A sociedade da punheta - texto sem imagens


por Tággidi Ribeiro

Ouço amiúde por aí que somos uma sociedade sexualizada demais e que deveríamos pensar em coisas mais importantes. Toda vez que me deparo com esse tipo de discurso, penso: sexo está na ordem do ócio, do que se faz no ócio e tem como objetivo primeiro e fundamental o prazer e, portanto, a felicidade. Que poderia haver de mais importante? E pra quem diz que somos sexualizados demais, pergunto: a gente mais trabalha ou mais faz sexo?

No geral, definitivamente, trabalhamos muito mais que fazemos sexo. Aliás, trabalhamos MUITO mais. Fazer sexo, mesmo para casais, vem depois de trabalhar, administrar a casa (ou seja, trabalhar), descansar (para poder trabalhar) e ter alguma vida social (amigos e família). Ocorre que sexo, assim como comida, é uma necessidade cotidiana. Não é porque julgamos que sexo seja errado, feio ou sujo ou que existam "coisas mais importantes" que nosso corpo deixa de sentir a falta do ato. Podemos soterrar nosso desejo sob camadas de moralismo, religião, psicologia chinfrim, mas ele fica ali como hemorragia interna. O desejo sexual pede a saciedade mesmo para aqueles que sentem menos desejo (assim como a inteligência, o desejo pode ser mais ou menos presente).

Esse desejo, naturalmente existente em nós, também é excitado todo o tempo. A televisão, a internet, o cinema - as diversas mídias - falam de sexo o tempo todo, nos provocam com a imagem de corpos atraentes. Sexo vende (porque é o que queremos). Mas não compramos sexo. Compramos a promessa de satisfação sexual, a qual só pode vir numa embalagem bonita. As mídias reduziram nossos sentidos a um só: a visão. Julgamos que a realização sexual só pode se dar de forma plena em uma determinada forma. Assim, produz-se a infelicidade. E a infelicidade é eficiente. 

No fim das contas, sexo na mídia só vende como vende porque somos sexualmente infelizes. Enquanto queremos ser ou ter o corpo que nos dizem que é belo e desejável e nos desgostamos com os corpos possíveis, não menos belos, mas outros, com seu cheiro, toque, movimento, é que ficamos vulneráveis à publicidade que diz que tal carro ou perfume nos vai dar aquela mulher; que a cirurgia ou o hidratante nos vai fazer ser aquela mulher; e como o carro ou a cirurgia não trazem junto essa mulher, compramos a revista em que ela está.

Assim é que a sociedade contemporânea tornou-se a sociedade da punheta: trabalhando muito e pagando a ilusão da possibilidade de satisfação sexual criada pelo apelo visual de corpos jovens e belos. Tanto homens quanto mulheres perdem nessa jogada, sem dúvida.

7 comentários:

  1. Queria mesmo fazer um comentário mais profundo, mas, só tenho este: esse texto ficou tão, tão daora.
    E a gente é tanto a sociedade da siririca. ;) ehehehehe

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  2. hahah! Comentário fundamental, Mazu! ;)

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  3. Olha o Antonio Prata incensando a punheta (e a siririca, né?, Mazu): http://www1.folha.uol.com.br/esporte/1134881-corpos-olimpicos-sao-catalogo-para-diversas-fantasias.shtml
    Maldito o dia em que os homens começaram a amar o impossível.

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  4. olha, não concordo com a relação trabalho e sexo. trabalho é fundamental para a existência (comida, água, abrigo,etc..). O sexo é um caso de lazer.Você distorceu um pouco nesta parte. mas no resto o texto é muito bom. Parabéns

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  5. olha, não concordo com a relação trabalho e sexo. trabalho é fundamental para a existência (comida, água, abrigo,etc..). O sexo é um caso de lazer.Você distorceu um pouco nesta parte. mas no resto o texto é muito bom. Parabéns

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  6. Não concordo com a relação entre trabalho e sexo: trabalho(dinheiro) é fundamental para a nossa existência (comida,água,abrigo,etc...). O sexo serve como lazer, e comparado a outras praticas vem crescendo gradualmente na nossa nova geração. Tirando isso o texto é muito bom. Parabéns

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  7. Não tenho conta então comento como anônimo.

    A PUBLICIDADE SÓ TRAZ INFELICIDADE PARA A HUMANIDADE, POR ISSO JAMAIS FARIA UM CURSO DESSES OU TRABALHARIA NESSA ÁREA.

    A publicidade, a serviço do consumismo, sexualiza tudo. Você vê um comercial de sofá e aparece uma mulher de calcinha e sutiã. Você vê um comercial do ENEM e aparece um tipo de paquera entre menores de idade. Comercias de cerveja nem se fala. Se você não bebe é tratado como um fracassado que não vai conseguir mulher nenhuma.

    Você põe em programas para adolescentes ou até para crianças (Chiquititas) e vê sexualização também, com namoricos. Eu acho isso muito perigoso para o desenvolvimento de uma sexualidade realmente saudável. Pois na TV é tudo perfeitinho, ninguém chega na perfeição de um relacionamento mostrado nesses programas. Aí fica sempre um sentimento que tem algo errado.

    O paradoxo é que a sociedade é sexualizada demais, mas isso só está fazendo as pessoas ficarem com uma pressão sexual para serem perfeitas e mais encanadas. Pois na publicidade e na TV é tudo perfeitinho, a vida real não é perfeita e não existem relacionamentos perfeitos e totalmente "bonitinhos".

    Obs: todo homem bate uma bronha. Quem dizer que não é mentiroso. Eu acho ruim querer desmoralizar quem bate uma com freqüência. Percebi um certo preconceito com o assunto. Pode ter certeza, se não fosse ela, os homens que não conseguem mulheres estariam loucos e causando destruição.

    Vocês falam do machismo (e eu concordo com muitas coisas que falam, mas discordo de muitas também), mas a mulher está no topo da pirâmide. Na maioria das vezes, é a mulher que controla o sexo num relacionamento. E quem controla o sexo tem muito poder.

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