Outubro Rosa, porque algumas lutas são de todos nós


por Mazu



O Outubro Rosa poderia ser azul, verde ou lilás, mas quando se trata de prevenir e tratar de um assunto tão importante, acho que podemos deixar determinadas coisas de lado, só por um momento. Existem vários mitos que explicam a atribuição arbitrária de cores para masculino e o feminino. E, em algum momento de nossas vidas já escutamos várias histórias sobre como a cor lilás foi atribuída ao movimento feminista (cor do tecido de operárias assassinadas, junção entre o vermelho e o azul, etc). Contudo, entretanto, todavia, discutir as cores e o reflexo delas na sociedade e movimentos sociais não é bem a intenção deste post. Apesar de isso dar pano para manga e ser muito interessante, gostaria mesmo de aproveitar o Outubro Rosa e falar sobre a importância da prevenção do câncer de mama e alguns tabus que, infelizmente, ainda existem.

Assisti a uma pequena notícia de outubro do ano passado sobre o câncer de mama, machismo e tabu. Apesar de pequeno o vídeo incita muita reflexão. Acontece que para algumas mulheres, tocar-se, despir-se e ser tocada ainda são coisas culturalmente difíceis de lidar. E quebrar esse tabu pode ser super importante se isso ajudar a detectar qualquer problema e salvar vidas. 
Tocar-se e conhecer-se

Como disse, o vídeo é uma notícia bem rápida sobre mulheres das comunidades rurais mexicanas, apontando que, ano passado, ainda existiam mulheres que não faziam o exame porque os maridos temiam que suas mulheres fossem vistas ou tocadas pelos médicos. Isso parece distante da nossa realidade, mas deve ser muito mais real do que imaginamos. Especialmente, no Brasil, em que determinadas coisas insistem em ficar mascaradas.

Um argumento bom para começar é que os seios são nossos. Ponto, parágrafo, próxima linha. Não importa se uma mulher é casada com um homem, outra mulher ou se é religiosa ou não, ou se está aqui ou na China. Quando se trata da prevenção de uma doença como câncer é muito importante ter a noção, o senso, o sentimento de indivíduo. Isso porque se eu ficar doente, ainda que as pessoas que me amam e se preocupam comigo sofram, ninguém vai ficar doente comigo, certo? Ninguém vai dividir esse fardo específico comigo. Nem o marido, nem o pai, nem os amigos. Eles podem ficar tristes, mas, eventualmente, quem vai passar por tudo (e é muita coisa) sou eu.

Congresso Nacional Rosa pelo Outubro Rosa
Não quero dizer aqui que as pessoas têm que ter uma atitude egoísta com relação ao câncer. Na verdade, quanto mais solidariedade melhor. O que deve ficar claro é que meu corpo é meu, e o seu, é seu. Esse sentimento de autorrespeito e autoconhecimento pode evitar várias coisas e está relacionado com abandonar aquele mito da mulher patrimônio de que já falei aqui. Prevenir-se contra o câncer de mama é um dos vários motivos pelos quais as mulheres devem se entender como donas dos seus próprios corpos.

Todo mundo sempre conhece uma história, uma anedota sobre essa posse/ciúme do corpo alheio, sempre conhecemos alguém cujo companheiro não gosta que a esposa amamente em público ou corte o cabelo, ou altere sua aparência física de alguma forma. É importante perceber o seguinte: agradar ou ser mais paciente com essa ou aquela "besteirinha" da(o) parceira(o) não é um problema. O problema é o excesso, quando isso pode custar a dignidade ou a saúde de alguém. E também quando todas as tentativas de agradar ou compreender são unilaterais, ou seja, só partem de uma das pessoas no relacionamento.

Em 2004, uma trabalhadora metalúrgica do ABC paulista levou um beliscão no seio do seu superior direto, no chão de fábrica, em horário de expediente e, o mais importante, sem o consentimento dela. Na época, eu trabalhava com vários sindicalistas na CUT, e estávamos todos prontos para ajudá-la com os vários processos que isso acarretaria. Nunca conseguimos. A trabalhadora não seguiu adiante com as denúncias porque seu namorado ficou muito incomodado de ser publicamente visto como corno, já que outro homem havia apalpado SUA mulher. E aí está um exemplo claro de excesso. Deixar de exercer um direito ou deixar de cuidar da saúde por outra pessoa não compensa. Ninguém que ama e se importa de fato, exigiria esse tipo de sacrifício.

Catedral iluminada de rosa em Brasília
Não é que a gente não precisa da ajuda ou cooperação dos companheiros e companheiras, insisto, quanto mais solidariedade, melhor. O envolvimento de todos no combate e prevenção pode salvar vidas. As iniciativas como o Outubro Rosa são essenciais, e todos e todas devemos participar. É importante encorajar as mulheres das nossas vidas a se prevenir e se cuidar. Como mulheres, devemos procurar médicos que nos façam sentir confortáveis e devemos nos sentir confortáveis conosco mesmas para fazer e pedir aos médicos exames de todo o tipo. Lembrando que todo câncer quando detectado em estágios iniciais tem grandes chances de cura. Nenhum argumento deve valer mais que esse.

PS.: Antes que alguém venha como alguma piadinha sobre o câncer de próstata, vou me adiantar. As subvertidas apoiariam, com certeza, qualquer iniciativa que buscasse quebrar tabus para salvar vidas. Afinal, esse é um dos preceitos do movimento feminista, queremos homens e mulheres vivendo felizes e saudáveis!

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