por Tággidi Ribeiro
Tem uma música do Itamar Assumpção e da Alice Ruiz que eu adoro. Chama-se “Vou tirar você do dicionário”. Na versão da Zélia Duncan tem um adendo que é genial: “Eu quero as mulheres que dizem sim/E quem não tem vergonha de ser assim”.
Eu sou uma mulher que diz sim. Sou fácil. Muito fácil mesmo. Sou do tipo que diz sim sem o homem precisar fazer muita coisa – na verdade, ele não precisa fazer nada fora existir, ser do jeito que é e eu me interessar por ele. E ainda sou do tipo que “dá em cima”: flerto, pergunto se quer ficar comigo, chamo pra sair. Não insisto, porque respeito a vontade do outro. Pra mim, não é não. 'Não' não me encoraja, me avisa que devo parar, mesmo que eu queira o contrário.
Posto isso, vou contar uma historinha.
Há mais ou menos três anos, conheci um homem que me chamou a atenção imediatamente. Eu o achei bonito, de sorriso e voz. Ele correspondeu. Me convidou para sair, fomos tomar uma cerveja, conversamos durante um bom tempo. Nos beijamos.
Só.
Quando nos beijamos, algo não aconteceu. Não aconteceu a ‘química’, não aconteceu a vontade de ir além. Nem de continuar o beijo. Conversamos mais um pouco e eu disse que iria embora.
Aí começa a novela. Mas acalmem-se, porque não é drama.
Eu disse que iria embora e ele perguntou por que. Estava bom, não estava? Eu disse que a companhia dele era agradável, mas que eu queria ir para minha casa. Sem ele. À minha frente havia agora um homem incrédulo. Lembro que me disse: “Eu sei o que eu senti e o que você sentiu”. Ahã... Senta lá, Cláudia.
É muita pretensão querer ter certeza do sentimento do outro. Mas eu entendo a pretensão de um homem acostumado a ver mulheres negando o que sentem, por medo do que ‘vão pensar’, medo do que ‘ele vai pensar’. É pensamento que faz sentido num mundo em que as mulheres não têm a liberdade de dizer o que querem, de declarar seu desejo. Ainda hoje, há homens e mulheres que acham que não há nada mais ‘feio’, nem que ‘desvaloriza’ mais uma mulher que declarar, assumir o próprio desejo.
Bem, continuando a narrativa: eu disse que eu era uma mulher fácil e que se eu estava dizendo ‘não’ a ele era porque, oras, eu não queria mesmo. Ele fingiu entender e passou meses tentando me conquistar. Como se eu fosse um país.
Não deu certo, claro.
Homens que esperam receber um 'não' para querer de verdade, apaixonar-se ou valorizar uma mulher são a coisa mais broxante que existe.
15 de junho de 2012
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