por Mazu
Este final de semana, li alguns textos da TPM Edição de aniversário de setembro de 2012. Cara, foi uma leitura muito prazerosa e interessante. E foi inesperado também porque eu nunca curti o slogan "Trip para mulheres" deles, mas enfim. A entrevista com a psicanalista Regina Navarro Lins sobre sexualidade, exclusividade e traição está muito legal, assim como a matéria que me fez comprar a revista "Sim, mulher adora sexo (fica com isso)".
Essa matéria trouxe vários depoimentos de mulheres diferentes (empresária, cineasta, blogueira e atriz) sobre o que é gostar de sexo para elas (quantidade, variedade, qualidade), e suas histórias dentro dessa vivência com a própria sexualidade. Os depoimentos estão bem interessantes e, dentre eles, está o da autora do Cem Homens, sobre a origem do seu blog: o plano era ir para cama com cem caras até o fim de um determinado ano e relatar no site. Não preciso dizer que ela recebeu reações super negativas, inclusive de amigos. Não preciso dizer também que se ela fosse homem, seria diferente.
Essa matéria trouxe vários depoimentos de mulheres diferentes (empresária, cineasta, blogueira e atriz) sobre o que é gostar de sexo para elas (quantidade, variedade, qualidade), e suas histórias dentro dessa vivência com a própria sexualidade. Os depoimentos estão bem interessantes e, dentre eles, está o da autora do Cem Homens, sobre a origem do seu blog: o plano era ir para cama com cem caras até o fim de um determinado ano e relatar no site. Não preciso dizer que ela recebeu reações super negativas, inclusive de amigos. Não preciso dizer também que se ela fosse homem, seria diferente.
A matéria mostra ainda como, apesar do que chamaram de
liberação sexual feminina (eu tenho lá minhas dúvidas), o fato de a mulher
gostar de sexo ainda é uma coisa super tabu. Sim, a gente bem sabe. De qualquer forma, uma
generalização é evidente e comum para todas as mulheres que assumem publicamente
gostar de sexo, o tal do slut-shaming. Ou seja, todas são taxadas de piranhas,
biscates, piriguetes ou qualquer que seja o termo mais usado do momento.
Aí, com meus botões, fiquei pensando que isso tem
várias desdobramentos, inclusive os que justificam que algumas mulheres evitem de assumir do que gostam ou não. Esses desdobramentos tem sua origem em preconceitos e estereótipos estabelecidos pela sociedade machista e patriarcal: tem a mulher para casar, a mulher diferente dessa que serve para alugar, a mulher diferente de outra maneira que se rouba e violenta em guerras e ocasiões parecidas, e assim vai. Acho que posso generalizar dizendo que se trata do mito da mulher patrimônio (do homem, claro).
Para se livrar desse estigma e ter uma vida sexual digna, a gente precisa se desfazer desses preconceitos que pairam sobre o gostar de sexo. Isso porque, nesse tipo de sociedade que vê a mulher como alguma espécie de patrimônio, a única mulher (dos tipos de mulheres possíveis) capaz de gostar de sexo é a que não presta. Por mais grosseiro e medieval que isso pareça, essa mentalidade ainda está presente, não está escancarada e super visível, mas, meu Deus, como é presente.
É preciso ficar claro que gostar de sexo não significa não ter padrões ou vontade própria. Quero dizer, uma pessoa que gosta de sexo não necessariamente vai fazer sexo a todo o momento com qualquer outra pessoa. É aquela velha história, por exemplo, uma menina ou um cara que transou com várias amigas ou amigos meus não é obrigad@ a ficar comigo porque já pegou todo mundo da minha turma. Todo mundo tem poder de escolha e deve ter a vontade respeitada. Uai.
Parece uma afirmação boba e meio óbvia, mas as
pessoas (incluo os meninos nessa também porque rola com eles, e muito) que
admitem seu apreço por variedade são mais suscetíveis à violência, inclusive a
psicológica. Imagine alguém dizendo a um menino: 'não vai pegar não sei quem, por quê? Virou
gay?' e para uma menina: 'ficou com todo mundo e não vai ficar comigo?' Claro
que os meninos, ainda que colocados em situações desconfortáveis, são vistos
como heróis quando admitem gostar de sexo com várias garotas (porque se for com garotos, o papo já é outro). As meninas quando assumem esse comportamento, perdem simbolicamente o respeito, o valor nessa nossa sociedade de mascus. Ainda que os resultados do slut-shaming sejam diferentes para homens e mulheres, todas as ocorrências são formas de
violentar as pessoas, de certa forma.
Essa suscetibilidade a algum tipo de violência justifica que algumas
mulheres não assumam ou se proíbam de curtir o sexo. Isso é super complicado
porque faz com muita gente viva culpada ou infeliz.
Na verdade, sexo é muito pessoal e individual,
por mais maluco que possa parecer. As pessoas que gostam pouco ou nada não são
loucas, nem mal-amadas, nem necessariamente traumatizadas. As que gostam muito não
são necessariamente viciadas em
sexo. As que são viciadas não são necessariamente pessoas
ruins. As que gostam com vários parceiros ou parceiras não merecem desrespeito.
Assim como as que curtem um parceiro só não são ultrapassadas, nem românticas,
bobas ou idealistas. Não rola julgar, é mega pessoal. Como eu vou saber o que é
o comportamento admissível para a outra pessoa quando se trata de algo tão pessoal? Como uma única medida, um único peso de estigma social
poderia dar conta da infinidade de tipos de pessoas que existe e cada comportamento sexual respectivo e relacionado?
Como cada um tem um comportamento sexual seu, o ideal é se encontrar e se respeitar e buscar parcerias na
mesma sintonia. Do contrário, muita gente se machuca de tudo quanto é jeito. Alguém consegue pensar em coisa pior do que fazer sexo, fazer sexo assim ou assado, ou ainda, não fazer simplesmente para agradar outra pessoa?
Voltando a matéria da TPM, acho que o ponto (muito válido) da matéria é que existem mulheres que gostam de sexo e tudo bem. O mundo não vai acabar, o chão não vai se abrir, nem nada. É uma iniciativa bacana de divulgação porque nós, entre nós meninas, sabemos disso há muito tempo, mas isso ainda assusta alguns caras. Já vi caras considerados inteligentes e revolucionários se assustarem quando uma menina demonstra um comportamento sexual mais livre ou mais parecido com o deles.
Durante a faculdade fiz dois grandes amigos e, em
um determinado dia, estávamos os três trocando histórias enquanto a gente
lanchava na cozinha da nossa antiga república. Eles falaram sobre algumas aventuras,
e eu também. Só que ninguém esperava, né? Afinal, sou uma menina. Depois de me
ouvir, um deles olhou para mim muito assustado e disse: olha só, você é pior
que eu. E eu respondi: pior não, sou igual. E ele fez uma cara de quem sentiu uma
ficha bem grande cair, e a gente riu.
9 de outubro de 2012
Categorias
Mazu,
padrões duplos,
preconceito,
sexo,
sexualidade
Muita massa o post, Mazu! E a fala do seu amigo não deixa de ressoar em mim como a fala não só de um machista incauto, mas de um cristão incauto, que vê sexo como algo sujo, feio e mau.
ResponderExcluirÉ difícil ser criado nessa sociedade e não ser pego por ela, né? Mesmo que em momentos de descuido. Ele é um cara bem legal, mas...De qualquer forma, acho que foi uma conversa divisora de águas. ;)
ResponderExcluirAh, a república! Muitas fichas caíram naquela república :)
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