Enviado por Carol Gual
Recém voltada de uma temporada na Europa para fazer parte do meu doutorado, me vi na obrigação de comprar um carro uma vez que o transporte público em Campinas é caro, deficiente e perigoso (especialmente para uma mulher à noite - mais uma face do sexismo de cada dia).
Na minha peregrinação para achar o melhor negócio, estive sempre acompanhada do meu companheiro que adora negociar preços. Mas a escolha era minha, o carro era meu, o dinheiro era nosso.
Numa revenda, chegamos para descobrir mais sobre um dos modelos. O sexismo começou já com o fato do vendedor - daqueles bem típicos vendedores de carros de seus 60 anos - começar a falar apenas com meu companheiro. O João logo foi dizendo que o carro era meu, então quem tinha exigências e opiniões acima de tudo era eu. Veio o primeiro comentário engraçadinho tipicamente machista: "Ah, é a patroa quem manda, o marido não tem escolha nenhuma mesmo".
Saí para fazer um test drive. No caminho o vendedor foi falando sobre as características do carro e tudo mais. Ao estacionarmos de volta ele abriu o capô para mostrar a motorização e veio o comentário machista número 2: "Essa parte agora é com o maridão, não vai interessar você". Confesso que não entendo de mecânica, mas isso não quer dizer que eu não poderia queria saber quantos cavalos tem o motor, quais cuidados eu deveria ter etc. Pergunto sobre o consumo. Ouço o comentário machista número 3: "Com mulher dirigindo, deve fazer uns 14 km por litro, mas se for como eu aí vai bem menos". Aí eu não resisti e respondi: "Bom, então comigo vai fazer pouco porque eu gosto de pisar bem".
Os comentários do vendedor não foram o único motivo que me fizeram não optar por esse carro (o preço e o modelo também influenciaram), mas confesso que saí da loja tão desanimada. O pior é que todo comentário é feito num tom de brincadeira, como se fosse piadinha sem consequência.
Comprei meu carro numa outra concessionária onde o vendedor me tratou simplesmente como um@ comprador@ e não como uma mulherzinha cujo marido iria agradar com um carro novo.
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18 de dezembro de 2012
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