por Tággidi Ribeiro
Esse é apenas o meu segundo post da série sobre a entrevista da Catherine Hakim na Veja, mas sinceramente, gente, eu tou com uma preguiça dessa mulher que deus me livre. Então, não comentarei frase por frase como no post passado, ok?
Beleza e carreira - “Aristóteles já dizia que a beleza é melhor do que qualquer carta de apresentação. As vantagens de uma boa aparência podem ser percebidas desde a infância. Pesquisas revelam que 75% das crianças que se encaixam nos padrões de beleza aceitos universalmente, como um rosto simétrico, são julgadas como corretas e cativantes, enquanto só 25% das que não têm essas características são vistas dessa forma. Presume-se que os belos são mais competentes -- e eles são tratados como tal. Atratividade e beleza são fundamentais para a ascensão profissional das mulheres nas sociedades modernas.”
1. Aristóteles é o filófoso que amassou o barro da sociedade moderna (ou os modernos o juntaram a seu barro), mas não é por isso que precisamos lhe dar razão. Assim como não precisamos dar razão sempre à ciência, que vemos tantas vezes contradizer-se. Agora, direi três nomes para contradizer a última frase dessa fala: Hillary Clinton, Angela Merkel e Dilma Roussef. É o bastante.
As feias que me perdoem - “Beleza extrema é algo raro, um item de luxo. Nem todo mundo nasce Elizabeth Taylor. Quem não tirou a sorte grande deve aprimorar o seu poder de atração. Na França, é comum o conceito de Belle Laide, a mulher feia que se torna atraente graças à forma como se apresenta à sociedade e ao seu estilo. Christine Lagarde, a diretora do Fundo Monetário Internacional, o FMI, é um exemplo de mulher que não ostenta a beleza clássica, mas é extremamente atraente. Tem personalidade, carisma, charme e boas maneiras. Se você não é bonito, por favor, vá à luta. Cultive um belo corpo, aprenda a dançar, desenvolva habilidades. E distribua sorrisos. Como Marilyn Monroe sempre soube, o mundo sorri de volta para quem sabe sorrir. O sorriso é um sinal universal de acolhimento, aceitação e contentamento em relação aos demais. Torna a todos mais atraentes.”
2. 'As feias que me perdoem, mas eu me embananei toda na hora de defender minhas teorias sobre como é necessário ser belo', deveria ter dito Catherine Hakim. Carisma, personalidade, charme e boas maneiras, saber dançar e sorrir não são atributos do belo, quer dizer, não são próprios do belo, qualquer que seja ele. Todos nós conhecemos gente bonita e antipática/ feia e simpática, assim como conhecemos gente bonita e simpática/ feia e antipática. Geralmente preferimos pessoas (bonitas ou feias) simpáticas (que saibam dançar ou não), porque é melhor conviver com elas. Ainda assim, o sucesso profissional dessas pessoas dependerá de outros fatores, inclusive de ordem cultural. Nós brasileiros costumamos ser bem simpáticos, dizem, e, realmente, aqui a simpatia muitas vezes supera a necessidade de compromisso ou competência. Que eu saiba, na França, compromisso e competência são bem mais importantes que simpatia. Não é, Christine Lagarde, oitava mulher mais poderosa do mundo?
Qué dizê, gente, o que a Catherine Hakim faz basicamente é tentar nos convencer de que mulheres poderosíssimas como Christine Lagarde devem seu status a sua beleza, carisma e charme e não a sua competência e trajetória. Deem uma olhada na lista das 100 mulheres mais poderosas do mundo, da Forbes, e nesse documentário e tirem suas próprias conclusões.
O próximo post, ainda sobre Hakim, vai ser tenso. Aguardem.
Pensem. |
O próximo post, ainda sobre Hakim, vai ser tenso. Aguardem.
26 de outubro de 2012
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A premissa toda é equivocada porque coloca beleza como um critério universal, imutável e prontamente identificável. A Bárbara já falou como 'beleza' é, na verdade, relativa e culturalmente variável e como, na muitas se não na maioria das vezes, serve para oprimir as mulheres:
ResponderExcluirhttp://subvertidas.blogspot.co.uk/2012/10/feminismo-e-beleza-grande-questao.html
Para mim a discussão tem que ser alterada tão drasticamente que o fator beleza não entre em questão quando falamos de mulheres.
Que importa se a Dilma é bonita ou não? Ninguém sai por aí comentando se o Lula é bonito ou não. A luta tem que ser justamente para mudar o peso desmesurado dado à aparência das mulheres em detrimento de suas capacidades intelectuais e profissionais.
Sim, a premissa toda é errada. O post da Bárbara é ótimo e mesmo eu abordei o tema, também questionando padrões de beleza, no Sociedade da Punheta 2.
ResponderExcluirDialogar com a teoria espúria da Catherine Hakim é sacal por isso, por sentir que é uma discussão que não vale. Por outro lado, mesmo entrando dentro da lógica dela, é possível quebrá-la, o que também pode ser interessante. Dentro disso é que não me constrangi, p.ex., em chamar a atenção para a falta de beleza (padrão) das três mulheres mais poderosas do mundo. Além disso, acho que pode ser de fato empoderador trazer a feiúra para o universo feminino. Se não tivéssemos medo de ser feias (feias em relação aos padrões de qualquer tempo, feias para os homens de casa e da rua, feias para as outras mulheres), seríamos mais felizes e, portanto, mais fortes. É necessário pressionar a mídia para que nos deixe de julgar pela aparência, e é necessário também trabalhar a autoestima feminina sem dieta, sem exercícios e sem maquiagem. É necessário ter a melhor reação ao ser chamada de feia: rir, não ligar, dar voadora de palavra - e que isso não pese no coração de uma mulher. (E daí que eu sou feia? Não vou arranjar marido? Mentira. Não vou arranjar emprego? Mentira. Não vou ser feliz? Mentira!) :)