Os 'bonzinhos' também estupram

por Roberta Gregoli

Dolce & Gabbana glamourizando o estupro por gangue

Na cultura do estupro, como o nome já diz, praticamente toda a cultura funciona para sancionar o estupro e culpar xs sobreviventes. E aqui entram a banalização do estupro através de piadas, a mídia tradicional e mesmo o judiciário, que sistematicamente inocenta estupradores:


Em cima: Estupradores - Denunciados - Levados a julgamento - Presos
Embaixo: Acusados falsamente
Fonte: http://theenlivenproject.com/the-truth-about-false-accusation/

Então não é de surpreender que o mercado de bens de consumo corrobore com este paradigma, cobrindo de glamour o que, no final das contas, não passa de violência de gênero (veja a figura de abertura do post).

A Victoria's Secret entrou na dança com uma coleção de calcinhas da linha Pink, sua marca voltada para o público adolescente, que traziam a estampadas expressões como Unwrap me (Me abra) e Sure thing (Coisa certa). Apesar de não promover o estupro de maneira óbvia e direta - só mesmo uma aberração chamada Lobo da Insanidade para ser capaz disso - esse tipo de produto naturaliza, de maneira sedutora, os mitos envolvidos na manutenção da cultura de estupro.

A sociedade civil interveio (ainda bem que temos o feminismo!) com uma resposta absolutamente inusitada, bem-humorada e inteligente: criou um site falso com uma linha chamada Love Consent trazendo estampas anti-estupro. Se a linha da Victoria's Secret confundia a noção de consentimento com uma calcinha que dizia Yes, no, maybe (Sim, não, talvez), a Love Consent deixa claro: No means no (Não quer dizer não).

Victoria's Secret e ativismo feminista: de 'Coisa certa' para 'Peça permissão antes'
porque "nenhuma vagina é 'uma coisa certa'"

Como a cultura de estupro está em todo o lugar, cito também uma situação diária. Esses dias eu, conversando com um amigo (branco, escolarizado, de classe média), dizia que, uma vez que a garota (ou garoto) tenha dito não, insistir leva a uma zona ambígua que pode ser qualificada como estupro. Como disse a Lola, pensamos em estupro como uma coisa que acontece num beco escuro, envolvendo um desconhecido e muita violência. Mas não. Estupro é qualquer ato que envolva o não consentimento de uma das partes.

A cada 12 segundos, uma mulher é estuprada no Brasil. E em 84% dos casos julgados o crime é cometido por um conhecido. Este número envolve principalmente familiares, que é um caso diferente do que estou tratando aqui: o chamado date rape, para o qual não há estatísticas confiáveis que eu conheça no Brasil, é o estupro que ocorre durante um encontro ou uma 'ficada', e que é muito pouco denunciado, justamente porque o conceito ainda não está articulado na cultura popular. Mas o date rape acontece obviamente entre pessoas que se conhecem e frequentam os mesmos ciclos sociais, por isso é também chamado de acquaintance rape (estupro por um conhecido). Veja um depoimento aqui.

Vivemos numa sociedade machista (surpresa) que faz com que as mulheres acreditem que a culpa de... bom, praticamente tudo, é delas. Daí uma garota e um cara estão ficando, ele começa com umas carícias mais quentes e a garota pede para parar. O cara força a barra, seja com um pouco de violência (tenta enfiar a mão embaixo da calcinha dela ou a segura mais forte, o que pode ser confundido com a famigerada 'pegada' - que por acaso não seria mais um mecanismo da cultura do estupro??) ou com um papinho de amante latino do tipo "relaxa, gata", "não tem problema", "não é nada de mais"... E a garota vai cedendo. 

Quando contei ao meu amigo que isso também é uma forma de violência, ele se surpreendeu: "mas, no fundo, ela queria". E me disse ainda que a nossa sociedade é muito repressora e não deixa a mulher se expressar sexualmente, por isso o cara tem que insistir. Eu detesto este "no fundo ela queria" - como um cara pode ter a arrogância de achar que sabe, melhor do que a própria mulher, o que ela quer? Quando se trata de consentimento, ao contrário do que meu amigo e a Victoria's Secret acreditam, não existe "no fundo": é o que a garota diz e ponto.

Ele está certo quanto à sociedade repressora, mas a repressão não é que ela está louquinha para transar com ele mas tem que parecer uma boa moça para que ele queira casar com ela (além de arrogante, esta lógica é de outro século, não?). A repressão funciona a partir do momento que a garota não tem assertividade para dizer: NÃO, EU NÃO QUERO TRANSAR COM VOCÊ. PONTO.

Ou seja, o ceder é que é a repressão da sociedade em funcionamento. A cultura do estupro nos cria para defender estupradores ao repetir sem cessar que a culpa é das mulheres.


Que estamos em débito com o cara porque ele pagou pelo jantar, porque demos "falsa esperança", porque fomos até a casa dele... Algumas ficam "com dó" porque o cara está insistindo e, ah, ele é tão bonzinho...

Se eu fosse super-heroína e pudesse escolher um único superpoder, queria ser capaz de empoderar as mulheres. Fazer com que magicamente nos libertássemos dessas culpas construídas para nos tornarem dóceis e sexualmente disponíveis para os homens.

Então, que fique claro: Não é não

Garotos, se e a gata disse 'não' uma vez, que seja o suficiente. Senão, você é um estuprador em potencial #pensenisso

Não forcem a barra. 'Forçar a barra', como a própria expressão sugere, é uma violência, o que te qualifica como agressor. Se ela estiver a fim, ela vai te procurar e vocês vão transar quando e se ela quiser de verdade.

Garotas, empoderem-se. Leiam este excelente post da tia Mazu. E, mesmo que você esteja pelada na frente de um cara e mude de ideia, diga NÃO. Seu corpo, suas regras. Sempre.



3 comentários:

  1. Em última instância, basta ter um pinto pra ser um estuprador em potencial.
    Por isso é tão necessário que os homens se policiem e revejam seus conceitos.

    O estuprador "tradicional", daquele tipo que todos sabemos que morre quando vai pra cadeia, na cela comum, já é alvo de ódio. O desafio é realmente assimilar esta idéia de que o estupro abrange comportamentos que são mais que tolerado em nossa sociedade, são incentivados. E aí criar um estigma pra quem pratica esses atos.

    Pena que mudanças demorem tanto.

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    1. Sim, muito bem colocado! Estigmatizar esse tipo de comportamento, não tolerá-lo.

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  2. EU SÓ PEGO É MAIS ÓDIO PELA HUMANIDADE E POR VOCES MERDALHERES AO LER ESSE TEXTO. O BONZINHO SÓ FORÇA A BARRA PORQUE NA CABEÇA DELE ELE SÓ VAI CONQUISTAR A MULHER COM O SEXO, ISSO QUE A SOCIEDADE ENSINA, MAS NA VERDADE NÃO É ASSIM, POIS O MASCULINISMO EXPLICA QUE ISSO É FALSO. ACONTECEU COMIGO, EM 2008 EU FORCEI A BARRA E A DESGRAÇADA QUERIA ME ACUSAR DE ESTUPRO. MAS NÃO ME ARREPENDO, É ESSA HUMANIDADE LIXO QUE INCENTIVA ESSE TIPO DE COMPORTAMNETO, A SOCIEDADE QUE ME INCENTIVOU A AGIR DESSA FORMA. FUI INTERNADO NO HOSPICIO CONTEI ESSE CASO PRA UMA PSICOLOGA QUE FUI FORÇADO A FAZER TERAPIA E A DESGRAÇADA ME HUMILHOU COMPLETAMNETE.

    QUER SABER? EU ODEIO TODA A HUMANIDADE INCLUINDO VOCES FEMINISTAS DE MERDA, TOMARA QUE VOCES SEJAM ESTUPRADAS MESMO, POIS VOCES SÃO BALADEIRAS VADIAS MISANDRICAS, VÃO PRA BALADA MESMO SE ENVOLVER COIM PSICOPATA, TOMARA QUE TERMINEM MORTAS, PUTAS DESGRAÇADAS. SOU 100% MISANTROPO, MEU ÓDIO POR VOCES E TODA A HUMANIDADE É PURAMENTE REAL.

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