por Tággidi Ribeiro
Vale a pena ler o texto abaixo. É a resposta de Matt Dillahunt, do Atheist Experience, a uma de suas espectadoras cristãs. Todos sabem que sou ateia, mas definitivamente não importa se deus (ou deuses) existe(m) ou não. Provar isso não é uma bandeira minha. O que nos incomoda a todos, inclusive a muitos dos que creem em um deus, é a sanha totalitária de muitas religiões, que tentam nos coagir a viver sob seus dogmas. Em tempos de Franciscos e Felicianos, que reservam à mulher o mesmo espaço já conhecido da casa, o mesmo lugar já conhecido - abaixo do homem, em todas as instâncias da vida; que num mundo de 7 BILHÕES de pessoas insuflam o ódio aos homossexuais dizendo que por causa deles a humanidade corre perigo; que tentam resgatar antigos preconceitos contra negros, precisamos nos posicionar incansavelmente pelo direito à dissidência. Por que não poderíamos nos haver com deus depois? Não nos foi reservado o livre arbítrio? Enfim, espero que a fala abaixo os faça refletir sobre a minha e sobre a sua liberdade. O vídeo está no final do post. E aqui tem também o ótimo post da Mazu sobre o (in)Feliciano.
"O que ela (espectadora) escreveu foi: 'Eu não quero viver em um mundo onde os poderosos impõem suas más intenções às massas e não encaram nenhum tipo de consequência. Sem Deus, os homens escapam muito facilmente da justiça humana. Eu não engulo com isso.' Ela também abordou a pedofilia, pelo que percebi, porque alguém falou sobre padres pedófilos para ela. 'Então, você sabe, pedofilia é imoral mas há pedófilos que escapam da justiça humana e portanto é bom saber que a justiça de Deus vai eventualmente pegá-los.' Essa é a base do porquê ela acredita, então aqui está a minha resposta: O mundo onde você quer viver não tem base no mundo onde você de fato vive. Se essa é sua principal objeção às visões de mundo que não incluem justiça cósmica, me perdoe o comentário condescendente, você realmente não entende do que você está falando. A vida não é justa e o desejo de justiça que você expressa é um pensamento-chave da maior parte das religiões.
Todos sabemos que o bem muitas vezes não é premiado e o mal segue impune, então os que esperam justiça criaram uma saída para não se atolar em depressão e evitar encarar a aspereza de uma realidade indiferente. Seja céu e inferno, ou Karma ditando infinitas reencarnações, todas as religiões servem ao mesmo propósito. Alguns de nós preferem encarar a realidade, alguns de nós percebem que não há uma boa razão para crer que o universo não seja nada senão indiferente à nossa existência e aos nossos conceitos de bem e mal. Algumas pessoas percebem que lidar com a realidade em termos 'reais' é a única forma de 'realmente' melhorar a situação.
A vida não é justa. E é de fato reconfortante pensar sobre isso. Se a vida fosse justa, isso seria dizer que você é merecedor das coisas ruins que acontecem com você. E aqueles que se beneficiam de más ações seriam iguais merecedores. Perceber que não há razão para esperar justiça é o que assegura fazer coisas que imponham justiça. Perceber que o bem não é sempre recompensado é o que nos guia a premiar o bem quando o vemos. Perceber que o mal não é sempre punido é o que nos guia a trabalhar juntos como sociedade cooperativa, lidando com nossos problemas coletiva mas também individualmente, de uma forma que encoraje mudanças reais e que, esperamos, minimize ações prejudiciais. Perceber que a justiça não é garantida nos permite apreciar quando ela se realiza e assegurar que se realize em uma base regular. Sua visão particular do conceito de 'deus de justiça' representa o máximo da irresponsabilidade e da injustiça.
A religião que você escolheu nos considera pecadores ao nascer, culpados antes de dar o primeiro suspiro, responsável por coisas que nunca fizemos. Essa religião oferece perdão instantâneo e não merecido para os crimes mais horríveis e pune com pena eterna pessoas cujo único crime é a descrença.
Todos sabemos que o bem muitas vezes não é premiado e o mal segue impune, então os que esperam justiça criaram uma saída para não se atolar em depressão e evitar encarar a aspereza de uma realidade indiferente. Seja céu e inferno, ou Karma ditando infinitas reencarnações, todas as religiões servem ao mesmo propósito. Alguns de nós preferem encarar a realidade, alguns de nós percebem que não há uma boa razão para crer que o universo não seja nada senão indiferente à nossa existência e aos nossos conceitos de bem e mal. Algumas pessoas percebem que lidar com a realidade em termos 'reais' é a única forma de 'realmente' melhorar a situação.
A vida não é justa. E é de fato reconfortante pensar sobre isso. Se a vida fosse justa, isso seria dizer que você é merecedor das coisas ruins que acontecem com você. E aqueles que se beneficiam de más ações seriam iguais merecedores. Perceber que não há razão para esperar justiça é o que assegura fazer coisas que imponham justiça. Perceber que o bem não é sempre recompensado é o que nos guia a premiar o bem quando o vemos. Perceber que o mal não é sempre punido é o que nos guia a trabalhar juntos como sociedade cooperativa, lidando com nossos problemas coletiva mas também individualmente, de uma forma que encoraje mudanças reais e que, esperamos, minimize ações prejudiciais. Perceber que a justiça não é garantida nos permite apreciar quando ela se realiza e assegurar que se realize em uma base regular. Sua visão particular do conceito de 'deus de justiça' representa o máximo da irresponsabilidade e da injustiça.
A religião que você escolheu nos considera pecadores ao nascer, culpados antes de dar o primeiro suspiro, responsável por coisas que nunca fizemos. Essa religião oferece perdão instantâneo e não merecido para os crimes mais horríveis e pune com pena eterna pessoas cujo único crime é a descrença.
Somos todos humanos. |
Essa religião defende a escravidão, deprecia mulheres, amaldiçoa homossexuais, ordena o apedrejamento de crianças desobedientes, sanciona guerras e extermínios, desculpa sacrifício humano e envenena toda mente que toca. Ela inclui somente um crime imperdoável: não crer. Isso é justo? A 'justiça' que você admira não é justiça, é decreto divino, é arbitrária, caprichosa e, no fim das contas, injusta e imoral.
Sim, eu sei que há pedófilos por aí que escaparam de nossa justiça falha. Você percebe que o seu sistema diz que todos eles são elegíveis a um paraíso eterno? Como isso redireciona sua objeção? Sob as leis do cristianismo, o pedófilo que escapou da justiça aqui pode também escapar da justiça definitiva. Sob as leis do cristianismo, ele talvez viva eternamente no paraíso, enquanto alguém que passou a vida toda fazendo o bem, ajudando os outros e contribuindo de maneira positiva, na única vida que temos certeza que teremos, no final é julgado indigno desse prêmio. Não se engane: você não aceitou um senso cósmico de justiça que alivia o problema. Você aceitou um que alivia o problema para você. É uma justificativa egoísta que não demonstra preocupação com questões de justiça. É o pico da arrogância e do seu desejo de se sentir especial porque 'alguém lá em cima' acha que você é especial.
De acordo com o paradigma que você defende, 'ele' acha que qualquer um que o adore é especial, sem preocupação com justiça ou caráter. Vá, leia Romanos. Ninguém fala desse ponto mais claramente que Paulo. A Lei foi estabelecida com pleno conhecimento de que ninguém seria apto a cumpri-la. Ela foi estabelecida para demonstrar essa incapacidade e nos trazer a danação depois. E então se estabeleceu um escape para que algumas passassem, independentemente de suas posturas em relação a essa Lei. Sua religião a fez escrava. Fez com que não se preocupasse. Fez você apoiar a imoralidade e a injustiça, enquanto afirma que decretos arbitrários e escapes contam igualmente. É uma mentira repreensível, que a envenena e a impede de entender a realidade. Quando as grades caírem dos seus olhos como aconteceu com muitos de nós, estaremos aqui e você vai perceber que não está sozinha. E não tem culpa."
Sim, eu sei que há pedófilos por aí que escaparam de nossa justiça falha. Você percebe que o seu sistema diz que todos eles são elegíveis a um paraíso eterno? Como isso redireciona sua objeção? Sob as leis do cristianismo, o pedófilo que escapou da justiça aqui pode também escapar da justiça definitiva. Sob as leis do cristianismo, ele talvez viva eternamente no paraíso, enquanto alguém que passou a vida toda fazendo o bem, ajudando os outros e contribuindo de maneira positiva, na única vida que temos certeza que teremos, no final é julgado indigno desse prêmio. Não se engane: você não aceitou um senso cósmico de justiça que alivia o problema. Você aceitou um que alivia o problema para você. É uma justificativa egoísta que não demonstra preocupação com questões de justiça. É o pico da arrogância e do seu desejo de se sentir especial porque 'alguém lá em cima' acha que você é especial.
De acordo com o paradigma que você defende, 'ele' acha que qualquer um que o adore é especial, sem preocupação com justiça ou caráter. Vá, leia Romanos. Ninguém fala desse ponto mais claramente que Paulo. A Lei foi estabelecida com pleno conhecimento de que ninguém seria apto a cumpri-la. Ela foi estabelecida para demonstrar essa incapacidade e nos trazer a danação depois. E então se estabeleceu um escape para que algumas passassem, independentemente de suas posturas em relação a essa Lei. Sua religião a fez escrava. Fez com que não se preocupasse. Fez você apoiar a imoralidade e a injustiça, enquanto afirma que decretos arbitrários e escapes contam igualmente. É uma mentira repreensível, que a envenena e a impede de entender a realidade. Quando as grades caírem dos seus olhos como aconteceu com muitos de nós, estaremos aqui e você vai perceber que não está sozinha. E não tem culpa."
O que eu espero, do fundo do coração, é que, com deus ou sem deus, as pessoas se guiem por aquilo que abarca a todos: nossa condição humana e viva, igual em importância desde nosso primeiro até nosso último suspiro. Espero que deixemos de justificar, por deuses ou partidos, atrocidades - como fizemos tantas vezes ao longo do século XX, ao longo da história, e continuamos a fazer.
27 de março de 2013
Categorias
direitos humanos,
preconceito,
religião,
Tággidi
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