35s/UjsTjqnv6RI/AAAAAAAABGo/xrgPd6zAKdg/s1600/Angye.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="360" src="http://1.bp.blogspot.com/-pKpTF5EL35s/UjsTjqnv6RI/AAAAAAAABGo/xrgPd6zAKdg/s640/Angye.JPG" width="640" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "DIN Alternate";"><span style="mso-tab-count: 1;"></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "DIN Alternate";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "DIN Alternate";"></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
No "Versos e Subversas" desta semana, falo um pouco da Colômbia e da
poeta e lutadora Angye Gaona, que mesmo tendo sido presa e continuamente
ameaçada, segue lutando com sua arte pela libertação dos trabalhadores
de seu país. Traduzi para o português seu primeiro livro de poesias
"Nascimento Volátil". Abaixo segue a intodução que escrevi para esse
livro que foi publicado pela fábrica ocupada Flaskô. Ao final, 3 poemas de Angye Gaona! Boa leitura!</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
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</span><span style="font-family: "DIN Alternate";"></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "DIN Alternate"; font-size: 16.0pt;">Poeta
colombiana Angye Gaona: acusada de liberdade!</span></b></div>
<span style="font-family: "DIN Alternate";">
</span><br />
<span style="font-family: "DIN Alternate";"></span><br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Em janeiro de 2011, a poeta colombiana Angye Gaona voltando de viagem a Venezuela foi presa pela polícia da Colômbia acusada absurdamente de “narcotráfico” e “rebelião”. Durante longos 4 meses, mesmo sem provas, permaneceu encarcerada.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Vencido o prazo máximo para seu julgamento, Angye teve que ser posta em liberdade condicional enquanto seu processo se arrasta indefinido até hoje. É interessante ao governo que seja assim, para mantê-la sobre “liberdade” vigiada, com a ameaça constante da sentença de 20 anos de prisão pairando sobre sua cabeça.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
Para entender o processo kafkiano por qual passa Angye (e milhares de outros colombianos) é preciso entender os reais motivos de sua prisão e, para isso, compreender a Colômbia, verdadeiro ponto-cego da América, apagada pela mídia e pouco discutida até mesmo pelas organizações de esquerda.</div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "DIN Alternate";">Colômbia: miséria e rebeldia</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "DIN Alternate";"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-1LfcbQpLNSw/UjsVoe2xzgI/AAAAAAAABG8/n5EB4mxGWQw/s1600/%C3%8Dndicefarc.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="400" src="http://2.bp.blogspot.com/-1LfcbQpLNSw/UjsVoe2xzgI/AAAAAAAABG8/n5EB4mxGWQw/s400/%C3%8Dndicefarc.jpg" width="286" /></a></div>
A Colômbia, apesar de ser a 4ª maior
economia da América Latina, é o 3º país mais desigual do mundo: 68% da
população são miseráveis e pobres que “vivem” ao lado de uns poucos
milionários, como <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>o banqueiro Sarmiento
Angulo que domina quase metade das finanças do país, sendo o 75º no ranking dos
mais ricos do mundo. Essa já grande desigualdade vem crescendo enormemente com
a ação das multinacionais que exploram e roubam as riquezas naturais do país,
agindo sobre 40% do território (áreas já concedidas ou em trâmite). <br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "DIN Alternate";"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span>Esse quadro de desigualdade vem se construindo ao longo da história do país, gerando choques violentos entre liberais, conservadores e comunistas. Um dos mais marcantes acontecimentos de sua história ocorreu em 1964, quando liberais e conservadores lançaram o exército contra camponeses rebelados influenciados pelos comunistas, promovendo o Massacre de Marquetália. Deste massacre, escapam para as selvas 48 camponeses, os quais fundam as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e dão início a mais antiga guerrilha do mundo, que controla hoje entre 15% e 20% do território colombiano.<br />
Neste contexto de enormes desigualdades e intensa revolta popular, os governos colombianos (Ayala, Uribe e, agora, Santos) vêm reprimindo duramente qualquer manifestação de pensamento crítico; criminalizando as liberdades de expressão, manifestação e livre organização e reduzindo as FARC a um grupo “narco-terrorista”, ignorando suas reivindicações políticas. Tudo isso com enorme apoio militar dos EUA (Plano Colômbia) que tem interesse geopolítico e econômico na região. </div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "DIN Alternate";"></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "DIN Alternate";">O terrorismo de Estado na Colômbia</span></b><span style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "DIN Alternate";"></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-AZGhr7kN_70/UjsVA9THjgI/AAAAAAAABG0/NcWaZoNmOSg/s1600/%C3%8Dndice.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="http://4.bp.blogspot.com/-AZGhr7kN_70/UjsVA9THjgI/AAAAAAAABG0/NcWaZoNmOSg/s400/%C3%8Dndice.jpg" width="295" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "DIN Alternate";"><span style="mso-tab-count: 1;"></span></span>Atualmente, há na Colômbia pelo menos 7.500 presos políticos: 90% de
civis - sindicalistas, jornalistas, acadêmicos, estudantes,
ambientalistas, camponeses - e apenas 10% de membros das FARC. Dados
oficiais da Defensoria do Povo, vinculado ao Ministério Público da
Colômbia, reconhecem que há 61.604 pessoas “desaparecidas” nos últimos
20 anos, sendo que outros 16.655 ainda não receberam esse status, pois
desapareceram há “pouco tempo” (os números estimados pelos movimentos
são bem maiores). Em 2010, a Central Unitária dos Trabalhadores da
Colômbia denunciou que, em 10 anos, 2.778 sindicalistas foram
assassinados, ou seja, 60% dos sindicalistas assassinados no mundo. São
comuns as práticas de tortura e assassinatos exemplares praticados pelo
exército e pelas milícias de paramilitares que são incentivadas e
acobertadas pelo governo. Recentemente, foi encontrada nos arredores da
base militar da Força Tarefa Omega (menina-dos-olhos do Plano Colômbia),
a maior cova comum do continente com 2000 corpos de “desaparecidos”.<br />
<br />
Os números indicam um novo recorde macabro na América: a “democracia”
colombiana tem destruído mais vidas que as ditaduras do Chile e da
Argentina juntas (as duas mais sangrentas da América!).</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-RwX8U8T8JLU/UjsVxdyMQII/AAAAAAAABHE/wxEPlxpRCzk/s1600/angye-et-Azalea.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="443" src="http://3.bp.blogspot.com/-RwX8U8T8JLU/UjsVxdyMQII/AAAAAAAABHE/wxEPlxpRCzk/s640/angye-et-Azalea.jpg" width="640" /></a><br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="background: white; color: black; font-family: "DIN Alternate";">“E se um
menino preso chora, dirás, </span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="background: white; color: black; font-family: "DIN Alternate";">e se um homem
é torturado, dirás.”</span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<i><span style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="background: white; color: black; font-family: "DIN Alternate";">Angye Gaona</span></span></i></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-right: .9pt; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="background: white; color: black; font-family: "DIN Alternate";"> </span></b><span style="font-family: "DIN Alternate";"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
O terror de Estado na Colômbia tem intimidado a população que se cala para não ser presa ou morrer. A poeta Angye Gaona, ao contrário, vem se posicionando publicamente a favor da luta dos trabalhadores, estudantes e dos milhares de presos políticos. Artista de intensa atividade cultural, Angye trava com sua poesia e com sua arte o bom combate, auxiliando na construção da esperança para todos que desejam afirmar a vida na Colômbia, apoiando diretamente a luta dos presos políticos. Por isso mesmo, o governo de Santos armou sua prisão com um julgamento de “cartas marcadas”.</div>
<div style="text-align: justify;">
Para garantir a liberdade de Angye e dos demais presos políticos é preciso uma campanha internacional que denuncie o terrorismo de Estado colombiano. Calar diante da situação colombiana é aceitar, indiretamente, que o mesmo ocorra em outros países da América. É visível, nestes últimos anos no Brasil, o fortalecimento de posições fascistas e de ultra-direita, o crescente desrespeito aos direitos humanos manifesto mais claramente nas ações policiais e militares nas favelas, periferias, universidades e ocupações.</div>
<div style="text-align: justify;">
Por isso, é preciso forjar, apesar das dificuldades, a unidade da luta latinoamericana, pois um fantasma ronda a América... e, infelizmente, não parece ser o do comunismo. No Brasil, a Agenda Brasil-Colômbia (http://agendacolombiabrasil.blogspot.com/), comitê constituído por colombianos e brasileiros, vêm buscando denunciar a situação de terror-ditatorial da Colômbia em nosso país e compartilhar com os lutadores colombianos a situação política brasileira, ainda marcada pelas ditaduras de ontem e de hoje. É preciso que cada vez mais falemos uma só língua, a da classe trabalhadora de nossa Grande Pátria. Como diz Angye, em um de seus mais belos poemas, “é momento de forjar e fazer luzir o fio”!</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="background: white; color: black; font-family: "DIN Alternate";">Nascimento
Volátil</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "DIN Alternate";"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-l1_mEV_6BsI/UjsWGTMbVPI/AAAAAAAABHM/R81pf4T6PTY/s1600/soh+capa.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://2.bp.blogspot.com/-l1_mEV_6BsI/UjsWGTMbVPI/AAAAAAAABHM/R81pf4T6PTY/s320/soh+capa.jpg" width="231" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Conheci a poesia e a história de Angye enquanto pesquisava sobre poesia de luta na América Latina. Durante sua prisão, traduzi algumas de suas poesias para fortalecer a campanha internacional por sua liberdade. Assim que foi posta em liberdade condicional, aguardando julgamento, estabeleci contato e desde logo começamos uma fraterna amizade que, apesar de virtual, é forjada na concretude do que nos comove e move: a poesia e a luta pela liberdade plena. </div>
<div style="text-align: justify;">
A divulgação no Brasil da situação dos presos políticos da Colômbia (e do caso de Angye) surtiu bons frutos: Batata, quadrinista de combate e trabalhador da Fábrica Ocupada Flaskô, desenhou o poema “A fuga” de Angye e também estreitou contato com a poeta. É assim que nasce a ponte entre Angye, Colômbia e a Flaskô: ponte concreta que nasce e se lança por sobre quilômetros de distância com a publicação deste livro.</div>
<div style="text-align: justify;">
Acredito que são desses “nascimentos voláteis” de que fala Angye... algo antigo - e sempre novo - está nascendo deste belo encontro da luta do povo colombiano com a luta dos trabalhadores da Flaskô em defesa do controle operário. Prova concreta de que a luta e a poesia da classe trabalhadora não têm fronteiras e deve, cada vez mais, se tornar uma só. Uma só voz, um só canto, uma só força: que os trabalhadores se façam soberanos sobre seu próprio trabalho; que o povo colombiano se faça soberano sobre sua vontade de vida e liberdade; que a poesia se faça pão na luta do homem e da mulher por se fazerem verdadeiramente humanos.</div>
<br />
Espero que o livro de Angye Gaona inaugure essa comunhão de revoltas!<br />
<br />
Jefferson Vasques - Poeta, militante e tradutor deste livro<br />
<br />
<br />
<span style="font-size: large;"><b>A fuga</b></span><br /><br />Perde a casa,<br />salte do leito,<br />enche os bolsos de fugas,<br />olha passar pelas janelas<br />tua conta pendente de paisagens intocadas.<br /><br />Encontra, de madrugada,<br />o grito interior do distante;<br />ou de tarde,<br />a bola de lodo no peito:<br />acumulação malsã de famílias enoveladas<br />que te deram em uso seus nomes,<br />agora gastos, errantes.<br /><br />Marcha até o tédio, sangue meu.<br />Não queiras pisar o povo fértil que te chama a sua memória<br />só até perder-se mais,<br />perder-se melhor onde prefiras:<br />no oceano de graças deslumbrantes e profundas,<br />no deserto letárgico e eqüidistante de casa,<br /><br />na montanha fecunda onde se multiplicam os caminhos.<br /><br />Pisa aqui e ali até agonizar.<br />Volta a partir quando te tomem por louca<br />e tentem te enviar de barco a outro porto<br />ou te tratem como mercadoria que se perde nos bazares<br />de quem ninguém sabe de onde seu brilho ou avaria.<br /><br />Entre tanto, estará teu povo fértil<br />crescendo abundante como terra descansada,<br />esperando ver florescer tua vara<br />e teu fazer.<br /><br /><br /><b><span style="font-size: large;">Tecido brando</span></b><br /><br />Calma e tino te digo, peito brando.<br />Não queiras conter toda a água dos mares.<br />Toma uns litros de ondas bravas,<br />de espuma fera.<br />Deixa que se encrespe dentro de ti,<br />cavalo afrontado,<br />mas não domes esta água<br />que o tempo a requer viva<br />e pungente.<br />Respira e prepara-te, peito brando.<br />Não queiras conter todo o ar dos abismos,<br />toma só o de tua pequena inspiração,<br />o acaricie por instantes,<br />o sussurre como se ao último alento<br />e o deixe livre ir ali,<br />onde tu também querias:<br />vasto, imenso, indistinto.<br />Sopra forte o que guardas.<br />Não recolhas mais lágrimas, peito brando.<br />E se um menino preso chora, dirás,<br />e se um homem é torturado, dirás.<br />Que não é tempo de guardar a ira, te digo.<br />É momento de forjar e fazer luzir<br />o fio.<br /><br /><br /><b><span style="font-size: large;">Caminho</span></b><br /><br />O caminho entrou pela janela<br />como um ramo que a tormenta afugenta.<br /><br />Chovia.<br />Agudos nomes caíam gravemente,<br />desde cima entoados,<br />chamados a rodar pelas calçadas.<br /><br />As casas se tornaram caminhos<br />ou foram atravessadas por eles.<br /><br />A lucidez se apoderou das casas.<br />Os habitantes buscaram os terraços,<br />ascenderam e alçaram suas frontes com fervor<br />para o raio que revelou o caminho,<br />por um instante.<br /><br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Jeffhttp://www.blogger.com/profile/03843832124810310091noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5220832021436383363.post-29850329291716784732013-09-17T00:07:00.000-03:002013-09-17T21:38:06.544-03:00Umberto Eco Filosofando no Feminino - Parte 2<i>por Tággidi Ribeiro</i><br />
<i><br /></i>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-m3ggF-eOm3s/UjfF_d5AstI/AAAAAAAAA2o/k4GRSnfnClc/s1600/409427_281993911859214_258767730848499_793530_852116200_n.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="198" src="http://4.bp.blogspot.com/-m3ggF-eOm3s/UjfF_d5AstI/AAAAAAAAA2o/k4GRSnfnClc/s320/409427_281993911859214_258767730848499_793530_852116200_n.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="text-align: justify;">Eis a segunda e última parte do ótimo texto de Umberto Eco, intitulado "Filosofar no feminino":</span><br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
As feministas elegeram há certo tempo a heroína Hipácia, que, na Alexandria do século V, era mestre de filosofia platônica e de matemática. Hipácia se tornou um símbolo, mas infelizmente de suas obras restou apenas a lenda, pois se perderam, e perdeu-se a ela também, literalmente partida em pedaços por uma horda de cristãos enfurecidos, segundo alguns historiadores, açulados por aquele Cirilo de Alexandria que, embora não por esse motivo, mais tarde foi santificado. Mas Hipácia seria a única?</blockquote>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
Saiu na França um livrinho, <i>Histoire des femmes philosophes</i> (ed. Arléa). Se nos perguntarmos quem seria o autor, Gilles Ménage, descobriremos que vivia no século XVII, era um latinista, preceptor de Madame Sévigné e de Madame de Lafayette e que seu livro, publicado em 1690, intitulava-se <i>Mulierum philosopharum historia</i>. Longe de Hipácia ser a única: embora seja dedicado principalmente à idade clássica, o livro de Ménage apresenta-nos uma série de figuras apaixonantes. Diotima, a Socrática; Arete, a Cirenaica; Nicarete, a Megárica; Hipárquia, a Cínica; Teodora, a Peripatética; Leôncia, a Epicúrea; Temistocleia, a Pitagórica.</blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
Folheando os textos antigos e as obras dos pais da Igreja, Ménage havia encontrado citações de nada menos que 65 filósofas, ainda que entendesse filosofia em sentido bem amplo. Se calcularmos que na sociedade grega a mulher era confinada às paredes domésticas; que os filósofos, antes que com moçoilas, preferiam entreter-se com mancebos; e que, para desfrutar de notoriedade pública a mulher tinha de ser cortesã, compreende-se o esforço que hão de ter feito aquelas pensadoras para se afirmarem.</div>
</blockquote>
<blockquote class="tr_bq">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-GfxiCDTULDU/UjfGNPqzBQI/AAAAAAAAA2w/bs9m3TBL_1s/s1600/not_yours_400.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="240" src="http://1.bp.blogspot.com/-GfxiCDTULDU/UjfGNPqzBQI/AAAAAAAAA2w/bs9m3TBL_1s/s320/not_yours_400.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Aspásia ainda é recordada como cortesã, por mais qualidade que tivesse, esquecendo-se de que era versada em retórica e filosofia e que (Plutarco é testemunha) Sócrates a frequentava com interesse. Fui folhear ao menos três enciclopédias filosóficas atuais, e desses nomes (exceção feita a Hipácia) não encontrei sequer o rastro. Não que não tenham existido mulheres que filosofavam. É que os filósofos preferiram esquecê-las, quem sabe depois de terem se apropriado de suas ideias. </div>
</blockquote>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
(Revista Entrelivros, fevereiro de 2006)</blockquote>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-7cGEvoYrr9c/Ujj1iLa5NlI/AAAAAAAAA3A/-katSpoI3mc/s1600/1235092_10200271693986794_1302151897_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="400" src="http://4.bp.blogspot.com/-7cGEvoYrr9c/Ujj1iLa5NlI/AAAAAAAAA3A/-katSpoI3mc/s400/1235092_10200271693986794_1302151897_n.jpg" width="295" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Acho que a suposição de Eco bem pode estar certa.</td></tr>
</tbody></table>
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
</blockquote>
tagghttp://www.blogger.com/profile/08024823052403928519noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5220832021436383363.post-58620498635195243512013-09-12T11:35:00.000-03:002013-09-12T11:56:46.209-03:00Versos e Subversas: Cora Coralina<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-PAkid5nwvkY/UjHAVA9_t7I/AAAAAAAABFM/LVm4kUxNtbs/s1600/cora-coralina-na-juventude.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="http://2.bp.blogspot.com/-PAkid5nwvkY/UjHAVA9_t7I/AAAAAAAABFM/LVm4kUxNtbs/s1600/cora-coralina-na-juventude.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Cora Coralina, pseudônimo de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, (1889 - 1985), poetisa, contista e doceira, é considerada uma das principais escritoras brasileiras. Impressionantemente, Cora teve seu primeiro livro publicado apenas em 1965 quando já tinha quase 76 anos de idade!!! Mulher simples, alheia a modismos literários, produziu uma obra poética rica em motivos do cotidiano do interior brasileiro, em particular dos becos e ruas históricas de Goiás, e também desenvolveu – com profunda intensidade - uma identificação com todas as mulheres que sofrem a opressão machista e sexista. </div>
<br />
<br />
<br />
<div style="text-align: center;">
<b>AUTOBIOGRAFIA (trecho)</b></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
Sobrevivi, me recompondo aos</div>
<div style="text-align: center;">
bocados, à dura compressão dos</div>
<div style="text-align: center;">
rígidos preconceitos do passado.</div>
<div style="text-align: center;">
Preconceitos de classe,</div>
<div style="text-align: center;">
Preconceitos de cor e de família.</div>
<div style="text-align: center;">
Preconceitos econômicos,</div>
<div style="text-align: center;">
Férreos preconceitos sociais.</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Desde cedo, em sua juventude, já causava espanto à família com sua postura transgressora dos valores sociais da tradicional sociedade vilaboense (interior de Goiás). Era nada comum uma moça, naquela época, dedicar-se tanto a ler e escrever, construir-se como intelectual e buscar ter uma vida própria e ativa, fora dos círculos tradicionalmente tidos como “femininos”. Era chamada pela família de “solteirona”, aos 20 anos, já que as mulheres com essa idade já deveriam estar casadas e com filhos. Durante uma tertúlia literária ela se apaixonou por Cantídio Tolentino de Figueiredo Bretãs, advogado, separado, pai de dois filhos e vinte anos mais velho. A família, seguindo os valores machistas e retrógrados (ainda presentes em nossos dias, mas, agora, mais mascarados) foi completamente contra o romance. Cora, então, parte com Cantídio para São Paulo, onde vai morar por vários anos. Com a morte do marido, passou a vender livros. Posteriormente, mudou-se para Penápolis, no interior do estado, onde passou a produzir e vender linguiça caseira e banha de porco. Mudou-se em seguida para Andradina, até que, em 1956, retornou para Goiás.</div>
<b><br /></b>
<b>NASCI ANTES DO TEMPO</b><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-Ju564UiQicc/UjHCo26uD9I/AAAAAAAABFg/XsxSsem5Ge0/s1600/Cora+Coralina+4.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="640" src="http://4.bp.blogspot.com/-Ju564UiQicc/UjHCo26uD9I/AAAAAAAABFg/XsxSsem5Ge0/s640/Cora+Coralina+4.jpg" width="326" /></a></div>
<br />
Tudo o que criei ou defendi<br />
nunca deu certo.<br />
Nem foi aceito.<br />
E eu perguntava a mim mesma<br />
Por quê?<br />
<br />
Quando menina,<br />
ouvia dizer sem entender<br />
quando coisa boa ou ruim<br />
acontecia a alguém:<br />
fulano nasceu antes do tempo.<br />
Guardei.<br />
<br />
Tudo que criei, imaginei e defendi<br />
nunca foi feito.<br />
E eu dizia como ouvia<br />
a moda de consolo:<br />
nasci antes do tempo.<br />
<br />
Alguém me retrucou:<br />
você nasceria sempre<br />
antes do seu tempo.<br />
Não entendi e disse Amém.<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
A escolha de um pseudônimo (Cora Coralina) foi uma estratégia encontrada por Ana para afirmar uma nova identidade para si, buscando superar o peso que a família e a sociedade jogavam às suas costas. Como diz sua neta, Ana Maria Tahan, “a Ana que virou Cora e foi rejeitada pela cidade, criou asas e ganhou fama”. Como Cora Coralina, Ana conquistava sua liberdade, afirmando-se como mulher transgressora e libertária. Em São Paulo desenvolve atuação política pela causa “revolucionária” (Revolução Constitucionalista de 1932), foi enfermeira, cuidando dos combatentes feridos; confeccionou bonés, uniformes e aventais para os “rebeldes”; subiu em palanques para defender a causa feminista; foi líder de movimento, elaborando um manifesto em defesa da formação de um partido político feminino e até organizou uma agremiação (fonte: <a href="http://seer.bce.unb.br/index.php/emtempos/article/viewArticle/2664" target="_blank">"Cora Coralina:<span class="sehl"></span> a poesia como aç<span class="sehl"></span>ão política</a>"). </div>
<br />
<br />
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-LW50FqGoz5o/UjHC515EnfI/AAAAAAAABFo/RjJWQdbU3-c/s1600/cora1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="264" src="http://2.bp.blogspot.com/-LW50FqGoz5o/UjHC515EnfI/AAAAAAAABFo/RjJWQdbU3-c/s320/cora1.jpg" width="320" /></a> <i><span style="font-size: small;">“... o pseudônimo Cora Coralina acaba sendo uma senha, um sinônimo, equivalente a lavadeira do Rio Vermelho... o substantivo cora ou, popularmente, quarar, com seu significado de branquear roupas, expondo-as ao sol. Libertária sim, pois com a fantasia magnânima e com êxtase da poesia, lava a sujeira, os monturos da vida, o pó da mesquinhez humana... as lavadeiras, em sua grandeza, fazem o cotidiano mais limpo e perfumado. Cora, a lavadeira do Rio Vermelho, purga a mesmice do cotidiano, elevando todos os sonhos”. (Saturnino Pesqueiro </span></i><i><span style="font-size: small;"><i><span style="font-size: small;">Ramón</span></i>).</span></i><br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<div style="text-align: center;">
<b>A LAVADEIRA</b></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
Essa mulher...</div>
<div style="text-align: center;">
Tosca. Sentada. Alheada ...</div>
<div style="text-align: center;">
Braços cansados</div>
<div style="text-align: center;">
Descansando nos joelhos ...</div>
<div style="text-align: center;">
Olhar parado, vago,</div>
<div style="text-align: center;">
Perdida no seu mundo</div>
<div style="text-align: center;">
De trouxas e espumas de sabão</div>
<div style="text-align: center;">
- é a lavadeira.</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
Mãos rudes deformadas.</div>
<div style="text-align: center;">
Roupa molhada.</div>
<div style="text-align: center;">
Dedos curtos.</div>
<div style="text-align: center;">
Unhas enrugadas.</div>
<div style="text-align: center;">
Córneas.</div>
<div style="text-align: center;">
Unheiros doloridos</div>
<div style="text-align: center;">
Passaram, marcaram.</div>
<div style="text-align: center;">
No anular, um círculo metálico</div>
<div style="text-align: center;">
Barato, memorial.</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
Seu olhar distante,</div>
<div style="text-align: center;">
Parado no tempo.</div>
<div style="text-align: center;">
À sua volta</div>
<div style="text-align: center;">
-uma espumadeira branca de sabão.</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
Inda o dia vem longe</div>
<div style="text-align: center;">
Na casa de Deus Nosso Senhor,</div>
<div style="text-align: center;">
O primeiro varal de roupa</div>
<div style="text-align: center;">
Festeja o sol que vai subindo.</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
Vestindo o quaradouro</div>
<div style="text-align: center;">
De cores multicores.</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
Essa mulher</div>
<div style="text-align: center;">
Tem quarentanos de lavadeira.</div>
<div style="text-align: center;">
Doze filhos</div>
<div style="text-align: center;">
Crescidos e crescendo.</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
Viúva, naturalmente.</div>
<div style="text-align: center;">
Tranqüila, exata, corajosa.</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
Temente dos castigos do céu</div>
<div style="text-align: center;">
Enrodilhada no seu mundo pobre.</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
Madrugadeira.</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
Salva a aurora.</div>
<div style="text-align: center;">
Espera pelo sol.</div>
<div style="text-align: center;">
Abre os portais do dia</div>
<div style="text-align: center;">
entre trouxas e barrelas.</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
Sonha calada.</div>
<div style="text-align: center;">
Enquanto a filharada cresce</div>
<div style="text-align: center;">
Trabalha suas mãos pesadas.</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
Seu mundo se resume</div>
<div style="text-align: center;">
na vasca, no gramado.</div>
<div style="text-align: center;">
No arame e prendendores.</div>
<div style="text-align: center;">
Na tina d’água.</div>
<div style="text-align: center;">
De noite – o ferro de engomar.</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
Vai lavando, vai levando.</div>
<div style="text-align: center;">
Levando doze filhos</div>
<div style="text-align: center;">
Crescendo devagar,</div>
<div style="text-align: center;">
Enrodilhada no seu mundo pobre,</div>
<div style="text-align: center;">
Dentro de uma espumadeira</div>
<div style="text-align: center;">
Branca de sabão.</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
Às lavadeiras do Rio Vermelho</div>
<div style="text-align: center;">
Da minha terra,</div>
<div style="text-align: center;">
Faço deste pequeno poema</div>
<div style="text-align: center;">
Meu altar de ofertas.</div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-R4QSRzJk10o/UjHNotFWmrI/AAAAAAAABGQ/FlHcB7Qelhk/s1600/GVaS4_282fa634e597eff1be41d4a640ca2dbe.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="387" src="http://1.bp.blogspot.com/-R4QSRzJk10o/UjHNotFWmrI/AAAAAAAABGQ/FlHcB7Qelhk/s640/GVaS4_282fa634e597eff1be41d4a640ca2dbe.JPG" width="640" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-E6Se5X5M5FM/UjHDZuJ-X3I/AAAAAAAABFw/c7YaTr6-kOU/s1600/cora-coralina01.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><br /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Obviamente, Cora, como uma mulher em transição e em superação, apresenta em sua poesia traços, às vezes, contraditórios acerca da imagem feminina. Avança muito além de seu tempo ao se fazer mulher dona de seu destino e ao se identificar com todas que lutam para sobreviver em meio ao machismo e patriarcalismo. Mas há também traços da Ana Lins, ainda presa à subjetividade feminina tradicional, contradição que as mulheres, como seres históricos, enfrentam por serem, ao mesmo tempo, sujeitas e assujeitadas às relações sociais vigentes, às “normas” de gênero. </div>
<br />
<div style="text-align: center;">
<b>MULHER DA VIDA (trecho)</b></div>
<div style="text-align: center;">
(escrito para o Ano Internacional da Mulher, em 1975)</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
Mulher da Vida,</div>
<div style="text-align: center;">
Minha irmã,</div>
<div style="text-align: center;">
De todos os tempos,</div>
<div style="text-align: center;">
De todos os povos,</div>
<div style="text-align: center;">
De todas as latitudes,</div>
<div style="text-align: center;">
Ela vem do fundo imemorial das idades</div>
<div style="text-align: center;">
E carrega a carga pesada</div>
<div style="text-align: center;">
Dos mais torpes sinônimos,</div>
<div style="text-align: center;">
Apelidos e ápodos:</div>
<div style="text-align: center;">
Mulher da zona,</div>
<div style="text-align: center;">
Mulher da rua,</div>
<div style="text-align: center;">
Mulher perdida,</div>
<div style="text-align: center;">
Mulher à-toa.</div>
<div style="text-align: center;">
Mulher da Vida, minha irmã.</div>
<div style="text-align: center;">
Pisadas, espezinhadas, ameaçadas,</div>
<div style="text-align: center;">
Desprotegidas e exploradas,</div>
<div style="text-align: center;">
Ignoradas da Lei, da justiça e do direito.</div>
<br />
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-zVhmiKvTig8/UjHMvL6A4zI/AAAAAAAABGI/x93cWHbry-o/s1600/images.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="http://4.bp.blogspot.com/-zVhmiKvTig8/UjHMvL6A4zI/AAAAAAAABGI/x93cWHbry-o/s400/images.jpg" width="211" /></a></div>
<br />
<br />
<br />
E fecho o "Versos e Subversas" desta semana com uma historinha pessoal: certa vez, em minhas viagens pelo Goiás, sentou-se ao meu lado no ônibus um pedreiro que havia morado em Goiás Velho. Papo vai, papo vem, menciono o nome de Coralina (estava indo visitar sua casa) e ele me diz, pra minha surpresa, que a conhecia, que quando menino vendia cajus pelas ruas e sempre batia à porta de Cora, que fazia doces e compotas com as frutas. Ele me disse, emocionado, que muitas vezes, precisando de dinheiro, levava para Cora bacias com cajus ainda verdes e, Cora, bonita como ela só, sempre sorria e fingia não perceber. Um viva a essa linda e lutadora mulher, Cora Coralina!<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<div style="text-align: center;">
<b>TODAS AS VIDAS</b></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
Vive dentro de mim</div>
<div style="text-align: center;">
uma cabocla velha</div>
<div style="text-align: center;">
de mau-olhado,</div>
<div style="text-align: center;">
acocorada ao pé do borralho,</div>
<div style="text-align: center;">
olhando pra o fogo.</div>
<div style="text-align: center;">
Benze quebranto.</div>
<div style="text-align: center;">
Bota feitiço...</div>
<div style="text-align: center;">
Ogum. Orixá.</div>
<div style="text-align: center;">
Macumba, terreiro.</div>
<div style="text-align: center;">
Ogã, pai-de-santo...</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
Vive dentro de mim</div>
<div style="text-align: center;">
a lavadeira do Rio Vermelho.</div>
<div style="text-align: center;">
Seu cheiro gostoso</div>
<div style="text-align: center;">
d'água e sabão.</div>
<div style="text-align: center;">
Rodilha de pano.</div>
<div style="text-align: center;">
Trouxa de roupa,</div>
<div style="text-align: center;">
pedra de anil.</div>
<div style="text-align: center;">
Sua coroa verde de são-caetano.</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
Vive dentro de mim</div>
<div style="text-align: center;">
a mulher cozinheira.</div>
<div style="text-align: center;">
Pimenta e cebola.</div>
<div style="text-align: center;">
Quitute bem-feito.</div>
<div style="text-align: center;">
Panela de barro.</div>
<div style="text-align: center;">
Taipa de lenha.</div>
<div style="text-align: center;">
Cozinha antiga</div>
<div style="text-align: center;">
toda pretinha.</div>
<div style="text-align: center;">
Bem cacheada de picumã.</div>
<div style="text-align: center;">
Pedra pontuda.</div>
<div style="text-align: center;">
Cumbuco de coco.</div>
<div style="text-align: center;">
Pisando alho-sal.</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
Vive dentro de mim</div>
<div style="text-align: center;">
a mulher do povo.</div>
<div style="text-align: center;">
Bem proletária.</div>
<div style="text-align: center;">
Bem linguaruda,</div>
<div style="text-align: center;">
desabusada, sem preconceitos,</div>
<div style="text-align: center;">
de casca-grossa,</div>
<div style="text-align: center;">
de chinelinha,</div>
<div style="text-align: center;">
e filharada.</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
Vive dentro de mim</div>
<div style="text-align: center;">
a mulher roceira.</div>
<div style="text-align: center;">
- Enxerto da terra,</div>
<div style="text-align: center;">
meio casmurra.</div>
<div style="text-align: center;">
Trabalhadeira.</div>
<div style="text-align: center;">
Madrugadeira.</div>
<div style="text-align: center;">
Analfabeta.</div>
<div style="text-align: center;">
De pé no chão.</div>
<div style="text-align: center;">
Bem parideira.</div>
<div style="text-align: center;">
Bem chiadeira.</div>
<div style="text-align: center;">
Seus doze filhos,</div>
<div style="text-align: center;">
Seus vinte netos.</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
Vive dentro de mim</div>
<div style="text-align: center;">
a mulher da vida.</div>
<div style="text-align: center;">
Minha irmãzinha...</div>
<div style="text-align: center;">
tão desprezada,</div>
<div style="text-align: center;">
tão murmurada...</div>
<div style="text-align: center;">
Fingindo alegre seu triste fado.</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: center;">
Todas as vidas dentro de mim:</div>
<div style="text-align: center;">
Na minha vida -</div>
<div style="text-align: center;">
a vida mera das obscuras.</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
(seleção e texto de Jeff Vasques)</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: left;">
<br /></div>
<br />Jeffhttp://www.blogger.com/profile/03843832124810310091noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-5220832021436383363.post-72448478438074567902013-09-05T12:29:00.001-03:002013-09-06T20:10:06.700-03:00Versos e Subversas: Joan Baez<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-KR5Gs5-My7w/Uiideg-_lPI/AAAAAAAABEM/Rqcbnvu0gv0/s1600/joan+baez.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="223" src="http://1.bp.blogspot.com/-KR5Gs5-My7w/Uiideg-_lPI/AAAAAAAABEM/Rqcbnvu0gv0/s400/joan+baez.jpg" width="400" /> </a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br />
Aproveitando o <a href="http://subvertidas.blogspot.com.br/2013/08/versos-e-subversas-dependencia-afetiva.html" target="_blank">texto da semana passada</a> sobre a luta contra a "dependência afetiva" a que a mulher é """educada""", trago uma música muito interessante do Dylan e que fica ainda mais interessante na voz de Joan Baez (pela qual sou completamente apaixonado, me permitam a declaração). <br />
<br />
Joan Chandos Baez nasceu em 9 de janeiro de 1941, em Staten Island, Nova Iorque, Estados Unidos. É considerada uma das maiores cantoras folk do mundo. Ativista, é também considerada uma das pessoas chave do movimento de protesto dos anos 60, ao lado de Bob Dylan, com quem foi "casada". Ambos participaram da marcha ao lado de Martin Luther King em Washington, 1963. Seus grandes sucessos foram compostos por Dylan especialmente para ela, desde 1961. Dona de uma voz poderosa, doce e extremamente afinada, seus sucessos sempre foram voltados para as canções politizadas. Nos anos 60 começou a misturar ritmos e sons latinos ao seu trabalho. Filha de mexicanos, Joan sempre se interessou pela musicalidade dos ritmos folclóricos da América Latina, chegando a participar de concertos e discos com Mercedes Sosa.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-8XQolaEugyY/UiifFs1tJNI/AAAAAAAABEY/SXhEEQr3CCU/s1600/joa+baez2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="290" src="http://3.bp.blogspot.com/-8XQolaEugyY/UiifFs1tJNI/AAAAAAAABEY/SXhEEQr3CCU/s400/joa+baez2.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Joan Baez, por mais que se diga não-feminista (em suas palavras, vê toda a humanidade fracionada e precisando de ajuda, e não só as mulheres) é certamente uma das cantoras fundamentais sobre a temática (procure, por exemplo, a canção "Birmingham Sunday" sobre o assassinato de 4 mulheres negras por racistas da Ku Klux Klan, ou então, "Bread and Roses", sobre a greve de trabalhadoras de uma indústria têxtil em 1912). Engajada em diversas causas políticas de seu tempo, sempre foi muito corajosa e deu a "cara a tapa" abertamente se posicionando contra machismos, guerras e políticas conservadoras. Inclusive, credita-se parte das razões do término da relação com Dylan, dentre outras coisas, a falta de posicionamento político explícito desse... e ela seguiu seu caminho.</div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-WNJjws-gn1Y/Uiifuk5nsEI/AAAAAAAABEg/BLg7aOVKMM8/s1600/baez+3.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="240" src="http://3.bp.blogspot.com/-WNJjws-gn1Y/Uiifuk5nsEI/AAAAAAAABEg/BLg7aOVKMM8/s400/baez+3.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
A música que trago hoje, "It ain't me babe", não só crítica o padrão romântico de envolvimento afetivo, extremamente dependente a que as mulheres são "conformadas", como apresenta a possibilidade de uma nova forma de relação, aberta para o mundo e para as outras pessoas. Nada de "casais-gosma", fechados em si, nada de mulheres ou homens sanguessugas. Muito interessante que o discurso da música parte da negação, visível no título e no refrão. As canções de amor, em geral, partem da afirmativa: "você é o grande amor da minha vida!", "é você!", "eu faço tudo por você!"... e, aqui, Dylan (e Baez) vão negando, uma a uma, as proposições típicas do envolvimento afetivo romântico monogâmico, exclusivista e dependente: não sou alguém que vai sempre te ajudar; não sou alguém que vai sempre te impedir de cair; não sou alguém que vai morrer por você; não sou alguém que vai considerar tudo que você faz ótimo, só porque é você quem faz. O último verso, em especial, é muito forte e bonito: nega-se a idéia de um "amor para a vida"... ser um amor da vida é muito pouco!!! Dylan e Baez querem mais, toda uma geração, à época, ansiava por muito mais, por uma vida que não se fechasse em apenas um outro, mas que a partir desse se abrisse pra todos os demais e para o mundo, para as questões de seu tempo.<br />
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-F-X_WmIrp-4/UiihEGKmWGI/AAAAAAAABEs/0NHpTfnWjHY/s1600/baez+4.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="290" src="http://2.bp.blogspot.com/-F-X_WmIrp-4/UiihEGKmWGI/AAAAAAAABEs/0NHpTfnWjHY/s400/baez+4.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
No lindo vídeo, abaixo, Joan Baez canta com aquele seu olhar meio ChicoBuarquiano, ao mesmo tempo doce e firme, ao mesmo tempo presente e ausente. E antes de começar a cantar ela diz: “Essa é uma música de protesto… dedicada a todas as pessoas casadas da audiência ou que estão pra se casar… porque eu sou contra o casamento!”. Para quem se interessar pela temática e pela cantora, vale muito a pena procurar seu "The Joan Baez Lovesong Album". Uma outra música do Dylan, também cantada pela Baez, sobre a desconstrução do amor romântico, é "Love is a four letters word". Mas esse é papo prum outro "Versos e Subversas"<br />
<br />
<br /></div>
<div align="center">
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="//www.youtube.com/embed/nADCKIT_Kbw" width="420"></iframe> </div>
<br />
<br />
<br />
<span style="font-size: large;"><b>NÃO SOU EU, BABY</b></span><br />
(Bob Dylan, na voz de Joan Baez)<br />
<br />
Vá embora pela minha janela<br />
Vá embora na velocidade que você quiser<br />
Não sou quem você quer, baby<br />
Não sou quem você precisa.<br />
Você diz que está procurando por alguém<br />
Que nunca seja fraco, mas sempre forte<br />
Para proteger e defender você<br />
Sempre que você esteja errada ou certa<br />
Alguém para abrir toda e qualquer porta.<br />
<br />
Refrão:<br />
Mas não sou eu, baby<br />
Não, não, não, não sou eu, baby<br />
Não sou eu quem você está procurando.<br />
<br />
Vá calmamente do abismo, baby<br />
Vá calmamente pelo chão<br />
Não sou quem você quer, baby<br />
Eu vou sempre te decepcionar. <br />
Você diz que está procurando por alguém<br />
Que prometa nunca partir<br />
Alguém que feche seus próprio olhos por você<br />
Alguém que feche seu coração<br />
Alguém que morra por você e mais.<br />
<br />
Refrão:<br />
Mas não sou eu, baby<br />
Não, não, não, não sou eu, baby<br />
Não sou eu quem você está procurando.<br />
<br />
Vá fundir-se novamente à noite, baby,<br />
Tudo aqui dentro é feito de pedra.<br />
Não há nada se movendo aqui<br />
E, mesmo assim, eu não estou sozinho.<br />
Você diz que está procurando por alguém<br />
Que vá te segurar cada vez que você cair,<br />
Que vá te dar flores constantemente<br />
E que virá sempre que você chamar,<br />
Um amor pra sua vida e nada mais.<br />
<br />
Refrão:<br />
Mas não sou eu, baby<br />
Não, não, não, não sou eu, baby<br />
Não sou eu quem você está procurando.<br />
<br />
<br />
<b>It Ain’t Me, Babe</b><br />
(Bob Dylan)<br />
<br />
Go ’way from my window<br />
Leave at your own chosen speed<br />
I’m not the one you want, babe<br />
I’m not the one you need<br />
You say you’re lookin’ for someone<br />
Never weak but always strong<br />
To protect you an’ defend you<br />
Whether you are right or wrong<br />
Someone to open each and every door<br />
But it ain’t me, babe<br />
No, no, no, it ain’t me, babe<br />
It ain’t me you’re lookin’ for, babe<br />
<br />
Go lightly from the ledge, babe<br />
Go lightly on the ground<br />
I’m not the one you want, babe<br />
I will only let you down<br />
You say you’re lookin’ for someone<br />
Who will promise never to part<br />
Someone to close his eyes for you<br />
Someone to close his heart<br />
Someone who will die for you an’ more<br />
But it ain’t me, babe<br />
No, no, no, it ain’t me, babe<br />
It ain’t me you’re lookin’ for, babe<br />
<br />
Go melt back into the night, babe<br />
Everything inside is made of stone<br />
There’s nothing in here moving<br />
An’ anyway I’m not alone<br />
You say you’re lookin’ for someone<br />
Who’ll pick you up each time you fall<br />
To gather flowers constantly<br />
An’ to come each time you call<br />
A lover for your life an’ nothing more<br />
But it ain’t me, babe<br />
No, no, no, it ain’t me, babe<br />
It ain’t me you’re lookin’ for, babe<br />
<br />
(texto e tradução de Jeff Vasques)<br />
<br />Jeffhttp://www.blogger.com/profile/03843832124810310091noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5220832021436383363.post-72324279947872819692013-08-29T11:57:00.000-03:002013-08-29T14:21:27.312-03:00Versos e Subversas: Dependência afetiva e poesia<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-WjZbbV_T8WA/Uh9WAVe1ZKI/AAAAAAAABDI/BVICDMGzTIg/s1600/%C3%8Dndice.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="277" src="http://2.bp.blogspot.com/-WjZbbV_T8WA/Uh9WAVe1ZKI/AAAAAAAABDI/BVICDMGzTIg/s400/%C3%8Dndice.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<p align="justify">Hoje, no Versos e Subversas, faço o cruzamento de poesias de duas grandes intelectuais e artistas (Rosário Castellanos e Idea Vilariño) para discutir um pouco da """educação""" afetiva das mulheres, a construção e imposição de sua dependência emocional e sua vulnerabilidade ao amor fatalista.</p><br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<b> <a href="http://3.bp.blogspot.com/-N1CsMWPfjlM/Uh9W1C91YMI/AAAAAAAABDU/XgR8Xuwo9RM/s1600/castellanos_rosario.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="249" src="http://3.bp.blogspot.com/-N1CsMWPfjlM/Uh9W1C91YMI/AAAAAAAABDU/XgR8Xuwo9RM/s320/castellanos_rosario.jpg" width="320" /></a></b></div>
<br />
<p align="center"><b> MEDITAÇÃO NO UMBRAL</b><br />(Rosário Castellanos, México, 1926-1974)<br /><br />Não, não é a solução<br />atirar-se debaixo de um trem como a Ana de Tolstoy<br />nem consumir o arsênico de Madame Bovary<br />nem aguardar na planície solitária de Ávila a visita<br />do anjo com a flecha<br />antes de amarrar o manto à cabeça<br />e começar a atuar.<br /><br />Nem concluir as leis geométricas, contando<br />as vigas da cela de castigo<br />como o fez Sor Juana. Não é a solução<br />escrever, enquanto chegam as visitas,<br />na sala de estar da família Austen<br />nem fechar-se no ático<br />de alguma residência da Nova Inglaterra<br />e sonhar, com a Bíblia dos Dickinson,<br />debaixo de uma almofada de solteira.<br /><br />Deve haver outro modo que não se chame<br />Safoni Mesalina nem María Egipcíaca<br />nem Madalena nem Clemencia Isaura.<br />Outro modo de ser humano e livre.<br />Outro modo de ser.</p><br /><br /><br /><p align="justify">Neste
primeiro poema, Rosário Castellanos busca repetidamente negar a vida de
submissão e de condeanação trágica a que estão submetidas as mulheres:
seja pela opressão social direta dos homens sobre sua liberdade de ação
seja pelas saídas desesperadas a que se lançam as mulheres dominadas por
amores fatais. Ela nega as figuras típicas da subjetividade feminina
na literatura e também um ou outro caso real, como a de Sor Juana,
religiosa católica e poetisa, considerada a primeira feminista das
Américas. São meditações que Rosário realiza sobre o destino das mulheres, seu fim, sobre o tipo de vida e morte que, em geral, têm ("meditação no umbral") e dialoga com sua própria experiência concreta: é público seu enorme sofrimento decorrente de suas relações amorosas conflituosas com o "don juan" Ricardo Guerra, que a mal tratava e a
traiu diversas vezes. Essa situação conduziu Rosário à depressão, à hospitais psiquiátricos e tentativas de suicídio. É justamente contra este fim trágico, e que parece inevitável às mulheres, que se rebela
Rosário.</p> <br />
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-TQWPpp0g01o/Uh9ZAvXXphI/AAAAAAAABDk/8c3DJcgxY_A/s1600/idea.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="293" src="http://1.bp.blogspot.com/-TQWPpp0g01o/Uh9ZAvXXphI/AAAAAAAABDk/8c3DJcgxY_A/s400/idea.jpg" width="400" /> </a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<b>A CANÇÃO E O POEMA</b><br />(Idea Vilariño, Uruguai, 1920-2009)<br /><br />Hoje que o tempo já passou,<br />hoje que já passou a vida,<br />hoje que me rio se penso,<br />hoje que esqueci aqueles dias,<br />não sei porque me desperto<br />algumas noites vazias<br />ouvindo uma voz que canta<br />e que, talvez, é a minha.<br />Quisera morrer — agora— de amor,<br />para que soubesses<br />como e quanto te queria,<br />quisera morrer, quisera… de amor,<br />para que soubesses…<br />Algumas noites de paz,<br />— se é que as há todavia—<br />passando como sem mim<br />por essas ruas vazias,<br />entre a sombra estreita<br />e um triste odor de glicínias,<br />escuto uma voz que canta<br />e que, talvez, é a minha.<br />Quisera morrer — agora — de amor,<br />para que soubesses<br />como e quanto te quería;<br />quisera morrer, quisera… de amor, para que soubesses…<br /><br /><p align="justify">Idea
Vilariño, neste outro poema, expõe a típica imagem do ser "morto de
amor" ou que deseja "morrer de amor": a incompletude e o vazio de sua
vida sem o homem amado e a anulação de sua subjetividade evidente pelo
desejo de morte. Assim como no caso de Rosário, é público o
relacionamento conturbado de Idea com o grande escritor uruguai Carlos
Onetti... Idea sempre o amou incondicionalmente e por isso sofreu
terrivelmente, já que Onetti parecia oscilar em seus interesses com
Idea, desenvolvendo um jogo de aproximações e desprezo regular. Idea se
questionava por que sempre voltava a Onetti, o "burro, cachorro, besta" a
quem dedicou todos seus poemas de amor. Por que o procurava mesmo
depois das mais terríveis brigas? Idea, aparentemente, nunca conseguiu
dar uma resposta clara a essa pergunta. Ironicamente, foi através de seus poemas de amor que, em geral, retratam seu sofrimento e anulação, que Vilariño se tornou conhecida. Impressionante ver como
mesmo a raiva não tem lugar em seus poemas, a não ser uma raiva "fria",
que se mostra indiretamente como no poema abaixo no desejo de morte do amante.</p><br /><br /><b>TE ESTOU CHAMANDO</b><br />(Idea Vilariño, Uruguai, 1920-2009)<br /><br />Amor<br />desde a sombra<br />desde a dor<br />amor<br />te estou chamando<br />desde o poço asfixiante das recordações<br />sem nada que me sirva nem te espere.<br />Te estou chamando<br />amor<br />como ao destino<br />como ao sonho<br />à paz<br />te estou chamando<br />com a voz<br />com o corpo<br />com a vida<br />com tudo o que tenho<br />e que não tenho<br />com desesperação<br />com sede<br />com pranto<br />como se fosses ar<br />e eu me afogasse<br />como se fosses luz<br />e eu morresse.<br />Desde uma noite cega<br />desde o olvido<br />desde horas fechadas<br />no solo<br />sem lágrimas nem amor<br />te estou chamando<br />como a morte<br />amor<br />como a morte.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-a7roVKSJZeI/Uh9eaU1y9GI/AAAAAAAABDw/m3uwMDAnSSA/s1600/mg_8586.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="425" src="http://2.bp.blogspot.com/-a7roVKSJZeI/Uh9eaU1y9GI/AAAAAAAABDw/m3uwMDAnSSA/s640/mg_8586.jpg" width="640" /></a></div>
<br /><span id="goog_1816520230"></span><span id="goog_1816520231"></span><b></b><p align="justify">Tanto Rosário como Idea foram das maiores intelectuais de seu tempo, mulheres engajadas e lutadoras e que, mesmo assim, enfrentaram enormes conflitos internos, profundas contradições em suas relações afetivas. Isto porque uma sociedade machista as educou (e ainda educa as mulheres) para a dependência afetiva, para a aceitação do amor fatal como modelo, para a anulação de sua subjetividade, para que esta se veja como frágil, incapaz ou pouco capaz de realizar diversas atividades "próprias" dos homens, emocionalmente devotadas a um só grande amor (a um só grande homem) e, portanto, tendendo a estabelecer uma relação com o sexo menos livre. Não é preciso pensar muito pra perceber que isso forja uma mulher com baixa auto-estima, totalmente ou em-grande-medida incapaz de estar sozinha e de fazer escolhas mais livres acerca de seus amores e relacionamentos.</p>
<br /><p align="justify">Essa é a contradição profunda que as duas poetas enfrentaram com as armas de que dispunham: sua arte e sua luta concreta para transformar a sociedade. Acredito que ao espelhar em poesia seus sentimentos de submissão ou de amor trágico buscavam, de alguma forma, romper com esse ciclo, seja pelo questionamento direto (como em Rosário, ainda que sem encontrar possibilidades claras de saída), seja pela exposição nua e crua, mas profundamente elaborada, de seu sofrimento (como nos poemas de Idea). Dar palavras a esses sentimentos, transformar a opressão em poesia já é enfrentar a opressão íntima (socialmente construída), é se
ver no espelho e permitir que outras também se vejam. E isso não é pouco. Mais do que expor as "fragilidades" de duas poetas, o intuito deste post, pelo contrário, é evidenciar a grandeza de suas lutas, a força de Rosário Castellanos e Idea Vilariño.</p>
<br /><p align="justify">A luta feminista é profunda: deve não só enfrentar os casos mais cotidianos (e por isso mesmo terríveis) de violência contra as mulheres, mas também os aprisionamentos mais sutis da afetividade e da sexualidade feminina, libertando não só as mulheres de sua condicionada "fragilidade" e dependência afetiva, mas também auxiliando os homens a se libertarem de seu canalhesco don juanismo.</p><br />(Texto e traduções de Jeff Vasques) <br />Jeffhttp://www.blogger.com/profile/03843832124810310091noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5220832021436383363.post-13909675817397934532013-08-26T20:09:00.001-03:002013-08-26T20:09:30.935-03:00Umberto Eco filosofando no feminino<div class="tr_bq">
<i>por Tággidi Ribeiro</i></div>
<i><br /></i>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Publiquei uma série de textos chamada "Filosofia e mulheres", que criticava o prefácio machista do filósofo italiano Franco Volpi para o por demais machista livro "A arte de lidar com as mulheres", do Schopenhauer. Daí achei um texto do Umberto Eco que conta um tanto da mesma história da filosofia feita por mulheres que Volpi contou, mas sem menosprezar nem essa história, nem as mulheres. Vou reproduzir o texto de Eco em dois posts. É essencial.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<blockquote>
<div style="text-align: justify;">
Filosofar no feminino</div>
</blockquote>
<blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-EWVqjcGscbU/UhvcOe-XKkI/AAAAAAAAA1g/-bZqNNfxJgM/s1600/300px-Artemisia_Gentileschi_-_Judith_Beheading_Holofernes_-_WGA8563.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-EWVqjcGscbU/UhvcOe-XKkI/AAAAAAAAA1g/-bZqNNfxJgM/s320/300px-Artemisia_Gentileschi_-_Judith_Beheading_Holofernes_-_WGA8563.jpg" width="258" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;">Judite decapitando Holofernes, de Artemísia Gentileschi.</span></td></tr>
</tbody></table>
A antiga afirmação filosófica pela qual o homem é capaz de pensar o infinito ao passo que a mulher dá sentido ao finito pode ser lida de diversas maneiras: por exemplo, como o homem não sabe fazer filhos, consola-se com os paradoxos de Zenão. Mas, com base em afirmações do gênero, disseminou-se a ideia de que a História (ao menos até o século XX) nos fez conhecer grandes poetisas e exímias narradoras, e cientistas de diversas disciplinas, mas não mulheres filósofas nem mulheres matemáticas.</div>
</blockquote>
<blockquote>
<div style="text-align: justify;">
Em distorções desse tipo fundamentou-se por muito tempo a convicção de que as mulheres não tivessem talento para a pintura, a não ser Rosalba Carriera ou Artemísia Gentileschi, as de sempre. Natural que, enquanto a pintura foi afresco de igrejas, montar num andaime de saias não era coisa decente, nem era ofício de mulher dirigir um ateliê com 30 aprendizes, mas assim que foi possível fazer pintura de cavalete, as mulheres pintoras apareceram. Meio como afirmar que os judeus foram grandes em diversas artes, mas não na pintura, até aparecer Chagall.</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
</blockquote>
<blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: left; margin-right: 1em; text-align: left;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://2.bp.blogspot.com/-V2J9hU7n5P4/UhvcvfZ5S8I/AAAAAAAAA1o/CR7w2Fkz-J8/s1600/rosalba-carriera-portrait-of-a-man.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="200" src="http://2.bp.blogspot.com/-V2J9hU7n5P4/UhvcvfZ5S8I/AAAAAAAAA1o/CR7w2Fkz-J8/s200/rosalba-carriera-portrait-of-a-man.jpg" width="161" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><span style="font-size: xx-small;">Retrato de um homem, de Rosalba Carriera.</span></td></tr>
</tbody></table>
É verdade que a cultura judaica era eminentemente auditiva e não visual, e que a divindade não devia ser representada por meio de imagens, mas há uma produção visual de incontestável interesse em muitos manuscritos hebraicos. O problema é que era difícil, nos séculos em que as artes plásticas estavam nas mãos da Igreja, que um judeu fosse estimulado a pintar virgens e crucifixos. Seria como espantar-se por nenhum judeu ter se tornado papa.</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
</blockquote>
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<div style="text-align: justify;">
As crônicas da Universidade de Bolonha mencionam professoras como Bettisia Gozzadini e Novella d'Andrea, tão bonita, esta, que tinha que dar aula escondida por um véu para não perturbar os estudantes, mas elas não ensinavam filosofia. Nos manuais de filosofia não encontramos mulheres ensinando dialética ou teologia. Heloísa, brilhantíssima e infeliz estudante de Abelardo, teve de se contentar em tornar-se abadessa. </div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
</blockquote>
<blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; margin-left: 1em; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://4.bp.blogspot.com/-prKAdQV7Dt4/Uhve1UXxGKI/AAAAAAAAA10/kN5aNno921Y/s1600/hildegard.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="200" src="http://4.bp.blogspot.com/-prKAdQV7Dt4/Uhve1UXxGKI/AAAAAAAAA10/kN5aNno921Y/s200/hildegard.jpg" width="136" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Hildegarda de Bingen.</td></tr>
</tbody></table>
Mas a questão das abadessas não deve ser subestimada; a elas se dedicou muitas páginas uma filósofa de nossa época, Maria Teresa Fumagalli. Uma abadessa era uma autoridade espiritual, organizativa e política, e desempenhava funções intelectuais importantes na sociedade medieval. Um bom manual de filosofia tem de enumerar, <i>entre os protagonistas da história do pensamento</i>, grandes místicas como Catarina de Siena, para não falar de Hildegarda de Bingen que, no que tange a visões metafísicas e perspectivas sobre o infinito, até hoje nos dá certo trabalho. </div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
</blockquote>
<blockquote>
<div style="text-align: justify;">
A objeção de que a mística não é filosofia não se sustenta, porque as histórias da filosofia reservam espaço para grandes místicos como Suso, Tauler ou Eckhart. E dizer que grande parte da mística feminina dava maior destaque ao corpo do que às ideias abstratas seria como dizer que dos manuais de filosofia deve desaparecer, sei lá, Merleau-Ponty. </div>
</blockquote>
tagghttp://www.blogger.com/profile/08024823052403928519noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-5220832021436383363.post-1125119264358332872013-08-24T14:06:00.002-03:002013-08-24T14:06:07.330-03:00No olho do furacão: aborto e representação da mulher<i>por Maria C.</i><br />
<i><br /></i>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-7_MPUqEi7xc/Uhjm4FbMDVI/AAAAAAAAA04/UAar0ztS0wk/s1600/download+(1).jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="275" src="http://4.bp.blogspot.com/-7_MPUqEi7xc/Uhjm4FbMDVI/AAAAAAAAA04/UAar0ztS0wk/s400/download+(1).jpg" width="400" /></a></div>
<i><br /></i>
<i><br /></i>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">É fato o inchaço da
legislação penal brasileira, e é também fato sua absoluta ineficácia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Sem distorções: não sou a
primeira a esbravejar contra a impunidade. Contudo, atribuir tratamento
criminal àquilo que a sociedade não considera, é uma forma genial de protelar
soluções: nada se resolve, mas se finge bem. Os problemas continuam reais e
sumamente ignorados.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Juridicamente não há
justificativa dentro da nossa Constituição para atribuir tratamento criminal ao
aborto voluntário. Os constitucionalistas atuais entendem que a criminalização
contraria os preceitos constitucionais que conferem dignidade humana à mulher,
pois estes não estão sopesados na proteção absoluta do feto:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 70.9pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-left: 70.9pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif";">[...] tanto a vida do nascituro como
os direitos fundamentais à saúde, à privacidade, à autonomia reprodutiva e à
igualdade da mulher são interesses constitucionalmente relevantes, que merecem
ser devidamente protegidos. [...] a solução legislativa dada ao aborto pelo
vetusto Código Penal, em 1940, não ponderou adequadamente estes bens
constitucionais em jogo, pois não atribuiu peso nenhum, ou praticamente nenhum,
aos referidos direitos fundamentais da gestante. Parece-nos que seria bastante
razoável adotar no Brasil solução semelhante àquela perfilhada por grande parte
dos países europeus, que legalizaram a realização do aborto voluntário no
trimestre inicial de gestação, mas, por outro lado, criaram mecanismos
extra-penais para evitar a banalização desta prática, relacionados à educação
sexual, ao planejamento familiar e ao fortalecimento da rede de proteção social
voltada para a mulher. Uma solução desta espécie, na nossa opinião, não
conflitaria com a Constituição, mas antes promoveria, de forma mais adequada e
racional, os seus princípios e valores.<a href="file:///C:/Users/tagg/Downloads/Guerra%20e%20tempestade.docx#_ftn1" name="_ftnref1" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-size: 11pt; line-height: 115%;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></a><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Trata-se de opinião serena
e majoritária na doutrina jurídica constitucional. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Se os Doutores da lei
entendem que o sistema jurídico não justifica a criminalização do aborto, sua
criminalização haveria de ter uma ampla aceitação social.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/--PHU5Q061G0/UhjnRyfFwwI/AAAAAAAAA1A/9zFWzHM2TlU/s1600/aborto_legal1.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="269" src="http://3.bp.blogspot.com/--PHU5Q061G0/UhjnRyfFwwI/AAAAAAAAA1A/9zFWzHM2TlU/s320/aborto_legal1.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Eis a questão mais
hipócrita deste Brasil. Embora as pessoas achem “errado” abortar, efetivamente
há pouquíssimas prisões em decorrência do crime de aborto. Inclusive, desafio
alguém a apontar uma pessoa real, sua irmã, sua prima, sua amiga, sua vizinha,
que mereça ser presa unicamente por esta prática, você, acaso eleito jurado
neste caso, a condenaria?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Sim meus caros, o aborto
no Brasil é tão “terrível” quanto um homicídio, é um crime doloso contra a
vida. Aliás, a mera tentativa de aborto leva a júri popular, passível de
condenação. Você jurado, votaria sim ao quesito condenada e jogaria tal mulher
na cadeia?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Parece-me, poucas pessoas
teriam tal sangue frio: julgar que uma mulher deve ser encarcerada por
tentar/retirar uma <i>vida que poderia ter
sido, apenas em tese, por efetuar o aborto de um feto, um embrião que o
Conselho Federal de Medicina disse nada sentir</i> pois não tem sistema nervoso
central formado – defendemos o aborto apenas até este prazo, como em todos os
países civilizados.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Neste caso há um pleno
descompasso entre a lei e o sentimento de justiça que ela promove.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Ora, se as mulheres não
merecem prisão por abortarem, porque não lhes permitir a realização do aborto
em condições legais? Da forma como está o aborto é clandestino e gera apenas
traumas, complicações, mortes e promove sempre a desigualdade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-qucElonxaPE/Uhjn8e29MqI/AAAAAAAAA1Q/QinYCZPt-RI/s1600/images.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-qucElonxaPE/Uhjn8e29MqI/AAAAAAAAA1Q/QinYCZPt-RI/s1600/images.jpg" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Parece que temos assistido
a uma falsa guerra santa, que afasta as pessoas do que realmente importa e do
que o cristianismo buscava promover – a compaixão e a inclusão, e falo do
cristianismo revolucionário dos Evangelhos, tão esquecido pelos nossos <i><u>fariseus</u></i> acusadores, padres e
pastores, juízes do bem e do mau.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Em se tratando dos países
latinos, Portugal, Espanha e Itália, todas as questões políticas passam pela fé
e logo se aponta um inimigo oficial do cristianismo. Há sempre mouros a
expulsar, e esta é uma questão que une os <i>súditos</i>,
independentemente de suas práticas. Não há razão. Depois dos reis, Salazar,
Franco, o próprio Mussolini usou a fórmula. Em tempos de caos, que venham as
guerras santas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Há 80 anos, nós mulheres
não tínhamos direito a voto. O Código Civil de 1916 não atribuía plena
capacidade civil à mulher casada – era uma espécie de eterna adolescente – que
dependia da assistência do marido para os atos da vida civil. A situação cessou
apenas com a edição da Lei 4.121/62, Estatuto da mulher casada (que dizia – o
marido é chefe da sociedade conjugal); mas igualdade reconhecida e ainda em
âmbito formal mesmo, apenas com a edição da Constituição Federal de 1.988.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Hoje as mulheres
conquistam na vida real diversos papéis, por mérito exclusivo e próprio,
galgando, pouco a pouco, posições de respeito e espaço profissional junto a
áreas predominantemente masculinas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">De outro lado, a mídia nos
representa como objetos de adorno de pouco valor, bibelôs substituíveis
periodicamente por outro modelo mais atual, já que a única função é decorativa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A TV aberta brasileira nos
trata como putas ou santas – bundas ou rostinhos – mas jamais como seres
humanos, pessoas com opinião, profissão, vida, sentimentos, enfim, cidadãs
respeitáveis. Estamos lá a enfeitar, de forma sensual, pejorativa ou delicada.
Função de menor de importância, secundária. Só. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Tanto antagonismo, entre
representatividade e realidade, é extremamente nocivo. Quem são e o que
reivindicam as mulheres reais? O que pensam e o que sentem além das
preocupações com as próprias bundas e narizes?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A análise das
transformações do papel social da mulher demonstra que estamos no olho do
furacão e não sabemos. As questões referentes aos nossos direitos gerarão muita
incompreensão e polêmica. Não à toa, a guerra santa é contra nós.<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div>
<!--[if !supportFootnotes]--><br clear="all" />
<hr align="left" size="1" width="33%" />
<!--[endif]-->
<div id="ftn1">
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<a href="file:///C:/Users/tagg/Downloads/Guerra%20e%20tempestade.docx#_ftnref1" name="_ftn1" title=""><span class="MsoFootnoteReference"><!--[if !supportFootnotes]--><span class="MsoFootnoteReference"><span style="font-family: "Calibri","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%; mso-ansi-language: PT-BR; mso-ascii-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-bidi-language: AR-SA; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: Calibri; mso-fareast-language: EN-US; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-hansi-theme-font: minor-latin;">[1]</span></span><!--[endif]--></span></a>
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 11.0pt;">SARMENTO,
Daniel. Legalização do aborto e Constituição. www.mundojurídico.adv.br. 2005,
p. 50-51.</span></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 11.0pt;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-6VChibPLRO4/UhjngaB9AYI/AAAAAAAAA1I/fb9gebi9hlQ/s1600/abortolegal_capa.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="200" src="http://2.bp.blogspot.com/-6VChibPLRO4/UhjngaB9AYI/AAAAAAAAA1I/fb9gebi9hlQ/s640/abortolegal_capa.jpg" width="640" /></a></div>
<div class="MsoFootnoteText" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 11.0pt;"><br /></span></div>
</div>
</div>
tagghttp://www.blogger.com/profile/08024823052403928519noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5220832021436383363.post-46563206008102039012013-08-22T11:44:00.000-03:002013-08-22T11:44:58.921-03:00Versos e Subversas: Adela Zamudio<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-a5_JpY7CFwM/UhYh-a34KFI/AAAAAAAABCk/cBTfNhqkyoo/s1600/Adela+Zamudio.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://4.bp.blogspot.com/-a5_JpY7CFwM/UhYh-a34KFI/AAAAAAAABCk/cBTfNhqkyoo/s320/Adela+Zamudio.jpg" width="259" /></a></div>
<br /><b>NASCER HOMEM</b><br />(Adela Zamudio)<br /><br />Quanto trabalho ela tem<br />pra corrigir a torpeza<br />de seu esposo, mas na casa,<br />(permita-me o assombro)<br />tão inepto como fátuo<br />segue ele sendo a cabeça,<br />porque é homem.<br /><br />Se alguns versos escreve<br />-“De alguém esses versos são<br />que ela só os subscreve”;<br />(permita-me o assombro)<br />Se esse alguém não é poeta<br />por que tal suposição?<br />-Porque é homem.<br /><br />Uma mulher superior<br />em eleições não vota,<br />e vota o sacana pior;<br />(permita-me o assombro)<br />
Com só saber assinar<br />pode um idiota votar,<br />porque é homem.<br /><br />Ele se abate e bebe ou joga<br />em um revés da sorte;<br />ela sofre, luta e roga;<br />(permita-me o assombro). <br />Ela se chama “ser débil”,<br />e ele se apelida “ser forte”<br />porque é homem.<br /><br />Ela deve perdoar<br />se seu esposo lhe é infiel;<br />mas, ele pode se vingar;<br />(permita-me o assombro)<br />em um caso semelhante<br />até pode ele matar,<br />porque é homem.<br /><br />Oh, mortal!<br />Oh mortal privilegiado,<br />que de perfeito e honesto<br />goza seguro renome!<br />Para você que basta?<br />Nascer homem.<br /><br />(tradução de Jeff Vasques)<br />
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-LiJ26Q_uolo/UhYitf3RIgI/AAAAAAAABCs/8-US5r1oJ4M/s1600/f_2012-10-09_5.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-LiJ26Q_uolo/UhYitf3RIgI/AAAAAAAABCs/8-US5r1oJ4M/s320/f_2012-10-09_5.jpg" width="270" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Adela Zamudio (Cochabamba-Bolívia, 1854-1928) publicou seu primero poema aos 15 anos, entitulado "Duas rosas" e, desde então, não pararia mais de escrever, sempre assinando com o pseudônimo de "Soledad" (Solidão), seu nome de guerra. Apesar de ter cursado apenas até o terceiro ano do primário (essa era a educação máxima a que as mulheres bolivianas tinham direito à época), seu desejo por conhecimento e liberdade à leva a instruir-se por conta própria. Por suas idéias avançadas para a época é isolada socialmente e aprende desde cedo a lidar com a tristeza e solidão a que se viu ilhada.<br /><br />Adela, já como professora, desenvolve uma fecunda atividade pedagógica buscando eliminar as travas reacionárias que conduziam a educação das jovens bolivianas. Em sua defesa dos direitos das mulheres de receber boa educação, Adela Zamudio clamava a necessidade de introduzir o laicismo nos programas acadêmicos nacionais, lançando algumas propostas audazes para sua época, como a instauração do matrimônio civil, o direito ao divórcio e à separação dos poderes da igreja católica e do Estado. Impulsionou o ensino gratuito e laico, denunciou fortemente o ‘primitivismo patriarcal’ da sociedade e a exploração e dominação dominante. Adela Zamudio contribuiu com todos seus esforços para a formação do pensamento feminista na Bolívia: em 1921 aparece em Oruro o primeiro número da revista "Feminiflor", dirigida e escrita por mulheres que fortaleciam o ideal da liberação feminina; e, em 1923, se constituiu em La Paz a primeira organização autônoma de mulheres que lutou pelos seus direitos políticos, o "Ateneo Feminino". Por esse período, as mulheres se incorporavam ao movimento sindical, com sindicatos própios e com a Federação Operária Feminina.<br /><br />Adela Zamudio forma parte da primeira geração de autoras hispânicas do período modernista que resistem à estética vigente. São autoras que apelaram em seus escritos a um projeto de autenticidade tanto pessoal e político como estético que desarticulava a visão estereotipada que se projetava da mulher no cânone socioliterário. Em Zamudio se encontra a prioridade dada a um compromisso íntegro com a realidade boliviana de seu tempo, denunciando o sistema em curso. Assim, Adela levou adiante seu projeto de legitimação e fortalecimento da mulher. <a href="http://web.archive.org/web/20130515063327/http://www.eldiario.net/noticias/2009/2009_11/nt091101/6_10clt.php" target="_blank">Lydia Parada de Brown </a>considera que "esta escritora boliviana foi uma das maiores da América, mas lamentavelmente não alcançou a fama de Gabriela Mistral, ou de Juana de Ibarbourou". O poema que traduzi acima é um de seus poemas mais famosos.</div>
Jeffhttp://www.blogger.com/profile/03843832124810310091noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5220832021436383363.post-45758824582119635372013-08-21T11:25:00.000-03:002013-08-24T17:41:42.591-03:00Por que gostamos tanto de ver lésbicas no cinema?<!--[if !mso]>
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<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: Arial;"><i>por Larissa</i></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">Flores
Raras, de Bruno Barreto, estreou nesta sexta-feira, 16, em 150 cinemas do
Brasil. O filme, exibido anteriormente na abertura do festival de Gramado,
ficou em 1º lugar de público no festival de cinema de São Francisco e em 2º
lugar em Berlim. Não é à toa que a obra era ansiosamente aguardada pelas
lésbicas do país.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">Trata-se
da história de amor, entre duas mulheres notáveis: Lota de Macedo Soares, a
idealizadora e responsável pela construção do Aterro do Flamengo; e Elisabeth
Bishop, renomada poetisa estadunidense, ganhadora, dentre outros, do Prêmio
Pulitzer de 1956, com a obra <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Norte e Sul</i>,
escrita no período em que estava no Brasil. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">Veja
o trailer do filme: </span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/XNXTCs8-M1s?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="http://www.youtube.com/watch?v=XNXTCs8-M1s"><span style="color: windowtext; mso-fareast-language: PT-BR; mso-no-proof: yes; text-decoration: none; text-underline: none;"><span style="mso-ignore: vglayout;"><br /></span></span></a><span style="font-family: Arial;"></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">Antes
da divulgação do trailer, havia receios a respeito da representação das
personagens que iríamos encontrar. Não é raro, no cinema, que figuras célebres
reconhecidamente homossexuais tenham essa parte de sua identidade disfarçada,
ou apresentada apenas como um mero detalhe, como se viver a homossexualidade
abertamente em uma cultura heteronormativa fosse algo banal na vida das
pessoas. Os exemplos são muitos, não cabe aqui uma lista.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-bsyh1XolCB4/UhTNOml5miI/AAAAAAAAA94/Igo4JUmqNj4/s1600/gloria-otto.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="213" src="http://1.bp.blogspot.com/-bsyh1XolCB4/UhTNOml5miI/AAAAAAAAA94/Igo4JUmqNj4/s320/gloria-otto.jpg" width="320" /></a></div>
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">Em
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Flores raras</i>, as cenas são claras. As
duas se amam, se beijam, trocam carícias ternas e picantes. É mesmo possível
reconhecer uma representação de afetividade convincente entre duas lésbicas.
Glória Pires encena uma Lota decidida e autoritária, poço de segurança que se
desfaz. Em uma certa crítica do filme, a atriz foi acusada, por essa atuação corajosa,
de fazer uma <i style="mso-bidi-font-style: normal;">caricatura forçada de
masculinidade</i>. Não há artificialidade nisso, não é uma caricatura. Nem
todas as mulheres (ainda bem) seguem os padrões rígidos de feminilidade
impostos pela cultura sexista heteronormativa. Isso não é caricatural, é a
diversidade das formas de se ser pessoa humana. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">Apesar
de Bruno Barreto negar que o filme seja sobre homossexualidade, mas sim sobre
perdas, o tema está lá com a própria vivência homossexual dessas mulheres
históricas. É louvável que haja esse e outros temas. Já Glória Pires, em
entrevista no festival de Gramado, comenta a importância da questão no filme em
nosso momento político de avanços e reações apavoradas dos grupos conservadores
em relação aos direitos homossexuais. Vale lembrar que o projeto do filme,
iniciado há 17 anos com a compra dos direitos autorais do livro por Lucy
Barreto, lidou com dificuldades em conseguir patrocínio pelo receio que muitas
instituições têm de vincular suas marcas à homossexualidade. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">E
voltamos à pergunta título: Por que gostamos de ver lésbicas no cinema?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">Gostamos
de ver lésbicas no cinema, na televisão, nos livros porque gostamos de nos
sentir representadas. Gostamos de reconhecer nossos conflitos, alegrias,
anseios. As histórias contadas são formas de representação da realidade. Elas
podem confirmar nossas crenças, reforçar ou questionar padrões, trazer
reflexões sob outras perspectivas. O fato de só haver representações de amor
heterossexuais acessíveis ao público em geral e principalmente aos adolescentes
é uma violência através do silenciamento. </span><br />
<br />
<span style="font-family: Arial;">Lembro que na minha adolescência não
vi NADA que contemplasse outras formas de amor. As “lésbicas” que vi na
televisão foram em produções pornográficas feitas para homens heterossexuais. Não
é de se surpreender que esse tipo de material fosse mais acessível - depois da
meia-noite na
TV a cabo - que uma representação de afetividade autêntica entre duas mulheres.
Ou seja, tudo bem que existissem lésbicas, mas para satisfação de desejos
masculinos. Mas enfim, isso era final da década de 90. As coisas vão mudando,
ainda que gays e lésbicas apareçam apenas de vez em quando, ainda como algo
excepcional no grande circuito das narrativas cinematográficas ou literárias.
Essa excepcionalidade não garante a quebra dos padrões, mas essa ínfima
existência é um respiro em meio ao mar de produções que confirmam estereótipos
heterossexuais de como ser mulher e de como ser homem.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>O sucesso de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Flores raras </i>é sinal de novos tempos.</span><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial;">Veja:
</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br />
<a href="http://www.youtube.com/watch?v=PjkrSGUIM50"><span style="color: red;"><u>Entrevista com Bruno Barreto</u></span></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="http://www.youtube.com/watch?v=zBoByRqMn2g"><span style="color: red;"><u>Entrevista com Glória Pires</u></span></a></div>
</div>
Mazuhttp://www.blogger.com/profile/11975804131498777966noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5220832021436383363.post-56471316548643723212013-08-15T10:29:00.000-03:002013-08-15T10:29:22.646-03:00Versos e subversas: Cantigas de Acordar Mulher<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-dWkzQsnPzEM/UgxYaESpQhI/AAAAAAAABCM/c5UniqoSIhQ/s1600/images.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="339" src="http://1.bp.blogspot.com/-dWkzQsnPzEM/UgxYaESpQhI/AAAAAAAABCM/c5UniqoSIhQ/s400/images.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<i><span style="font-size: x-small;">(Edward Hopper, Cape Cod Morning, oil on canvas, 1950, Smithsonian American Art Museum)</span></i></div>
<br />
Geir Campos (Brasil, 1924-1999) foi piloto da marinha, professor de ginásio e universitário, radialista, jornalista, editor, contista, poeta e tradutor (traduziu Rilke, Brecht, Kafka, Herman Hesse, Walt Whitman, Shakespeare e Sófocles). Foi chamado de “habilíssimo artista” por Manuel Bandeira. Foi um dos organizadores, com Moacyr Félix, dos Cadernos do povo brasileiro, Violão de rua, editados em 1962 pelo CPC da UNE e Civilização Brasileira. O poeta esteve sempre engajado nas lutas de seu tempo.<br />
<br />
Em 1951, Geir Campos criou, em Niterói, com o poeta Thiago de Melo, as Edições Hipocampo. A iniciativa se insere num dos momentos mais significativos da história das artes gráficas do país. As Edições Hipocampo foram um empreendimento nascido do amor à poesia e às artes gráficas. Os livros eram compostos tipograficamente e diagramados pelos próprios editores, numa gráfica de fundo de quintal.<br />
<br />
O que traz Geir às páginas do "Subvertidas" é um conjunto de seus poemas chamados “Cantigas para Acordar Mulher” (do livro de mesmo nome). É impressionante observar um homem se preocupando com a condição da mulher no Brasil de 1964. E mais interessante ainda é aparecer uma auto-crítica na "8a Cantiga de Acordar Mulher" em que aponta o machismo também na esquerda! O conjunto como um todo, das cantigas, soa muito potente. Abaixo, selecionei as melhores.<br />
<br />
<span style="background-color: #fce5cd;"><span style="font-size: large;"><b>3ª CANTIGA DE ACORDAR MULHER</b></span></span><br />
<br />
Das vozes que te embalavam<br />
a esperança de menina<br />
moça<br />
guardaste mais, de tanto repisadas,<br />
as perfumadas lições<br />
da nobre arte de agarrar um homem.<br />
De como te fazeres desejada,<br />
amada porventura,<br />
tudo aprendeste: os gestos, os meneios,<br />
a graça de sorrir e de calar.<br />
Hoje tens o teu homem<br />
disposto a desdobrar-se em pão e vinho<br />
para apagar tua fome.<br />
por isso, que lhe hás de dar:<br />
o trigo de tua pele, as uvas de tua boca?<br />
Se sem a ponte do amor, tua lavoura é tão pouca...<br />
Acorda: onde estão as vozes que te ensinaram a amar? <br />
<br />
<span style="background-color: #fce5cd;"><span style="font-size: large;"><b>4ª CANTIGA DE ACORDAR MULHER</b></span></span><br />
<br />
Bom é sorrires, olhar<br />
em mim: não vês<br />
o inimigo, o rival<br />
jamais.<br />
Na caça, não serás<br />
a presa; não serás,<br />
no jogo, a prenda.<br />
Partilharemos, sem meias<br />
medidas,<br />
a espera, o arroubo, o gesto,<br />
o salto, o pouso e o sono<br />
e o gosto desse rir<br />
dentro e fora do tempo<br />
sempre que nova <br />
mente<br />
acordares<br />
<br />
<br />
<span style="background-color: #fce5cd;"><span style="font-size: large;"><b>7ª CANTIGA DE ACORDAR MULHER</b></span></span><br />
<br />
Se te chamarem flor<br />
toma cuidado:<br />
vê se não é gente que te quer por<br />
numa redoma – lindo objeto – a vegetar<br />
alheia a tempo e lugar!<br />
<br />
Se te chamarem flor,<br />
acorda e toma cuidado:<br />
olha que te levam para o mesmo lado<br />
de tanto destino mal-aventurado!<br />
<br />
<br />
<span style="background-color: #fce5cd;"><span style="font-size: large;"><b>8a. CANTIGA DE ACORDAR MULHER</b></span></span><br />
<br />
Vozes da esquerda, surdas,<br />
e vozes da direita, afinadíssimas,<br />
hão de louvar-te a arte<br />
de ser mulher:<br />
mansa como uma ovelha,<br />
jeitosa como uma gata de luxo,<br />
dócil e generosa como uma árvore<br />
a se multiplicar em sombra e frutos,<br />
como uma estátua impassível,<br />
hábil de acordo com as conveniências,<br />
e acima disso<br />
crente em ser esse o teu ideal de vida…<br />
Acorda: pois foi essa<br />
a sorte que escolheste?<br />
<br />
<br />
<span style="background-color: #fce5cd;"><span style="font-size: large;"><b>9a. CANTIGA DE ACORDAR MULHER</b></span></span><br />
<br />
Um dia te acharás<br />
sem inteirar a casa:<br />
ouvirás o marido ressonando,<br />
os filhos dormindo em calma…<br />
O espelho te acenará,<br />
te lembrará coisas da mocidade,<br />
coisas da meninice,<br />
te mostrará vindas algumas rugas;<br />
contemplarás o espelho,<br />
o quarto, a casa;<br />
perguntarás por ti mesma,<br />
pelo teu próprio destino<br />
— e o espelho fará silêncio:<br />
será o sinal de estares acordando.<br />
<br />
<br />Jeffhttp://www.blogger.com/profile/03843832124810310091noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5220832021436383363.post-39075224768805059782013-08-12T23:46:00.000-03:002013-08-12T23:46:18.011-03:00Tudo ao mesmo tempo neste post<i>por Tággidi Ribeiro</i><br />
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-_T-Yv06npBY/UgmZ8B622uI/AAAAAAAAAzM/3DOFX2lKE54/s1600/tudo_ao_mesmo_tempo_victor_az.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="181" src="http://1.bp.blogspot.com/-_T-Yv06npBY/UgmZ8B622uI/AAAAAAAAAzM/3DOFX2lKE54/s400/tudo_ao_mesmo_tempo_victor_az.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Aconteceu tanta coisa e eu quero falar sobre tantas outras que este post vai ser um apanhado geral de notícias das semanas passadas e pensamentos avulsos. Vou falar por tópicos, que fica mais fácil pra todo mundo, né?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-e5wmi3kZsfo/UgmaFE-L7oI/AAAAAAAAAzY/vMbqciVzNo0/s1600/Cecile-Kyenge-Italy.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="233" src="http://3.bp.blogspot.com/-e5wmi3kZsfo/UgmaFE-L7oI/AAAAAAAAAzY/vMbqciVzNo0/s320/Cecile-Kyenge-Italy.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
1. Racismo (e machismo, claro): a ministra italiana de origem congolesa <a href="http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/a-luta-da-ministra-italiana-cecile-kyenge-contra-o-racismo"><span style="color: red;">Cecile Kyenge</span></a> foi comparada a um orangotango pelo vice-presidente do Senado italiano, Roberto Calderoli, no dia 13 de julho deste ano. Uma semana depois, um manifestante jogou bananas em direção a ela. Vereadores retiraram-se em protesto à presença dela em uma reunião da qual legitimamente participava. O líder de seu partido, Roberto Maroni, recusou-se a defendê-la. Fico pensando no antagonismo dessas forças: branco e negro, Europa e África, homem e mulher - e no quanto é necessário caminhar, tão distantes ainda estamos, em direção à concordância. Penso no <a href="http://www1.folha.uol.com.br/fsp/newyorktimes/53414-no-congo-o-fardo-de-ser-mulher.shtml"><span style="color: red;">Congo</span></a>, onde nasceu Cecile, o pior país do mundo para as mulheres. Penso na Itália e na vergonha que deveria sentir de si mesma, por permitir tal desrespeito à própria ideia de humanidade.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-JfyCMuid9rk/Ugmat4d44CI/AAAAAAAAAzo/sq5feVMHo6M/s1600/Muammar-Gaddafi-and-Silvi-001.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="192" src="http://2.bp.blogspot.com/-JfyCMuid9rk/Ugmat4d44CI/AAAAAAAAAzo/sq5feVMHo6M/s320/Muammar-Gaddafi-and-Silvi-001.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
2. Exploração sexual e patriarcado: a Itália continua na minha cabeça, por causa de Berlusconi. Condenado a sete anos de prisão por <a href="http://g1.globo.com/mundo/noticia/2013/06/berlusconi-e-condenado-7-anos-de-prisao-no-caso-ruby-na-italia.html"><span style="color: red;">prostituição de menores</span></a>, em junho deste ano, o ex-premiê italiano era grande amigo de Muammar Gaddafi, ex-ditador líbio assassinado durante a 'primavera' de seu país. Gaddafi tinha dezenas de escravas sexuais. Ao longo de seus quarenta anos de poder, <a href="http://revistamarieclaire.globo.com/Mulheres-do-Mundo/noticia/2012/11/o-harem-de-kadafi-livro-traz-historia-de-escrava-sexual-de-ex-lider-libio.html"><span style="color: red;">estuprou milhares de mulheres</span></a>, muitas delas ainda adolescentes, que simplesmente 'arrancava' da casa dos pais. Penso em <a href="http://www.publico.pt/mundo/noticia/dominique-strausskahn-vai-responder-por-proxenetismo-em-tribunal-penal-1601433"><span style="color: red;">Dominique Strauss-Kahn</span></a>, que se livrou de ser preso por estupro e hoje enfrenta processo por 'proxenetismo', e me pergunto: quanto do sexo podre - da exploração sexual de mulheres, adolescentes e crianças - não será financiado pelo dinheiro dos homens que mandam no mundo?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-TyIliRaIGGY/UgmcdlgdljI/AAAAAAAAAz0/US1ObAo80jw/s1600/68584343d02c44f1b068bdf0dd710213.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="212" src="http://4.bp.blogspot.com/-TyIliRaIGGY/UgmcdlgdljI/AAAAAAAAAz0/US1ObAo80jw/s320/68584343d02c44f1b068bdf0dd710213.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
3. No mundo: no Japão, a cúpula da <a href="http://esporte.uol.com.br/judo/ultimas-noticias/2013/07/30/escandalos-sexuais-causam-renuncia-da-cupula-da-federacao-japonesa-de-judo.htm"><span style="color: red;">Federação nacional de judô</span></a> renunciou depois que seu diretor admitiu ter abusado sexualmente de uma atleta. Outras acusações envolviam abuso e violência durante os treinos e ainda uma condenação por estupro. Na China, <a href="http://www.clicapiaui.com/geral/84977/mulher-ganha-indenizacao-apos-ser-condenada-por-defender-filha-estuprada-e-prostituida-na-china.html"><span style="color: red;">Tang Hui</span></a>, uma mãe que denunciou os homens que estupraram e obrigaram sua filha de onze anos a se prostituir tornou-se símbolo da luta contra a opressão das mulheres. Tang Hui foi condenada a 18 meses de trabalhos forçados, mas os chineses ficaram do seu lado e ela foi solta. No fundo do meu sentimento, essas vitórias me parecem derrotas, mas não desanimo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-P0tFDu8hRWw/UgmdWCJ5q6I/AAAAAAAAA0E/izRPCaQFAFw/s1600/hi-gay-russia-rtx115wc.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="179" src="http://1.bp.blogspot.com/-P0tFDu8hRWw/UgmdWCJ5q6I/AAAAAAAAA0E/izRPCaQFAFw/s320/hi-gay-russia-rtx115wc.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
4. E não deixo de desanimar, porque essa espiral louca da história nos coloca mais uma vez diante da desrazão, não travestida de razão desta vez. De repente, parece que a loucura do mundo quer se reafirmar no poder puro e simples, na submissão dos corpos, no ódio mesquinho ao diferente e no aniquilamento como solução. Rússia, Itália e Brasil não se podem dizer países não-esclarecidos - muito menos, no entanto, lúcidos. Enquanto a Rússia assina <a href="http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2013/06/1293230-russia-aprova-lei-que-pune-propaganda-gay-e-ofensa-contra-religiosos.shtml"><span style="color: red;">leis homofóbicas</span></a> e a Itália se mostra fraca na reação ao racismo e à xenofobia, o Brasil dá cada vez mais lugar à voz religiosa não do amor, mas da mentira: a bancada religiosa insiste em dizer que a lei que prioriza <a href="http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/eliane-brum/noticia/2013/08/o-babortob-e-ma-fe.html"><span style="color: red;">o atendimento a vítimas de estupro abre brechas para o aborto</span></a>.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-u8QFn37rKOE/UgmdgenKIfI/AAAAAAAAA0M/ATuw22t9uCM/s1600/protesto-marcha-vadias.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="http://1.bp.blogspot.com/-u8QFn37rKOE/UgmdgenKIfI/AAAAAAAAA0M/ATuw22t9uCM/s320/protesto-marcha-vadias.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
5. Por essas e outras é que a performance em que dois artistas quebraram estátuas e simularam atos sexuais com elas durante a JMJ me pareceu legítima. O corpo da estátua não é um corpo digno de pena, nem tampouco o corpo de instituições, sejam elas religiosas ou laicas, que massacram o corpo-carne das pessoas. Aproveito para lembrar Amarildo, que é só mais um dos tantos corpos que se desintegram, vítimas dessas instituições. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-_dRmztS82ME/Ugmdnzm6-JI/AAAAAAAAA0U/JkBreuUvwEk/s1600/cade-amarildo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="http://4.bp.blogspot.com/-_dRmztS82ME/Ugmdnzm6-JI/AAAAAAAAA0U/JkBreuUvwEk/s320/cade-amarildo.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
tagghttp://www.blogger.com/profile/08024823052403928519noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5220832021436383363.post-64635676339335417972013-08-08T11:38:00.000-03:002013-08-08T11:38:44.859-03:00Versos e Subversas: Sejamos putasNo "Versos e Subversas" desta semana, divulgo uma poesia muito boa que vem circulando pela internet, certamente de alguma brava lutadora feminista:<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-djAJh3SSZqs/UgLT3sNSokI/AAAAAAAABBc/vrf7t6qCbaA/s1600/602749_166180203568400_1620832279_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="640" src="http://4.bp.blogspot.com/-djAJh3SSZqs/UgLT3sNSokI/AAAAAAAABBc/vrf7t6qCbaA/s640/602749_166180203568400_1620832279_n.jpg" width="425" /></a></div>
<br />
SEJAMOS PUTAS!<br />
(autora desconhecida)<br />
<br />
Se você sai com um cara e transa com ele na primeira noite:<br />
"Essa Puta é uma fácil"<br />
Se você sai com um cara e não transa com ele na primeira noite:<br />
"Essa Puta se faz de difícil"<br />
Se você prefere roupas mais curtas:<br />
"Essa Puta é uma exibida"<br />
Se você prefere roupas mais longas:<br />
"Essa Puta é uma hipócrita se finge de santa"<br />
Se você gosta de beber:<br />
"Essa Puta é uma bêbada, ridícula, sem moral"<br />
Se você não gosta de beber<br />
"Essa Puta é totalmente careta"<br />
Se você gosta de falar de sexo<br />
"Essa Puta é vulgar demais"<br />
Se você não gosta de falar de sexo<br />
"Essa Puta só pode ser frígida"<br />
Se você fala palavrão<br />
"Essa Puta não tem educação"<br />
Se você não fala palavrão<br />
"Essa Puta é metida a certinha"<br />
Se você trabalha fora<br />
"Essa Puta não cuida da casa, do marido. Depois reclama se ele acha quem cuide"<br />
Se você não trabalha fora<br />
"Essa Puta é uma mercenária, fica coçando o dia inteiro, vive às custas do marido"<br />
Se você não quer se casar<br />
"Essa Puta só quer saber de dar pra todo mundo"<br />
Se você sofre violência doméstica e não denuncia<br />
"Essa Puta só pode gostar de apanhar"<br />
Se você sofre violência doméstica e denuncia<br />
"Essa Puta deve ter feito alguma coisa pra merecer, e agora ferra a vida do coitado"<br />
Se seu companheiro está num relacionamento extra-conjugal<br />
"Essa Puta não dá em casa, ele procura na rua"<br />
Se é você em um relacionamento extra-conjugal<br />
"Essa Puta paga com um par de chifres tudo que o coitado faz por ela"<br />
Se você não tem condições, engravida e resolve ter o filho<br />
"Essa Puta não se cuidou e agora põe mais um inocente pra sofrer no mundo"<br />
Se você não tem condições, engravida e resolve abortar<br />
"Essa Puta não se cuidou e agora quer tirar a vida do inocente"<br />
Essa Puta<br />
Essa Puta<br />
Puta<br />
Puta<br />
Puta<br />
Puta... Jeffhttp://www.blogger.com/profile/03843832124810310091noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5220832021436383363.post-64497917732815165192013-08-05T23:17:00.001-03:002013-08-05T23:20:39.557-03:00Música para crianças<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Book Antiqua, serif;"><span style="font-size: large; line-height: 18px;">Maria C.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Book Antiqua","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span>
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-r24kMEE_Nsk/UgBbkc-7XvI/AAAAAAAAAyc/Adt_0Nhxm0Q/s1600/Crian%C3%A7a+com+dor+de+ouvido.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-r24kMEE_Nsk/UgBbkc-7XvI/AAAAAAAAAyc/Adt_0Nhxm0Q/s1600/Crian%C3%A7a+com+dor+de+ouvido.jpg" /></a><span style="font-family: "Book Antiqua","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Deparo-me com uma notícia
que me prende a atenção: músicas infantis polêmicas, descritas pelo artista
como “sacanas, polêmicas”. Trata-se de um projeto, um álbum criado pelo artista
Carlos Careqa chamado “Palavrão Cantado”, que terá músicas como “mamãe onde é
que fica o cu”, falando ainda sobre peido, arroto, masturbação, morte etc.,
segundo <a href="http://www1.folha.uol.com.br/saopaulo/2013/08/1315147-projeto-palavrao-cantado-tera-musicas-infantis-polemicas-ouca-trechos.shtml"><span style="color: red;">site da Folha</span></a>. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Book Antiqua","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Book Antiqua","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A coisa me soa familiar...
Onde eu já vi isso? Ah, na Televisão é claro. Em um dos programas mais misóginos
já criados: Two and a half man. Uma coisa parecida, of course! Charlie Harper
cria um disco infantil e vira um sucesso porque canta muitas besteiras nas
músicas, mais ou menos essas, sobre peidos, arrotos e peitos de mulheres
(Charlie não perde sua oportunidade, sendo um chauvinista caricato). As
crianças adoram e vende feito água.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Book Antiqua","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Book Antiqua","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Não estou a apontar
comparações, que besteirada. A vida imita a arte, ou qualquer coisa que o
valha, não é? <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Book Antiqua","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Book Antiqua","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">De todo modo, tanta
energia investida em nada produtivo...</span><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-family: "Book Antiqua","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-cZ8sP4KdJN8/UgBcvE95alI/AAAAAAAAAy0/4vwg9cm2qzA/s1600/notascoloridas.JPG" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="240" src="http://1.bp.blogspot.com/-cZ8sP4KdJN8/UgBcvE95alI/AAAAAAAAAy0/4vwg9cm2qzA/s320/notascoloridas.JPG" width="320" /></a></span></div>
<span style="font-family: "Book Antiqua","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Book Antiqua","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Book Antiqua","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Estamos sempre a repetir o
quanto necessitamos reestruturar o sistema educacional, os velhos padrões,
alterar as visões preconcebidas. Mas essas ações não são sinônimas da
implementação de ideias reducionistas ou simplistas de modernidade, tais como a
introdução fluente e precoce dos palavrões no vocabulário infantil.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Book Antiqua","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Book Antiqua","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Não que falar palavrões
seja automaticamente errado. Uma criança normalmente repete um palavrão sem
sequer saber o que diz. Mas e daí, o que isto lhe acrescenta? Falar sobre
masturbação ou questões adultas, como o Viagra que seu avô toma, o que isso lhe
acrescenta?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Book Antiqua","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Book Antiqua","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Que tal se discutíssemos,
nessas mesmas músicas, questões outras, tão necessárias, como os papéis das
pessoas na sociedade? Que tal se as músicas tratassem sobre igualdade,
respeito?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-oI4xOkkj1ts/UgBbHLktjpI/AAAAAAAAAyU/lZyU0lH_NrE/s1600/catalogo-top-toy.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/-oI4xOkkj1ts/UgBbHLktjpI/AAAAAAAAAyU/lZyU0lH_NrE/s320/catalogo-top-toy.jpg" width="208" /></a><span style="font-family: "Book Antiqua","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Book Antiqua","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Seria muito interessante
uma música infantil que expressasse que as crianças podem ter amigos de todas
as cores, ou de todas as classes. Que esclarecesse que meninos e meninas têm de
se respeitar sempre, que as meninas podem ter uma profissão fora da cozinha, e
que não há problema se os meninos quiserem se aventurar nela.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Book Antiqua","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Book Antiqua","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Se o universo infantil
escolar se utiliza tanto da linguagem musical, há tanto preconceito de gênero
nos brinquedos, porque a promoção por meio do desserviço através da música?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Book Antiqua","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span>
<span style="font-family: "Book Antiqua","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">A mídia, seja ela comercial,
artística, ou que nome lhe seja atribuída, atua como uma grande instituição –
estatal ou privada, a lógica é sempre a mesma: é a administrativa. Tudo são
números. Vai dar lucro? Vai, então é esse o negócio. Não vai dar lucro? Não
vai, então estamos saindo fora.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Book Antiqua","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Book Antiqua","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">Se desejarmos algo melhor
para nosso futuro, e digo, para nossas sementes, estamos por conta. Eis a
prova. <o:p></o:p></span><br />
<span style="font-family: "Book Antiqua","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-e7OhDtNHQ5Q/UgBbz1EO-eI/AAAAAAAAAyk/LsOlihcxkbA/s1600/crian%C3%A7a+brincando.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://2.bp.blogspot.com/-e7OhDtNHQ5Q/UgBbz1EO-eI/AAAAAAAAAyk/LsOlihcxkbA/s320/crian%C3%A7a+brincando.jpg" width="270" /></a></div>
<span style="font-family: "Book Antiqua","serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><br /></span></div>
tagghttp://www.blogger.com/profile/08024823052403928519noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5220832021436383363.post-43023698181280654492013-07-31T17:18:00.000-03:002013-07-31T17:18:00.662-03:00O preconceito de todos nóspor Thais Torres<br />
<br />
<div style="text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-5Y8a8hANK9Y/UflatXwGujI/AAAAAAAAANg/dTD2aiw2ssw/s1600/ronald1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="156" src="http://3.bp.blogspot.com/-5Y8a8hANK9Y/UflatXwGujI/AAAAAAAAANg/dTD2aiw2ssw/s320/ronald1.jpg" width="320" /></a> </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Recentemente, o blog Homorrealidade publicou um excelente <b style="color: red;"><a href="http://www.homorrealidade.com.br/2013/07/aparencia-de-filho-de-ronaldo-fenomeno.html">texto</a></b> sobre mais uma declaração homofóbica. Os autores da agressão, dessa vez, foram os próprios homossexuais. <b style="color: red;"><a href="http://curiosidades.uvaia.com.br/post/2013/07/18/POLEMICA-RONALD-FILHO-DO-RONALDINHO-FENOMENO-E-GAY">Diversas</a> <a href="http://pobreta.com/filho-do-ronaldo-fenomeno-pode-ser-gay/">manifestações</a></b> na Internet comemoraram o fato de o filho do ex-jogador Ronaldo estar com cabelos tingidos e alisados e ter sido fotografado em um aeroporto, na companhia de um amigo. Ao que parece, o novo cabelo e a amizade fazem de Ronald um homossexual, algo que deveria ser comemorado. </div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<br />
O autor do texto faz um importante questionamento:<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
<blockquote class="tr_bq">
Porém, mais que especular a vida sexual de Ronald [que sinceramente
ficou muito mais moderno com o novo visu], me surpreendi com tal
discurso tortuoso de LGBTs. Afinal, será que dá para considerar alguém
qualquer coisa que seja somente pela aparência? Será que somos tão
retrógrados ao ponto de achar que um hétero não pode ter um amigo mais
próximo? Ou alisar o cabelo? Será que ainda achamos que as travestis
enganam as pessoas? E, o pior, será que ainda vemos a homossexualidade como uma ofensa ou uma maneira de desqualificar o outro?</blockquote>
</div>
<div style="text-align: justify;">
Antes que alguém pense que o blog acrescenta mais um item à lista de motivos que justificam a condenação dos homossexuais em nossa sociedade machista, o autor admite que "o gay nasceu em uma sociedade heteronormativa e machista". Isso explica o contraditório fato de que o público LGBT esteja ridicularizando um garoto por conta de seu penteado e de suas companhias. Dessa forma, se ele repete com cinismo e satisfação que é "bem feito" que o jogador tenha um filho homossexual, isso não ocorre por que os autores da "piada" acreditam que este é um "castigo" pelo fato de Ronaldo ter se envolvido com travestis no passado, mas por que o preconceito é tão enraizado em nossa sociedade que é repetido até mesmo por quem sofre as consequências da homofobia.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-pOMqntbD6S0/Uflgb_nzOYI/AAAAAAAAAOA/aGOENFEtaG8/s1600/pastor+gay.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/-pOMqntbD6S0/Uflgb_nzOYI/AAAAAAAAAOA/aGOENFEtaG8/s320/pastor+gay.jpg" width="198" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-vTCiqcrDllE/UflgCpkyNhI/AAAAAAAAAN4/Q4LqdCaCWWw/s1600/images.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Sejamos sinceros. Quem nunca se viu rindo das piadas que caracterizam Marco Feliciano como um homossexual? Qual mulher nunca desejou ser bonita como determinada modelo ou atriz?
Que pessoa nunca condenou - ainda que mentalmente - uma atitude, um
palavreado ou uma roupa por que agir, falar e vestir-se de determinada
maneira "não é adequado ao contexto"? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Logo em seguida, percebemos que há um preconceito no nosso riso, uma aceitação de estereótipos na nossa inveja, um machismo na nossa condenação. Afinal, vivemos em um mundo preconceituoso e é quase impossível estar alheio a toda e qualquer forma de discriminação.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O problema não é a momentânea repetição do discurso homofóbico e machista que nos rodeia, mas a perpetuação deste. O final do texto do blog<b style="color: red;"> <a href="http://www.homorrealidade.com.br/">www.homorrealidade.com.br</a></b> vai direto ao que importa: "Para Ronald, um só desejo: se joga, boas férias!".</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-szjemNuGI_M/UflkvadgFII/AAAAAAAAAOY/hkFUJss40nc/s1600/ronald2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="281" src="http://1.bp.blogspot.com/-szjemNuGI_M/UflkvadgFII/AAAAAAAAAOY/hkFUJss40nc/s320/ronald2.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-JCfvBF8luaM/UflwQpIGJdI/AAAAAAAAAPE/JJSJVgM3HYI/s1600/images.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://4.bp.blogspot.com/-JCfvBF8luaM/UflwQpIGJdI/AAAAAAAAAPE/JJSJVgM3HYI/s1600/images.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
De fato, não importa se Marco Feliciano é gay enrustido ou se ele tem
ascendência negra. O que importa é que ele é um político, mais do que
isso, o presidente da Comissão dos Direitos Humanos e que recusa os
direitos básicos de homossexuais e negros (dentre tantos outros
indivíduos). </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-Ldf0LOxvei0/UflhDCzbfmI/AAAAAAAAAOM/0LmEmNlB6o0/s1600/Natalie-Portman-030313sp.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="228" src="http://1.bp.blogspot.com/-Ldf0LOxvei0/UflhDCzbfmI/AAAAAAAAAOM/0LmEmNlB6o0/s320/Natalie-Portman-030313sp.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
Também não importa se a modelo que está na capa da revista, na verdade, é gorda, tem espinhas e celulite. Ao lado vemos uma foto de Natalie Portman fora das capas de revistas e do tapete vermelho. Por um acaso, ela está linda, mas continuaria sendo uma excelente atriz se não estivesse. </div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/--mS8jy4LyH4/Uflp4IpDKpI/AAAAAAAAAOs/lR2pzciVBhM/s1600/galeria9.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="239" src="http://2.bp.blogspot.com/--mS8jy4LyH4/Uflp4IpDKpI/AAAAAAAAAOs/lR2pzciVBhM/s320/galeria9.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Na outra foto, o site de fofocas cria uma manchete pretensamente polêmica (mas totalmente rísivel como manchete jornalística): "Sem maquiagem, Juliana Paes revela olheiras profundas". O curioso é que ela ainda está linda, mesmo com as olheiras. Mas o mais importante é: a quem interessa uma notícia dessas?</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/--mS8jy4LyH4/Uflp4IpDKpI/AAAAAAAAAOs/lR2pzciVBhM/s1600/galeria9.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><br /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Mais sobre o preconceito de todos nós. Em <b style="color: red;"><a href="http://www.cartacapital.com.br/blogs/feminismo-pra-que/maria-da-penha-luana-piovani-e-todas-nos-2400.html">reportagem na Carta Capital</a></b>, uma jornalista questiona críticas feitas à Luana Piovani no processo contra o ex-namorado Dado Dolabela, que a agrediu fisicamente. Segundo muitos, Piovani é uma "celebridade cheia de dinheiro", "uma chata oportunista" que "estava bêbada em uma festa no momento da agressão". Sinceramente, também acho Luana Piovani uma mala sem alça, sei que ela é rica e não duvido que ela estivesse bêbada na festa em que foi agredida. Nada disso, porém, faz com que a agressão se justifique.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-08WjnYndOCE/Uflq7EXyz_I/AAAAAAAAAO0/_OZpZ9kc4aY/s1600/image_preview.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="212" src="http://1.bp.blogspot.com/-08WjnYndOCE/Uflq7EXyz_I/AAAAAAAAAO0/_OZpZ9kc4aY/s320/image_preview.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
Não é o que pensam algumas das mulheres que comentaram a reportagem no site.<b style="color: red;"> <a href="http://www.cartacapital.com.br/blogs/feminismo-pra-que/maria-da-penha-luana-piovani-e-todas-nos-2400.html">Vale conferir</a></b>. O preconceito está mesmo em toda parte.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/07131670148612087568noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5220832021436383363.post-32979328440997141522013-07-25T20:43:00.002-03:002013-07-25T20:43:51.612-03:00Tapa na Cara<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 18px;"><span style="font-family: inherit;"><i>por Maria C.</i></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 18px;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-7r6HaTyDoCM/UfG2ymDcu5I/AAAAAAAAAxQ/MKwUdEq6uR4/s1600/tapa+na+cara+da+professora+.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="http://1.bp.blogspot.com/-7r6HaTyDoCM/UfG2ymDcu5I/AAAAAAAAAxQ/MKwUdEq6uR4/s320/tapa+na+cara+da+professora+.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;">O Ministério Público
Federal e Themis Assessoria Jurídica e Estudos de Gênero propuseram Ação Civil
Pública em desfavor de Sony Music Ind. Com. Ltda. e Furacão 2000 Produções
Artísticas Ltda, pela propagação e divulgação das músicas “Tapinha” e “Tapa na
Cara”, cujas letras seriam ofensivas à dignidade feminina, banalizariam a
violência contra as mulheres e causariam dano moral difuso às mesmas, motivo
pela qual pediram sua condenação.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="line-height: 115%;">O pedido foi julgado
parcialmente favorável em Juízo de primeiro grau. No dia 12.07.13 o Tribunal da
Justiça da 4ª Região reformou a decisão. </span><span style="line-height: 115%;">No acórdão, um dos desembargadores pediu vista dos autos, e em 24
longas páginas, elaborou voto reformando a sentença de primeiro grau e julgando
favoravelmente às gravadoras.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;">Em resumo, as razões do
voto consistem: na afirmação de que as músicas são do gênero artístico funk e
pagode, e deste modo, falam de realidades distintas e configuram formas de
expressão populares a serem <i>toleradas</i>;
não há prova de que ouvir a música e/ou sua divulgação aumente a violência e a
agressão contra as mulheres (relação de causa e efeito); o direito de expressão
e à livre iniciativa é garantido constitucionalmente, o qual só pode ser
limitado quando verificado perigo concreto aos outros e à sociedade.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;">O voto apenas demonstra o
óbvio, a concreta institucionalização do papel da mulher enquanto mero objeto,
a supressão de sua tentativa de voz e a triste constatação de que as
iniciativas tomadas são relegadas ao nível da abstração, dedicando os
operadores do direito a manterem o <i>status
quo</i> do patriarcado e nossas eternas algemas.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-Dk9a_K3YSJ8/UfG26jIeztI/AAAAAAAAAxY/ofV5PA9AHGQ/s1600/judasdapenha.png" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="240" src="http://4.bp.blogspot.com/-Dk9a_K3YSJ8/UfG26jIeztI/AAAAAAAAAxY/ofV5PA9AHGQ/s320/judasdapenha.png" width="320" /></a><span style="font-family: inherit;"><span style="line-height: 115%;">Não vou fazer uma análise
jurídica do voto do desembargador, que não cabe aqui. Em sua qualidade de
magistrado, atuou conforme sua jurisdição e aplicou os princípios e normas que
reputou legítimos. </span><span style="line-height: 115%;">Mas, na qualidade de
cidadã, de mulher destinatária desta norma individual ditada no acórdão –
porque a música nos afeta a todas, indistinta e difusamente – tomo a liberdade
de comentá-la de forma despretensiosa, sem tecnicismos, e o faço com toda a
liberdade de expressão que o dr. desembargador exaltou.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;">De início, é óbvio por
demais que uma música, poema, texto ou qualquer coisa, cujo título seja
“Tapinha” ou “Tapa na cara” e afirme e repita “dói, um tapinha não dói [...] um
tapinha eu vou te dar”, e outra “tapa na cara, se você quiser eu vou te dar” em
que o narrador/locutor é um sujeito masculino o qual se dirige na fala a um
sujeito feminino em sua narrativa, contém em si pressuposta a violência, a
aceitação da violência contra as mulheres, sua banalização mais típica. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;">Está no título, na letra,
na voz. Nada é implícito. É claro que a letra não diz ‘espancar é legal’, isso
não é socialmente aceitável. <i>Aceitável</i>
é “dar uns tapas pra sua patroa saber quem manda, afinal, ‘um tapinha não dói’;
nem um ‘tapa na cara’ mesmo, em se tratando do ambiente doméstico”.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;">Note-se que a letra, a
música, precisa sempre ser contextualizada para ser <i>salva</i> de qualquer interpretação agressiva contra as mulheres. Disse
o acórdão: “são discursos de atos de amor”. Ah, nós não havíamos entendido...
Afinal, não há uma linha tênue entre a violência gratuita e cultura do estupro.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="line-height: 115%;">Quando se diz que “um
tapinha não dói”, ao se diminuir a palavra, “só um tapinha”, torna-se o discurso
tolerável, quase amável. O discurso quase incute uma confusão entre a agressão
e o carinho (essa é a perspectiva do MPF). </span><span style="line-height: 115%;">De outro lado o ‘tapa na
cara’ é dado se é pedido pelo sujeito feminino. Ora, ela apanha porque quer,
porque pede. O sujeito masculino não tem culpa por bater, a culpa é toda da
vítima, do sujeito feminino na fala da música, que pede, que implora pelo ‘tapa
na cara’. Tudo culpa dela. E olhe que em nossa cultura, o ‘tapa na cara’ é a
maior das violências, é uma verdadeira humilhação.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-HY50r3Oq11U/UfG3JNMqmjI/AAAAAAAAAxg/rzv1K7zMOAY/s1600/VIOLENCIA_contra_a_mulher_008+(1).png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="198" src="http://4.bp.blogspot.com/-HY50r3Oq11U/UfG3JNMqmjI/AAAAAAAAAxg/rzv1K7zMOAY/s200/VIOLENCIA_contra_a_mulher_008+(1).png" width="200" /></a><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;">Como não afirmar que as
músicas expressam a banalização da violência contra a mulher? Ao ouvir alguém
cantando “dói, um tapinha não dói” para sua namorada, o que se extrai desse
quadro? Evidente, jamais se afirmará que esse sujeito irá agredi-la, por ter
entoado/ouvido a canção. Mas é também evidente que seu ambiente lhe afirma que
é normal dar um tapinha ou uns tapinhas, que não dói. Nem um tapa na cara - é
aceitável, ela está pedindo.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="line-height: 115%;">O discurso, em seu
ambiente de lazer, de descontração, lhe afirma que o carinho e agressão se
confundem, que a violência contra a mulher é irrefletida; e que não há
problema: não dói na primeira situação e na segunda, é culpa dela. </span><span style="line-height: 115%;">Como não sentir, ao ouvir
as músicas, que elas repercutem, tornando a incutir a ideia eterna de que a
mulher deve ser subjugada, dominada, calada?</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;">Tudo isso dado o contexto
atual da violência doméstica, tão alarmante que gerou a Lei Maria da Penha. No
Brasil a cada 4 minutos uma mulher é vítima de violência doméstica, 70% dos
incidentes ocorrem no lar, sendo o marido/companheiro o agressor habitual; em
40% das vezes há lesões graves; e os gastos sociais resultantes representam
10,5% do PIB nacional. O Governo Federal e a sociedade brasileira têm investido
em marketing a fim de coibir e prevenir a violência de gênero e doméstica e
conscientizar as mulheres de seus direitos.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;">Se a questão são números o
problema é relevante. Ainda assim entendeu-se que não há problema na divulgação
de músicas que falam de bater em mulheres (porque é uma pancada leve, um tapinha,
um tapa na cara), que esta situação tão cotidiana não fere a dignidade humana
feminina, ainda que o ordenamento jurídico tenha criado a Lei Maria da Penha,
em reconhecimento histórico da violência sofrida pelas mulheres e da extrema
necessidade de seu combate.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;">Infelizmente é um discurso
que se repete em todas as mídias: está instituído há muito tempo e estamos
tentando derrubá-lo com pouquíssimas e pequeníssimas vitórias há poucas dezenas
de anos.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;"></span></span><br /><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;"></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;">A negativa no julgamento
joga na nossa cara essas obviedades insuportáveis. Juridicamente, até a década
de 1950, as mulheres nem eram consideradas plenamente capazes, sempre sob a
tutela do pai ou do marido. E estamos falando da questão formal, imagine na
realidade, que é sempre mais crua e cruel.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<table cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="float: right; text-align: right;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-ogkgC94xECY/UfG3TyE2joI/AAAAAAAAAxo/3BltKXOZCTE/s1600/21718914.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; margin-bottom: 1em; margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="240" src="http://1.bp.blogspot.com/-ogkgC94xECY/UfG3TyE2joI/AAAAAAAAAxo/3BltKXOZCTE/s320/21718914.jpg" width="320" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Banalização? Imagina.</td></tr>
</tbody></table>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;">A verdade é que a
liberdade ainda não chegou para nós. Estamos sendo utópicas em sonhar com
igualdade. Nossa sociedade verdadeiramente não nos reconhece como sujeitos de
direitos, pessoas dotadas de ideais (e ideias), sujeitos investidos de
princípios. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;"></span></span><br /><span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;"></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;">Somos consideradas em
maior grau objetos de direitos, e é por isso que se permite que ideias e
imagens de domínio sobre nossas vidas e nossos corpos se propaguem como sendo <i>normais</i>, <i>cotidianas, ordinárias, comuns, parte da realidade brasileira, de nossa
expressão cultural</i>. Não são. Não para os objetos de dominação.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;">A liberdade de expressão e
de livre iniciativa das gravadoras foi preservada, sob os ideais da
Constituição. Mas a dignidade humana feminina, concretamente, foi ignorada.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;">Queremos não apenas ser
declaradas livres e iguais numa lei escrita, mas queremos ser <i>reconhecidas efetivamente</i> como sujeitos
de direitos. Diferente de uma cadeira, não somos objetos.</span><span style="font-family: Book Antiqua, serif;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-NLOYlx-imVY/UfG3uQnOrpI/AAAAAAAAAxw/PBgQO_u2Yhw/s1600/VIOL%C3%8ANCIA+CONTRA+MULHERctz_woman.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/-NLOYlx-imVY/UfG3uQnOrpI/AAAAAAAAAxw/PBgQO_u2Yhw/s320/VIOL%C3%8ANCIA+CONTRA+MULHERctz_woman.jpg" width="232" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="line-height: 115%;"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
tagghttp://www.blogger.com/profile/08024823052403928519noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5220832021436383363.post-77333850508855796442013-07-23T01:28:00.000-03:002013-07-23T01:28:01.736-03:00Papa, afásicos, agnósicos e essa juventude<i>por Tággidi Ribeiro</i><br />
<br />
<blockquote class="tr_bq">
"Não tenho ouro nem prata, mas trago o que de mais precioso me foi dado: Jesus Cristo."</blockquote>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-CBTZBg0CizI/Ue4AdMIRmDI/AAAAAAAAAwM/oiYgTwjdLpg/s1600/tumblr_mkp3ftfZI41s99iyoo1_1280.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="115" src="http://1.bp.blogspot.com/-CBTZBg0CizI/Ue4AdMIRmDI/AAAAAAAAAwM/oiYgTwjdLpg/s200/tumblr_mkp3ftfZI41s99iyoo1_1280.jpg" width="200" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
As palavras que me servem de epígrafe são do Papa Francisco, em seu primeiro discurso ao povo brasileiro. Não sei que aconteceu a vocês quando as leram ou viram/ouviram, mas eu ri. Depois, fiquei com raiva, indignada: como tinha coragem de usar 'essas' palavras?! </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Meu riso me lembrou de Oliver Sacks em um de seus contos não-ficcionais, de cuja história é possível depreender que o riso que irrompe em meio à fala do outro pode ser uma mostra de que alguma parte de nós não acredita nessa fala; também, portanto, de que alguma parte do outro pode estar mesmo mentindo. Ademais, no mesmo conto, vemos até que ponto a escolha das palavras pode ser importante para estabelecer o sentimento de verdade em relação a um discurso.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Assim, em '<a href="http://paradigmatrix.net/?p=3975"><span style="color: red;">O discurso do Presidente</span></a>', presente na coletânea <i>O homem que confundiu sua mulher com um chapéu</i>, Sacks refere a reação de um grupo de afásicos ao discurso de seu Presidente: uma gargalhada estrondosa. Oliver Sacks logo explica que muitos afásicos, incapazes de compreenderem as palavras em si, têm intensificadas as capacidades de reconhecer o tom e a intenção da fala, além do 'ar afetado' e de 'qualquer falsidade ou improbidade na aparência ou postura do corpo' do outro, do que resulta ser praticamente impossível enganar um afásico. Daí a gargalhada daquele grupo: o Presidente mentia. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-XXKU1vvykK4/Ue4BgmLOWTI/AAAAAAAAAwc/x1_r0cxaIBM/s1600/tumblr_mky57w5boW1s99iyoo1_1280.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; display: inline !important; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="236" src="http://4.bp.blogspot.com/-XXKU1vvykK4/Ue4BgmLOWTI/AAAAAAAAAwc/x1_r0cxaIBM/s320/tumblr_mky57w5boW1s99iyoo1_1280.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Um distúrbio cerebral oposto à afasia, contudo, tampouco pôde encobrir a tentativa de manipulação do discurso do Presidente. Na mesma ala dos afásicos, uma paciente com agnosia tonal, na qual preserva-se a compreensão das palavras mas perde-se o senso de 'tom, timbre, sentimento e caráter' da fala, foi taxativa ao afirmar sobre o discursante: "Seu uso das palavras é inadequado. Ou ele tem deficiência cerebral, ou alguma coisa a esconder." </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Assim, entre o riso e o incômodo, eu e outros tantos 'normais', como se somando alguma afasia e agnosia, declaramos mentiroso o discurso do Papa Francisco, na escolha das palavras e no tom de voz baixo, no ritmo pausado, calmo, na dicção clara, na postura comedida. O paradoxo entre sua fala e o que ostenta não deixa, para nós, margem alguma a dúvidas. Estas reações pincei do Facebook: </div>
<blockquote class="tr_bq">
<span style="background-color: #fff2cc;"><span style="font-family: inherit;"><span style="line-height: 18px;">Discurso do Pontífice: "não tenho ouro nem prata".</span></span><span style="font-family: inherit;"><i class="_4-k1 img sp_4grtt3 sx_2e9f52" style="background-image: url(https://fbstatic-a.akamaihd.net/rsrc.php/v2/yK/r/r-s1sSegbX6.png); background-position: 0px -645px; background-size: auto; display: inline-block; height: 16px; line-height: 18px; vertical-align: -3px; width: 16px;"></i></span><br /><span style="font-family: inherit;"><span style="line-height: 18px;">Não sei de vocês, mas adoro gente que tem bom humor...</span></span></span></blockquote>
<blockquote class="tr_bq" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: #fff2cc; font-family: inherit;"><span style="line-height: 18px;">Um buffet simples na recepção (água, café e biscoitos) para o Papa, custeado com os recursos do Estado, pelo módico valor de R$ 1300,00 por pessoa, totalizando R$ 850.000,00. </span><a class="_58cn" data-onclick="[["HashtagLayerPageController","click"]]" data-pub="{"id":157762821059215}" href="https://www.facebook.com/hashtag/dormebrasil" style="cursor: pointer; line-height: 18px; text-decoration: none;"><span class="_58cl" style="cursor: pointer; line-height: 18px; text-decoration: none;">#</span><span class="_58cm" style="cursor: pointer; line-height: 18px; text-decoration: none;">dormeBrasil</span></a> </span> </blockquote>
<div style="text-align: justify;">
Até um tumblr foi criado para zombar da imagem de figura humilde que o Papa tenta vender ao mundo: <a href="http://papahumildao.tumblr.com/page/2"><span style="color: red;">http://papahumildao.tumblr.com/page/2</span></a> </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ocorre que milhões de outros normais, ajudados, diria Sacks (e aqui eu o parafraseio), pelo desejo de serem enganados, de fato se deixaram enredar. <i>"E tão astutamente foram combinados o uso enganoso da palavra com o tom enganoso, que só os que tinham dano cerebral ficaram ilesos, não foram logrados."</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>A Juventude</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-2aOMtufWno0/Ue4CQEYuGEI/AAAAAAAAAwo/1achA11dZ5o/s1600/1000501_635141706505738_1664618707_n.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="193" src="http://1.bp.blogspot.com/-2aOMtufWno0/Ue4CQEYuGEI/AAAAAAAAAwo/1achA11dZ5o/s400/1000501_635141706505738_1664618707_n.png" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Há dentre esses milhões de normais enredados pelo Papa, milhões de jovens. Brasileiros que ontem estavam empunhando cartazes nas manifestações, protestando contra a corrupção, contra a impunidade e a violência; contra a desigualdade social, por saúde e educação. Esses jovens, desconfiados dos políticos e da política, mas crentes em deus e na Igreja Católica, parecem viver em outro mundo: eles nunca leram sobre os <a href="http://noticias.terra.com.br/mundo/mortedopapa/interna/0,,OI505144-EI4692,00.html"><span style="color: red;">escândalos</span></a> de <a href="http://noticias.terra.com.br/mundo/europa/renuncia-do-papa/onu-exige-explicacoes-precisas-sobre-pedofilia-a-igreja-catolica,bdf00699fa0cf310VgnCLD2000000ec6eb0aRCRD.html"><span style="color: red;">pedofilia</span></a> dentro da ICAR, jamais punidos? Nunca leram sobre as <a href="http://oglobo.globo.com/mundo/novo-escandalo-de-corrupcao-abala-vaticano-3770624"><span style="color: red;">denúncias</span></a> de lavagem de <a href="http://veja.abril.com.br/noticia/internacional/escandalo-de-lavagem-de-dinheiro-as-portas-do-vaticano"><span style="color: red;">dinheiro</span></a>, nem sobre como a Igreja enriqueceu <a href="http://maniadehistoria.wordpress.com/a-venda-de-indulgencias-e-a-corrupao-na-igreja-catolica-medieval/"><span style="color: red;">vendendo</span></a> o reino dos céus? Não percebem que há algo de muito errado entre o valor de <a href="http://noticias.terra.com.br/brasil/papa-francisco-no-brasil/recepcao-do-papa-no-palacio-guanabra-custara-r-850-mil,a7f6e7c8562ff310VgnCLD2000000dc6eb0aRCRD.html"><span style="color: red;">R$ 118 milhões</span></a> gastos em uma única visita e a fala 'não tenho ouro, nem prata'? Nunca ouviram falar da <a href="http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u559431.shtml"><span style="color: red;">deseducação</span></a> promovida pela ICAR com o fito de tornar o mundo ainda mais preconceituoso e desordenado? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-4WNPSFVUQSg/Ue4DEb3nW4I/AAAAAAAAAw4/nnNbHktiY_o/s1600/estadolaico2-300x225.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-4WNPSFVUQSg/Ue4DEb3nW4I/AAAAAAAAAw4/nnNbHktiY_o/s1600/estadolaico2-300x225.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
A humanidade está <a href="http://g1.globo.com/mundo/noticia/2012/01/casamento-gay-ameaca-a-humanidade-diz-o-papa-1.html"><span style="color: red;">ameaçada</span></a> pelos homossexuais; <a href="http://www.cartacapital.com.br/blogs/feminismo-pra-que/pro-vida-de-quem-3001.html"><span style="color: red;">aborto</span></a> é assassinato; é <a href="http://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/03/novo-papa-camisinha-casamento-gay-aborto.html"><span style="color: red;">pecado</span></a> usar camisinha e tomar anticoncepcionais, mesmo em países onde o número de casos de AIDS é espantoso: a Igreja Católica é esse <a href="http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u4420.shtml"><span style="color: red;">crime</span></a>, essa mentira - com um pouco mais de perspicácia, podemos lê-lo na própria cartilha distribuída aos jovens da JMJ. Com que desonestidade, contudo, o <a href="http://www1.folha.uol.com.br/poder/2013/07/1314561-kit-orienta-peregrinos-sobre-tabus-da-igreja.shtml"><span style="color: red;">"kit peregrino"</span></a> promove a desinformação, e com que docilidade o rebanho jovem se deixa estar, sem ao menos querer pensar e de fato buscar compreender em que contexto se inserem todas essas questões e com que seriedade devem ser discutidas e transformadas em politicas públicas.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Penso nas jovens mulheres, nas adolescentes e crianças que rezam alegres por uma igreja que as desrespeita fundamentalmente. Já pensaram, essas meninas, nos médicos e na mãe da menina de 9 anos, <a href="http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL1028529-5598,00-ARCEBISPO+EXCOMUNGA+MEDICOS+E+PARENTES+DE+MENINA+QUE+FEZ+ABORTO.html"><span style="color: red;">excomungados</span> </a>pela ICAR por terem permitido que ela abortasse o fruto de um estupro, em uma gravidez de alto risco? (Mas o estuprador pedófilo, padrasto da menina, não foi excomungado.) </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Penso nas corajosas mulheres de peitos nus que foram protestar por um Estado laico. Penso nas <a href="http://www.catolicasonline.org.br/"><span style="color: red;">Católicas pelo Direito de Decidir</span></a>. Penso no <a href="http://contraoestatutodonascituro.wordpress.com/"><span style="color: red;">Estatuto do Nascituro</span></a>, no <a href="http://www.plc122.com.br/#axzz2Zph8YvA6"><span style="color: red;">PLC 122</span></a>, no <a href="http://www.brasildefato.com.br/node/13658"><span style="color: red;">PL 60/99</span></a>. Algum dos jovens da JMJ conhecerá de fato, sem preconceito, sem ideias rasas, algum desses tópicos? Terá respondido ao menos um 'sim' a alguma dentre tantas perguntas?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Uma juventude ignorante, que se recusa a saber, que <i>escolhe</i> não saber, <b>é o verdadeiro <a href="http://www.academia.edu/1305819/Da_Banalidade_do_Mal_-_Hannah_Arendt_e_o_julgamento_de_Eichmann_em_Jerusalem"><span style="color: red;">mal</span></a></b>. E, como em outros momentos da <a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Juventude_Hitlerista"><span style="color: red;">história</span></a>, pode novamente agora contribuir com sua força, energia e estupidez para piorar o mundo.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
ps: Jesus renegaria essa Igreja, esses <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Jesus_expulsando_os_vendilh%C3%B5es"><span style="color: red;">mercadores do Templo</span></a>.</div>
<div style="text-align: justify;">
ps2: links nas palavras em vermelho. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-mWtJp3v6bZY/Ue4CrOsBAoI/AAAAAAAAAww/Vm6I6vyYN04/s1600/944406_202921506526026_1035319567_n.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="http://1.bp.blogspot.com/-mWtJp3v6bZY/Ue4CrOsBAoI/AAAAAAAAAww/Vm6I6vyYN04/s400/944406_202921506526026_1035319567_n.jpg" width="266" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
tagghttp://www.blogger.com/profile/08024823052403928519noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-5220832021436383363.post-2609563755925737282013-07-18T12:15:00.004-03:002013-07-18T12:34:04.774-03:00Versos e Subversas: Jacinta Passos<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-dMwQo6vvUL8/Uef6Ue9eXjI/AAAAAAAAA_w/5buhKQu1mVA/s1600/jacintapassos05b_1949.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="http://4.bp.blogspot.com/-dMwQo6vvUL8/Uef6Ue9eXjI/AAAAAAAAA_w/5buhKQu1mVA/s400/jacintapassos05b_1949.jpg" width="237" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Menina, minha menina, </i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>carocinho de araçá, </i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>cante </i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>estude </i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>reze </i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>case </i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>faça esporte </i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>e até discurso, </i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>faça tudo o que quiser </i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>Menina! </i></div>
<div style="text-align: center;">
<i>não esqueça que é mulher. </i></div>
<div style="text-align: center;">
<i><b>Jacinta Passos
</b></i> </div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Certamente, há pouquíssimas vidas tão inspiradoras como a de Jacinta Passos (1914-1973) no Brasil (e na América!), no período em que viveu. Nascida numa cidadezinha do interior da Bahia, Cruz das Almas, numa família abastada e profundamente católica, Jacinta vai aos poucos renegar todos os valores tradicionais, assumindo uma busca incessante por sua liberdade e a de todos. Dedicada à poesia e à escritura, torna-se uma importante jornalista e ativista social na década de 40 em Salvador, abandona o catolicismo e se aproxima de intelectuais comunistas como Jorge Amado. Jonalista, intelectual e poeta, Jacinta sabia que precisava se esforçar em dobro para enfrentar os valores conservadores, machistas e patriarcais tão vivos na década de 40. Casa-se em 1944 com James Amado (irmão mais novo de Jorge Amado) e filia-se ao PCB, carregando, desde então, mais um estigma, a de militante comunista. Chegou mesmo a ser candidata em 1945 a deputada, única mulher candidata no período, mas não foi eleita. </div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-jv_q7_xobWQ/UegBLfHH_ZI/AAAAAAAABAA/SsF0HDlcF14/s1600/jacintapassos03bb_1944.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="http://4.bp.blogspot.com/-jv_q7_xobWQ/UegBLfHH_ZI/AAAAAAAABAA/SsF0HDlcF14/s400/jacintapassos03bb_1944.jpg" width="246" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Produziu uma pequena, mas fantástica obra literária que foi elogiada por Mário de Andrade e Antônio Candido. Com a ilegalidade do PCB, Jacinta passa para a militância clandestina, sempre usando de suas poesias para os trabalhos de propaganda políticas. Em 1951, encontrava-se no Rio de Janeiro quando sofre sua primeira crise nervosa com delírios, eram os sinais da esquizofrenia. Desse período em diante, já separada do marido, até o fim da sua vida viverá o preconceito múltiplo, por ser mulher, artista, comunista e, agora, "louca". Em diversos momentos, sua família justificou seus posicionamentos políticos radicais como "loucura" e foi mesmo presa em um sanatório por um prefeito que, incomodado com sua militância, alegava sua demência pela extremada virulência de suas palavras e posturas. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Seu tipo de esquizofrenia permitiria uma vida dita "comum", em
sociedade, caso fosse tratada adequadamente. Mas foi internada e
submetida à choques elétricos, injeções de insulina e tranquilizantes. Jacinta Passos sempre afirmava que era uma presa política e por isso não aceitava nenhum tipo de regalia nos manicômios. Durante os 7 anos que ficou internada, continuou escreveu regularmente, compondo à mão poemas, peças para teatro, radioteatro, aforismos, textos sobre teoria da arte, poesias e reflexões políticas (preencheu cerca de 3.348 páginas de caderno manuscritas no período, quase 560 páginas por ano, quase 16 páginas por dia). A lucidez de sua escrita, como atesta o poema abaixo, evidencia como não portava nenhum distúrbio grave que impedisse sua vida cotidiana. A sua "loucura" era ser "mulher, artista e comunista":
<b> </b></div>
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-KCt8So5fuhg/UegHG3wbUPI/AAAAAAAABAg/AchbIKm_Wvg/s1600/jacintapassos05a_1948.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://4.bp.blogspot.com/-KCt8So5fuhg/UegHG3wbUPI/AAAAAAAABAg/AchbIKm_Wvg/s320/jacintapassos05a_1948.jpg" width="228" /></a><b> </b><span style="font-size: small;"><i><b>Estudos de lógica:</b> </i></span><br />
<span style="font-size: small;"><i>O sanatório é Bahia ou Bahia é um sanatório? </i></span><br />
<span style="font-size: small;"><i>A mulher está presa porque é comunista ou é comunista porque está </i></span><br />
<span style="font-size: small;"><i>presa?</i></span><br />
<span style="font-size: small;"><i>O homem tem família porque tem propriedade privada ou </i></span><br />
<span style="font-size: small;"><i>tem propriedade privada porque tem família? </i></span><br />
<span style="font-size: small;"><i>Este homem faz </i></span><br />
<span style="font-size: small;"><i>continência porque trabalha ou </i></span><br />
<span style="font-size: small;"><i>trabalha para fazer continência? </i></span><br />
<span style="font-size: small;"><i>Os trabalhadores da arte trabalham para fazer figuração ou </i></span><br />
<span style="font-size: small;"><i>fazem figuração porque trabalham? </i></span><br />
<span style="font-size: small;"><i>Eu faço arte porque sou artista ou sou artista porque faço arte? </i></span><br />
<span style="font-size: small;"><i>(caderno 14, escrito em setembro ou outubro de 1967) </i></span><br />
<br />
<div style="text-align: center;">
</div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-6kJyy8bkxNA/UegDSwg9QuI/AAAAAAAABAQ/_KaaaLZHKc4/s1600/images.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://3.bp.blogspot.com/-6kJyy8bkxNA/UegDSwg9QuI/AAAAAAAABAQ/_KaaaLZHKc4/s320/images.jpg" width="231" /></a>O esquecimento (apagamento) da vida e obra de Jacinta corroboram o tratamento que como mulher e militante recebeu por toda sua vida. Mas, felizmente, sua luta e poesia aos poucos vão sendo resgatadas: em 2010, sua filha Janaína Amado, organizou uma bela antologia <b>"Jacinta Passos, coração militante: obra completa: poesia e prosa, biografia, fortuna crítica"</b> e também um site: <a href="http://jacintapassos.com.br/">http://jacintapassos.com.br/</a>. Alguns estudos também começam a aparecer. Para quem se interessar há um artigo de Rosângela Santos <a href="http://www.ufrb.edu.br/ebecult/wp-content/uploads/2012/04/Jacinta-passos-loucura-ou-marginalizac%C3%83%C3%9Fa%C3%83%C3%89o.pdf" target="_blank">"Jacinta Passos, loucura ou marginalização?"</a> e o livro <b>"A história esquecida de Jacinta Passos"</b> de Dalila Machado. Abaixo selecionei quatro poemas e um vídeo em que sua filha, Janaína, fala da vida de sua mãe. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Que a memóriva viva da vida e luta de Jacinta Passos, enfrentando preconceitos familiares, sociais, políticos, possam inspirar tantas outras mulheres, e homens!
<i>(por Jeff Vasques)</i><b><br /></b></div>
<br />
<br />
<span style="font-size: large;"><b>Canção do amor livre</b></span><br />
<br />
Se me quiseres amar<br />
não despe somente a roupa.<br />
<br />
Eu digo: também a crosta<br />
feita de escamas de pedra<br />
e limo dentro de ti,<br />
pelo sangue recebida<br />
tecida<br />
de medo e ganância má.<br />
Ar de pântano diário<br />
nos pulmões.<br />
Raiz de gestos legais<br />
e limbo do homem só<br />
numa ilha.<br />
<br />
Eu digo: também a crosta<br />
essa que a classe gerou<br />
vil, tirânica, escamenta.<br />
<br />
Se me quiseres amar.<br />
<br />
Agora teu corpo é fruto.<br />
Peixe e pássaro, cabelos<br />
de fogo e cobre. Madeira<br />
e água deslizante, fuga<br />
ai rija<br />
cintura de potro bravo.<br />
Teu corpo.<br />
<br />
Relâmpago depois repouso<br />
sem memória, noturno.<br />
<br />
<span style="font-size: large;"><b>Canção da liberdade</b></span><br />
<br />
Eu só tenho a vida minha.<br />
Eu sou pobre pobrezinha,<br />
tão pobre como nasci,<br />
não tenho nada no mundo,<br />
tudo que tive, perdi.<br />
Que vontade de cantar:<br />
a vida vale por si.<br />
<br />
Nada eu tenho neste mundo,<br />
Sozinha! <br />
Eu só tenho a vida minha.<br />
<br />
Eu sou planta sem raiz<br />
que o vento arrancou do chão,<br />
já não quero o que já quis,<br />
livre, livre o coração,<br />
vou partir para outras terras,<br />
nada mais eu quero ter,<br />
só o gosto de viver:<br />
<br />
Nada eu tenho neste mundo,<br />
sozinha!<br />
Eu só tenho a vida minha.<br />
<br />
Sem amor e sem saúde,<br />
sem casa, nenhum limite,<br />
sem tradição, sem dinheiro,<br />
sou livre como a andorinha,<br />
tem por pátria o mundo inteiro,<br />
pelos céus cantando voa,<br />
cantando que a vida é boa.<br />
<br />
Nada eu tenho neste mundo,<br />
Sozinha!<br />
Eu só tenho a vida minha.<br />
<br />
<br />
<span style="font-size: large;"><b>Canção da partida</b></span><br />
Bernadete é preta<br />
é preta que nem tição.<br />
Bernadete é pobre,<br />
é pobre sem um tostão.<br />
<br />
(...)<br />
<br />
- Pelo sinal da pobreza!<br />
- Pelo sinal de mulher!<br />
- Pelo sinal!<br />
da nossa cor!<br />
Nós somos gente marcada<br />
- ferro em brasa em boi zebu –<br />
ninguém precisa dizer:<br />
Bernadete, quem és tu?<br />
<br />
<br />
<span style="font-size: large;"><b>Canção atual</b></span><br />
Plantei meus pés foi aqui<br />
amor, neste chão.<br />
<br />
Não quero a rosa do tempo aberta<br />
nem o cavalo de nuvem<br />
não quero<br />
as tranças de Julieta.<br />
<br />
Este chão já comeu coisa<br />
tanta que eu mesma nem sei,<br />
bicho<br />
pedra<br />
lixo<br />
lume<br />
muita cabeça de rei.<br />
<br />
Muita cidade madura<br />
e muito livro da lei.<br />
Quanto deus caiu do céu<br />
tanto riso neste chão,<br />
fala de servo calado<br />
pisado<br />
soluço de multidão.<br />
<br />
Coisas de nome trocado<br />
– fome e guerra, amor e medo –<br />
<br />
Tanta dor de solidão.<br />
<br />
Muito segredo guardado<br />
aqui dentro deste chão.<br />
Coisa até que ninguém viu<br />
ai! tanta ruminação<br />
quanto sangue derramado<br />
vai crescendo deste chão.<br />
<br />
Não quero a sina de Deus<br />
nem a que trago na mão.<br />
Plantei meus pés foi aqui<br />
amor, neste chão.<br />
<br />
<span style="font-size: small;"><b>Entrevista com Janaina Amado sobre sua mãe, Jacinta Passos:</b></span><br />
<iframe width="420" height="315" src="//www.youtube.com/embed/yoignwdW-cg" frameborder="0" allowfullscreen></iframe>
<br />Jeffhttp://www.blogger.com/profile/03843832124810310091noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5220832021436383363.post-41817393564624004362013-07-15T17:20:00.001-03:002013-07-15T23:27:25.337-03:00Sexualidade e felicidade clandestinaspor Thais Torres<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-6MUrhRec7Js/UeRL1NSzGwI/AAAAAAAAAMI/-Bi5_h3TEdk/s1600/zp_reinaldo-arenas_traitor-yesterday-traitor-today-traitor-forever.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-6MUrhRec7Js/UeRL1NSzGwI/AAAAAAAAAMI/-Bi5_h3TEdk/s1600/zp_reinaldo-arenas_traitor-yesterday-traitor-today-traitor-forever.jpg" /></a></div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
Reinaldo Arenas é um escritor cubano que Caio Fernando Abreu, autor que estudo no doutorado, profundamente admirava. Uma descoberta fascinante e uma das melhores que fiz ao longo do tempo em que estudo os contos do escritor brasileiro. O curioso é que Arenas e Abreu são escritores diferentes, mas há muitos pontos de contato entre a vida e a obra de ambos: os dois foram - em menor ou maior medida - perseguidos por conta de suas posições políticas e de sua vida sexual. Viveram um período no exílio, algo que influenciou profundamente suas obras. Além disso, assumiram sua homossexualidade e defenderam abertamente a liberdade erótica dos sujeitos. E fizeram isso em contextos autoritários em que a mera possibilidade de liberdade de pensamento é um crime dos mais terríveis.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-CzOeYIZtr9M/UeROM7lghmI/AAAAAAAAAMw/g5qB5CC824U/s1600/antes-que-anoiteca-reinaldo-arenas_MLB-F-3074459867_082012.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://2.bp.blogspot.com/-CzOeYIZtr9M/UeROM7lghmI/AAAAAAAAAMw/g5qB5CC824U/s320/antes-que-anoiteca-reinaldo-arenas_MLB-F-3074459867_082012.jpg" width="214" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Em sua auto-biografia, <i>Antes que anoiteça</i>, Arenas relata sua infância pobre no interior de Cuba, o breve período em que lutou no exércíto de Fidel Castro, sua juventude sexualmente livre passada à beira do mar do Caribe e a longa perseguição que sofreu por parte da ditadura castrista. Foi duramente perseguido por conta de suas posições políticas assumidas com muita coragem em um regime que punia qualquer liberdade erótica ou intelectual com a maior severidade. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O livro é maravilhoso, extremamente bem escrito e de uma honestidade muito incomum. Trata-se daquele tipo de leitura que entretém e incomoda. Se, de um lado, a habilidade de escrita do autor torna a leitura um prazer, os assuntos abordados no livro são tão tristes e revoltantes que o prazer se transforma em dor e indignação. Já não sabemos mais o que sentimos com a leitura.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Um pequeno trecho em que Arenas descreve o período em que ele passou na prisão de El Morro:</div>
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
<i> (...) aquela galeria número sete onde me confinaram; não era exatamente o lugar dos homossexuais, e sim dos presos que cometeram os mais diversos crimes. Os homossexuais ocupavam as piores galeiras de El Morro: as galerias subterrâneas que ficavam inundadas quando a maré subia; um lugar asfixiante e sem banheiro. Os homossexuais não eram tratados como seres humanos e sim como animais. Eram sempre os últimos a comer e por causa de uma besteira qualquer apanhavam cruelmente.</i></div>
</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<br />
<div style="text-align: justify;">
De minha parte, posso dizer que faço como a Clarice Lispector-menina em <i>Felicidade Clandestina. </i>Aquela personagem que, após um longo e humilhante processo, consegue ter em mãos o livro que tanto deseja, mas que adia o fim da leitura, criando "as mais falsas dificuldades para essa coisa clandestina que era a felicidade". </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Para além das minhas leituras, fico pensando na profundidade dessa sentença da Clarice. A felicidade é mesmo algo muito clandestino e proibido, sobretudo em contextos autorítários. E fica a pergunta: por que as ditaduras têm tanto medo da plenitude sexual?</div>
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
Seguem alguns trechos do livro. Escolhi alguns que falam exatamente de maneira muito sensata sobre o risco que a felicidade e a liberdade erótica trazem. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-t6DD9JouTSs/UeRQ55rcR4I/AAAAAAAAANA/hxkEdLcjvJY/s1600/reinaldo-arenas.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://1.bp.blogspot.com/-t6DD9JouTSs/UeRQ55rcR4I/AAAAAAAAANA/hxkEdLcjvJY/s320/reinaldo-arenas.jpg" width="245" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
(...) <i>o fato é que o prazer sexual se paga quase sempre muito caro; mais cedo ou mais tarde, por cada minuto de prazer que vivemos, passamos depois anos de sofrimento; não se tratava da vingança de Deus, é a vingança do Diabo, inimigo de tudo o que é belo. O belo, porém, sempre foi perigoso. Martí dizia que aquele que traz a luz permanece sozinho; eu diria que aquele que pratica certa beleza é, mais cedo ou mais tarde, completamente destruído. A humanidade não tolera a beleza, talvez porque não possa viver sem ela; o horror da feíúra avança cada dia a passos acelerados.</i></div>
</blockquote>
<br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-OpCyV9qlL2A/UeRS_KWSASI/AAAAAAAAANQ/23CiWDs6XZs/s1600/images.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://1.bp.blogspot.com/-OpCyV9qlL2A/UeRS_KWSASI/AAAAAAAAANQ/23CiWDs6XZs/s1600/images.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<br />
<blockquote class="tr_bq">
<div style="text-align: justify;">
<i>Uma das características mais lamentáveis da tirania é que levam tudo a sério e fazem desaparecer o senso de humor. Historicamente, os cubanos sempre fugiram da realidade através da sátira e da zombaria, mas com o advento de Fidel Castro o senso de humor foi desaparecendo até ser totalmente proibido; assim, o povo cubano perdeu uma de suas poucas possibilidades de sobrevivência; ao lhe tirarem o riso, tiraram-lhe também o mais profundo sentido das coisas. Sim, as ditaduras são pudicas, metidas a importantes e absolutamente enfadonhas.</i></div>
</blockquote>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Há um filme absolutamente imperdível que conta a história de Reinaldo Arenas. Quem faz o papel do escritor é ninguém menos do que o maravilhoso e brilhante Javier Barden. O filme tem a participação especial de Johnny Deep, no papel de um homossexual preso na cadeia de El Morro e que ajuda Arenas a levar seus manuscritos para fora do país. É uma livre adaptação da auto-biografia que recomendo aqui, mas um filme tão bacana e sensível quanto o livro.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O filme está no youtube, de graça!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/EdiNtMw2edo?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/07131670148612087568noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5220832021436383363.post-23019462537096016032013-07-11T12:13:00.000-03:002013-07-12T11:59:33.172-03:00Versos e Subversas: Gioconda Belli<!--[if gte mso 9]><xml>
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<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-TbYT5IEYRXQ/Ud7HR509DOI/AAAAAAAAA-s/crLkuoKjW0c/s1600/belli01_body.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="640" src="http://3.bp.blogspot.com/-TbYT5IEYRXQ/Ud7HR509DOI/AAAAAAAAA-s/crLkuoKjW0c/s640/belli01_body.jpg" width="537" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="font-family: "Times New Roman","serif";"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Times,"Times New Roman",serif;"><span style="font-size: large;">Gioconda
Belli (Nicarágua, 1948) é uma das poetas nicaraguenses mais conhecidas dentro e fora de seu país.
Ainda jovem se integrou às fileiras da Frente Sandinista de Libertação Nacional
(FSLN) na luta pela derrubada do governo ditatorial de Somoza. Foi correio
clandestino, transportou armas, viajou pela Europa e América recolhendo
recursos e divulgando a luta sandinista. E, claro, no meio de tudo isso,
escrevia suas poesias. Com o triunfo da Revolução Nicaraguense, em 1979, ocupou
vários cargos dentro do governo revolucionário. Com a posterior burocratização
do partido no poder, Gioconda se afasta da FSLN e passa a criticar duramente
seu “endireitamento”.</span></span></div>
<span style="font-family: Times,"Times New Roman",serif;"><span style="font-size: large;">
</span></span>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
</div>
<span style="font-family: Times,"Times New Roman",serif;"><span style="font-size: large;">
</span></span><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Times,"Times New Roman",serif;"><span style="font-size: large;">De início, a poesia de Belli, produzida
no contexto da revolução nicaraguense, coloca grande ênfase na união dos
nicaragüenses contra a tirania de Somoza, tratando o amor de um casal como metáfora <span style="font-size: large;">da</span> unidade sociopolítica e de gênero em oposição a tirania. Esse
amor era "arma contra a opressão… o desejo dionisíaco que vence a morte, o
desespero". Belli apresentava, então, a mulher como a entidade destinada
principalmente a dar amor, associada com o sentimental e com o passivo. Ela era
a natureza e a paisagem nicaragüenses, a terra que esperava ser possuída pelo amante-guerrilheiro
(ativo, forte e que domina o espaço público), dicotomia de gênero própria do
universo patriarcal.</span></span></div>
<span style="font-family: Times,"Times New Roman",serif;"><span style="font-size: large;">
</span></span>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-family: Times,"Times New Roman",serif;"><span style="font-size: large;">
</span></span>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-family: Times,"Times New Roman",serif;"><span style="font-size: large;"><a href="http://3.bp.blogspot.com/-puIn0bdvYYQ/Ud7IRd7djmI/AAAAAAAAA-4/VRkF3SqIDAA/s1600/tumblr_m28fecr4IF1qc3zuko1_400.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="http://3.bp.blogspot.com/-puIn0bdvYYQ/Ud7IRd7djmI/AAAAAAAAA-4/VRkF3SqIDAA/s400/tumblr_m28fecr4IF1qc3zuko1_400.jpg" width="265" /></a></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Times,"Times New Roman",serif;"><span style="font-size: large;">Porém,
Belli também já incluía em seus versos elementos inovadores da representação feminina,
fissuras no discurso patriarcal que evidenciavam a negociação que a escritora fazia
entre o tradicional e o novo. Com a
vitória da revolução nicaraguense, essas fissuras vão aos poucos crescendo
e uma nova identidade feminina vai se assumindo como voz dominante em sua poética, ainda que com recaídas
próprias das tensões com o velho discurso. Belli realiza uma corajosa autocrítica
do eu-feminino, reconhece o excessivo idealismo com que encarava as relações
amorosas, passa a questionar abertamente a submissão da mulher e a defender que esta possa estabelecer seus próprios limites, suas
próprias regras, o que realmente quer ou não quer no amor. </span></span></div>
<span style="font-family: Times,"Times New Roman",serif;"><span style="font-size: large;">
</span></span>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-family: Times,"Times New Roman",serif;"><span style="font-size: large;">
</span></span>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Times,"Times New Roman",serif;"><span style="font-size: large;">Vista
em sua totalidade, a poesia de Belli é um fantástico registro da trajetória do eu<span style="font-size: large;">-</span>feminino, com seus conflitos e contradições de identidade até uma consciência
feminista. Um retrato bastante genuíno das latinoamericanas-lutadoras do século
XX e começo do XXI, com seus acertos e também com sua incansável negociação com
a opressão tradicional de nossa cultura machista e patriarcal. </span></span></div>
<span style="font-family: Times,"Times New Roman",serif;"><span style="font-size: large;">
</span></span>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-family: Times,"Times New Roman",serif;"><span style="font-size: large;">
</span></span>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Times,"Times New Roman",serif;"><span style="font-size: large;">Jeff
Vasques</span></span></div>
<span style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;">
</span>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<span style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;">
</span>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;"> </span></div>
<span style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;">
</span>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="background-color: #fce5cd; font-size: large;"><b>NOVA TESE
FEMINISTA</b></span></span></div>
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: large;">
</span></span>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: large;">(Gioconda
Belli, tradução de Jeff Vasques) </span></span></div>
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: large;">
</span></span>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></div>
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: large;">
</span></span>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Como te dizer</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">homem</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">que não te necessito?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Não posso cantar a liberação
feminina</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">se não te canto</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">e te convido a descobrir
liberações comigo.</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Não me agrada a gente que se
engana</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">dizendo que o amor não é
necessário</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">-"tenha medo, eu tremo"</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Há tanto novo que aprender,</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">formosos homens da caverna a
resgatar,</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">novas maneiras de amar que ainda
não inventamos.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Em nome próprio declaro</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">que gosto de me saber mulher</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">frente a um homem que se sabe
homem,</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">que sei de ciência certa</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">que o amor</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">é melhor que as multi-vitaminas,</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">que o casal humano</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">é o princípio inevitável da vida,</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">que por isso não quero jamais
liberar-me do homem;</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">o amo</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">com todas suas debilidades</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">e gosto de compartilhar sua
teimosia</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">todo este amplo mundo</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">onde ambos somos imprescindíveis.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Não quero que me acusem de mulher
tradicional</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">mas podem me acusar</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">tantas como quantas vezes queiram</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">de mulher.</span></div>
<span style="font-family: inherit;">
</span>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: large;"><br /></span></span></div>
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: large;">
</span></span>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: large;"></span></span></div>
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: large;">
</span></span>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: inherit;"><span style="background-color: #fce5cd;"><b>REGRAS DO
JOGO PARA OS HOMENS QUE QUEIRAM MULHERES MULHERES </b></span></span></div>
<span style="font-family: inherit;">
</span>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit;">(Gioconda
Belli, tradução de Silvio Diogo) </span></div>
<span style="font-family: inherit;"><span style="font-size: large;">
</span></span>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;"><br /></span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: large;">
</span>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">I</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O homem que me amar</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">deverá saber abrir as cortinas da
pele,</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">encontrar a profundidade de meus
olhos</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">e conhecer o que se aninha em
mim,</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">a andorinha transparente da
ternura.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">II </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O homem que me amar</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">não desejará possuir-me como uma
mercadoria,</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">nem me exibir como troféu de
caça,</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">saberá estar a meu lado</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">com o mesmo amor</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">com o qual estarei ao lado seu.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">III</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O amor do homem que me amar</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">será forte como as árvores de
ceibo,</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">protetor e seguro como elas,</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">puro como uma manhã de dezembro.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">IV</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O homem que me amar</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">não duvidará de meu sorriso</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">nem temerá a abundância de meu cabelo,</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">respeitará a tristeza, o silêncio</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">e com carícias tocará meu ventre
como violão</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">para que brotem música e alegria</span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">do fundo de meu corpo.</span><br />
<br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">V</span><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O homem que me amar</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">poderá encontrar em mim</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">a rede onde descansar</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">do pesado fardo de suas
preocupações,</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">a amiga com quem compartilhar
seus íntimos segredos,</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">o lago onde flutuar</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">sem medo de que a âncora do
compromisso</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">o impeça de voar quando queira
ser pássaro.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">de vir a ser pássaro.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">VI</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O homem que me amar</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">fará poesia com sua vida,</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">construindo cada dia</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">com o olhar posto no futuro.</span></div>
<br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">VII</span><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Acima de todas as coisas,</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">o homem que me amar</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">deverá amar o povo</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">não como uma palavra abstrata</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">tirada da manga,</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">mas como algo real, concreto,</span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">a quem render homenagem com ações</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">e dar a vida, se necessário.</span><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">VIII</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O homem que me amar</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">reconhecerá meu rosto na
trincheira</span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">joelhos no chão me amará</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">enquanto os dois disparam juntos</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">contra o inimigo.</span><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">IX</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O amor de meu homem</span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">não conhecerá o temor da entrega,</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">nem terá medo de se descobrir
ante a magia da paixão</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">em uma praça cheia de multidões.</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Poderá gritar - te amo -</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">ou colocar placas no alto dos
edifícios</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">proclamando seu direito de sentir</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">o mais lindo e humano dos
sentimentos.</span><br />
<br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">X</span><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O amor de meu homem</span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">não fugirá das cozinhas,</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">nem das fraldas do filho,</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">será como um vento fresco</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">levando consigo, entre nuvens de
sonho e de passado,</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">as fraquezas que, durante séculos,
nos mantiveram separados</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">como seres de distintas estaturas.</span><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">XI</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">O amor de meu homem</span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">não desejará rotular ou etiquetar,</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">me dará ar, espaço,</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">alimento para crescer e ser
melhor,</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">como uma Revolução</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">que faz de cada dia</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">o começo de uma nova vitória.</span><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: #fce5cd; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><b>NÃO ME ARREPENDO DE NADA</b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">(Gioconda
Belli, tradução base de Silvio Diogo, versão de Jeff Vasques) </span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Daqui,
da mulher que sou,</span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">às
vezes me entrego a contemplar</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">aquelas
que eu podia ter sido;</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">as
mulheres primorosas,</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">modelo
de virtudes,</span><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">trabalhadoras
boas esposas</span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">que
minha mãe desejou para mim.</span><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Não
sei por quê</span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">passei
minha vida inteira me rebelando</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">contra
elas</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">odeio
suas ameaças em meu corpo</span><br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">a
culpa que suas vidas impecáveis</span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">por
um estranho feitiço,</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">me
inspiram;</span><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">revolto-me
contra seus bons ofícios,</span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">os
prantos noturnos sob o travesseiro,</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">às
escondidas do marido</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">o
pudor da nudez, por baixo da passada e engomada</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">roupa
íntima.</span><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Estas
mulheres, no entanto,</span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">olham-me
do interior de seus espelhos,</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">levantam
um dedo acusador</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">e,
às vezes, cedo a seus olhares de reprimenda</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">e
gostaria de ter a aceitação universal,</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">ser
a “boa menina”, a “mulher decente”</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">a
impecável Gioconda,</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">tirar
dez em conduta</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">com
o partido, o estado, as amizades,</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">minha
família, meus filhos e todos os demais seres</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">que,
abundantes, povoam este nosso mundo.</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;"><br /></span>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">Nesta
contradição invisível</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">entre
o que deveria ter sido e o que é</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">travei
numerosas batalhas mortais,</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">batalhas
inúteis delas contra mim</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">-
elas contra mim que sou eu mesma -</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;"><br /></span>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">Com
a “psique dolorida” despenteio-me</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">transgredindo
ancestrais programações</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">desgarrando-me
das mulheres internas</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">que,
desde a infância, torcem o rosto para mim</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">pois
não me encaixo no molde perfeito de seus sonhos,</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">pois
me atrevo a ser esta louca falível, terna e vulnerável</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">que
se apaixona feito puta triste</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">por
causas justas, homens bonitos e palavras brincalhonas</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">pois,
já adulta, atrevi-me a viver a infância proibida,</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">e
fiz amor sobre escrivaninhas em horários comerciais</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">e
rompi laços invioláveis e me atrevi a desfrutar</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">o
corpo são e sinuoso com que os genes</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">de
todos os meus ancestrais me dotaram.</span><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Não
culpo ninguém. Melhor, agradeço a eles pelos dons.</span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">Não
me arrependo de nada, como disse Edith Piaf.</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">Porém,
nos poços escuros em que me afundo;</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">nas
manhãs em que, ao entreabrir os olhos,</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">sinto
as lágrimas fazerem força</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">apesar
da felicidade</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">que
finalmente conquistei</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">rompendo
estratos e camadas de rocha terciária</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">e
quaternária,</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">vejo
minhas outras mulheres sentadas no vestíbulo</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">fitando-me
com olhos doídos</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">e
me culpe pela felicidade.</span><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Irracionais
boas meninas</span></div>
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">rodeiam-me
e desfilam suas canções infantis contra mim;</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">contra
esta mulher</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">feita</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">plena</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">esta
mulher de peitos em peito</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">e
largos quadris</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">que,
por minha mãe e contra ela,</span><br />
<span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">eu
gosto de ser.</span>Jeffhttp://www.blogger.com/profile/03843832124810310091noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5220832021436383363.post-39660232103086958372013-07-09T19:22:00.001-03:002013-07-10T02:32:05.838-03:00Sobre a violência psicológica<div style="text-align: justify;">
<i>por Maria C.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-gCberT0YRAs/UdyKn2qqeVI/AAAAAAAAAvc/W4Y2DBB_ApI/s1600/images+(2).jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="259" src="http://2.bp.blogspot.com/-gCberT0YRAs/UdyKn2qqeVI/AAAAAAAAAvc/W4Y2DBB_ApI/s400/images+(2).jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Há uma forma de violência invisível, que estilhaça lentamente sem que vestígios evidentes de um crime sejam deixados. Falo da violência psicológica que se desenvolve no ambiente doméstico, em especial na vida a dois. Eis o drama: a falta de evidências materiais. Já foi escrito <a href="http://subvertidas.blogspot.com.br/2012/09/violencia-psicologica.html"><span style="color: #cc0000;">um post aqui</span></a>, muito bom, por sinal, tratando da violência psicológica.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Temos uma legislação que protege da violência psicológica ou mesmo da violência moral que se perpetra contra a mulher no ambiente doméstico, art. 5º I e 7º, II da Lei 11.340/06:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<blockquote class="tr_bq">
“configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial no âmbito da unidade doméstica”.</blockquote>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-UC4mR5TCtZo/UdyKyIK6DYI/AAAAAAAAAvk/sjiSEpINuJM/s1600/images.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" src="http://2.bp.blogspot.com/-UC4mR5TCtZo/UdyKyIK6DYI/AAAAAAAAAvk/sjiSEpINuJM/s1600/images.jpg" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Numa relação doméstica e/ou afetiva, a violência moral ocorre quando uma das partes, o dominador relativamente à outra, sua vítima, age repetidamente por palavras, gestos e atitudes a fim de aprisioná-la na relação: o dominado o seguirá inicialmente para satisfazê-lo, posteriormente por medo de frustrá-lo. Já a violência psicológica, também de cunho invisível e sutil, mas que dispensa o caráter habitual, é prevista expressamente nos arts. 147, 148, 139 e 140 do CP. Ou seja, ocorre violência psicológica quando a mulher é ameaçada da prática de algum outro crime ou violência dentro de seu ambiente doméstico, quando sofre injúria ou difamação – é ofendida em sua dignidade, é xingada. O clássico “vadia, puta”, ou então “sua inútil, imbecil, idiota, imprestável”, pode configurar esse crime.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Há inúmeras outras figuras que configuram estas espécies de violência: constrangimento ilegal, cárcere privado, vias de fato, abandono material, e ainda há a importante questão da violência patrimonial, tratada na esfera cível. Sabemos da dificuldade residente na denúncia destas espécies de crime. Mas o silêncio nunca levará à vitória ou à punição dos agressores.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-1p0D4YwebX0/UdyLF275rpI/AAAAAAAAAvw/bep5OUxKpyc/s1600/LeiMariadaPenha-500x333.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="212" src="http://3.bp.blogspot.com/-1p0D4YwebX0/UdyLF275rpI/AAAAAAAAAvw/bep5OUxKpyc/s320/LeiMariadaPenha-500x333.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
E não se preocupe com seu marido, ninguém irá prendê-lo, torturá-lo! A Lei Maria da Penha prevê diversas medidas alternativas, esta é uma de suas qualidades – que se não encaradas com seriedade, se tornam em defeitos, em razão da inefetividade – assim, de início, determinam-se aos réus a participação em grupos de terapia, depois em medidas de afastamento, etc. O grande problema consiste no fato de que, bem ou mal, a família é uma instituição central no ordenamento jurídico (art. 226, CF), e nada obstante a mesma norma constitucional, em seu § 8º, determina que “O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações.”</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Intervir nos relacionamentos familiares implica na ingerência pública do espaço privado, permitindo-se a exposição predefinida e o respectivo questionamento dos papéis de cada um dos membros da família. Tal situação é extremamente desconfortável ao anteriormente estatuído, às situações dominadoras precedentes. Nesse ambiente se demonstra que os agressores consistem naqueles a quem a mulher está emocionalmente ligada: seu pai, padrasto, marido, filho (por vezes até mãe), conforme preceituado na Lei Maria da Penha, tratam-se das pessoas a quem a mulher está relacionada no ambiente doméstico e a quem se subjuga.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Em contrapartida, nada obstante a sutileza das formas criminosas, que evoluem para aspectos cruéis (tais como lesões graves e homicídios), a depender do grau de tolerância social, a relação de dominação – no caso de violência moral e psicológica – costuma ser aceita enquanto instrumento de educação ou coerção. Esta situação é reforçada pelos relatos de mulheres que procuraram delegacias de polícia (ao menos na região sul) e que, tendo relatado situações de violência moral ou psicológica foram orientadas a 'conversar melhor com seus maridos', e também ouviram que 'isso não era violência'.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-JOq1XP2PglY/UdyLM3CQjfI/AAAAAAAAAv0/gV96iVabsTo/s1600/a+exija+seus+direitos.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="202" src="http://1.bp.blogspot.com/-JOq1XP2PglY/UdyLM3CQjfI/AAAAAAAAAv0/gV96iVabsTo/s320/a+exija+seus+direitos.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Não sabemos se os policiais em questão estavam apenas com má-vontade, se estavam mal informados, ou se apenas eram machistas descumprindo deliberadamente a Lei material (Maria da Penha) e seu dever funcional de lavrar o Boletim de Ocorrência ante a notícia criminosa. De todo modo, devemos relatar a todas as mulheres que, diante de uma situação destas, em qualquer delegacia, o escrivão, o atendente, seja lá quem for, tem dever funcional de lavrar o Boletim de Ocorrência, pois incumbe apenas ao Juiz de Direito, através de uma sentença decidir se aquilo que você relatou configura crime ou não. Enfim, o policial não pode se recusar a lavrar o Boletim, por dizer que é 'briga de marido e mulher, e que é negócio de flores e tal'.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Nesse caso, anote o nome do policial, sua patente, seus dados, procure imediatamente a Defensoria Pública local, relate o caso (a violência doméstica sofrida, especialmente a exclusivamente psicológica e/ou moral), e também denuncie o policial ao Defensor Público. Caso em seu Estado não exista Defensoria Pública (como no Paraná, Santa Catarina e Goiás), vá direto ao Ministério Público local.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O mais difícil já foi feito, o direito foi previsto em lei. Vamos fazer com que o cumpram!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
BIBLIOGRAFIA:</div>
<div style="text-align: justify;">
PORTO, Madge. COSTA, Francisco, Pereira. Estudos de Psicologia (Campinas) Vol. 27. Nº 4. Campinas Oct/Dec. 2010. Lei Maria da Penha: as representações do judiciário sobre a violência contra as mulheres. http://dx.doi.org/10.1590/S0103-166X2010000400006</div>
<div style="text-align: justify;">
HIRIGOYEN, Marie-France. Assédio Moral: A violência perversa no cotidiano. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.</div>
tagghttp://www.blogger.com/profile/08024823052403928519noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5220832021436383363.post-14465637397048055822013-07-05T16:17:00.001-03:002013-07-05T16:27:38.668-03:00"Faço porque gosto"<div class="" style="clear: both; text-align: justify;">
por Thais Torres</div>
<div class="" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://4.bp.blogspot.com/-8VIqmCjOL8w/UdRPGHlLHGI/AAAAAAAAALk/7w3dIFFukaE/s600/lola09.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="238" src="http://4.bp.blogspot.com/-8VIqmCjOL8w/UdRPGHlLHGI/AAAAAAAAALk/7w3dIFFukaE/s320/lola09.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div class="" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="" style="clear: both; text-align: justify;">
Recentemente, Gabriela Natália da Silva, conhecida como Lola Bevenutti, ganhou destaque na Internet. 21 anos, bonita e formada em Letras na UFSCAR, Gabriela decidiu ganhar a vida como prostituta, algo que muitas jovens estudantes fazem o tempo todo. O que chamou atenção não foi propriamente sua profissão, mas o motivo que ela alega ter sido determinante na escolha deste meio de vida. <b><a href="http://g1.globo.com/sp/sao-carlos-regiao/noticia/2013/04/faco-porque-gosto-revela-garota-de-programa-recem-graduada-em-letras.html">Em entrevista concedida para o canal de notícias G1</a></b>, Gabriela afirma:</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<blockquote class="tr_bq">
<div class="" style="clear: both;">
Sempre gostei de sexo, então tinha um desejo secreto de trabalhar com isso e não há nada mais justo. Faço porque gosto.</div>
</blockquote>
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
O que choca as pessoas não é o fato de Gabriela ser uma garota de programa bonita e inteligente, mas o fato de ela afirmar que gosta disso e que não se prostitui para pagar as contas ou sustentar os filhos pequenos. </div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
A imagem da prostituta sofrida e humilhada permeia a Literatura Ocidental (talvez a oriental também, mas minha ignorância não me permite afirmar isso categoricamente). Vide Sonya, de <i>Crime e castigo</i> ou Fantine, de <i>Os miseráveis</i>. Um dos exemplos mais relevantes para nossa cultura está na Bíblia. Apesar da violência que a Igreja dirigiu às prostitutas ao longo da história, o livro sagrado dos católicos relata que, além de Maria, foi Maria Madalena, uma ex-prostituta, a única pessoa que esteve ao lado de Cristo durante a crucificação (apenas duas mulheres o acompanharam, portanto). Além disso, Madalena foi a primeira a constatar o milagre máximo e fundador do cristianismo: a ressurreição de Cristo.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Encontrei na Internet uma lista de 10 mulheres que interpretaram prostitutas no cinema e ganharam um Oscar pela atuação.<b> <a href="http://br.tv.yahoo.com/fotos/10-prostitutas-amadas-pelo-oscar-slideshow/prostitutas-oscar-photo--279916333.html">A lista</a></b> é antiga e não inclui <i> </i>Anne Hathaway<i>, </i>que ganhou<i> </i>o Oscar este ano pela interpretação da famosa prostituta da obra de Victor Hugo.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://1.bp.blogspot.com/-WCg-VCmT_7I/UdRHw84u_QI/AAAAAAAAALU/CWQFK1GRW6E/s1280/LesMisFantineCrying.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="200" src="http://1.bp.blogspot.com/-WCg-VCmT_7I/UdRHw84u_QI/AAAAAAAAALU/CWQFK1GRW6E/s320/LesMisFantineCrying.png" width="320" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
O curioso é que poucas são as prostitutas que durante todo o filme ou livro agem e argumentam sobre suas escolhas como a jovem e real Gabriela. A dama das Camélias, de Alexandre Dumas, por exemplo, diverte-se muito no início da história, mas acaba se apaixonando, sendo rejeitada pela família do rapaz e, após ser obrigada a abandoná-lo, sofre e morre tragicamente, arrependida de suas escolhas. </div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Os exemplos são inúmeros. Basta lembrar de Vivian, a pretty woman de Julia Roberts ou mesmo da brasileiríssima Bruna surfistinha. Ambas vivem uma história de Cinderela, apaixonam-se por um homem rico e compreensivo, que as acolhe, enriquece e faz com que elas saiam da prostituição e adotem, de corpo e alma, padrões burgueses de comportamento, moda e estilo. Além, é claro, de serem fiéis e, portanto, felizes para sempre.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-3zw8uiwd7iw/UdcagRrS3hI/AAAAAAAAAL0/LfVjDf-YT2A/s1600/pretty-woman-1990-19-g.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="http://2.bp.blogspot.com/-3zw8uiwd7iw/UdcagRrS3hI/AAAAAAAAAL0/LfVjDf-YT2A/s320/pretty-woman-1990-19-g.jpg" width="220" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
A imagem que cerca as prostitutas na literatura e no cinema é permeada pela culpa, pela dor e pelo sofrimento. Às vezes, algum glamour. Fico pensando qual é a vida real dessas mulheres e não consigo deixar de pensar que elas não ficam imunes ao desprezo e ao preconceito que um sociedade machista e conservadora como a nossa dirige a elas.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Não sei se vocês se lembram da <b><a href="https://www.youtube.com/watch?v=ikzC29rV75A">Luisa Marilac</a></b>. Celebridade instantânea da Internet, ela ficou famosa com um vídeo em que afirmava "não estar na pior", mergulhava em uma piscina localizada em um suposto ponto turístico do verão europeu. O uso precário da língua portuguesa e a falta de elegância real explicitavam a tentativa canhestra de forjar um pertencimento a uma elite a qual ela não pertencia. Elite essa que, por fim, riu de Luisa Marilac às gargalhadas ao longo de um (curto) período. De alguma forma, parecia engraçadíssimo rir da tentativa dela de tentar se parecer com quem a desprezava por completo.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Eu mesma, não posso ser hipócrita, ri de Luisa Marilac. Mas o riso tornou-se amarelo, constrangido e culpado quando recentemente vi outros videos no youtube protagonizados por ela. Em comum, só os erros de concordância. Nada mais.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/hAGaL9fpky8?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
O submundo da prostituição e a luta pela sobrevivência retratados nos vídeos tornam impossível o riso. Marilac conta sobre o dia em que quase morreu após um espancamento e pergunta, com a maior naturalidade, sobre as artimanhas que as jovens travestis adotam para não serem linchadas pelos "garotos que saem da balada". Parece comum apanhar, ser humilhada e forçada a fazer sexo de uma maneira que elas não desejam. Afinal, parece ser isso que as pessoas acreditam que elas - prostitutas, travestis, garotos de programa ou qualquer outra pessoa que faz sexo por pouco dinheiro - merecem.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
Mesmo assim, muitas afirmam que "Faço porque preciso, mas eu gosto também", discurso que ecoa o da privilegiada ex-aluna da UFSCAR. Nos dois lados da prostituição, quer seja a menina rica que opta por fazer sexo por muito dinheiro ou a travesti pobre que faz o mesmo por poucos trocados, há o mesmo discurso: algumas optam por isso espontaneamente. Dois fatos me chamam a atenção:</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
1. Ao que parece, não é possível conceder o Oscar - ou ganhar notoriedade literária - para uma atriz que tenha interpretado uma personagem que QUER, DESEJA e GOSTA da prostituição. Seja ela rica ou pobre, em algum momento - no início ou no fim do filme ou romance, não importa - ela terá que sofrer.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
2. Prostitutas - pobres e ricas - sempre foram estigmatizadas por simbolizar um universo em que o sexo se sobrepõe a todos os outros valores e interesses. Trata-se, segundo o filósofo francês George Bataille e o resto do mundo, de uma forma de sexo complementar ao casamento. Colabora com a manutenção do sexo ordenado e socialmente aceito, pois trata-se da institucionalização da transgressão. Cito Bataille, só para terminar:</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<blockquote class="tr_bq">
<div class="separator" style="clear: both;">
O aspecto sagrado do erotismo (que as prostitutas incorporam, pois o universo em que elas se inserem celebra a necessidade do sexo e do prazer) convinha mais ainda à Igreja. Isso foi para ela a razão maior para maltratar (as prostitutas). Ela queimou bruxas e dexou vivas as mulheres do baixo meretrício. Mas afirmava a decadência da prostituição e se servia dela para sublinhar o caráter do pecado.</div>
</blockquote>
</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/07131670148612087568noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-5220832021436383363.post-21259032725160380752013-07-04T12:20:00.000-03:002013-07-04T12:21:32.143-03:00Versos e subversas: Violeta Parra<!--[if gte mso 9]><xml>
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<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-LhryQX58xjw/UdWOnRM6M2I/AAAAAAAAA-M/761YTqhGSAA/s269/violeta1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://3.bp.blogspot.com/-LhryQX58xjw/UdWOnRM6M2I/AAAAAAAAA-M/761YTqhGSAA/s269/violeta1.jpg" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-size: small;"><span style="font-family: "Palatino Linotype";">VIOLETA
PARRA (Chile, 1917-1967)</span></span></b></div>
<div style="text-align: justify;">
Cantora e compositora, poeta, ceramista, tecelã, pintora, pesquisadora e
militante comunista, Violeta realizou seus estudos escolares até o segundo ano
do secundário, abandonando-os em <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/1934" title="1934">1934</a>, para trabalhar e cantar com seus irmãos em bares e circos,
desenvolvendo uma importante carreira como autodidata desde muito cedo. Em <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/1952" title="1952">1952</a> começou a
pesquisar as raízes folclóricas chilenas e compôs os primeiros temas musicais
que a fariam famosa. Em <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/1954" title="1954">1954</a>,
quando já tinha o seu próprio programa de rádio, começou um rigoroso estudo das
manifestações artísticas populares. Durante o ano de <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/1955" title="1955">1955</a> visitou a <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Uni%C3%A3o_Sovi%C3%A9tica" title="União Soviética">União Soviética</a>, <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Londres" title="Londres">Londres</a> e <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Paris" title="Paris">Paris</a>, cidade onde
residiu por dois anos. Em 1958 começa importante produção como artista
plástica, chegando a expor no Louvre. Violeta Parra pode ser considerada a mãe
da canção comprometida com a luta d@s oprimid@s e explorad@s, influenciando e
inspirando milhares de artistas e trabalhadores na América e no mundo. Abaixo
segue uma canção de Violeta, traduzida; um trecho curto de uma entrevista em que deixa clara sua posição acerca do caráter de sua arte; e um documentário (em espanhol) sobre
essa mulher fascinante. Há uma ficção recente, chamada “Violeta se fue a los cielos”,
de Andrés Woods, que apesar de não retratar tão intensamente a veia política da vida de
Violeta, traz um tanto da poesia e luta dessa artista múltipla. Violeta Parra é uma mulher lutadora de "nuestra américa" que tod@s precisam conhecer!</div>
<br />
<br />
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="//www.youtube.com/embed/sY7qcuvs-6k" width="420"></iframe>
<br />
<br />
<span style="font-size: large;">
</span><br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: large;"><b>Porque os pobres não têm </b></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b>(Violeta Parra)</b></div>
<div class="MsoNormal">
</div>
<b>
</b>Porque os pobres não têm<br />
pra onde dirigir a vista,<br />
a voltam para os céus<br />
com a esperança infinita<br />
de encontrar o que seu irmão<br />
neste mundo lhe tira.<br />
<br />
pombinha!<br />
que coisas têm a vida,<br />
ai zambita!*<br />
<br />
Porque os pobres não têm<br />
pra onde dirigir a voz,<br />
a voltam para os céus<br />
buscando uma confissão<br />
já que seu irmão não escuta<br />
a voz de seu coração.<br />
<br />
Porque os pobres não têm<br />
neste mundo esperanças,<br />
se amparam na outra vida<br />
como a uma justa balança,<br />
por isso as procissões,<br />
as velas, os louvores.<br />
<br />
De tempos imemoriais<br />
que se inventou o inferno<br />
para assustar aos pobres<br />
com seus castigos eternos,<br />
e o pobre, que é inocente,<br />
com sua inocência crendo.<br />
<br />
O céu tem as rendas,<br />
a terra e o capital,<br />
e os soldados do Papa<br />
lhes enche bem o embornal,<br />
e ao que trabalha lhe metem<br />
a glória como um cabresto.<br />
<br />
Para seguir a mentira,<br />
o chama seu confessor,<br />
lhe diz que deus não quer<br />
nenhuma revolução,<br />
nem papéis nem sindicatos,<br />
que ofendem seu coração.<br />
<br />
* <i>zamba: é uma dança cantada popular do noroeste da Argentinae que se espalhou por outras partes da América Latina.</i><br />
<br />
<b><span style="font-size: large;">Entrevista com Violeta Parra</span></b><br />
<br />
<br />
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="//www.youtube.com/embed/ME4srqqF2YE?list=PL545A25A49E137999" width="560"></iframe><br />
<br />
<br />
<b><span style="font-size: large;">Documentário sobre Violeta Parra (em espanhol)</span></b><br />
<br />
<iframe allowfullscreen="" frameborder="0" height="315" src="//www.youtube.com/embed/bLDkrtjU6Hs" width="420"></iframe>
<br />
(Seleção e tradução de Jeff Vasques) Jeffhttp://www.blogger.com/profile/03843832124810310091noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5220832021436383363.post-91381276140827886282013-07-02T22:50:00.001-03:002013-07-02T22:50:18.989-03:00Um vagão pra mim, dois pra você: a guerra dos sexos quem insufla é o governo, não as feministas<i>por Tággidi Ribeiro</i><br />
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-vprIONBS8jE/UdN7Gy6VaiI/AAAAAAAAAuc/3Drmjz2IMPE/s714/metro2.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="161" src="http://3.bp.blogspot.com/-vprIONBS8jE/UdN7Gy6VaiI/AAAAAAAAAuc/3Drmjz2IMPE/s320/metro2.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Nesta semana a <a href="http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2013/06/1302226-comissao-aprova-criar-vagao-exclusivo-para-as-mulheres-em-sp.shtml"><span style="color: red;">Comissão de Transportes aprovou a separação de vagões</span></a> para as mulheres, em ônibus e metrôs de São Paulo. Não consigo pensar de que ângulo pode ser defensável essa proposta, que em breve será apreciada pela Assembleia Legislativa do estado. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
As mulheres são 58% dxs usuárixs do metrô, mas certamente não terão 60% dos vagões a seu dispor. Se aprovada, além de não contemplar todas as mulheres, a proposta deixará ainda mais vulneráveis as tantas que não conseguirão lugar nos vagões a elas reservados. Imaginem a brecha para culpar as mulheres por seus próprios abusos: 'mas se ela estava no vagão <i>dos homens</i>...'. Proposta retrógrada, me lembra de quando homens e mulheres não podiam estudar juntos na mesma escola, me lembra o mundo islâmico que tanto distingue espaços para os dois sexos, sem jamais resguardar de fato as mulheres porque a questão é cultural, definitivamente. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/47xvK-pVe84?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
As mulheres de todas as idades são assediadas por homens comuns, que julgam ser o assédio um direito seu, que julgam ser prova de 'macheza' 'aproveitar-se' delas. E o poder público só reforça essa percepção quando não pune adequadamente esses indivíduos, quando ignora na escola a necessidade mais que urgente de disciplinas que abordem (violência de) gênero, quando não esclarece apropriadamente sua polícia acerca do trato com as vítimas, quando não incentiva por meio de campanhas a denúncia. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://3.bp.blogspot.com/-puvh3_kiHto/UdN-rk8gPmI/AAAAAAAAAuw/nXA1BdfcdsA/s786/metro+s%25C3%25A9.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="368" src="http://3.bp.blogspot.com/-puvh3_kiHto/UdN-rk8gPmI/AAAAAAAAAuw/nXA1BdfcdsA/s640/metro+s%25C3%25A9.jpg" width="640" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
De uma perspectiva masculina, o que o poder público faz é apontar o dedo para todos os homens, como se fossem todos assediadores. Obviamente, se todos são suspeitos, fica dificílimo achar o culpado; se todos são culpados, não é possível punir alguém. Desde 2006 o Rio de Janeiro reserva vagões às mulheres, o que não fez diminuir o número de casos de assédio no transporte público. Na realidade, tanto o Rio quanto São Paulo viram as estatísticas de assédio e estupro saltarem - o que não sabemos é se há mais violência ou mais denúncias, fruto certamente mais da reação das mulheres que de esforços dos governos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="http://2.bp.blogspot.com/-nUKR3lCqR-s/UdN__Rgt2-I/AAAAAAAAAvA/IAfi8m_pu1Q/s400/LeiMariadaPenha-500x333.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" height="212" src="http://2.bp.blogspot.com/-nUKR3lCqR-s/UdN__Rgt2-I/AAAAAAAAAvA/IAfi8m_pu1Q/s320/LeiMariadaPenha-500x333.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Tanto no Rio de Janeiro quanto na Índia, homens e mulheres disputam os vagões para mulheres. Essa guerra quem insufla são os governos. Em São Paulo, os vagões de metrôs e trens são disputados diariamente, sem distinção de sexo: fora a questão cultural, base que legitima a ação do assediador, o problema flagrante é a superlotação do transporte público, que praticamente zera a chance de defesa da mulher. Quem mesmo está cuidando de solucionar o problema da superlotação? De que ângulo mesmo a proposta do deputado Geraldo Vinholi do PDT é defensável?</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Para mais reflexões, um post da <a href="http://subvertidas.blogspot.com.br/2013/03/assedio-e-transporte-coletivo-quais.html"><span style="color: red;">Bárbara Falleiros</span></a> (uma subvertida saudosa que logo volta!); um texto da <a href="http://escrevalolaescreva.blogspot.com.br/2013/06/guest-post-pelas-mulheres-esquecidas-do.html"><span style="color: red;">Lola Aronovich</span></a> e um do blog feminista da Carta Capital, por <a href="http://www.cartacapital.com.br/blogs/feminismo-pra-que/vagao-exclusivo-para-mulheres-parece-uma-boa-ideia-mas-nao-e-8235.html"><span style="color: red;">Nádia Lapa</span></a>.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="http://1.bp.blogspot.com/-cfU8UND0CDo/UdOAoq8XmpI/AAAAAAAAAvE/WXPmg28zi0g/s259/images.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="299" src="http://1.bp.blogspot.com/-cfU8UND0CDo/UdOAoq8XmpI/AAAAAAAAAvE/WXPmg28zi0g/s400/images.jpg" width="400" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Educar homens e mulheres: o essencial.</td></tr>
</tbody></table>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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