por Roberta Gregoli
Jogo dos erros: Qual o problema com esta imagem? |
Muito se diz da competição feminina no ambiente de trabalho e como por vezes mulheres em cargos mais altos são particularmente competitivas com outras mulheres. Enquanto é verdade que, no geral, mulheres são criticadas muito mais ferozmente do que seus colegas homens pelo mesmo tipo de comportamento (o famoso padrão duplo), a pergunta que não quer calar é: É possível ter uma atitude feminista ao reclamar da sua chefe?
Não seria o caso de negar que existem, sim, mulheres particularmente competitivas, fato observado não só em empresas como também em outros ambientes, como a política (vide Margaret Thatcher), mas para evitar que - como sempre - as mulheres levem a culpa por tudo, é preciso enfatizar que a raiz do problema é o machismo introjetado, não a mulher individual.
E não é de se espantar que mulheres introjetem esse padrão de comportamento. Na cultura popular, o chamado princípio Smurfete, a existência de uma única personagem feminina num mundo de outro modo dominado por homens, continua presente em diversos produtos culturais... até hoje. Para citar dois exemplos brasileiros, nunca ouvi ninguém questionar o CQC por ter uma única (e mais recente) comediante mulher no seu quadro ou tampouco estranhar que, no filme De Pernas pro Ar (Roberto Santucci, 2010), Alice seja virtualmente a única mulher na empresa em que trabalha no início do filme. A consequência disso é a naturalização de um mundo não-natural (da última vez que verifiquei ainda éramos 50% da população mundial).
Nesses casos, em que uma única mulher serve para simbolizar todo o gênero, a figura feminina é chamada mulher-símbolo (minha tradução do termo token woman do inglês). O mesmo conceito de token se aplica a outros grupos minoritários: vemos em novelas x negrx-símbolo ou o gay-símbolo. Esse tipo de representação superficial tem por objetivo criar a ilusão de representatividade, sem alterar o paradigma estrutural ou significativamente. O equivalente a dizer que, agora que Dilma Rousseff é presidenta, não há mais machismo no Brasil.
"A negra-símbolo da empresa? É isso mesmo que você se considera, Ms Corwin? Você é muito mais do que isso, eu lhe asseguro. Você também é nossa mulher-símbolo." |
Para expandir sobre o tópico, deixo vocês com este ótimo vídeo da Anita Sarkeesian do excelente Feminist Frequency, que descreve em detalhes esses dois conceitos - o princípio Smurfete e a mulher-símbolo - citando diversos exemplos da cultura estadunidense.
Legenda em português disponível clicando no botão no canto inferior direito
24 de abril de 2013
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cinema,
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