Dia internacional das mulheres - post coletivo

por todas nós


Hoje não queremos flores, nem desejamos ser comparadas a elas. Por isso não venham nos dizer, neste dia 8 de março, o quanto somos belas, delicadas e perfumadas. Não somos bonecas novas recém-saídas da caixa. Somos gente. Feias ou bonitas, delicadas ou brutas, nada disso vem ao caso. Porque hoje não se comemoram as qualidades femininas que supostamente nos tornam atraentes. O dia internacional da mulher foi e será um dia de luta. 

Não venham nos dizer que somos contraditórias, que nos deixamos levar pela emoção. Só se esta emoção for a revolta, a raiva de saber que há lugares do mundo em que 70% das mulheres sofrerão violência sexual em algum momento de suas vidas. Uma rosa não apaga o que viveu a jovem indiana, jogada nua para fora de um ônibus, com seu intestino perfurado pela barra de ferro que foi introduzida na sua vagina. Hoje é um dia de luto, por ela e por tantas outras, por aquelas que estão sendo violentadas e assassinas no exato minuto em que escrevemos. Hoje é um dia de luta, para que canalhas como os da banda New Hit não cometam atrocidades e saiam impunes.

Não nos falem da nossa sensibilidade, como se o sentir e o amar fossem próprios a um sexo e não a todo o gênero humano. Não nos dêem um beijo na testa, nos parabenizando por sermos boas mães. Boas mães o são por amor, comprometimento e responsabilidade, e não porque são mulheres. Péssimas mães também existem, assim como ótimos pais. Tampouco nos falem da nossa capacidade de amar incondicionalmente. Não nos encorajem a suportar o que não podemos, a aceitar o inaceitável.

Não queremos ser enaltecidas, endeusadas ou ser tidas como epítome da virtude e da civilidade. Queremos ter o direito de ser más. Queremos a igualdade que garante que a escolha entre virtude ou vício seja individual, não generalizada para todo um gênero.

Chega de contradições. Não adianta nos falar que toda a mulher merece respeito hoje e nos assediar na rua amanhã. Nós não precisamos de gentilezas. Não pedimos favores, não queremos condescendência. Não queremos ouvir como é maravilhoso ser mulher, principalmente porque o 'ser mulher' não existe, é construído cultural e socialmente.

Hoje não nos dêem flores. Exigimos direitos e justiça. O que queremos é dignidade. Queremos oportunidades iguais, salários iguais. Queremos respeito e o direito de andar onde quisermos, com a roupa que quisermos e em segurança. Queremos fazer parte de uma cultura que não sexualiza nossos corpos constantemente para vender produtos. Uma cultura que não promova o estupro. Hoje - e todos os dias - não precisamos de elogios sobre a nossa feminilidade, queremos a liberdade real de nos expressarmos e vivenciarmos nossos corpos em toda sua plenitude.

Nós, mulheres feministas, lutamos por igualdade de direitos e deveres, pelo fim da violência de gênero, pelo fim da cultura do estupro, pelo fim da objetificação das mulheres, por nossa liberdade, por nossa felicidade sexual, pela propriedade de nossos corpos, pela ideia de que mulheres são gente. Não esperamos presentes menos caros que esses neste 8 de março.

Se quiser nos parabenizar, parabenize-nos pela luta, porque é isso o 8 de março, um dia de luta, não uma homenagem à feminilidade. Não se trata de comemoração. Se algumas mulheres, em alguns lugares, trabalham, votam e significam na sociedade, de maneira independente dos homens, isso é possível porque, não muito tempo atrás, outras mulheres lutaram por isso. Algumas morreram por isso, muitas continuam a morrer porque nossa luta não atingiu ainda seu objetivo e porque a liberdade e a independência feminina ainda não são fatores globais. Se quiser nos presentear ou homenagear, de verdade, de alguma forma, denuncie o machismo, aponte essa ordem social repressora, que tantas vezes passa despercebida. Lute conosco. Subverta-se!

E que hoje seja um dia de celebração também. Celebração das conquistas dessa luta árdua, que, apesar de longe de estar ganha, nos motiva e nos apaixona. Celebração da amizade e do amor entre as mulheres, da sororidade. Celebração de tudo o que conquistamos, nos dando energia para seguir em frente...

...até que todas sejamos livres.


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