por Tággidi Ribeiro
Estupro é um desses assuntos de que a gente odeia falar. É tão cruel, tão invasor que mesmo sem a gente ter passado por ele, prefere não comentar. Quem sabe, não 'dando ideia', os homens parem de estuprar mulheres (e homens). Pra maioria das pessoas, na verdade, é tão difícil lidar com a questão do estupro que o caminho é sempre imaginar que houve um mal-entendido - que a vítima insinuou que queria sexo e tal, por isso o estuprador fez sexo com ela. Mas ele não tinha a intenção de estuprar. Imagina.
Quando os pagodeiros do grupo New Hit foram acusados de violentar duas adolescentes de dezesseis anos, muitos homens e sobretudo mulheres disseram que 'eles não precisavam fazer aquilo'. Da mesma forma, algumas pessoas deploraram os estupros cometidos por um jovem em Copacabana, afinal de contas, 'não ia ser muito difícil pra ele arranjar mulher'. Por trás desse tipo de declaração, reside a ideia de que homens estupram porque estão precisados de sexo. Mas não. Estupro é poder. Estupro se dá quando alguém julga ter propriedade sobre o corpo do outro.
O ex-ditador líbio Muammar Gaddafi e o ex-apresentador britânico Jimmy Savile, ambos mortos, sabiam muito bem disso. Durante quarenta anos, os dois estupraram centenas (talvez milhares) de meninas e mulheres. A seu lado, cúmplices de décadas de violência, estiveram o poder e a complacência do mundo quando crimes são perpetrados contra mulheres, ainda vistas como menos humanas que os homens.
A história de dominação do corpo feminino por Gaddafi é contada pela jornalista francesa Annick Cojean no livro O Harém de Kadafi, lançado no Brasil há duas semanas. O ditador líbio usou seu poder para ter a mulher que quisesse, sem jamais considerar que essas mulheres também tinham suas vontades. Dentre outros expedientes usados para achar suas presas, Gaddafi passava horas olhando álbuns de fotos de festas, marcando as mulheres que lhe agradavam. Depois, seus soldados iam buscá-las. Ele também visitava escolas onde, com apenas um toque, indicava a(s) adolescente(s) escolhida(s). Caso de Soraya, tocada por Gaddafi aos quinze anos e liberta aos vinte, durante a revolução líbia. Triste fim a liberdade, de qualquer forma: tendo perdido a virgindade, maior 'bem' da mulher aos olhos muçulmanos, Soraya não poderá casar (destino de toda muçulmana 'pura'). Além disso, como outras tantas desvirginadas, estupradas e descartadas por Gaddafi, Soraya foi rechaçada por sua família - que serventia tem uma mulher que deve ser sustentada pela família?
Já Jimmy Savile usou de sua influência, carisma e poder como apresentador na BBC para dar vazão à sua pedofilia latente (abusava de meninas adolescentes e crianças). Quando morreu, no fim de outubro deste ano, era tido como benfeitor católico, ainda que excêntrico. Dizia que não gostava de crianças para que não fosse perseguido por 'pessoas de tablóides'. Logo após sua morte, denúncias de abuso e estupro começaram a aparecer. Em pouco mais de um mês, mais de quatrocentas vítimas se apresentaram à polícia. Até mesmo a neta de Jimmy Savile declarou ter sido alvo de suas investidas. Além do apresentador, mais três funcionários da BBC foram presos acusados de abusos sexuais.
Vendo notícias tais, compartilhando-as com vocês, o que penso: neste exato momento, quantos políticos e quantos apresentadores e quantos quaisquer homens em situação superior estão estuprando mulheres e meninas? Quantas histórias parecidas já ouvimos? E por que não damos respaldo às vítimas? Por que, antes de qualquer coisa, queremos saber se elas têm 'alguma culpa no cartório'? Pergunto ainda: vamos viver o resto de nossa história desculpando padres, políticos, empresários, homens pelo mundo afora, aceitando seu comportamento pérfido, desde que gerem empregos, ou sejam artistas, ou sejam simplesmente 'homens bons'? São eles homens bons se abusam e estupram? Vamos protegê-los se são nossos pais, irmãos, amigos? Por quê? São mais gente, são mais dignos, são melhores que nossas irmãs, mães, amigas violadas?
Estupro não é sexo, não é necessidade de sexo. Estupro é um crime de poder. Pode ser cometido por qualquer pessoa que sinta a necessidade de subjugar outra. É cometido por homens em nossa sociedade porque ensinamos a eles que devem estar sempre no comando. Ensinamos também que mulheres não são tão importantes assim, devem sempre obedecer.
Já Jimmy Savile usou de sua influência, carisma e poder como apresentador na BBC para dar vazão à sua pedofilia latente (abusava de meninas adolescentes e crianças). Quando morreu, no fim de outubro deste ano, era tido como benfeitor católico, ainda que excêntrico. Dizia que não gostava de crianças para que não fosse perseguido por 'pessoas de tablóides'. Logo após sua morte, denúncias de abuso e estupro começaram a aparecer. Em pouco mais de um mês, mais de quatrocentas vítimas se apresentaram à polícia. Até mesmo a neta de Jimmy Savile declarou ter sido alvo de suas investidas. Além do apresentador, mais três funcionários da BBC foram presos acusados de abusos sexuais.
Vendo notícias tais, compartilhando-as com vocês, o que penso: neste exato momento, quantos políticos e quantos apresentadores e quantos quaisquer homens em situação superior estão estuprando mulheres e meninas? Quantas histórias parecidas já ouvimos? E por que não damos respaldo às vítimas? Por que, antes de qualquer coisa, queremos saber se elas têm 'alguma culpa no cartório'? Pergunto ainda: vamos viver o resto de nossa história desculpando padres, políticos, empresários, homens pelo mundo afora, aceitando seu comportamento pérfido, desde que gerem empregos, ou sejam artistas, ou sejam simplesmente 'homens bons'? São eles homens bons se abusam e estupram? Vamos protegê-los se são nossos pais, irmãos, amigos? Por quê? São mais gente, são mais dignos, são melhores que nossas irmãs, mães, amigas violadas?
Estupro não é sexo, não é necessidade de sexo. Estupro é um crime de poder. Pode ser cometido por qualquer pessoa que sinta a necessidade de subjugar outra. É cometido por homens em nossa sociedade porque ensinamos a eles que devem estar sempre no comando. Ensinamos também que mulheres não são tão importantes assim, devem sempre obedecer.
18 de novembro de 2012
outro exemplo de como homens que não 'precisam' abusar nem estuprar o fazem ao ter oportunidade de: http://jezebel.uol.com.br/por-que-a-midia-continua-a-agir-como-se-terry-richardson-fosse-normal/
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