Dicas das tias feministas


por Mazu
Sim, porque só as mães diriam isso. Aff.
Faz algum tempo já que venho notando que o slutshaming é uma prática corriqueira entre adolescentes. Não só entre os adolescentes, é verdade, mas nas redes sociais em especial, a prática entre os adolescentes me assusta e preocupa bastante. Posso ser boba, mas eu sempre esperei mais das novas gerações. Estou pensando que a gente devia criar uma página no FB e um twitter chamado “Dicas das titias feministas” que nem tem as Dicas do He-man, só que feminista coisa que o He-man não é, enfim, a gente pode ir amadurecendo a ideia.
Não aparece o rosto da She-ra porque ela cochilou
e ia ficar chato

A gente poderia começar tratando do que aconteceu com a Kristen Stewart e a Karina Veiga, já que esses dois casos deixaram a prática do slutshaming bem evidente entre jovens.

Para quem mora em Marte e não sabe do que estou falando, a atriz norte-americana da saga Crepúsculo, Kristen Stewart, traiu seu namorado (Robert Pattinson) e foi crucificada loucamente na mídia e redes sociais. Como se isso fosse problema de mais alguém além de eles dois. No final, os dois continuam juntos e, pelos rumores, terão um bebê. Um final nada parecido e absolutamente horroroso teve a história da estudante brasileira, Karina Veiga, que dizem que traiu o namorado porque ninguém sabe mesmo (no caso da Stewart rolou uma fotos e tals), mas o que a gente sabe mesmo é que o namorado divulgou fotos e vídeos íntimos do casal, usando a conta dela do Facebook. Ah, a vingança! ¬¬
Nem coloque nada intímo na internet,
vc ganhou chifres e não imunidade penal

Muita coisa me assustou nessas duas histórias, mas o que me deixou com dor de cabeça foi a quantidade de jovens mulheres que começaram a atacar as duas meninas por meio das internets (no caso da Stewart rolou até camiseta e tals). Isso me preocupa porque se a gente não for por nós mesmas, quem vai ser? Os caras é que não. Ok, existe homem feminista, mas não é como se eles dessem em árvores, especialmente porque, no caso deles, o processo de empatia deve ser mais complicado. Agora, com as meninas, era para ser mais natural, eu imagino. Aí eu leio plaquinhas sobre piriguetes e outros rótulos no Facebook e fico achando que, pelo jeito, estou imaginando errado.

Alguma companheira poderia dizer que era mais importante falar do comportamento machista do namorado envolvido na história da Karina Veiga, por exemplo, do que das meninas machistas, já que as meninas são mais vítimas de uma educação machista do que outra coisa. É fato, e a gente já tratou disso aqui e aqui. É lógico que eu não quero crucificar as meninas que têm comportamentos machistas, mas acho que o movimento tem que pensar em formas de abordar e tratar disso, porque é um grande problema.

Qué isso, cara? Mulher não é comida!
No caso do machismo do namorado traído, sinceramente, me dá uma preguiça depressiva comentar sobre o tipo de ser humano que ele é. Para começar quem sou eu, o que eu sei, não é mesmo? A única coisa que sei sobre ele é essa atitude gigantescamente escrota. Com base nisso unicamente, o que dá pra dizer é que ele é um gigantesco imbecil, mas, vai saber se ele já não salvou uns filhotinhos de gato de algum incêndio e tals. O que para mim não significaria nada, mas para algumas meninas adolescentes parece que significa muito. O que me leva ao centro dessa discussão, que são os príncipes encantados contemporâneos.

Porque a questão está justamente nesses mitos imbecilississimos que derivam da literatura romântica e do mito do par perfeito. Só para constar, o romantismo não é, em si, um problema. Ia ser hipócrita da minha parte criticar o romantismo. O problema é quando a gente passa a justificar determinados atos de violência, como é o slutshaming, usando o amor e o romantismo.

Pelo menos é isso que eu percebo nas adolescentes que realizam a inquisição das piriguetes. O que se fala, por exemplo, da Kristen: como ela foi trair o cara que é o Edward, um vampiro vegetariano e tudo mais. Como ela pode fazer isso? No caso da Veiga, então, pô coitado do namorado, estava com o coração partido, logo, tudo bem, porque no amor e na guerra vale tudo. Ruim é quem parte os corações por aí. Como ela não quis ser a princesinha de um cara só. Como?

O que me perturba muito é que algumas pessoas expressam esse tipo de opinião descrita acima e ninguém estranha, nenhum alerta de insanidade toca. Você lê um comentário com um conteúdo desse tipo e vai dormir à noite de boa, sério? Então, por amor, vale humilhar, vale bater, vale matar?! Alerta vermelho cereja intenso, gente! Grave isso, muito grave.

Vish...
Não sei por qual motivo, razão ou circunstância determinados mitos (tipo que por amor se mata ou se morre) seguem sendo propagados. Junto com uma educação sexista de que a gente ainda não conseguiu se livrar, isso cria um grande problema, a propagação de uma sociedade sexista e machista. Porque o que eu percebo, entre algumas meninas mais novas, é que elas genuinamente acreditam que se elas forem princesas, encontrarão seus príncipes. E o pior, serão felizes para sempre. Aí toda e qualquer pessoa que fuja disso, que se comporte de outra forma, alguém que ameace esse imaginário de qualquer maneira é uma pessoa má, uma vadia, uma piranha e tals. É, no feminino mesmo, porque os meninos quando não são príncipes estão sendo homens e, então, tudo bem. #NOT

Dicas das tias feministas
Então, titia Mazu vai estrear As dicas das tias feministas e contar um segredinho: esses mitos românticos de pureza e delicadeza das princesas só existem para deixar as mulheres obedientes. Assim como a educação diferenciada que se dá aos meninos e meninas. Tudo isso tem como objetivo a nossa submissão. Não a nossa felicidade.

Um relacionamento para ser feliz e durar não depende do que é considerado um bom comportamento. Um relacionamento não pode depender de um elemento seu apenas, já que os relacionamentos têm pelo menos dois ou mais indivíduos. O relacionamento para ser bom e dar certo não vai prender ninguém a nenhuma espécie de estereótipo. Vai se basear em respeito pelas pessoas, não em respeito pelo orgulho masculino, por exemplo.

O ponto é se alguém quiser esperar pelo seu príncipe ou princesa encantada, beleza. Quem quiser outra coisa, beleza. Só não pode usar determinadas expectativas ou frustrações decorrentes para fazer bullying em quem pensa ou se comporta de outra forma. Sacou?

Então, é isso minha gente, até a próxima.

9 comentários:

  1. Por que não bolar uma She-Ra conselheira? #sópensandoaqui #dandoideia #sugestão

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  2. Ah, e antes que me esqueça...Tia Mazu The Best! Sou seu fã declarado. \0/ Bjos.

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  3. Valeu, Sasso! Boa coisa nessa vida são os amigos.

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  4. bora fazer um "conselhos da She-Ra" no facebook então.

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  5. Desculpe, mas me recuso a aceitar Kristen Stewart como ícone feminista. Essa moça pode não ter feito nada pra ninguém além do 'namorado traído' e da 'colega de trabalho que ela traçava o marido pelas costas' mas nunca conseguirei enxergar nada alem de uma simples consequencia da mentira que ela mesma plantou, vendendo esse romancezinho dos 2 como se fosse a personificação do romance do livro e incentivando a glorificação das fãs em uma questão de cunho privado. Quem acompanhou a série de filmes desde o início sabe que ela vendeu uma imagem não só como atriz mas como 'namorada do galã', e foi ESSE ideal traído pelo qual as fãs passaram a desprezá-la já que o tipo de menina que ama um relacionamento que não é seu e idealiza as coisas pregadas por esse livro, vive na fantasia de ter achado um casal perfeito na vida real tb (Kristen e Robert).

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    1. O comentário da Mazu foi claramente contra o slutshaming. A atriz pode ser boa ou ruim, feminista ou machista, mas nada justifica o tratamento que ela recebeu. Se pensarmos o contrário, o padrão duplo fica claro: ninguém ficou xingando o Woody Allen em público quando ele casou com a *enteada*, 37 anos mais nova... Mulheres pagam por comportamentos dúbios, homens não. Dois pesos, duas medidas.

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  6. ok, beleza. Eu nunca disse que ela era um ícone feminista, para começar. Eu não acompanho a saga nem a carreira dela, só achei sacanagem o tanto que jogaram pedra e a forma como fizeram isso. A Lola escreveu um post bem legal sobre isso: http://escrevalolaescreva.blogspot.com.br/2012/09/por-que-o-caso-kristen-stewart-e.html
    Brigadão pelo comentário, de verdade, consegui ver alguns pontos que não tinha considerado. E volte sempre por aqui! ;)

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  7. Ok agora vamo todo mundo toca o puteiro faze o regaço todo e sair impune, afinal trair não é errado =D

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    1. Olha, eu só disse que o slutshaming é errado. E é. Agora, traição depende muito do combinado que se tem com o parceito. Acho que o respeito tem que ser central nas relações, no começo, meio e término. Nenhuma forma de desrespeito é válida. Se o casal resolveu ser monogâmico, então traição é desrespeito e não é legal. Agora esse tipo de vingança que descrevi e o próprio slutshaming são bem piores.
      Obrigada por passar por aqui e pelo comentário! ;)

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