Coisas que escutamos por aí, parte 1

por Mazu


Este post terá uma vibe de descontração. Sabe como é, às vezes, cansa. Já dissemos, a feminista cansada já disse. Tem muito troll no mundo, e a vida é muito curta e bela.

Escutamos algumas barbaridades, sempre de vez em quando, por sermos mulheres e/ou feministass, e, em vista disso, resolvi comentar determinados "argumentos".

Sei que não é sempre que estamos na pegada de comprar briga, sei que rola um sentimento de "não compensa", mas a nossa sociedade é muito boa em mascarar preconceitos e discriminação, a gente vive em uma era que somos levados a acreditar, pela mídia, pelos costumes e até pelo sistema de ensino, que todo mundo pode ter o mesmo acesso a tudo. Bom, isso é mentira, e esse é o motivo pelo qual, quando escutamos isso ou aquilo, devemos discutir. O que não nos impede de nos divertir também, certo? ;)

Então, é isso, compas. Não esmoreçamos e vamos à Lista de Merdas Coisas que Escutamos por Aí, versão 1:


1. "Pode ser feminista, mas não precisa ser tão radical!"


Resposta rápida: radical é tanto machismo em pleno século XXI, eu sou até moderada, fofx!

Quem tiver com tempo, pode recitar, com a mão no peito em postura de hino nacional, estes tweets maravilhoosos da Carina Prates (vi no feminista cansada).


2. "Não sou machista, nem feminista, todo mundo é igual!"


Esse é um discurso "munitinhu", fofo, que parece inofensivo, mas não é! E precisa ser combatido, muito! Na real, a pessoa está dizendo: a sociedade está boa assim para mim, não me perturbem! As pessoas que acham que todo mundo é igual costumam ocupar um lugar muito confortável na vida, repare bem.

Já que todo mundo é igual, por que as instituições, organizações, entidades, empresas e países são, na maioria, liderados por homens brancos, que não são de longe a maioria (no sentido numérico) no mundo?



3. "Vocês ficam falando alto de sexo e sexualidade feminina, mulher tem que se preservar, que coisa mais vulgar..."


Esta requer elegância, sabe? Aquela elegância de cavalo em desfile de sete de setembro. Vou usar uma figura para explicar bem, desenhar mesmo, como nos sentimos:


Como Rick Astley, não estamos nem aí ("you've been rick rolled!")

Sério, se a gente não pode falar da nossa sexualidade, quem pode? Os homens?


4. a) "Mulher de roupa curta na rua quer o quê?" e  b) "Depois acontece alguma coisa vai fazer o quê?"


a) É difícil responder por que uma mulher pode querer qualquer coisa, mas o importante mesmo é: ninguém tem nada a ver com isso. Não dá para o sujeito ser tão egocêntrico a ponto de achar que toda roupa curta é para ele, muito menos achar que nos interessa a sua opinião sobre nossa aparência ou roupa. Se você for convidado e se interessar, venha, se você for perguntado, responda, no mais, guarde suas opiniões e mãos para você, ok?

b) denunciar e por o estuprador na cadeia.

Chessus, abandonemos o mito do homem estuprador em potencial que não consegue se segurar, de uma vez por todas. A escolha de roupa é nossa, respeito é obrigação e é direito de todxs!


Campanha de carnaval, que serve pro resto do ano também

5. "O feminismo é coisa do passado, hoje, isso não é mais necessário." 


Para esta, dá para aplicar quase que a mesma resposta da 2, e é bom lembrar que, por exemplo, no Brasil, as mulheres votam só há 76 anos. A primeira senadora foi eleita em, pasmem, 1990, e a primeira ministra data de 1988. Vai vendo. Não rola dizer que o meio do caminho, aliás, o começo do caminho é o fim do caminho, saca? Ainda temos um tantão para percorrer até a isonomia, e o grande problema de parar antes disso, no meio ou começo do caminho, é que esses são lugares muito propícios ao retrocesso. Logo, sigamos.


Por anna-grrrl.tumblr.com

6. "Os caras que são feministas são umas mulherzinhas"


Isso, para a gente, é elogio. Eles são legais, mas não são tão legais assim. ;) Brincs. 

A gente vive em um mundo que ser "mulherzinha" pode ter o significado de frágil ou medroso - não aguento, nem entendo, mas... E "homem" em frases como "seja homem" pode significar corajoso. Se a gente for usar os termos dessa forma, eu diria que homens feministas são muito mais "homens" que aqueles que preferem seguir o fluxo da maioria, o que não requer nem coragem, nem esforço algum.

A Márcia Tiburi escreveu um texto muito, muito, bom sobre o lugar da "mulherzinha" e quem realmente anda ocupando esse lugar.


7. "Os caras que defendem licença-paternidade querem ficar 30 dias de folga, coçando o saco."


Parabéns para você que acha que o papel do pai, na criação do filho, é coçar o saco ou que acha que cuidar de um recém-nascido é o mesmo que folga. Espero que as pessoas que acreditam nisso nunca tenham filhos, do contrário, só lamento.

É isso, por enquanto, afinal de contas, nós bem sabemos que outras listas virão e que esta não está completa.


Um comentário:

  1. Sei que foi em tom de brincadeira, mas esses discursos têm criado status de dogmas, que nem se discute mais a veracidade da coisa, vai se aceitando: mulher ganha menos (e trabalha mais), e ponto. Mulher está se oferecendo e ponto. O problema do "mulher se oferecendo é que é um conceito extensivo: depende da interpretação do homem, não é brincadeira, para uns uma roupa curta é insinuação, a mulher andar sozinha é insinuação, ou então andar à noite é insinuação, para outros, a mulher respirar é insinuação. Como não se revoltar e ao menos tentar lutar contra isso?

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