Na real, é Photoshop


por Roberta Gregoli

Já falamos um pouco aqui sobre a representação das mulheres na mídia e sobre os padrões crueis de beleza perpetrados em geral. Além do maravilhoso documentário Miss Representation, existem outros (como as 4 versões do também maravilhoso Killing Us Softly) e canais do YouTube (como o Feminist Frequency) sobre o tema. Infelizmente, até onde eu saiba não há nada parecido sendo feito no Brasil, então aproveito este espaço para divulgar o que tem sido feito no mundo anglófono, principalmente nos Estados Unidos. 

Para entender a seriedade da questão dos ideais irreais de beleza, sobretudo e mais claramente manifestados no uso indiscriminado de Photoshop, veja este vídeo de apenas 75 segundos. Se fosse um caso ou outro, tudo bem, mas o fato é que todas as imagens de mulheres que vemos são manipuladas digitalmente, criando padrões inalcançáveis de beleza. A consequência para as meninas e mulheres reais vão desde a baixa autoestima, passando por distúrbios alimentares até a auto-mutilação. Esta matéria mostra o antes e depois do Photoshop, deixando claro que o que vemos não são mulheres reais e sim, pura e simplesmente, CGI (imagens geradas por computador). O cúmulo (ou talvez somente um exemplo mais óbvio) foi a loja de roupas europeia H&M, que criou um catálogo inteiro usando o mesmo corpo - gerado por computador - para todas as modelos:

H&M admite ter colado rostos de modelos a corpo criado digitalmente
O debate em torno da questão foi reavivado recentemente, quando a adolescente norte-americana de 14 anos Julia Bluhm pediu a revista Seventeen (uma das maiores revistas para o público adolescente nos Estados Unidos) que incluísse em cada edição uma foto que não fosse modificada por Photoshop. A revista negou. Há agora um abaixo-assinado com o mesmo pedido que já conta com mais de 83 mil assinaturas e um mutirão virtual chamado Keep it real. A ideia é desafiar por 3 dias (de 27 a 29 de junho), no mundo virtual, as revistas a incluírem pelo menos uma foto não alterada digitalmente. 

Para fazer parte do desafio, junte-se ao grupo no Facebook e acesse o pacote de recursos elaborado pelo pessoal do Miss Representation. Como o pacote está em inglês, traduzo aqui, em linhas gerais, os passos do desafio:

- Mude a capa do seu Facebook para esta (traduzida com exclusividade pelas Subvertidas!):


- Publique este poster no seu mural:

Dia 1 (27 de junho)
Poste no Twitter frases com a hashtag #KeepItReal. Na página 3 do pacote de recursos, há uma lista do Twitter das revistas para envio direto.

Dia 2 (28 de junho)
Poste no seu blog - as Subvertidas adiantadas!

Dia 3 (29 de junho)
Use o Instagram com a hashtag #KeepItRealChallenge e publique fotos que capturem o que você acredita que seja beleza real. A melhor foto será publicada num outdoor em Nova York! Se você não usar o Instagram, publique no Twitter com a hashtag #KeepItReal ou no grupo do Facebook.

Essa é uma discussão que precisa ganhar força urgentemente no Brasil - onde ainda é aceitável que o corpo feminino seja usado para vender cerveja e a onipresença do Photoshop segue sem ser desafiada -, por isso não deixem de participar da campanha!

7 comentários:

  1. Sinceramente? No link com fotos d antes e depois do photoshop, acho q as diferenças entre a imagem normal e a ñ editada são só em detalhes. Continuo me sentindo uma m*rda qdo olho apenas as imagens do ANTES. Meus seios são mto pqnos, eu ñ tenho aquela b*nda toda, minha pele ocasionalmente tem espinhas, meu cabelo ñ é daquele jeito incrível, etc. Pra q tanto drama? O photoshop faz uma diferença mínima. Sou hiper magra naturalmente, e saudável; se eu enviasse uma foto minha, vcs iriam dizer q eu sou impossível d existir na realidade concreta, mas o fato é q mulheres magras EXISTEM. Metabolismo rápido EXISTE, mulheres saudáveis e com pouco apetite EXISTEM, feministas fazem eu me sentir um lixo por ser mto magra, como se eu ñ tivesse o direito d existir na realidade concreta, fosse uma invenção da mídia de massas, e fosse uma aberração q eu pese 42kg sem nunca ter feito lipo, dietas, academia, cirurgia bariátrica, ou usado laxantes e diuréticos, mto menos tido anorexia. Não fui eu quem escolheu q o meu biotipo iria ser apropiado pela indústria da moda. Francamente, acho q as feministas brasileiras tinham q parar d ficar importando e traduzindo o feminismo europeu e norte-americano, e olhar p/ os problemas q atingem as mulheres q estão à sua volta. Brasileiras ñ sofrem uma imposição p/ serem hiper-magras, EU q sou hiper-magra sofro pressão p/ ñ ser. Pq supostamente eu teria anorexia (OI?), ñ estaria me alimentando direito, teria hipertireoidismo, deveria procurar um médico, etc. Brasileiras sofrem pressão p/ terem uma bunda tamanho de melancia. Para terem os cabelos lisos, já q o padrão daqui é racista. P/ terem seios enormes (nisso coincide com o drama norte-americano). P/ terem coxa grossa. Ao invés d ficarem fazendo esforço d buscar na imprensa do primeiro mundo o material, produzam o próprio, olhem pras mulheres q estão sofrendo bem do seu lado: o motivo de dor delas é um, o das européias é outro. As japonesas, por ex, já são naturalmente mto magras. Elas criticam o padrão europeu, sabe como? Fazem uma marcha na qual andam todas com perucas loiras, qdo terminam e chegam no ponto combinado, todas jogam as perucas p/ o alto, valorizando seus cabelos escuros, já q há uma febre de ser loira no Japão. Isso é feminismo, isso é combater padrões de beleza impostos pela mídia. Aqui as mulheres estão se ferrando p/ conseguir de 8 a 9 mil reais p/ colocar silicone na bunda, o q é um padrão absurdamente elitista, e vcs estão preocupadas com um padrão d extrema magreza q ninguém aqui cobra.

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  2. Concordo que o padrão de beleza na Brasil seja, no geral, mais cheinho - desde que isso signifique gostosa, não gorda. Veja este post (http://escrevalolaescreva.blogspot.co.uk/2011/02/guest-post-nao-fabricamos-roupas-para.html) e outros no Lola Escreva Lola sobre a gordura e os padrões de beleza. Os transtornos alimentares, infelizmente, são um problema também no Brasil, como atestam a existência do Geata no Rio Grande do Sul e o Proata da Unifesp.

    Sobre as imagens retocadas com o Photoshop citadas no post, não sei se as diferenças são mínimas ou detalhes: as modelos são deixadas ainda mais magras e tiram a barriga, culote, espinhas... Como você mesma testemunhou, mesmo para mulheres magras o ideal de beleza é inalcançável.

    A ideia do post é chamar a atenção para esta campanha, que tem como objetivo pedir mais mulheres reais na mídia. Enquanto não temos campanhas adaptadas para a nossa realidade, não vejo por que não apoiar a causa, já que a luta é a mesma e é internacional, independente do padrão ser de um pouco mais de bunda aqui: se sentir bem com o corpo real que temos e ver esta realidade refletida na mídia.

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  3. Eu também sou muito magra, e tenho que concordar que no Brasil o problema é diferente. O que é chamado de magreza no Brasil é outro padrão, muito mais recheado.
    Por ser muito magra e ter seios pequenos, também ouço o tempo todo absurdos como: ‘’Você tá se alimentando bem?’’, ‘’Será que você não tá doente?’’, ‘’Nossa, você nunca pensou em fazer uma cirurgia plástica, não?’’, ‘’Gente, como você é corajosa de sair com as pernas tão fininhas assim, de short curto!’’. O pior ainda é quando temas como anorexia ou bulimia são tratados em rede nacional, principalmente com personagens nas novelas da Globo e de repente todo mundo na rua vira especialista nisto e já me diagnosticam como anoréxica ou coisa parecida e espalham por aí o diagnóstico. Já aconteceu comigo mais de uma vez e é extremamente desagradável.
    Quando houve aquela polêmica sobre o peso das modelos nos desfiles e se basearam no IMC de cada uma delas, eu seria proibida de desfilar sem nunca ter feito dieta e mesmo sendo conhecida pelo grande apetite. Eu sou assim, magra e alta e pézuda porque sou, não tenho culpa disso. Quando mais nova, o meu sonho era ganhar peso ou fazer uma plástica pra aumentar meus seios. Pra quem é tão magra assim, das duas uma: ou te diagnosticam irrealmente magra, como se você tivesse culpa de ter alcançado um padrão de beleza surreal e inalcançável e certamente fosse doente (além de invariavelmente fútil), ou te importunam com o quão feio é ser assim tão magra, que homem que é homem não gosta disso não, que fazer uma cirurgia hoje em dia nem é tão caro assim e por aí vai.
    Também tenho os cabelos cacheados e não os aliso nem com reza braba. Gosto deles assim e os assumi desde sempre. É mais difícil de cuidar? É. Mas sou eu, é a minha cara, a minha identidade. E isso ainda vira uma marca e faz eu ficar diferente das barbies que circulam por aí. Também ouço comentários por isso, mas a maioria agora na leva do ‘’Nossa, mas é que o seu enrolado é até bonito, o meu não fica assim’’, ou ‘’Ah, mas você tem tempo livre pra cuidar do seu cabelo assim, eu trabalho mais que você, não dá!’’ (oi?).
    (continua...)

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  4. Incomoda-me um pouco essa luta ferrenha contra a magreza excessiva porque talvez essa magreza seja a realidade de algumas pessoas saudáveis e isso não é levado em consideração. Há meninas novas por aí que são super magras e se sentem culpadas ou erradas e tentam o tempo todo se enquadrar e engordar. Eu já tive vergonha de ser magra, não só por não achar bonito, mas também porque eu me sentia culpada pela infelicidade de quem não era magra, como se sair por aí com o corpo que eu tinha era uma afronta às mulheres normais, como se eu não fosse normal também. Pra ser sincera, tenho vergonha de estar comentando isso aqui e alguém achar que eu estou ‘’reclamando de barriga cheia’’, como já ouvi diversas vezes em conversas informais. Ser magra não pode ser a única opção, mas acho complicado tratar isso como anomalia e não como exceção. Ser magra é exceção, mas não é doença, nem é fora da normalidade. O problema é o excesso de imagens de mulheres altamente magras, como se essa fosse a única opção.
    Mas eu concordo com a campanha, até porque sei que eu sofro sendo magra, que há quem sofra sendo gorda e que quem tem o corpão de violão ideal sofre por ser considerada objeto e burra. Acho que o interessante da campanha não é ser só contra os padrões extremamente magros, mas de ser contra a comercialização do corpo feminino, ser contra o poder de intervenção no MEU corpo, de ser contra a inexistência de tolerância pra beleza real da mulher, ser contra o uso desenfreado do Photoshop e lutar para que as imagens reflitam a variedade da beleza das mulheres, todas elas. Já passou da hora de assumirmos o comando sobre o nosso corpo, de identificarmos em nós a nossa beleza, a nossa identidade e de sermos aceitas como somos.
    Eu sou magra, tenho pernas compridas e finas, não tenho peito, tenho dentes tortos e cabelão enrolado. E saio por aí de short curto, com decote, batom coloridão e cabelão ao vento. Não acha bonito? Foda-se, eu gosto de mim assim, do jeito que eu sou e pronto.

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  5. Carise, pela sua descrição você é linda! Acabei de escrever mais um post em resposta aos ótimos comentários: http://subvertidas.blogspot.com.br/2012/06/representadas-na-real.html Abraços!

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  6. Roberta, achei muito legal você ter lido os comentários, levado em consideracao e ter até escrito um novo post. :) Eu pensei várias vezes se comentava ou nao e é legal saber que nao foi em vao expor os meus sentimentos quanto a isso. Obrigada!

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  7. Obrigada você por nos ler! É muito legal ver os comentários e ter essa resposta imediata. Comente sempre!

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