Maria C.
Deparo-me com uma notícia que me prende a atenção: músicas infantis polêmicas, descritas pelo artista como “sacanas, polêmicas”. Trata-se de um projeto, um álbum criado pelo artista Carlos Careqa chamado “Palavrão Cantado”, que terá músicas como “mamãe onde é que fica o cu”, falando ainda sobre peido, arroto, masturbação, morte etc., segundo site da Folha.
A coisa me soa familiar...
Onde eu já vi isso? Ah, na Televisão é claro. Em um dos programas mais misóginos
já criados: Two and a half man. Uma coisa parecida, of course! Charlie Harper
cria um disco infantil e vira um sucesso porque canta muitas besteiras nas
músicas, mais ou menos essas, sobre peidos, arrotos e peitos de mulheres
(Charlie não perde sua oportunidade, sendo um chauvinista caricato). As
crianças adoram e vende feito água.
Não estou a apontar
comparações, que besteirada. A vida imita a arte, ou qualquer coisa que o
valha, não é?
Estamos sempre a repetir o
quanto necessitamos reestruturar o sistema educacional, os velhos padrões,
alterar as visões preconcebidas. Mas essas ações não são sinônimas da
implementação de ideias reducionistas ou simplistas de modernidade, tais como a
introdução fluente e precoce dos palavrões no vocabulário infantil.
Não que falar palavrões
seja automaticamente errado. Uma criança normalmente repete um palavrão sem
sequer saber o que diz. Mas e daí, o que isto lhe acrescenta? Falar sobre
masturbação ou questões adultas, como o Viagra que seu avô toma, o que isso lhe
acrescenta?
Que tal se discutíssemos,
nessas mesmas músicas, questões outras, tão necessárias, como os papéis das
pessoas na sociedade? Que tal se as músicas tratassem sobre igualdade,
respeito?
Seria muito interessante
uma música infantil que expressasse que as crianças podem ter amigos de todas
as cores, ou de todas as classes. Que esclarecesse que meninos e meninas têm de
se respeitar sempre, que as meninas podem ter uma profissão fora da cozinha, e
que não há problema se os meninos quiserem se aventurar nela.
Se o universo infantil
escolar se utiliza tanto da linguagem musical, há tanto preconceito de gênero
nos brinquedos, porque a promoção por meio do desserviço através da música?
A mídia, seja ela comercial, artística, ou que nome lhe seja atribuída, atua como uma grande instituição – estatal ou privada, a lógica é sempre a mesma: é a administrativa. Tudo são números. Vai dar lucro? Vai, então é esse o negócio. Não vai dar lucro? Não vai, então estamos saindo fora.
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