por Tággidi Ribeiro
Gente, eu resolvi fazer uma série de posts comentando as falas da Caherine Hakim, autora de um livro chamado Capital Erótico na Veja (aquela revista séria que a gente já conhece). A Catherine Hakim é uma socióloga 'feminista' que supervaloriza a beleza e incentiva as mulheres a usá-la como forma de 'subir na vida' - a beleza funcionaria como 'capital erótico' da mulher. É, pois é. Prepare-se para a picaretagem que muita gente tomou como pensamento polêmico e renovador do feminismo. E antes ou depois, leia isso aqui e aqui.
Inteligência e beleza - Catherine Hakim fala de beleza e inteligência como se fossem conceitos estabelecidos e permanentes. Ela ignora a possível existência de diversos tipos de inteligência (verbal, matemática, corporal, musical etc.) e as diversas formas da beleza, que muda (e muito) tanto no tempo quanto no espaço. Veja aqui.“Inteligência e beleza são duas habilidades necessárias para o sucesso e muito semelhantes entre si: metade é hereditária, metade é resultado de investimentos de tempo e esforço. Não existe diferença moral entre a aparência e a inteligência. Acho justo que os mais belos ganhem mais. É frequente presumir que quaisquer benefícios concedidos a pessoas atraentes são desmerecidos e injustos. Quando se fala em sucesso, ninguém duvida do mérito dos inteligentes nem questiona a exclusão dos ignorantes. Por que não recompensar também quem se destaca pela aparência, sendo ela natural ou conquistada?”
Beleza e inteligência são habilidades - Pode ser um problema de tradução o uso da palavra ‘habilidade’ na definição tanto de beleza quanto de inteligência, mas pode ser também uma forma de tentar enganar as pessoas. Relacionamos facilmente a palavra habilidade ao que pode ser manipulado e melhorado. Daí a aceitarmos o paralelo desonesto entre beleza e inteligência é um pulo.
Beleza e inteligência são necessárias para o sucesso – Nem uma nem outra o são. Existe muita gente estúpida que obtém sucesso por ter oportunidades melhores na vida. E beleza só é necessária para o sucesso na carreira de modelo (e, mesmo nessa carreira, ser apenas lindo não é o suficiente – tente não ser fotogênico pra ver o que acontece...).
Beleza e inteligência são necessárias para o sucesso – Nem uma nem outra o são. Existe muita gente estúpida que obtém sucesso por ter oportunidades melhores na vida. E beleza só é necessária para o sucesso na carreira de modelo (e, mesmo nessa carreira, ser apenas lindo não é o suficiente – tente não ser fotogênico pra ver o que acontece...).
Beleza e inteligência são metade hereditárias, metade resultado de investimentos de tempo e esforço – Fala sério. De onde essa mulher tirou isso? É obviamente necessário exercitar o cérebro ou o corpo – ou as inteligências lógico-verbais/corporais-cinestésicas se estagnam. Mas o quanto cada pessoa deverá empenhar de si para alcançar níveis de excelência em suas atividades, aí, meu bem, não dá para dizer. Quanto à beleza, bem, não é uma atividade, né? Não é habilidade e nem capacidade e nem dá para comparar nesses termos com a inteligência. Mas dá para dizer que tem gente que se esforça muito pouco ou nada pra ser lindo e tem gente que faz 50 plásticas e nunca vai ser a Monalisa. Ou seja, essa história de metade/metade é pura balela.
Não existe diferença moral entre a inteligência e a aparência – Não. Porque só dá pra imputar moralidade aos usos de cada uma. Não há moralidade na inteligência nem na beleza em si. E que discordem de mim os filósofos.
Acho justo que os mais belos ganhem mais. É frequente presumir que quaisquer benefícios concedidos a pessoas atraentes são desmerecidos e injustos – Toda profissão, praticamente, possui piso e teto de salário. Pagar menos que o piso é ilegal, pagar mais não é ilegal, mas pode ser desastroso para as contas da empresa. Pagar mais a pessoas bonitas quando essa beleza traz retorno efetivo à empresa é justo. Pagar mais em qualquer situação, ou seja, mesmo quando os bonitos não influenciam nos ganhos da empresa, só me parece uma ação financeiramente estúpida.
Quando se fala em sucesso, ninguém duvida do mérito dos inteligentes nem questiona a exclusão dos ignorantes - Ah, tá, é tudo simples nessa vida. A inteligência (qualquer que seja ela) é sempre reconhecida. Não há equívocos. A ignorância também é reconhecida e os ignorantes são logo postos de lado. O mundo é equilibrado, né?
Por que não recompensar também quem se destaca pela aparência, sendo ela natural ou conquistada? – Ai, pois, né? Tadinho desse pessoal bonito (ou que se esforça pra ser bonito), que não vê o seu valor reconhecido na nossa sociedade...
Por que não recompensar também quem se destaca pela aparência, sendo ela natural ou conquistada? – Ai, pois, né? Tadinho desse pessoal bonito (ou que se esforça pra ser bonito), que não vê o seu valor reconhecido na nossa sociedade...
Ninguém presta atenção em mim |
19 de outubro de 2012
Categorias
beleza,
mídia,
Tággidi,
teoria feminista
obrigada, obrigada, obrigada <3
ResponderExcluirachei que só eu estivesse ficando maluca, pq vi várias ~feministas~ falando de capital erótico como se fosse a coisa mais normal do mundo alguém usar beleza e sensualidade para ser promovido num trabalho que não exige beleza e sensualidade para ser corretamente desempenhado.
onde já se viu atribuir à beleza (um valor tremendamente subjetivo e muito manipulado - cof racista cof) o mesmo status de habilidades que qualquer pessoa pode adquirir se tiver as mesmas oportunidades que outras? se damos boa educação para todos, todas as pessoas podem chegar ao máximo do seu potencial de inteligência. mas beleza, não, sempre vai haver alguém eleito mais belo por se aproximar de um padrão histórico excludente.
"ah, mas o ~desafortunado~ pode fazer dieta, pode fazer plástica, pode usar creme para embranquecer a pele, alisar o cabelo, etc". e por acaso isso é bom/justo/desejável? alguém gastar rios de dinheiro, passar por procedimentos doloridos e ter que mudar a própria imagem para se parecer com o que é considerado adequado e só assim tentar competir com quem já nasceu dentro desse padrão? isso é patético.
não é a toa que as mulheres que eu vi defendendo esse absurdo são brancas, de classe media alta, magras, com boa escolaridade... é viver muito dentro de uma bolha e julgar o resto do mundo a partir do próprio umbigo ¬¬
Bem, eu vi algumas feministas contemporizando, mas nenhuma defendendo. Ainda bem. rs De qualquer forma, a adesão a esse discurso mostra que precisamos mesmo nos aprofundar em algumas questões. Debatê-las apropriadamente. E não nos deixar seduzir pelo primeiro rostinho bonito que aparece... ;)
ResponderExcluirMuito obrigada pelo seu comentário!
O capital erótico não considera somente a aparência, considera também a disposição e a simpatia, o carisma de conquistar pessoas de elevar o astral do ambiente. E é um fato: todo mundo prefere ser atendido por alguém simpático, estar na companhia de gente carismática e que passa a imagem de estar de bem com a vida. Ademais,beleza sempre atrai, é um diferencial. Já dizia o poeta: "...feias que me perdoem. Mas beleza é fundamental."(Vinícius de Moraes). E não é de hoje, corrobora Confúcio - "Ainda não vi ninguém que ame a virtude tanto quanto ama a beleza do corpo."
ResponderExcluirO problema não é não querer que as pessoas sejam simpáticas, mas quando isso é associado ao feminismo, temos um quadro gravíssimo: mulheres que continuam ensinadas e cobradas a serem dóceis e sorridentes, muitas vezes em face aos maiores abusos. E ninguém disse que Vinícius de Moraes e Confúcio não eram machistas... Isso só corrobora a nossa premissa geral de que o machisto está profundamento arraigado na nossa cultura, inclusive nessa teoria trágica do Capital Erótico.
Excluir